domingo, 12 de junho de 2011

Juazeiro no Descobrimento do Brasil em versos de cordel

Centenário de Juazeiro do Norte # 60

Na postagem # 31 sobre o Centenário de Juazeiro, destacamos o evento de lançamento da Sociedade dos Cordelistas Mauditos, em abril de 2000, no SESC Juazeiro.

Hoje o nosso destaque é para o texto de um dos cordéis lançados naquele evento. Trata-se do folheto A verdadeira estória do Descobrimento do Brasil, de autoria de Wílson Silman, que inclusive já integrou a equipe d'O Berro.

Confira abaixo a recriação irônica do Descobrimento liderado por Cabral, nas terras caririenses.




A verdadeira estória do Descobrimento do Brasil

Wílson Silman (1º de abril de 2000)

Sem nada a comemorar
Eu vou é contar de novo
Quem sabe reativar
A memória deste povo
Que dizem ser muito curta
Se revolução não surta
A ignorância não louvo.

É difícil competir
Com uma tal Rede Globo
Mas não sou de desistir
E lobo comendo lobo
Ninguém vai mudar os planos
São outros 500 anos
De justiça e não de roubo.

Se nascemos da mentira
E a descoberta é fajuta
Isso me provoca ira
E me convida à luta
E aqui conto novamente
A história de nossa gente
De uma forma mais “justa”.

Da estória do achamento
Eu já sei desde menino
Com pouco conhecimento
Na versão de um nordestino
Sem métrica-rima segue
Espero que isto não negue
Nosso cordel genuíno.

Foi em 22 de abril
Do ano mil e quinhentos
Que Cabral pegou um barril
Com cachaça e dois jumentos
E mais treze pistoleiros
E partiu pro Juazeiro
Pra fazer descobrimento.

Luiz Carvalho chamou
Para ser seu escrivão
E uma carta ditou
Com regra e pontuação
Da estória fez enredo
Pra carnaval e folguedo
Da quadrilha ferrazão.

Cabral, com a carta maligna
Se perdeu, entrou no mato
A culinária indígena
Deu-lhe indigestão de fato
No Araripe fez “serviço”
Conheceu o Padim Ciço
Quando esbarrou lá no Crato.

Topou em trajes de gala
Com João Remexe Bucho
De cartola e de bengala
Vestindo terno de luxo
E camisa de papelão
Cantando um vaneirão
Com sotaque de gaúcho.

No Crato, Cabral fez sócio
Elói Teles na ocasião
E jurou ser bom negócio
Um tipo de exportação
Manga, cajá e pequi
De Portugal mandou vir
Armas para Lampião.

E para ser curto e certo
Atesto pra dar valia
Juazeiro é descoberto
Por Cabral em romaria
Se alguém quiser as provas
Inácio Ramos comprova
Pois, bateu fotografia.

Eu conto assim desse jeito
Porque não faz diferença
E se temos um defeito
Não é a falta de crença
Ignorância pode ser:
Reeleger FHC
É veredito e sentença.

Ele é mais um salafrário
Entre muitos malfazejos
É apóstolo mercenário
Que traiu Jesus c’um beijo
Vendendo tudo que herda
Fazendo do Brasil merda
Só pra não perder o ensejo.

Aconteceu no passado
Lá na colonização
O país foi estuprado
Por tudo quanto é ladrão
Jesuíta e missionário
Fez guerreiro de otário
Na mais pura escravidão.

E reescrevo a história
Sem nenhum constrangimento
“Do mar se diz: terra à vista!”
Agora é mais 500!
Salve o cordel de protesto
Viva o nosso manifesto
Pro novo descobrimento.

Que se dá na consciência
No espírito de luta
Chega de conveniência
Não somos filhos da puta
E vamos virar a mesa
Revertendo a incerteza
A arte é absoluta.

Meu cordel é cacofônico
É maudito, é original
E não faz papel biônico
Gira 180 graus
Navegadores atentos
Agora é mais 500:
Lanço o cordel virtual!
(Wílson Silman, abril de 2000)

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