![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgyC8Y3UftASOQaKfu5yj5sHNq6WMs27TXw5S-95dlEwFkN2kiU19KVDiynXBk-IYwcwHlRv92h9WC6Uxo68-_VYXJNJMg_Xf5iimVqpH_04EbyO5TAh7aEjvkrly6Xlw3nvh6RY6SoiNQ/s400/Funerais-Padre-Cicero.jpg)
Mas, segundo a tradição romeira e de todos aqueles que têm na sua fé uma admiração pelo Padre Cícero, a crença é de que ele "não morreu", mas fez uma viagem aos céus para interceder em nome do humilde povo nordestino.
Outra tradição é a de grande parte da população de Juazeiro do Norte se vestir de preto no dia 20 de todos os meses. Muitos começam esses dias, inclusive, na Missa celebrada em homenagem à memória do fundador de Juazeiro do Norte.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8TXo3HcQTeEVw-Lk4yHoSnNl_799sLIcS8zXwhdJpB0KnSPgpZkZ60iDRM3zJQi1U7MMT7vvQdbRl2Ks1HDWSYRB3EkwUzupOshbyA98Tg6X9dgo2a50fOgyfv-E81RsSIrQYNfs6BOXA/s400/Velorio-Padre-Cicero-01.jpg)
Nesta postagem # 98 apresentamos três textos que fazem referência à "partida" do Padre Cícero no dia 20 de julho. Inicialmente, um relato de Lourival Marques, filho de um dos secretários do Padre Cícero, que narra o que ele presenciou no dia do falecimento do Padre. O texto está reproduzido no livro Milagre em Joaseiro, de Ralph Della Cava (Editora Paz e Terra, 1976). E, na sequência, dois poemas de Pedro Bandeira e um de Dr. Edvan Pires, publicados na antologia Juazeiro poético (organizada por Raimundo Araújo), que destacam a vida, a morte e a saudade do Padre Cícero Romão Batista.
____
Morte do Padre Cícero
Lourival Marques (1934)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkDmefnApnF6PoRXtmXH_my9yg6yN8wgFUxTGG4gluwm03aGEbzOtN7OooM2wczqHKJmcDceHt29qaKevSQiQOMovxrt5HSHWQp5oyv3v7wQ-dnc8nJhrYdqm78jZjvbjRjg5X-dh0riom/s400/Funeral-Padre-Cicero.jpg)
Um caudal de mais de 40 mil pessoas atropelava-se, esmagava-se na ânsia de chegar à casa do reverendo. O telégrafo transbordava de pessoas com telegramas para expedição, destinados a todas as cidades do Brasil. Para fazer ideia, é bastante dizer que só em telegramas, calcula-se ter gasto alguns contos de réis. Logo que os telegramas mais próximos chegaram ao destino, uma verdadeira romaria de dezenas de caminhões superlotados, milhares e milhares de pessoas a pé, marcharam para aqui. Joaseiro viveu e está vivendo horas que nem Londres, nem Nova Iorque viverão jamais... O povo, uma onda enorme, invadiu tudo, derrubando quem se interpôs de permeio, quebrando portas, passando por cima de tudo. Pediu-se reforço à polícia, mas o delegado recusou, alegando que o Padre era do povo e continuava a ser do povo.
Arranjaram, no entanto, um meio de colocar o cadáver exposto na janela, a uma altura que ninguém pudesse alcançar e, durante todo o dia, várias pessoas encarregaram-se de tocar com galhos de mato, rosários, medalhas e outros objetos religiosos, no corpo, a fim de serem guardados como relíquias. Milhares de pessoas continuavam a chegar de todos os pontos, a pé, a cavalo, de automóvel, caminhão, de todas as formas possíveis.
Quatro horas da tarde... Surge no céu o primeiro avião do exército. Depois outro. Lançam-se de ponta para baixo, em voos arriscadíssimos, passando a dois metros do telhado da casa do Padre Velho. Duram muito tempo os voos. É a homenagem sentida que os aviadores prestam ao grande vulto brasileiro que cai... Desceram depois no nosso campo, vindo pessoalmente trazer uma riquíssima coroa, em nome da aviação militar.
A cidade é uma colmeia imensa; colmeia de 60 mil almas, aumentada por mais de 20 mil, que chegaram de fora. Nenhuma casa de comércio, de gênero algum, barbearias, cafés, bares, nada abriu. A Prefeitura decretou luto oficial por três dias. O mesmo imitaram as cidades do Crato, Barbalha e outras. Todas as sociedades e sindicatos têm o pavilhão nacional hasteado a meio-pau com uma faixa negra, em funeral.
(20 de julho de 1934)
____Cinquenta anos de saudade
Pedro Bandeira (1984)
Escrito por ocasião dos 50 anos da morte do Padre Cícero, em 1984.
Decantei a Natureza
Que é a quem mais me dedico
Falei da vida do rico
Cantei saudade e tristeza
Senti agora a surpresa
De uma nova inspiração
Era a voz do coração
Dizendo — poeta forte
Faça uns versos sobre a Morte
Do Padre Cícero Romão.
Subi à Serra do Horto
Chorando pelo caminho
Sem saber se meu “Padrinho”
Se encontrava vivo ou morto
Voltei sentindo o conforto
Da santa luz da verdade
Porque toda humanidade
Diz que quem morre p’ra o mundo
Nasce em menos de um segundo
P’ra história da eternidade.
Quando apagou-se uma luz
Uma estrela se acendeu
Padre Cícero não morreu
Foi só falar com Jesus
Seu corpo deixou a cruz
Sua alma subiu mais forte
Sem precisar de transporte
Foi pedir felicidade
Para o povo da cidade
Do Juazeiro do Norte.
Completa cinquenta anos
Do desaparecimento
Voou nas asas do vento
Envolvido em brancos panos
Sua alma cheia de planos
Rasgou o véu da aurora
Dizendo: “Não vou embora”
Vou para o Céu que Deus fez
Rogar a Deus por vocês
Nos pés de Nossa Senhora”.
Nosso querido pastor
Partiu deixando saudade
Foi pedir p’ra humanidade
Luz, esperança e amor.
P’ra nós um século de dor
Em meio século de morte.
“Meu Padim” pegue um transporte
Venha visitar de novo
Seu pobre e humilde povo
Do Juazeiro do Norte.
Sua cidade cresceu
Desenvolveu velozmente
Porém, está diferente
Este lugar que ainda é seu.
Depois que o senhor morreu
Nem todo mundo vai bem.
Gozam dez e sofrem cem.
Um rico e outro com fome
“Querem até mudar o nome
Que a sua cidade tem”.
(20 de julho de 1984)
____Exaltação ao Padre Cícero
Pedro Bandeira
Desperta romeiro amigo
Acorda todo sertão,
Vamos rever a História
do Padre Cícero Romão.
Ó! Grande levita,
o povo acredita,
canta, chora e grita
emocionado.
A tua memória
ficou na História,
na fé e na glória
de um povo cansado.
Quem estuda tua História
com muita razão descobre,
quem dedicou a existência
à causa de um povo pobre.
És do Juazeiro,
o marco primeiro.
O Brasil inteiro
faz uma oração.
A fé continua e,
na praça e na rua,
esperam a tua canonização.
Teu nome é um sol que brilha
na vida de um mundo novo,
és santo, porque ser santo,
é ser querido do povo.
Teu cinquentenário
de morte é um cenário
onde o rosário
não para um momento.
A tua humildade,
trabalho e bondade,
dão eternidade
ao teu pensamento.
Teu corpo está sepultado
na Igreja do Socorro
teu monumento no Horto
deu vida à crista do morro.
Teus dias tristonhos,
conselhos e sonhos,
martírios medonhos
serviram de glória.
Taumaturgo forte
na vida e na morte,
não vejo quem corte
TEU NOME DA HISTÓRIA.
____
A morte de um justo
Dr. Edvan Pires
Foi um messiânico puro, um asceta,
Num meio e época difíceis.
O seu apostolado discutido
Criou um fenômeno social.
Não o subestimasse a pastoral
Local, não teria havido tanto mal.
Viveu noventa anos. O seu ideal
Era ser vigário de um povo,
Ao qual tudo faltava: Pão e Fé.
Por algum tempo este Padre foi,
O vigário do povo sofredor
Ao qual deu-lhe carinho, paz e amor.
Porém, a maldade do destino
Duramente soprou-lhe a vida
E as Ordens Sacras foram-lhe negadas.
Começava sua via-crucis,
O p Padre deixou de ser vigário,
Não podia mais celebra Missa.
Muitos dos seus superiores,
Atormentaram sua vida sofredora,
E ele a todos manso, se humilhava,
Pois ele amava a Deus,
A sua Igreja amava,
Mas tudo em vão, nada justificava,
E ele a todos, em Cristo perdoava.
Quantas décadas! Em busca da licença,
Pra seu povo poder abençoar,
P’ra sua Missa poder celebrar,
P’ra receber enfim, os seus romeiros,
Mas sempre o NÃO.
Depois vem a tortura moral:
Teria de público dizer,
Que era mentira o que acreditava.
Quantas décadas de obediência!
Igual tempo passou com paciência,
Esperando ir ao altar,
A fim de celebrar.
“Mártir da Dsiciplina”!
O teu pecado, não foram os “milagres”,
Ou “fatos extraordinários” que presenciaste,
E que a ciência de então,
Não soube elucidar,
Mas a devoção que o povo tinha a ti,
À tua virtude, ao teu desprendimento,
Ao teu heroico e estoico sofrimento,
Devoção esta que mais se acentua,
Com o passar do tempo.
Tinha então noventa anos o ancião,
Contudo, a lucidez continuava,
Mas a saúde aos poucos lhe faltava,
Estava perto o fim.
Certo dia, pela madrugada,
Começa a agonia,
A pressão baixa, o pulso incerto, o suor frio,
Significavam o ponto final,
De uma vida voltada para o Bem.
O médico e as pessoas piedosas
Que o assistiam, se ajoelharam,
E o moribundo, a certa altura,
Num esforço extremo,
A custo, os olhos abre,
E quase num murmúrio,
Diz aos presentes:
“Vou pedir à Mãe das Dores por vocês”,
Depois disso calou-se
E plácido morreu.
“Plantador de cidade”!
Padre Cícero!
Se tua vida foi longo martírio,
Tua obra foi um florilégio,
Que perfuma tua grande cidade
E todo o Nordeste sofredor.
As sementes do bem, aqui lançaste.
Não se perderam, crescem dia-a-dia,
No coração do povo nordestino.
Tua presença sempre há de ficar,
Porque a todos soubeste sempre amar.
Quando a História um dia estudar,
Isenta das paixões e da inveja,
A tua vida com seriedade,
Dirá que foste um justo,
E como tal, a generosidade,
Aflorará no coração dos ímpios
Que te fizeram tanta crueldade,
Tanta torpeza, tanta mesquinhez,
E que perdoaste com tanta altivez.
.
ficou muito maravilhoso parabéns maguinifica
ResponderExcluir