Princesinhas parabólicas

Eis que, finalmente, tendo vivido o que considero ser pelo menos um terço de minha vida, consigo ter uma antena parabólica na minha casa. A forma como ela chegou aqui não vem ao caso. Mas... podem ficar tranquilos, pois ela não é produto de ato ilícito.

Libertas Quae Sera Tamen! Gritava dentro de mim! O primeiro passo para a TV por assinatura, que virá em breve!

A ansiedade tomou conta. Finalmente estava prestes a sair do minúsculo leque de opções daqui de casa, que se limitava à Globo e à Verde Vale, quando muito — e se o vento soprasse a favor —, um sinal chuviscado da Record.

Comecei a vislumbrar todas as possibilidades televisivas que meus amigos chegam contando diariamente em assuntos como cultura, educação e esporte. E, claro que sim, o bom e velho Chaves do Oito!

Mas, tive que aguardar. Minhas filhas fizeram a preleção do cineminha delas: três títulos!

O controle se tremia todo em minhas mãos aguardando o momento de passar canal por canal e, finalmente, escolher o que mais me agradasse.

Qual nada! Entre um filme e outro, um chorinho ou um lanche solicitado por estas pérolas mirins, adiavam cada vez mais o meu grande momento.

Com o objetivo de vencer aquelas coisinhas preciosas no cansaço, armei os colchões na sala para ver se elas sucumbiam ao sono o mais rápido possível. Nada feito! O Nem que a vaca tussa, inédito aqui em casa, preencheu a tela e vi também, pela enésima vez, o Jimmy Neutron resgatar sua família numa galáxia distante em astronaves construídas com brinquedos de um parque de diversões; e a Galinha Pintadinha cacarejar seus versinhos no meu velho TV de tubo 20 polegadas.

A mim coube ver de relance o Canal do Boi e ser vencido pelo sono bem antes que minhas pimpolhas.