Centenário de Juazeiro do Norte # 24
No dia 6 de maio de 1926 o Padre Cícero era eleito deputado federal. A candidatura do Padre, já com 82 anos à época, foi anunciada dias depois da morte do antigo companheiro de lutas políticas, o Dr. Floro Bartolomeu (que era deputado desde 1921).
Ficando uma cadeira vazia no Congresso Nacional, o Ceará precisava indicar, através de votação, um nome para substituir Floro. Após alguns acenarem com a candidatura e solicitarem apoio do Padre Cícero, a decisão do então prefeito de Juazeiro foi de que ele mesmo sairia candidato.
O fato foi recebido com surpresa por muitos. E o jornal O Ceará, de Fortaleza, ironizou a postura do Padre, lançando um artigo que não poupava críticas mordazes ao "Padim Ciço". O livro de Lira Neto, Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão (Cia. das Letras, 2009), apresenta transcrição de trecho do artigo, que reproduzimos abaixo:
"Assiste-nos a razão de salientar o ridículo que recairá sobre nós com a recepção do povo carioca ao legendário chefe dos fanáticos. Imaginemos, por instantes, a cena grotesca que será o desembarque, na capital do país, do novo emissário do povo cearense. [...] A figura do padre, com o seu longo bastão de pastor de cinema, ao lado da beata Mocinha, de quem jamais se separa, constituirá 'um número', servirá de pasto aos jornais e revistas cariocas, durante uma semana. E quando, sempre de bastão, sempre acompanhado da beata, ele for ao Catete retribuir os cumprimentos do chefe da nação a quem naturalmente chamará 'meu camaradinha', então a cena será de um pitoresco irresistível."
A partir daí, o resumo da ópera foi o seguinte: o Padre Cícero sequer teve concorrentes. Com sua enorme popularidade, não houve quem ousasse enfrentá-lo; foi eleito como candidato único. O que também não significou o padre virar deputado federal de fato: ele não foi ao Rio de Janeiro sequer buscar o diploma parlamentar. Mas, mesmo com a saúde bastante debilitada (repetimos: já com 82 anos de idade), continuou à frente da Prefeitura de Juazeiro do Norte.
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