quarta-feira, 25 de maio de 2011

"Procura-se" Beata Maria de Araújo

Centenário de Juazeiro do Norte # 42
No último dia 23 de maio foi comemorado o 148º aniversário de nascimento da Beata Maria de Araujo, que juntamente com o Pe. Cícero é uma das grandes personagens de Juazeiro do Norte e responsável pelo crescimento constante do turismo religioso em nossa cidade. E nesse ponto, um acontecimento polêmico até os dias de hoje tem valor relevante, trata-se do Milagre da Hóstia, que foi protagonizado pelo Pe. Cícero e pela Beata Maria de Araújo.

Tendo sido vitimada e condenada pela própria igreja a afastar-se dos cultos religiosos que tanto lhe iluminavam a alma, a Beata recentemente tornou-se foco de um grupo de artistas intitulado 100 diferente, que tenta trazer luz à memória da Beata que teve seu túmulo violado e os restos mortais jogados em lugar ignorado.

“Procura-se”, é assim que a intervenção grafa em vermelho os diversos cartazes espalhados pela cidade com a imagem de Maria de Araújo. Logo abaixo lemos “Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo - BEATA MARIA DE ARAÚJO - mulher, pobre, negra desaparecida desde 22 de outubro de 1930". Com a profanação do túmulo da beata, fica claro o sentido do “procura-se”, cabendo ao restante do texto a responsabilidade pelas principais indagações.

Será que teria outra sorte se a beata fosse rica e branca?! Ou, pelo menos, buscar-se ia os responsáveis pelo vilipêndio do seu túmulo? E hoje, será possível encontrá-la, ter seu respeito resgatado?

Muito foi (e vem sendo) feito para se redimir os erros com o Pe. Cícero. Resta que seja feito o mesmo com a Beata, que já é respeitada e admirada pelo povo de Juazeiro, por seus artistas e romeiros que, ano após ano, prestam homenagens a esta devota do "Padim Ciço".

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Para ver uma matéria do Fantástico (exibida em 1997) sobre a Beata Maria de Araújo e o suposto milagre clique aqui.

13 comentários:

  1. Particularmente, eu sempre achei que cometeram uma grande injustiça com a Beata Maria de Araújo. Ela deveria figurar, ao lado de Padre Cícero, com um grande ícone religioso da cidade, já que a história e o tempo concederam isso ao padim.

    Mas, não! Encarregaram-se de fazer exatamente o contrário, expurgando da sociedade e da história, uma das verdadeiras responsáveis, mesmo que indiretamente, por Juazeiro ser o que é hoje.

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  2. Acho que nao indiretamente, uma vez que ela foi o meio através do qual o milagre da hóstia se tornou possível. Acho que o problema está enraizado em preconceitos sociais latentes ainda hoje em nossa sociedade, que timidamente procura corrigir-se.

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  3. Isso mesmo Hudson e Fredson,mas acho que o problema vai mais além de apenas "preconceitos sociais", penso que a raíz de tudo está no próprio "milagre da hóstia", que a igreja católica desde o tempo do ocorrido tentou apagar da memória do povo, e até hoje é um tabú dentro da própria, vide as opiniões divergentes de vários integrantes do clero sobre o assunto. Resgatar a memória de Maria de Araújo, seria resgatar o milagre da tranformação da hóstia em si, ou pelo menos traze-lo à tona novamente, e coloca-lo mais uma vez no centro da atenção popular, coisa que a igraja católica romana sempre quis evitar, mas quem sabe com o passar do tempo, e com a reabilitação do Pe. Cícero, eles reconhecerão que sim, que Deus foi capaz de sair dos altares da Europa, e veio fazer um milagre no sertão do Brasil, como havia feito antes na França, Portugal, e.t.c., mas dessa vez escolheu uma mulher pobre, negra e analfabeta, e um padre que lembrava dos pobres e miseráveis da vida, para serem seus instrumentos nesse milagre, e quem sabe um dia a beata Maria de Araújo seja oficialmente beatificada, e ganhe seu merecido lugar nos altares, junto a outras "santas" europeias que protagonizaram o mesmo fenomeno que ela.

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  4. Júnior,
    com certeza o problema começou com o tratamento dado pela própria igreja ao caso. Sabe-se que o primeiro bispo (a Diocese responsável ainda era a de Fortaleza) fez todo seu julgamento (e "condenação")sem sequer ter pisado no Juazeiro. Mas quanto à imagem da beata, creio que tem muito do preconceito dito por Hudson e Fredson, pela observação que faço do seguinte: mesmo a Igreja tirando os direitos sacerdotais do Padre Cícero e depois o excomungando, ele continuou venerado, era poderoso, tinha influência política, etc... enquanto que a Beata teve que ser recolhida e continuou sendo perseguida. O que pesou mais pra ela, realmente, acabou sendo o "pobre" (não precisa explicar muito) e "analfabeta" (o poder manifesta-se, antes de tudo, na linguagem). Mas essas condições eram, pensando naquela época, principalmente resquícios de um cenário no qual a "abolição" da escravatura estava prestes a ocorrer, que passaria a mostrar pra sociedade graves problemas enfrentados pelos negros a partir de então (inclusive os citados: pobreza e analfabetismo). Diante de todo esse quadro, décadas depois, a própria Igreja passou a considerar o Padre Cícero de alguma forma, mas a beata continuou sendo ignorada. Mas, considerando bem o que você falou: a Beata sempre lembraria o tal milagre condenado pela igreja, enquanto que o Padre Cícero passou a ter importância e influência por outras áreas. A imagem dele nem sempre estava ligado ao milagre, enquanto a da Beata sempre remetia ao assunto: suposto milagre. É um assunto muito controverso, principalmente pela falta de provas hoje em dia pra investigar... Muitas provas sumiram, inclusive o corpo da Beata. Naquela época o Juazeiro nem cidade era cidade... imagina a "importância" com que Juazeiro era visto ("um povoado réi!"). Hoje, como que num "passe de mágica" Juazeiro (de quase 300 mil habitantes e uma grande força econômica e religiosa) passa a ser visto com outros olhos... que coincidência. hehe

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  5. Isso mesmo André, Dom Joaquim o bispo, mesmo com os dois maiores teologos do Ceará na epoca, que fizeram parte da primeira comissão de investigação, atestarem que era de fato um milagre, já tinha o seu veredicto formado, condenando o fenomeno.E é interessante notar que a "transmutação" da hóstia, não acontecia só com Maria de Araújo, mas com algumas outras beatas do Juazerio e do Crato também. Mas Maria foi a primeira, e uma das unicas beatas que segurou a verdade até o fim, junta com Pe.Cícero, e não voltaram atrás nos seus depoimentos, mesmo com todas as ameaças e punições que sofreram. Claro que Maria de Araújo não pertencendo ao clero, sendo mulher, pobre e analfabeta, teve muito menos direito de defesa que Cícero, que foi até Roma, tentar se defender para o próprio Papa.Como voce bem falou, após esses fatos, Pe. Cícero, proibido de exercer o sacerdócio se dedicou à política, enquanto que a beata foi relegada ao esquecimento. A questão que coloquei foi essa: será que se Cícero não tivesse se destacado na política, realizado a independencia do Juazeiro, se tornado influente, não só pelos supostos milagres, mas também como governante e liderança de milhares de romeiros que invadiam e invadem o Juazeiro a cada ano, se ele tivesse baixado a cabeça, se retirado da vida religiosa e pública e tivesse terminado seus dias como um velho padre, afastado na colina do Horto, ele não seria também esquecido?No meu ver existiu sim muito preconceito no assunto, mas como falei não só de ordem social, acho que o de ordem religiosa foi bem maior, como afirmou o padre e ex reitor do seminário onde P.e Cícero ordenou-se,:"Nosso senhor não iria deixar a Europa para fazer milagres no Brasil."

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  6. Mais do que no Brasil... no interior do interior do interior. hehe
    Juazeiro nem município era. Imagina a credibilidade e importância que davam aos fatos do "povoado Joaseiro". Se hoje o Nordeste, num mundo globalizado e tudo o mais que sabemos, reclama a pecha de preconceito e dificuldade em ter reconhecido seus valores, imagina na época, como levantar voz de "um mero povoado no meio do nada". Isso tudo torna a história de Juazeiro mais fantástica (tanto no sentido de mitos, de histórias controvertidas, como no sentido de incrível, interessante), ainda mais levando em conta tudo o que ocorreu depois... como o Padre Cícero, começando a carreira sacerdotal e política num mero povoado virou uma das maiores autoridades do Estado na época e uma das figuras mais conhecidas no Brasil.

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  7. Em "Estado" me referia ao Ceará, que na época chamava-se de Província.

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  8. A imagem que os desafetos do Juazeiro, tentavam passar naquele tempo, era a de um lugar de fanáticos, maltrapilhos e bandidos. Tem até a história qe fala da célebre rivalidade entre Juazeiro e Crato, que quando o bispo auxiliar do Ceará fez uma visita ao Crato, um padre que discursava para a multidão disse: "Povo nobre a altivo do Crato, peço permissão para falar sobre o povo imundo do Juazeiro, que vive guiado por satanás", dizem que isso foi um dos estopins para a independencia do Juazeiro, pois a partir daí os Juazeirenses começaram a boicotar o comercio e não pagar mais impostos ao Crato.

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  9. se eu acreditasse em deus e fosse cristão e católico (p piorar!! kkkkk), teria como santa a beata e n o pe. cícero. mas como n acredito e nem sei o q é ser ateu... acho preconceito, da igreja, toda a história. n só contra a beata... compare c o caso agora do papa joão paulo II. [não somos europeus, nem arianos puros].

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  10. Os comentarios estao melhores que o post em si... que jah é muito bom.

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  11. Adorei esta intervenção... Isto também serve para indagar se realmente há o que comemorar neste Centenário... Gastam uma dinheirama com shows de forró e com Ivete Sangalo (imagine o cachê dela como deve ser alto!!!), enquanto isto a cidade com muita coisa para fazer, obras inacabadas e nenhum investimento... Fala sério!!! Recomendo vcs visitarem o Ponto do Shopping Cariri sentido Crato e Barbalha e olharem a intervenção artística de um coletivo quem naum lembro o nome. Eles copiaram a logomarca do Centenário, e ao invés de estar escrito na Faixa "Centenário de Juazeiro do Norte" está escrito "Sem ter Nada em Juazeiro do Norte"... E acima da cabeça da estátua do Pe. Cícero um Ponto de interrogação... Genial......... vão lá para conferir!!!

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  12. Já muitos desses cartazes por aqui e apoio a ideia..
    Com relação ao milagre, acredito sim que o milagre é DELA, ela é a verdadeira protagonista do que aconteceu...Mas a história, sempre escrita por homens, fez com que Mª de Araújo fosse APAGADA, nem esquecida (pois esquecer é admitir que o fato aconteceu e que pode ser lembrado em vagos momentos), e fez com que o Padre Cícero torna-se protagonista de uma história onde ele foi apenas coadjuvante.

    Lendo o livro da Maria do Carmo Forti - "Mª de Araújo:a beata do milagre - a autora vem classificar a beata como uma mulher "sem-lugar", "sem-poder":

    "Para o Código Canônico vigente da época do milagre, ela estava abaixo dos leigos, pois era mulher. Ou ainda mais baixo do status de mulher, pois era negra: 'raça infecta', pelas constituições do arcebispado da Bahia. E pode ir mais longe na desqualificação de Mª de Araújo: era analfabeta. Ela, portanto, fazia parte daqueles que não controem a história." (Forti, 1999, p. 109)

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