domingo, 3 de julho de 2011

Versos de João Bandeira em homenagem ao Mestre Nino

Centenário de Juazeiro do Norte # 81

Já abordamos nas postagens sobre o Centenário de Juazeiro, a tradição da cidade na produção de literatura de cordel, xilogravura, artesanato, etc. E nesta postagem recorremos à junção de literatura e escultura: trata-se da publicação de versos de João Bandeira de Caldas em homenagem ao escultor Mestre Nino (foto), por ocasião de seu falecimento, em 2002.

O poema está na edição comemorativa O estro de um cantador, que celebra os 45 anos (1961-2006) de cantoria de João Bandeira de Caldas.

Para saber mais sobre a vida de Seu Nino, clique aqui e leia texto de Dodora Guimarães falando (quando Nino ainda estava vivo) sobre a produção de suas esculturas em madeira.
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A morte de seu Nino
João Bandeira de Caldas

Tudo nessa vida passa
Pra quem no mundo nasceu
Para este, para aquele
Para você, para eu,
Tudo cai nas mãos da morte
Em Juazeiro do Norte
Mestre Nino faleceu.

Mas, quem era Mestre Nino?
- Um escultor de verdade
Artesão de preferência
Que não sabia da idade
Também não sabia ler
Porém sabia fazer
Arte com toda vontade.

Antes de ser escultor
Trabalhou na agricultura
Cortou cana para engenho
Para fazer rapadura
Depois tomou a carreira
E faz em lata e madeira
Sua primeira escultura.

Brinquedos para crianças
Fez de latas, de cavacos
Agradando a todo mundo
Aos fortes também aos fracos
E na sua construção
Chegou a confecção
Dos dezessete macacos.

Vendia de porta em porta
Os macacos que fazia
No Juazeiro e no Crato
Nas feiras ele vendia
E às vezes esses inventos
Trocava por mantimentos
Assim seu Nino vivia.

Fazia imagem de peixe
De pássaros, de Mateus
De caçador, de elefante
Nesses pensamentos seus
Esculpia gente e fera
Eu acho que Nino era
Um inspirado de Deus.

Na sua imaginação:
Um tronco de pau pedia
Parece que ele escutava
O que a madeira dizia
Um dizendo, o outro ouvindo
E terminava saindo
Como a madeira exigia.

O que mais lhe interessava
Era as caras das figuras
E os rabos dos macacos
Eram puras esculturas
Tinha de serem bem feitos
E não ficarem defeitos
Nessas suas criaturas.

Ele de tudo fazia
Mas, com especialidade
Fazia melhor macaco
E dizia sem raridade
Que seu macaco esquisito
Ele achava mais bonito
Que o macaco de verdade.

Hoje a fama de seu Nino
Está onde procurar:
No Cariri, Fortaleza,
No Centro Dragão do Mar.
No exterior, seu renome
Morre o homem e fica o nome
Para assumir o lugar.
João Bandeira, 28 de agosto de 2002

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