domingo, 17 de janeiro de 2016

Beata Maria de Araújo no livro ‘Efemérides do Cariri’ (Irineu Pinheiro)



Há 102 anos, no dia 17 de janeiro de 1914, falecia a Beata Maria de Araújo, uma das grandes protagonistas da história de Juazeiro do Norte. E apresentamos, logo abaixo, transcrição de nota sobre a Maria de Araújo publicada no livro Efemérides do Cariri, de autoria de Irineu Pinheiro.

Na nota, temos informações sobre o nascimento da beata, o fenômeno do sangramento da hóstia, da morte e da violação dos restos mortais no túmulo de Maria de Araújo (fato até hoje envolto em mistério, sem esclarecimentos).
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Nota LXXIX

“No segundo cartório de Juazeiro, no livro nº sete, às folhas 85 v a 87, lê-se um documento relativo a Maria de Araújo, do qual são transcritos, abaixo, alguns trechos.

‘Do humilde casal Antônio de Araújo e Ana de Araújo, diz, o documento, naturais deste lugar onde viveram e morreram como bons católicos, nasceram Maria de Araújo e mais três irmãos, perdendo todos ainda na infância os seus genitores. Maria de Araújo com desvelo e cuidado tratou da criação de seus irmãos, em cujo penoso trabalho não enfraqueceu a tendência religiosa manifestada desde os oito anos de idade quando começou a confessar-se e comungar frequentemente com profunda e sincera devoção. Humilde por natureza e pobre por condição, seu nome não tinha o menor relevo, até que por causas que lhe eram estranhas começaram a aparecer alguns fenômenos na ocasião em que recebia na mesa da comunhão a hóstia sacramental das mãos de seu confessor. É que a então sagrada partícula ao ser posta em sua boca se transformava em sangue, o que ela debalde procurou sempre ocultar das pessoas presentes. Sucedeu, porém, que na primeira sexta-feira de março do ano de mil e oitocentos e oitenta e nove [1º de março de 1889], estando Maria de Araújo com outras mulheres na mesa da comunhão, ao receber a hóstia, esta se transformou em tanto sangue que extravasou da boca  e se alastrou por cima da murça, derramando-se sobre a roupa que trajava, chegando a gotejar no chão em grande quantidade. Daí então não pôde mais ocultar o fenômeno que se tornava tão patente e principalmente porque ela ficava em êxtase por muito tempo.’

‘Em 17 de janeiro de 1914, em plena revolução política, a mística Maria de Araújo deu a alma ao Criador, a quem dias antes se oferecera dando sua vida para a salvação do povo de Juazeiro que se achava debaixo do cerco das forças do governo estadual representado pelo Coronel Franco Rabelo. O corpo da beata Maria de Araújo foi trajado no hábito da Ordem Terceira de São Francisco, e foi depositado e trancado a chave em um ataúde de cedro devidamente envernizado a óleo por dentro e por fora e sepultado na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, conjunta ao cemitério público, no dia 18 do mesmo mês e do mesmo ano, sendo acompanhado de grande multidão de pessoas, entre as quais se destacavam o padre Cícero e importantes vultos políticos do Estado, que se achavam refugiados no Juazeiro.’

Em 22 de outubro de 1930, continua o autor do documento, abriram ‘o túmulo de alvenaria onde estava sepultada Maria de Araújo, e os encarregados do serviço asseveraram que não existiam dentro do túmulo os restos mortais da mesma beata. A violão do túmulo foi de surpresa, sem preceder autorização legal, sem conhecimento, sequer, do respectivo zelador do cemitério, o senhor Ildebrando Oliveira. Sabendo o padre Cícero que se estava arrasando o referido túmulo, chamou, rapidamente, ao atual governador da cidade, o farmacêutico José Geraldo da Cruz, para conjuntamente com o fotógrafo João Cândido e Fontes assistirem ao ato exumatório e mandarem recolher os restos mortais em outro túmulo no cemitério. Esses senhores, sem perda de tempo, foram ao local, encontrando já aberta a sepultura, de momentos.’

Informou-os o pedreiro de que ‘só existiam ali restos de panos e a madeira do caixão’.

Examinaram eles o caixão, a sepultura e, também, ‘os  escombros atirados para fora onde colheram, apenas, uns escapulários das irmandades de Nossa Senhora das Dores, de Nossa Senhora do Carmo, da Paixão e de outras irmandades e o cordão de S. Francisco, e um pedaço de crânio com cabelos, o qual está guardado neste vaso de vidro. A beata Maria de Araújo, que em sua vida foi caluniada de toda a sorte, teve ainda depois de morta violado seu túmulo. Para perpetuar a ocorrência foram escritas estas notas informativas que serão transcritas no cartório do segundo tabelião público desta cidade, e o original devidamente assinado pelas testemunhas José Geraldo da Cruz, interventor municipal, fotógrafo João Cândido e Fontes, Ildebrando Oliveira, pessoas que presenciaram o ocorrido, cujas firmas são reconhecidas com mais duas testemunhas, Pelúsio Correia de Macedo e José Ferreira de Meneses, que sabem do fato e de suas minudências. Juazeiro, 3 de dezembro de 1930. José Geraldo da Cruz — João Cândido e Fontes — José Ferreira de Meneses — Pelúsio Correia de Macedo — Ildebrando Oliveira.’

Todas as firmas, acima nomeadas foram reconhecidas pelo segundo tabelião público de Juazeiro, Luís Teófilo Machado, no dia 4 de dezembro de 1930.”
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Irineu Pinheiro, no livro Efemérides do Cariri (Coedição Secult/Edições URCA - Fortaleza: Edições UFC, 2010. Fac-símile da edição de 1963 publicada pela Imprensa Universitária do Ceará)


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