quarta-feira, 27 de maio de 2020

9 (+1) discos preferidos do rock internacional, por Michel Macedo



por Michel Macedo

Fui “intimado” pelos meus amigos do Berro a fazer uma lista de 9 + 1 discos que gosto* e fiquei sem dormir pensando e chegando à conclusão de que uma lista de 100 já seria difícil (risos, mas é mesmo), logo eu que mudo de opinião e faço mil coisas ao mesmo tempo.

Mas vamos lá... pensei nuns 100 e, na minha cabeça de metamorfose ambulante, ela ia variar a cada semana, então vou fazer uma lista de 10 discos que se a ditadura voltasse com gosto de gás eu fugiria para o bunker com eles, uma das guitarras, minha coleção de Sandman e uma garrafa de whisky.

Muitas vezes eu já acordo com, tipo água na boca, sendo no ouvido, para ouvir determinado disco (Led Zeppelin, Janis Joplin, The Doors e Jimi Hendrix não é muito frequente, mas no dia q acontece chega dá comichão...) mas há alguns discos que dá para ouvir em qualquer momento, qualquer clima, vamos a 10 deles, na minha opinião... vai ficar faltando uns 90.



1. Revolver - The Beatles (1966): esse foi o disco da mudança, quando eles deixaram de fazer shows e resolveram só gravar. Foi aí que eles começaram a inventar coisas no estúdio (com cola, papel e tesoura) que se tornaram inovações que modernizaram em muito as técnicas de gravação. Esse disco também tem minhas duas músicas preferidas dos Beatles: “Eleanor Rigby” e “For No One”.



2. Aqualung - Jethro Tull (1971): nossa... quando ouvi esse disco a primeira vez já achei fantástico, mas fiquei procurando no meu HD uma pasta para colocá-lo, era difícil classificar se era rock'n'roll, progressivo, fusion... um amigo meu na época deu uma ótima definição: rock medieval. Essa banda é fantástica, e acho esse o que melhor define.



3. In Rock - Deep Purple (1970): uma das minhas bandas preferidas, talvez a que eu mais escute, foi por causa do Ritchie Blackmore que decidi tocar guitarra. Esse disco moldou meu ouvido para um dos estilos que mais gosto, que é esse hard rock progressivo, estilo de bandas como Wishbone Ash, Atomic Rooster, Irish Coffee, entre outras.



4. Jailbreak - Thin Lizzy (1976): banda irlandesa não tão conhecida aqui, mas que é super endeusada por lá, tem até estátua do vocalista em Dublin. Influenciaram bandas como Iron Maiden e Metallica (entre outras) e GloryFate também. Depois que você conhece Thin Lizzy nunca mais vai ouvir duetos de guitarra com os mesmos ouvidos.



5. Powerslave - Iron Maiden (1984): se não o melhor, pelo menos o disco mais maduro do Iron Maiden. Fizeram a turnê desse disco no primeiro Rock in Rio, era uma época mágica. Muita nostalgia para mim escutar esse disco, além de conter uma de minhas músicas preferidas deles: “The Rime of the Ancient Mariner”, um poema de Samuel Taylor Coleridge. O Iron Maiden também me aguçou o gosto pela Literatura, eles têm pelo menos umas 20 músicas temáticas de livros.



6. Phenomenon - UFO (1974): outro disco que quando ouvi a guitarra fiquei procurando na memória que tipo de som era aquele. Os solos do Michael Schenker são uma música dentro da música. Esse disco é quase uma unanimidade em ser o melhor da banda. Difícil de encontrar, esse eu ainda não tenho em LP.


7. In the Court of the Crimson King - King Crimson (1969): esse disco é simplesmente um ícone do Rock Progressivo, uma banda que beira a perfeição (junto com Rush e Yes). É meu disco de meditação.



8. Fragile - Yes (1971): uma banda perfeita, um disco perfeito, até a sonoridade da gravação parece estar bem à frente de seu tempo. Esse disco também tem um sentimento de nostalgia imenso para mim porque todas as viagens que faço de carro a gente costumava botar ele, com o bordão de “colocar Yes para que a viagem seja positiva”.



9. Foxtrot - Genesis (1972): eu acho o melhor deles, principalmente por conta da grande suíte, “Supper's Ready”, a parte da flor. É um disco super viagem, narrada pela voz inconfundível do Peter Gabriel. Depois que você vê ao vivo fica ainda melhor porque você fica visualizando a performance dele.



+1. Animals - Pink Floyd (1977): Pink Floyd foi a segunda banda de rock que me afeiçoei, e a primeira que me fez iniciar a maratona de colecionar. Esse disco, de praticamente 3 músicas, tem os melhores solos de guitarra (lembrando que o mais lindo está em “Comfortably Numb”, no The Wall), refrões emocionantes, além de uma atmosfera única. A história por trás das letras também é fascinante – mais uma obra literária musicada, o livro Revolução dos Bichos, de George Orwell. O Pink Floyd se consolida como uma banda antifascista, pena que muitos brasileiros não souberam entender isso na banda e ouviram errado, assim como ouvem muita coisa errada, afinal, o rock é, em sua essência, rebelde e transgressor.


A princípio seriam 10 discos no geral e, valha, pensei que tinha botado pelo menos um disco nacional, mas no final vi que errei a contagem (eu fiz Letras). Tem muita coisa nacional que amo também: Secos & Molhados, Mutantes, Ronnie Von, Jorge Ben, Tim Maia, O Terço, Novos Baianos, Casa das Máquinas, Som Nosso de Cada Dia, Quinteto Violado, e muitos outros...
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Michel Macedo é professor de Literatura Inglesa no curso de Letras (URCA) e guitarrista da banda de heavy metal GloryFate.

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9 (+1) importantes obras de filosofia, por Camila Prado
9 (+1) artistas visuais contemporâneos, por Adriana Botelho
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9 (+1) músicas para ouvir no Primeiro de Maio, por Antonio Lima Júnior
9 (+1) obras que me fizeram refletir durante o isolamento, por Cecilia Sobreira
9 (+2) contos de Rubem Fonseca para ler, por Elvis Pinheiro
9 (+1) filmes para assistir na Netflix, por Wendell Borges
10 (+1) livros de escritoras que me tocaram, por Dia Nobre



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quarta-feira, 20 de maio de 2020

9 (+1) importantes obras de filosofia, por Camila Prado



por Camila Prado

Fazer uma lista das dez obras de filosofia mais importantes para mim: este foi o desafio que O Berro me propôs. Daquelas propostas que já aceitamos sabendo que é cilada. Como não ser injusta, parcial, aleatória ou clichê? Como conciliar o “mais importantes” com o “para mim”? Mas ontem mesmo eu pensava que nessa quarentena, que me pegou fora do país, para um pós-doutorado, uma das coisas de que mais sinto falta, por não estar na minha casa, é da minha estante, em que tenho alguns livros que vêm me acompanhando há tempos.

A saudade é de poder mexer aleatoriamente na estante, achar algum que me chame, abrir ao acaso ou já para reencontrar algum trecho específico. É verdade que não são só, e talvez não principalmente, os livros reconhecidos como obras de filosofia que me fazem falta. Mas eles são, sem dúvida, parte fundamental deste acervo espiritual que provoca sempre de novo, não bem consolações, como diz o outro, mas renovação da experiência de aporias e/ou deslumbramentos por uma reviravolta do pensamento.

Esses são os que me acompanham mais de perto. São os que tive mais oportunidade de reabrir. Não são os mais importantes, são mesmo em sua maioria clichês do cânone ocidental: machista, racista, colonial, etc, etc. Mas são textos vivos para mim. A ordem tem a ver com um certo diálogo entre os textos que estão próximos.


 
A República, de Platão (séc. IV a.C., Grécia)


 
A Essência do Fundamento, de Heidegger (1929, Alemanha)


 
A Gaia Ciência, de Nietzsche (1882, Alemanha)


 
Ética, de Spinoza (1677, Holanda)


 
Meditações Metafísicas, de Descartes (1641, França)


 
A Hermenêutica do Sujeito, de Foucault (1982, França)


 
O Mito de Sísifo, de Camus (1942, França)


 
O Segundo Sexo, de Beauvoir (1949, França)


 
Relatar a si Mesmo: Crítica da Violência Ética, de Butler (2003, EUA)


 
A Condição Humana, de Arendt (1958, EUA)
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Nascida em Petrópolis, Rio de Janeiro, Camila Prado vive há dez anos no Cariri, onde atua como professora de filosofia na Universidade Federal do Cariri (UFCA). Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estuda Filosofia Antiga, Filosofia Política e Estudos Comparados. Gosta de janelas.

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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Daniel Batata e a música iraniana



por Antonio Lima Júnior

Conheci Batata no saudoso tempo do BatCaverna, onde a nata juazeirense se agrupava entre os esgotos e o calçadão. Naquela época eu ainda usava camisa do Super-Homem e Batata logo me botou o apelido de Super Homem Plus, referente à música do Mundo Livre S/A. Isso foi o pontapé para começar a explorar melhor as letras e as sonoridades, investigando com mais afinco essa música para entender a referência.

Batata me apresentou também uma das minhas músicas favoritas, “Proletariado”, do DJ Dolores, que comentei em texto anterior n’O Berro[1], além de Kraftwerk, banda que estes dias perdeu um de seus fundadores, Florian Schneider, enquanto escrevia estas palavras. Mas as noites de birita com meu amigo não me influenciaram somente no campo musical, foram também laboratórios para o jornalismo, como nas disciplinas do curso, em que eu insistia em colocar os bares como pauta nos programas, entrevistando Batata num programa de rádio, ou escrevendo minha primeira reportagem cultural, sobre a banda Algarobas, da qual Batata é componente.

Com as músicas “A Palavra” e “Constipação Psicosomática”, lançado pela Caninha Records no último 2 de maio, o EP Música Iraniana foi gravado na caverna do músico, em meio à pandemia do novo coronavírus, dialogando com os tempos de isolamento e de uma produção musical mais introspectiva. É possível ver as referências de Batata com clareza, bem como uma sonoridade que não destoa muito do que já tem sido produzido na Algarobas, tanto como sua improvisação poética, agora com um toque mais verdadeiramente solo.

Como um homem bomba, Batata joga sua música iraniana ao mundo, sem preocupações, pois todo músico, tal como um mártir terrorista, deve saber sua missão e cumpri-la, caso contrário nem deve tentar. Como uma verdadeira constipação, o trabalho do nosso iraniano, radicado no Cariri, resolve enfim se soltar, provando que as experimentações musicais podem superar barreiras psicossomáticas de uma indústria fonográfica que permanece limitada e tacanha, apesar do discurso “mundo livre” que é imposto a partir do advento da nada democrática internet.

Intrigado com a composição do EP em tempos pandêmicos, tive que ir no cerne, falar com o artista, que solicitamente me respondeu às perguntas a seguir:

Durante o lançamento do EP, você comentou nas redes sociais sobre “o desejo de não mais esperar a chance de ir pra um estúdio”. Como você enxerga a relação entre o fazer música e a indústria fonográfica?
Batata: Acho que a indústria manda na mídia, como sempre, assim elege quem é mais pop. Não deve ser muito meu caso por minhas escolhas, mas hoje vejo que a tecnologia aumentou a democratização. Infelizmente, todos não têm acesso nem à pouca tecnologia que tive, pra gravar suas coisas, mas com certeza muito mais gente tá podendo se expressar.

Você comentou na internet também que além desse EP existem outras músicas para lançar. Quais os planos para soltar novas músicas?
Batata: Como tenho que trabalhar pra viver, não posso prever, mas acho que em junho sai ao menos mais uma [música] e um clipe.

A gravação do EP foi toda artesanal e em casa, num período em que a sociedade está em isolamento social. Como você analisa a produção musical em tempos de quarentena?
Batata: No meu caso não tem tanto a ver com a quarentena: “Constipação...” é de 2017 e “A palavra” de 2019, mas não creio que essa situação seja fértil pra ninguém. No meu caso, dois dias de férias que tive me adiantaram, mas muita coisa veio sendo pronta aos pedaços de 2017 pra cá.

Fazer música autoral sempre foi difícil no Brasil, ainda mais no sertão, com ou sem pandemia. Sabendo que o mundo pode não ser mais o mesmo depois da quarentena, qual sua perspectiva?
Batata: Fazer não é difícil, o complexo é divulgar. Ninguém fala nisso, mas também tem de achar seu público, muitos ouvem e não gostam, é normal, mas os artistas independentes sempre se pegam na indústria e na mídia pra tirar de si essa responsabilidade. Cara, se tu gostar gostou, a fiz em casa, ah não tem público, ah não tá na novela... Chega de se enganar, tudo isso ajuda até música ruim, mas nem tanto [risos].

[1] http://oberronet.blogspot.com/2020/05/9-1-musicas-para-ouvir-no-primeiro-de.html


Escute as músicas do EP Música Iraniana, de Daniel Batata:

Constipação Psicosomática (Maçã do Amor):


A Palavra:

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Antonio Lima Júnior é jornalista formado pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Diretor da Associação Cearense de Imprensa (ACI), fã de cinema brasileiro e um marxista convicto e confesso.

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quarta-feira, 13 de maio de 2020

‘Songs in the Key of Life’, álbum de Stevie Wonder (1976)



Songs in the Key of Life | Stevie Wonder (1976)

“Em 15 de agosto de 1975, Stevie Wonder assinou um contrato de U$$ 13 milhões com a Motown, que garantia a ele total liberdade artística. Wonder tinha estocado centenas de música e, nos meses seguintes, gravou outras 200, forçando a gravadora a organizar o primeiro de dois álbuns duplos que o transformaram de dissidente precoce a megaestrela internacional (foi um dos primeiros álbuns a entrar nas paradas americanas já no topo).

Há momentos em que o disco se aproxima do jazz: ‘Sir Duke’ é uma homenagem no estilo big-band a Duke Ellington; ‘Contusion’ traz um jazz-rock instrumental à la Mahavishnu Orchestra. Com elementos de samba, ‘As’ conta com Herbie Hancock; ‘Another Star’, com gosto de salsa, tem o flautista Bobbi Humphrey e o guitarrista George Benson; e a celestial ‘If It's Magic’ apresenta um dueto com a harpista Dorothy Ashby.

O álbum sofreu vários atrasos por conta das novas canções. ‘Houve vezes em que Stevie ficou no estúdio direto, durante 48 horas’, contou o baixista Nathan Watts. ‘Ninguém conseguia fazer o homem parar, nem para comer!’ De fato, as quatro faixas finais do CD eram, originalmente, um disco bônus de sete polegadas e 33 rpm.

Songs In The Key of Life foi muito elogiado, embora Robert Christgau, do Village Voice, tenha achado o disco repleto de bobagem New Age (‘Saturn’), sermões didáticos (‘Black Man’) e sentimentalismo barato (‘Ins't She Lovely’). Apesar disso, o disco deu o tom político da militância de Stevie Wonder no movimento negro – há agradecimentos a Jesse Jackson e Louis Farrakhan, ao lado de Frank Zappa e Andy Williams.”
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John Lewis, no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer (Editora Sextante, 2007).

Selo | Tamla Motown
Produção | Stevie Wonder
Projeto gráfico | Motown Graphics Department
Nacionalidade | EUA
Duração | 86:53

Lista de músicas
Disco 1:
1. Love's in Need of Love Today (Stevie Wonder)
2. Have a Talk with God (Calvin Hardaway / Stevie Wonder)
3. Village Ghetto Land (Gary Byrd / Stevie Wonder)
4. Contusion (Stevie Wonder)
5. Sir Duke (Stevie Wonder)
6. I Wish (Stevie Wonder)
7. Knocks Me off My Feet (Stevie Wonder)
8. Partime Paradise (Stevie Wonder)
9. Summer Soft (Stevie Wonder)
10. Ordinary Pain (Stevie Wonder)

Disco 2:
1. Isn't She Lovely (Stevie Wonder)
2. Joy Inside My Tears (Stevie Wonder)
3. Black Man (Gary Byrd / Stevie Wonder)
4. Ngiculela - Es Una Historia - I Am Singing (Stevie Wonder)
5. If It's Magic (Stevie Wonder)
6. As (Stevie Wonder)
7. Another Star (Stevie Wonder)
8. Saturn (Michael Sembello / Stevie Wonder)
9. Ebony Eyes (Stevie Wonder)
10. All Day Sucker (Stevie Wonder)
11. Easy Goin' Evening (My Mamma's Call) (Stevie Wonder)

‘Sir Duke’:


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terça-feira, 12 de maio de 2020

9 (+1) artistas visuais contemporâneos, por Adriana Botelho



por Adriana Botelho

Os artistas escolhidos fazem parte de um relativo acompanhamento que faço de suas produções. Me chama a atenção a definição do tema, as escolhas de suas referências estéticas, a experimentação e o domínio da técnica, o que gera uma poética própria, ao mesmo tempo que são capazes de traduzir um estado de coisas do momento, uma época ou geração.

Por outro lado, há algo de indefinível e misterioso, pois vêm da maneira que acalentam algumas angústias. Naquele sentimento que aprofunda o diálogo reflexivo e provoca instantaneamente o prazer estético.

Foi difícil escolher apenas duas imagens de cada um deles, mas corroboro que aqui se faz um estímulo a mais, para xs leitorxs d’O Berro irem à procura em sites por mais informações. Grata à equipe d’O Berro e à todxs, e marcando um dado do momento: #fiquemos em casa!


   
Adriana Varejão (Rio de Janeiro): à maneira que utiliza os signos e tema da história colonial brasileira para traduzir a atualidade.



 
Telma Saraiva (Ceará): pioneira da performance no retrato, com referências do cinema e seu imaginário de fantasia. Exímia colorista, domina as formas cromáticas, nas suas variedades e composição da luz.



 
Leo Ferreira (Ceará): poetiza com as formas elementares. Constrói um diário lírico e delicado do cotidiano.



 
Tiago Santana (Ceará): compõe formas primorosas realçando certa estranheza do cotidiano. Trabalha o detalhe em composição ao contexto maior, mostrando que tudo existe em relação simbiótica.



 
Maria Cândido Monteiro (Ceará): tem notável domínio da composição cromática e riqueza de detalhes na forma escultórica. Utiliza temas que representam uma coletividade, num misto de registro histórico com sentimentos de idealismo.



 
Francisco Zanazanan (Ceará): perscrutador possui intenso diálogo e experimentação entre a arte e as áreas correlatas das ciências, como a física, química, ótica, espaço, movimento.



 
Berna Reale (Pará): a potência da performance ao reordenar os signos sociais. Elabora narrativas contemporâneas utilizando as mitologias e as convenções, para emergir suas contradições.



 
Célio Celestino (Ceará): reordena, no domínio da escala e composição, os signos culturais subvertendo seus sentidos sociais.



 
Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro): evidencia vida e arte, realçando as contradições sociais.



 
Marepe (Bahia): possui humor na observação do cotidiano, encontrando a nostalgia e ironia nos objetos prontos (ready-made).
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Adriana Botelho é documentarista, curadora de artes visuais e professora de história da arte, na UFCA (Universidade Federal do Cariri).

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‘Live’: Representação da realidade no cinema: O caso da Trilogia Ibérica de Bigas Luna



“Tomando por base as leituras do artigo ‘O cinema como ferramenta de análise e transformação cultural: o franquismo em Bigas Luna’, de Sílvia Cristina Aguetoni Marques, e o livro O cinema como prática social, de Graeme Turner, o Grupo de Estudos Sétima de Cinema propõe discutir a representação da realidade no cinema a partir de três filmes do diretor catalão: Jamón Jamón (1992), Ovos de Ouro (1993) e A Teta e a Lua (1994), sua trilogia ibérica.” (sinopse da divulgação do evento)

O estudo acontecerá, ao vivo, nesta quarta-feira, 13 de maio de 2020, às 18h, no canal Revista Sétima no YouTube. O link é este: https://youtu.be/lifv8T44ak8

@setimadecinema @sescce #TudoEmCasaFecomércio #SescCe

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‘Casa, comida e cama’, canção de josuh



Casa, Comida e Cama
josuh

Tão cheio de amor
Imagine você
Tão cheio de som
Pronto pra te morder

Prepare o bordô
Ora que eu vou te compadecer
Prepara a janela do teu quarto
Ora que eu vou te comer

Ora que eu vou, ah eu vou
Prepara um canto pra pernoitar
Uma viola ao lado
Ela sozinha vai tocar

Pedaço a pedaço
A minha boca tudo vai fazer
Pedaço é um laço
Pronto pra desfazer

Ora que eu vou te consumir
É na linha da mão
Boca e nuca
Coração com coração

Aí, não parta não parta, não
Se junta nessa condução
Me bebe em teus braços
E me faz a tua condição.
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‘Casa, Comida e Cama’
Letra e música: josuh
Gravação, mixagem, produção e masterização: Luiz Araújo
Guitarras: Junior Cardoso
Baixo: Luiz Araújo
Violão: josuh
Bateria: Bruno Barbosa
Voz: josuh
Capa do single: josuh
Estúdio Casa de Pedra (Juazeiro do Norte-CE)
Distribuidora: Onerpm

Escute ‘Casa, Comida e Cama’ no Spotify:


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sábado, 9 de maio de 2020

Pandemônios de Regina Duarte em tempos de pandemia


Charge: Laerte / @laertegenial


por Hudson Jorge

Depois de todo o burburinho criado em torno da entrevista da Secretária Nacional da Cultura, Regina Duarte, dada ao vivo à rede CNN, vários memes e vídeos editados com os momentos mais destacáveis, resolvi me deter, durante cerca de quarenta minutos para assistir ao material na íntegra.

Claro que não esperava nada de extraordinário. Minha intenção era poder assistir todo o conteúdo e fazer um comparativo em relação ao que costumamos receber através de pequenos trechos editados, devidamente mastigados e o contexto de onde eles são tirados.

Ainda assim, consegui me surpreender. Eu não podia esperar que uma entrevista começasse, logo de cara, com uma enorme de uma #vergonhaalheia. Uma pessoa que ocupa um cargo praticamente equivalente ao de Ministro de Estado, começar agradecendo um poeminha gerado em um contexto que não tem nada a ver com a entrevista.

Regina Duarte deu vexame, todos sabem. Comportou-se na entrevista como se estivesse numa conversa de comadres tomando o chá das cinco. Quis parecer graciosa, mas apresentou-se patética, despreparada intelectual e emocionalmente para estar à frente de um cargo tão importante. Claro que isso não é nenhuma novidade neste desgoverno, mas dessa vez, a evidência me trouxe sentimentos nada agradáveis.

Assistindo à entrevista, me recordei de um episódio na minha infância, quando desci, despreparado, uma ladeira íngreme em uma bicicleta sem freio. A sensação que tive foi a mesma. A de ter embarcado em um veículo descontrolado e sem freio sobre o qual eu não tinha domínio, mas estava lá, sendo conduzido por ele.

Tive vontade, em diversos momentos, de pausar o vídeo e pedir desculpas. Desculpas ao jornalista Daniel Adjuto, que se deparou com uma entrevistada que não deu nenhuma resposta objetiva e que buscava simular uma suposta amizade, colocando-o numa situação de parcialidade, ao vivo, diante das câmeras e do seu público; pedir desculpas aos familiares de todos os torturados e mortos pela ditadura militar e ainda pelos falecidos recentemente (seja aos artistas ou aos milhares de anônimos abatidos pelo coronavírus); pedir desculpas aos espectadores e pedir desculpas a mim mesmo por ter assistido àquele show de horrores.

Como se não bastassem as opiniões infames sobre autoritarismo, ditadura, tortura e assassinatos, a Secretária Nacional da Cultura conseguiu não apresentar nenhum projeto, nenhuma solução ou, sequer, dar alguma esperança para os milhões de trabalhadores da Cultura desse país, que hoje estão tolhidos de suas oportunidades de trabalho e geração de renda devido à pandemia do novo coronavírus.

Que trágico momento vive a Cultura, as artes e os artistas brasileiros. Órfãos de liderança que seja capaz de batalhar por alguma ação emergencial ou, ao menos, de confortá-los em momento tão difícil.

A Cultura brasileira, celebrada em todo o mundo pela sua diversidade, qualidade e encantamento, a cada dia sofre novos e novos golpes pelos incautos incapazes produzi-la, de apreciá-la ou mesmo de percebê-la. E os artistas brasileiros (que não precisavam passar por isso), sofrem o escárnio e o desprezo da instituição que mais deveria valorizá-los.

Já vivemos incontáveis trágicos momentos nesse desgoverno com as atuações e falas abomináveis dos Ministros do Meio Ambiente, da Educação, da Economia, da Mulher, Família e Direitos Humanos e por aí vai uma lista de vários outros dementes. Mas, Regina Duarte não só despreza seus colegas de trabalho, zilhões de vezes mais competentes, como não perde a oportunidade de humilhá-los e constrangê-los perante o mundo com suas declarações estapafúrdias.

No entanto, ela nos dá uma oportunidade de ouro, pois, talvez, nunca teríamos percebido, em sua totalidade, o ser desprezível que ela é – hoje lamento profundamente por não ter torcido pela Odete Roitman, mas, eu era apenas uma criança e me perdoo.

Várias pessoas já falaram isso, mas não posso deixar de repetir que essa ex-atriz “mêa boca” terminou de rasgar sua biografia e enterrar seu currículo na caixa de areia do gato.

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terça-feira, 5 de maio de 2020

9 (+1) leituras para quem quer conhecer melhor a literatura brasileira, por Edson Martins



por Edson Martins


1. A Carta de Pero Vaz de Caminha (1500)
Ler A Carta de Caminha parece o tipo de coisa que, se você escapou de fazer no ensino médio, é porque você está imune para o resto da vida. Acontece que a leitura da Carta pode ser uma experiência muito mais interessante do que se imagina. Nela, temos algumas das ideias centrais que ajudarão a formar a imagem que temos do país: a noção de uma terra que é dádiva de Deus (rica, fértil e abençoada com maravilhas) habitada por seres humanos que não parecem merecê-la (Caminha vê os povos originários com um olhar que os diminui, animaliza e os apresenta como dóceis ao domínio e à manipulação). Para terminar, o escrivão da Descoberta ainda conclui a carta pedindo um favor pessoal: seu genro estava preso por ter roubado uma igreja e espancado um religioso.


 
2. Ubirajara (José de Alencar, 1874)
Ubirajara, de Alencar, é um romance pouco festejado, mas que merece – e muito – ser lido. A trama conta como Jaguarê, mais tarde chamado de Ubirajara,  se torna o herói do povo Araguaia e como, enfrentando provas que testam seus limites, unifica a tribo do seu povo com a dos Tocantins, dando origem a um novo povo, os ubirajaras. De quebra, casa com Jandira e Araci. A poligamia não é o único traço cultural dos povos originários que Alencar defende em seu romance. Construindo uma oposição forte entre a cultura do índio e a do europeu, o romancista produz uma obra capaz de revelar como nossa formação cultural é construída sobre essa tensão.


 
3. Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida, 1854)
Outra leitura com cara de escola é o romance de Manuel Antônio de Almeida, as Memórias de um Sargento de Milícias. O interesse da leitura não tem a ver com milicianos, tenham calma. A obra narra as aventuras de Leonardo, homem pobre, branco e livre, que mais tarde será explicado como uma síntese da imagem do brasileiro como um povo que oscila da ordem para a desordem e vice-versa. Ainda que os melhores momentos do livro estejam nas aventuras desse herói malandro, o romance também esquadrinha muitos costumes do Brasil da época de D. João VI.


 
4. Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1881)
O romance de Machado de Assis, qualquer um deles, vale a pena pela inteligência narrativa do autor, que faz o romance brasileiro assumir a sua forma mais madura e plenamente desenvolvida. Nesse sentido, destaca-se do conjunto das últimas obras, o Memórias Póstumas de Brás Cubas. Representante da elite econômica e intelectual brasileira, Brás Cubas é preconceituoso, avesso ao trabalho, vaidoso e intelectualmente limitado, mistura do que há de pior em fariseus e saduceus. Com a leitura do romance, entendemos muito do tipo de herói que se desenvolverá na nossa literatura, além de percebermos como a sociedade brasileira é moldada pela subserviência aos padrões culturais estrangeiros e pelos resultados de uma experiência histórica definitivamente marcada pela escravidão, extraindo-se desse conjunto os traços de caráter da nossa elite brazuca.


 
5. Angústia (Graciliano Ramos, 1936)
Graciliano Ramos é um autor que fascina muita gente e isso não é difícil de entender, depois que a gente abre um livro dele. Um desses romances, Angústia, na nossa opinião, é um caso de injustiça (e) de sucesso. É um sucesso, porque a melhor crítica literária reconhece nele os toques de genialidade que ele realmente tem. E é um caso de injustiça, porque não me parece que ele seja uma ocupação permanente do leitor (pelo menos, do leitor brasileiro). A miséria material e moral de Luís de Silva é esquadrinhada de uma forma tão intensa que podemos mesmo dizer que o romance, como gênero, é forçado a encontrar uma forma nova, uma linguagem nova, para cumprir o desafio que Graciliano exige dele.


 
6. Fogo Morto (José Lins do Rego, 1943)
Já o Fogo Morto, de José Lins do Rego, é um romance que se sustenta pela aposta que faz na fórmula bem consolidada do romance, sem cobrar dela nenhuma novidade. Acontece que as personagens que encontramos nele são, sem medo de estar exagerando, criações que se parecem tanto com criaturas que o mundo que desaba em cima delas acaba parecendo um mundo mais de verdade do que esse em que vivemos. Mestre Amaro, Seu Lula e Capitão Vitorino são gente mesmo, dessas que a gente conhece. A leitura do romance nos mostra como a literatura brasileira alcança, em certos autores e obras, esse efeito de pôr em movimento um jeito novo de olhar nos olhos de outras pessoas: esse romance de Zé Lins reinaugura o Brasil, porque o Brasil não é mais o mesmo depois que o lemos.


 
7. A Hora da Estrela (Clarice Lispector, 1977)
Depois que muitos romances nos fizeram pensar sobre as transformações do romance, vêm as obras que nos fazem pensar sobre como os romancistas se veem. Se isso já te ocorreu (e, principalmente, se isso nunca te ocorreu), está na hora de ler A Hora da Estrela. Clarice Lispector sofreu muito com a internet e virou açúcar na boca do povo. Isto não é ruim, todo interesse é positivo quando se trata de leitura. Mas ela já sofria antes, acusada de ser hermética, dificílima, incompreensível. Nesse romance, em que ela parece estar contando a história de Macabéa, Clarice faz um grande acerto de contas com os seus críticos e oferece a eles uma imagem extraordinária deles mesmos: o seu narrador, Rodrigo S. M. É uma leitura que não se resume à compaixão pela moça nordestina: é Clarice chamando a literatura brasileira pra briga e isso é lindo de se ver.


 
8. Gota d’Água (Chico Buarque e Paulo Porto, 1975)
Algo que não temos o hábito de ler é a dramaturgia brasileira. Há textos importantíssimos e, entre eles, Gota d’Água. Quando Chico Buarque recupera o mito de Medeia e a recria na pele de Joana, macumbeira e favelada, pisoteada e homicida, dá para perder o fôlego. A peça se situa em um período importante, em que o povo brasileiro é brilhantemente estudado no palco e a obra de Chico se destaca ao nos dar um feminino insubmisso e corrosivo.


 
9. Navalha na Carne (Plínio Marcos, 1967)
Se a dramaturgia nos mostra o povo na obra de Chico Buarque, Guarnieri, Dias Gomes, temos um autor que nos mostra os que estão tão na pior que melhorar de vida seria viver na sarjeta. Ele se chama Plínio Marcos e é o autor de Navalha na Carne. O encontro assustador que temos com Neusa Sueli, Vado e Veludo, depois que o digerimos, explica como, por baixo de todas as indignidades que a vida reserva para os que estão condenados a viver fora das vistas do cidadão comum, está ali o Brasil que todos reconhecemos. Esse Brasil que está lá, na pensão imunda em que vivem os três, nos embrulha o estômago e nos obriga a responder o quanto é preciso dizer para que o Brasil se escandalize consigo mesmo. Leitura fundamental.


 
+1. A Rainha dos Cárceres da Grécia (Osman Lins, 1976)
Por fim, A Rainha dos Cárceres da Grécia é uma obra-prima do romance brasileiro do século XX. Sozinho, o romance já bastaria para situar seu autor, Osman Lins, entre os mais importantes romancistas brasileiros. A estrutura do texto, que se apresenta sob a forma de um diário, ao qual se agregam notícias de jornal, reflexões de (auto)crítica literária e um peculiar inventário das paixões do seu narrador, não torna o romance uma engrenagem de dificuldades. Pelo contrário, a leitura é deliciosamente fluida. Acompanhamos ali o balanço da paixão do narrador pela sua amante morta, a peregrinação de Maria de França (mulher negra, favelada e louca) em busca de uma aposentadoria como doente mental, além de uma extraordinária coleção de personagens inventados, que circulam entre personagens reais, pelas ruas de um Recife que está e não está ali. Famoso por ter criado Lisbela e o prisioneiro, Osman Lins deixou este último romance como uma obra irretocável, que ainda aguarda a celebração que muito merece.
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Edson Martins é professor de literatura brasileira e pesquisador dedicado ao estudo das poéticas orais nordestinas.

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