sábado, 16 de julho de 2011

Clássico Icasa X Guarani disputado em versos

Centenário de Juazeiro Norte # 94

Todos sabemos que a grande rivalidade do futebol juazeirense é entre o Icasa (Verdão do Cariri) e o Guarani (Leão do Mercado). Atualmente os dois times costumam marcar presença no campeonato cearense da primeira divisão e estão disputando o Campeonato Brasileiro.

O Icasa está no Brasileirão da Série B, pela segunda vez na história. A campanha não tem sido boa, figurando entre os quatro times da zona de rebaixamento. Mas ainda tem muito campeonato pela frente e se espera que o Icasa pelo menos faça valer a força de jogar em casa e vencer as partidas no Romeirão para, pelo menos, prosseguir na Série B. Daqui apouco o Icasa enfrentará o Grêmio Barueri, em São Paulo.

O Guarani, em decorrência da excelente campanha no Campeonato Cearense 2011 (que foi assunto na nossa postagem # 26), ganhou pela primeira vez uma vaga para a disputa do Campeonato Brasileiro Série D. Amanhã o time fará a estreia no Estádio do Romeirão, contra o Santa Cruz-RN.

Alguns juazeirenses que acompanham futebol, independente de sua torcida ser para uma equipe ou para a outra, esperam o sucesso das duas equipes nas competições nacionais. A justificativa lógica é a torcida para melhores dias no futebol juazeirense. Que as equipes rivalizem de forma saudável por melhores campanhas, mas que elevem o nome de Juazeiro do Norte na esfera futebolística.

Mas hoje entramos no túnel do tempo para conferir uma "disputa em versos" de torcedores do Guarani e do Icasa. Os poemas foram escritos no início dos anos 1970, quando a rivalidade restringia-se apenas ao campeonato juazeirense de futebol. O Guarani havia vencido a última disputa em 1964, e de 1965 até 1972 todos os títulos ficaram com o Icasa. Dr. Mozart de Alencar exaltou o Guarani e recebeu de volta os versos irônicos de Leofredo Pereira, que motivaram uma tréplica. Os poemas foram publicados na antologia Juazeiro poético, de 1988, organizado por Raimundo Araújo. Confira os versos e veja que essa rivalidade vem de longe.


Ode ao "Leão do Mercado"
(Dr. Mozart de Alencar)

Disfarçando a força enorme,
Calmo, tranquilo ele dorme
Nas selvas do seu prestígio;
Mas, quando solto, o "Leão",
Na arena do Romeirão
A fera é aquele prodígio!

Rosna! Ruge! Estruge! Esturra!
É o sinal de morte ou surra
Dado ao frágil inimigo.
Afia as garras potentes,
Mostra as fileiras dos dentes
Para à presa dar castigo.

Quanto um time, aqui, de casa,
"Ceará, Treze, Infante ou Icasa",
Dos túneis do campo, assoma,
Dê por visto, ante o "Leão",
Um condenado cristão
No cir'lo da antiga Roma.

Hoje, outros Neros, aos vivas,
— Os das cadeiras cativas
E os lá das arquibancadas —
Vibram palmas ao "Leão"
Quando abate o Campeão,
"Icasa", por goleadas!

Salve! "Leão do Mercado"!
Rubro-negro idolatrado
Que da "Liga" é o "Guarani"!
No futebol — o primeiro,
Na terra de Juazeiro,
Na zona do Cariri!
____


Triste partida
(Leofredo Pereira)

Resposta aos versos que lhe enviou o poeta Mozart de Alencar

Ai, ai, ai
Passamos sei anos
Sem ser campeão,
Chegamos ao sétimo
— Que decepção!
Meu cachorro hippie
Cresceu o cabelo
E resolvi tê-lo
Como meu Leão.

Ai, ai, ai,
O meu "Papagaio"
De estimação
Fugiu de repente
Da minha mansão.
Um dia encontrei-o
Cheio de "estrelas"
E muitas centelhas
Lá no "Romeirão".

Ai, ai, ai,
Pedi-lhe o pé,
Respondeu-me: — NÃO!
E, ainda por cima,
Mordeu meu Leão.
Fiquei desgostoso
Com tamanha ofensa
— Meu Deus, que doença
Matou o meu cão?!

Ai, ai, ai, ai,
A Diretoria
Resolveu chamar
Athur e Carlindo
P'ra nos ajudar.
Mas, mesmo forrado
E jogando um "bolão"
Passaram p'ra trás,
Meu pobre Leão.

Ai, ai, ai, ai,
Fiz uma promessa
Com Santo Gusmão,
Rezei p'ra São Jorge
E São Sebastião
Fiquei jejuando
Mais de uma semana,
Comendo banana,
P'ra ser campeão.

Ai, ai, ai, ai,
Tudo correu bem.
O pior veio depois.
Fiquei amargando
O meu três a dois,
Eu sofre o não fujo,
Me lasco é aqui.
Penando e chorando
Com o meu GUARANI.

AI, AI, AI, AI.
AI, AI, AI, AI.
____


Vitória inglória
(Dr. Mozart de Alencar)

Resposta à "Triste partida", de Leofredo Pereira

No endereço dos versos que mandaste,
Tu me trataste bem. Mas, no rimado!...
Que ironia! Que escárnio desalmado!
— Um ferro em brasa com que me queimaste!

Só com atletas subornados
Tem tido o ICASA vitória.
São "onze" já superados,
Atrás de "Estrelas" sem glória.

O "GUARANI" ou "LEÃO",
Ídolo desta cidade,
Partidas no Romeirão
Só disputa com lealdade.

Sete fraudes tu fizeste,
Sete "estrelas" incolores
Numa flâmula puseste
Nos peitos dos torcedores.

Tu não podes prescindir
Do suborno e da traição,
Compraste agora, o Jair,
O Chico Dalva e o Feijão.

Sete "estrelas" no teu peito
São a vil constelação
Que imprime menos respeito
Que a merda do meu "Leão".

"Papagaio", não do mato,
"Verde-e-branco" da pelota,
Só vence campeonato
Com dinheiro de agiota.

Subi ao Parnaso e a Musa
Que me inspira, e de mim gosta,
Da pornografia, usa
E te manda esta resposta:

Distante, assim, pra chuchu,
De tão longe, não te vaio,
Mas, Leo, vá tomar no cu
Com "estrelas" e "Papagaio"!!!
(Juazeiro do Norte, 1970)

Nenhum comentário:

Postar um comentário