quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aniversário de emancipação política e Juazeiro décadas atrás

Centenário de Juazeiro do Norte # 99

Falta 1 dia para o Centenário de Juazeiro...

...e hoje mais uma vez recorremos ao baú editorial com escritos sobre a cidade para reproduzir textos que analisaram, em momentos distintos (1961 e 1980, respectivamente), a comemoração do aniversário da emancipação política de Juazeiro do Norte.

Interessante verificar nos textos que muita coisa mudou, pois em 1961, por exemplo, a grande novidade era a chegada da energia elétrica no dia do cinquentenário de Juazeiro (confira relato de Carlos Alberto Almeida Marques sobre esse dia no blog Juazeiro anos 60, clicando aqui, fonte da foto acima, com a Praça do Cinquentenário, construída para as comemorações de 1961 e localizada onde hoje fica o Memorial Padre Cícero). Mas também é importante notar que, independente da época, Juazeiro do Norte sempre apresenta o retrato do trabalho, de um caso singular de crescimento vertiginoso no interior Nordeste e da gratidão ao fundador e primeiro prefeito do município: Padre Cícero Romão Batista.

Os textos são de autoria de Dr. José de Souza Menezes e Dr. Possidônio Bem, e foram publicados na antologia Juazeiro do Padre Cícero, organizada por Raimundo Araújo e publicada em 1994.
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O Cinquentenário de Juazeiro do Norte
Dr. Possidônio Bem (1961)

A marcha vitoriosa de Juazeiro do Norte em 50 anos de existência operosa e fecunda estonteia o observador imparcial que estuda os acontecimentos humanos, serena e meticulosamente.

De um aldeamento minúsculo surgido em 1824, nucleando meia dúzia de homens pobre mas devotados, tendo à frente um sacerdote impoluto, Juazeiro foi se agigantando a olhos vistos na paisagem moral do Nordeste brasileiro.

A convergência de gente dos estados circunvizinhos — homens, mulheres e crianças — emprestou ao povoado inicial um tom de ascensão e prestígio deveras surpreendente. Em que pese a algumas crises que o assaltaram em sua marcha para o progresso, passando às vezes por momentos árduos e cruciais, Juazeiro, a “Meca Sertaneja”, cresceu no conjunto de suas habitações e na operosidade dos seus moradores, indiferente ao impacto do despeito e da incompreensão que lhe rondavam o destino.

Seus habitantes, na sua maioria, são elementos vindos de fora, romeiros simples e ordeiros, seduzidos pelo gesto acolhedor e amigo do Padre Cícero Romão Batista. Criou-se uma mística que lhe serviu de bússola. Iniciativas foram surgindo, tomando corpo e vivacidade, feito eco de acontecimentos e fatos inéditos com ressonância paradisíaca, à semelhança do velocino de ouro da lenda grega. Essa mística sentimental foi a alavanca impulsionadora do seu progresso e do seu esplendor. Pequenas oficinas manuais de ourives, carpintarias, cutelarias, movelarias, fábricas de relógio de campanário foram pontilhando a cidade, no ímpeto de espraiamento. Funda-mse escolas primárias, colégios, ginásios, Escola Normal Rural Modelo e vários núcleos isolados de ensino particular, formando uma cadeia admirável de alfabetização intensiva.

Nesses últimos tempos, com a extensão dos fios de Paulo Afonso à região caririense, a cidade se vai beneficiar largamente, mecanizando as suas indústrias e instalando outras novas que lhe darão maior vigor na escala ascensional. Seu comércio é dos maiores do Nordeste, constituindo-se empório respeitável e irradiando-se alentadamente por quase todas as unidades da federação. Ressente-se ainda de algumas deficiências no seu conjunto de cidade grande em meio à paisagem agreste de em torno.

Faltam-lhe saneamento, água canalizada, esgoto e outros melhoramentos de menor vulto. Esses problemas, no entanto, já começam a ser atacados com decisão e coragem, e dentro de poucos anos mais, todos os requisitos de uma cidade moderna estarão conquistados, e a Terra do Padre Cícero se colocará em paridade com os maiores centros interioranos do país.

Temos que reconhecer um fenômeno sócio-psicológico dificilmente apontado em nosso meio. É que o seu venerando fundador — o Patriarca nordestino — apesar de desaparecido, vai para vinte e sete anos, continua atuando no desenvolvimento da terra. Queiram ou não queiram os seus detratores, com julgamentos apressados ou eivados de despeito e ódio, a memória do Padre Cícero cresce dia-a-dia no coração do seu povo. A ele, o respeito, o acatamento, o carinho.

Fato singular, o apreço de hoje ao grande Patriarca não tem as cores do baixo fanatismo nem o tom cabalístico de taumaturgos improvisados. Reverencia-se a memória do sacerdote pela obra social e humana que implantou aqui, com desassombro e galhardia. E não é lícito macular uma figura realizadora e piedosa pelos simples pretextos de terem aparecido algumas nugas que não chegaram a empanar a sua obra evangelizadora e cristã, fruto de um coração generoso e de um espírito empreendedor. Tanto mais quanto os senões apontados correram à revelia do seu programa e foram por ele condenados.

Conheci aqui delinquentes egressos dos grupos de facínoras que infestaram o Nordeste, já redimidos e integrados na comunhão social, mercê dos seus conselhos e da sua palavra.

Julguemos os homens em face de sua obra e ao calor do seu patriotismo e do seu desprendimento, sem ideias preconcebidas ou ressentimentos recalcados que fogem à evidência da realidade e ao julgamento imparcial da opinião geral traduzida ao conceito e no juízo de quantos se dedicam ao estudo e à análise dos fatos observados em Juazeiro.

O Padre Cícero foi um espírito privilegiado de cidadão e apóstolo que soube aglutinar em torno de si os elementos que fizeram a grandeza e prosperidade do antigo “Tabuleiro Grande”.

Que o presente e o futuro se encarreguem do seu julgamento definitivo, com o senso da Justiça e da Verdade, equidistantes do faccionismo e do rancor que infelizmente ainda campeiam em derredor de sua memória. (22 de julho de 1961)
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Aniversário de Emancipação Política de Juazeiro do Norte
Dr. José de Souza Menezes (1980)

Completa este município, na data de hoje [22 de julho de 1980], o seu 69º aniversário de emancipação política.

O fato, em si mesmo, assume a importância que costumam ter os grandes momentos da vida de um povo. A própria História tem os seus, e são eles que a engrandecem, transferindo-lhe o conteúdo memorativo que, conservado no perpassar dos tempos, serve de estímulo permanente à continuidade do processo evolutivo das gentes, no espírito das gerações sucessivas.

Há ainda, na reverência às grandes datas, a presença de um natural orgulho coletivo diante da evocação do passado histórico, e esse orgulho, diverso daquele de flor da pele, por resguardar-se na profundeza de sentimentos exteriorizados em função da consciência de êxitos e vitórias alcançados, é posto e bem sentido pelos juazeirenses, no dia de hoje, quando festejam alegremente a sua data maior.

Esta publicação, modesta embora, como de vezes anteriores, vem unir-se a esse regozijo popular em tal oportunidade e, mais que isso significar um documentário até certo ponto exato e preciso sobre os acontecimentos e valores que hão assinalado a vida deste município e de seus habitantes, na trajetória histórica que admiravelmente têm percorrido desde o episódio épico que lhes investiu o sentido pleno de sua independência política.

Não será, evidentemente, um registro à altura do contexto de realização e vitórias conquistadas desde então. Faltam-lhe sem dúvida, riqueza de pormenores, o brilho da exposição gráfica da mais ampla ilustração fotográfica, mas mesmo assim, procura não desmerecer o intento de fixar, tanto quanto possível, o extraordinário desenvolvimento deste município e de sua cidade-sede nos anos que se seguiram ao instante em que se consolidava o ato de sua autonomia política.

São sessenta e nove anos de constante e frutificante labor construtivo. De um trabalho coletivo sem-par na história de todo o interior nordestino, onde, via de regra, e por circunstâncias mesológicas bem conhecidas, o progresso por inteiro se faz lentamente por entre dificuldades e sacrifícios de toda ordem.

Com efeito nesse espaço de tempo, a população juazeirense conseguiu impor-se às limitações naturais do meio ambiente nordestino. Desfez os laços ou amarras do atraso, e o tem feito, de modo a causar espanto, num desempenho de energias construtivas sem equivalente entre todos os demais municípios do vasto sertão do Nordeste brasileiro.

Esse arrojo, essa disposição de luta, esse extraordinário desempenho merecem, realmente, relevo especial no momento em que eles próprios se reafirmam, quando mais um ano é transcorrido, mais uma data de aniversário deste município é festejada.

Aqui estão, portanto, algumas imagens de tão consagradora jornada. Esperemos que elas possam, de algum modo, refletir a grandiosidade dos feitos cometidos pelo povo juazeirense nestes poucos anos de sua vida política e, sobretudo, sirvam de testemunho da verdade histórica segundo a qual um povo, ainda que lhe sejam adversos os meios e recursos de que pode dispor, desde quando persevere e jamais desanime em sua destinação de crescer e subir, há de, por força, realizar todas as suas aspirações.

Se a tanto chegar este nosso humilde trabalho, damo-nos por satisfeitos e recompensados à tarefa que, mais uma vez, nos impomos, com o fito de prestar oportuna e merecida homenagem à grande terra juazeirense e ao seu grande povo, em tão grata oportunidade. (22 de julho de 1980)

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