sábado, 14 de janeiro de 2017

‘Amar, Beber e Cantar’, ‘Jornada ao Oeste’ e ‘O Filho de Saul’ no primeiro domingo da Mostra 21

Mostra 21 - O absurdo nos une, nos move (2017)
Curadoria e mediação: Elvis Pinheiro

Programação do dia 15 de janeiro de 2017 (domingo):


 
14h, no Sesc Crato:
Amar, Beber e Cantar
(Aimer, Boire et Chanter, Dir. Alain Renais, França, 2014, 108min)

Último filme do diretor responsável por obras clássicas como Hiroshima, mon amour e O ano passado em Marienbad. Aos 91 anos produz sua derradeira declaração de amor ao cinema. Mesclando teatro e cinema, vida e morte, humor e drama. A mágica está em nossa possibilidade de permitir novos e maiores apuros em relação à linguagem que ele dominava. (Elvis Pinheiro)




16h, no Sesc Crato:
Jornada ao Oeste
(Xi You, Dir. Ming-liang Tsai, França/Taiwan, 2014, 56min)

Nós temos um ritmo e, quem sabe, controle sobre ele. De um lado pro outro, diariamente nos perdemos em nós mesmos e esquecemos de uma paisagem maior que nós, e de nossa influência sobre o outro. Este filme, de fotografia honesta, é um convite ao corpo inquieto, a deixar de lado esse ritmo que nos rouba do espaço, e permitir que nosso olhar passeie pela lágrima tímida de um sentimento desconhecido e acompanhe um monge de vermelho que perturba a dinâmica dos espaços com a precisão de seus movimentos. Quem sabe não nos arriscamos a segui-lo? Um aviso aos que, assim como eu, guardam na cabeça um turbilhão: a jornada ao oeste não é fácil. (Ailton Jesus)




15/01 (dom), 19h, no Sesc Crato:
O Filho de Saul
(Saul fia, Dir. László Nemes, Hungria, 2015, 107min)

Sófocles legou ao Ocidente, com a personagem Antígona, que tenta sepultar seu irmão Polinice independentemente da oposição de Creonte, um dos maiores modelos de abnegação, persistência e devoção fraterna de todos os tempos.

Enquanto na tragédia grega Antígona defende seu ethos familiar, e paga um alto preço por isto, no filme O Filho de Saul (2015), longa de estreia do diretor húngaro László Nemes, deparamo-nos com um pai que tenta, a todo custo, preparar o corpo do filho para o sepultamento.

Este filme apresenta uma abordagem inovadora para a temática do holocausto – tema muito explorado, mas inesgotável em suas possibilidades de análise e reflexão sobre a condição humana. László Nemes posiciona a câmera na maior parte do tempo às costas de Saul – interpretado pelo ator húngaro Géza Röhrig – e, através deste mecanismo, leva-nos a enxergar as cenas contundentes do campo de concentração sob o ângulo de visão do protagonista. Saul, que realiza a função de limpar câmaras de gás no campo de concentração em que está confinado, tem uma meta: ao encontrar o corpo do filho entre os de outros judeus decide dar um sepultamento digno a ele.

Para cumprir sua meta, inúmeros empecilhos se impõem em sua trajetória. Jogos de poder, nos bastidores do campo de concentração, tornam sua meta uma árdua batalha contra suas próprias limitações e contra o sistema totalitário que o torna vulnerável, mas que não o impele a arrefecer em sua missão autoimposta.

Assistir a este filme vencedor do Grande Prêmio do Festival de Cannes, do Globo de Ouro e do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, foi uma experiência enriquecedora. Do ponto de vista estético, o filme excede em lirismo, beleza e acuidade técnica. Do ponto de vista temático, deparamo-nos com temas como a impotência humana, a perda diante da morte, a persistência resultante de uma meta que o indivíduo assume para si. Consideramos que o tema desse filme é, por excelência, a barbárie humana e o que dela resulta: a coisificação do homem, o poder e sua tendência destruidora e, sobretudo, a morte e suas consequências nefastas para quem tem que lidar com o luto.

Ao tentar sepultar o filho, Saul nos aproxima de um cenário absurdo – o campo de concentração é a barbárie humana em sua forma concreta, tangível e avassaladora. Somos levados, através do olhar dessa personagem silenciosa, a percorrer sendas infernais que nos conduzem para sensações de sufocamento e impotência. O olhar de Saul, no entanto, grita como na tragédia grita Antígona diante da tirania de Creonte, rei de Tebas: “Deixa-me, deixa que minha loucura se afunde em horrores. Não padecerei, com certeza, nada que não seja morrer gloriosamente”. (Émerson Cardoso)
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Sessões com entrada gratuita.
Para conferir a programação completa da Mostra 21, clique aqui.

Textos originalmente publicados na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 39, de janeiro de 2017 - Ed. Especial Mostra 21), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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