Hoje perguntei à minha companheira, cratense de nascença e de espírito, se ela já tinha dado os parabéns à cidade natal dela.
E ela soltou uns versinhos de improviso que terminaram mais ou menos assim: “Meu Cratim de açúcar, que se desmanchou e virou Cratim de barro”.
Fiquei pensando sobre suas palavras e vendo onde o sentimento dela chegou. Sabemos que todo bom cratense acredita que o Crato é o melhor lugar do mundo para se viver, ainda mais se a comparação for feita com Juazeiro. Para alguns, até uma cidadela de cinco mil habitantes no mais árido torrão do Piauí é melhor que Juazeiro do Norte.
Mas, voltando ao assunto... O sentimento de minha companheira revela a situação do Crato dos últimos tempos: uma cidade parada ao lado da roda do progresso e abandonada pelo poder público.
Me lembro de quando comecei a cursar a faculdade na URCA e como eu achava tudo muito bacana na cidade. O movimento cultural, os eventos noturnos, os bares pitorescos, a Chapada, as praças e a Expocrato (que já perdeu a graça faz tempo). Veio logo o sentimento de querer morar na cidade. Casei-me com uma cratense, constituímos família (três filhas) e lá morei durante sete anos.
O problema é que todo o encantamento com a cidade foi sumindo devido a uma série de fatores, como o desaparecimento da vida cultural da cidade e de seu movimento noturno (motivada por uma lei do silêncio que só vale para pobres); uma Praça da Sé cada vez mais feia e abandonada; a falta de oportunidades por eu não ter um sangue azul e não saber responder à velha pergunta: você é filho de quem?; por sofrer junto com minha família, quando morávamos próximo ao canal do Crato, com o terrível fedor que de lá exalava e que podia ser resolvido com medidas, mesmo que paliativas, mas que nunca foram tomadas pela prefeitura municipal, entre outros.
Mesmo assim, aprendi a admirar o histórico daquela cidade, suas ruas e algumas peculiaridades do seu povo, seus artistas. Pude fazer amigos (gente boa de verdade) que valorizam mais as pessoas do que seus sobrenomes e que, assim como eu, gostariam de ver o Crato bem melhor assistido, bem mais lembrado e muito mais respeitado.
Sendo assim, neste dia 21 de junho, não apenas desejo os parabéns a esta cidade que aprendi a gostar, mas desejo também que ela seja respeitada por seus governantes e pelas pessoas que a constroem, de modo que trabalhem e administrem a cidade com olhos voltados para o futuro. Que façam a cidade crescer e ficar bonita para toda a população, seus visitantes e forasteiros — e não apenas para uns cinco grupos de sobrenomes ditos importantes.
Parabéns, Crato! Parabéns, e melhoras!
Foto: Wilson Bernardo (retirada do site culturacrato.blogspot.com)
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