domingo, 13 de setembro de 2015

‘De Olhos Bem Fechados’, filme de Stanley Kubrick



por Dácio Carvalho

É com entusiasmo que escrevo sobre De Olhos Bem Fechados, um dos meus filmes favoritos! Vi-o pela primeira vez há cerca de 4 anos, em uma noite de sábado no “Cine belas artes”. A experiência foi marcante o suficiente para revê-lo em um considerável número de vezes, gravando o nome deste formidável diretor. Tal nome que me influenciou a dar início à minha cinefilia, que me faz frequentador de mostras de filmes e assíduo frequentador de espaços alternativos de exibição juazeirenses, tendo uma relação afetiva com suas peculiaridades. 

Lançado em 1999, pouco tempo depois da morte do diretor, Stanley Kubrick encerrava assim sua carreira e sua vida com chave de ouro. Durante as gravações foi perfeccionista, atento aos mínimos detalhes. Curiosamente é um dos filmes que mais demorou a ser montado na história do cinema. As gravações começaram em novembro de 1996 e terminaram em junho de 1998, entrando ainda em um processo de pós-produção, fazendo com que o lançamento esperasse até março de 1999. A morte de Kubrick criou um terreno fértil para conspiradores, que duvidaram que o mesmo morrera de causas naturais, como se fosse alguém que “sabia demais” e “mostrou além do que devia”.

Nicole Kidman e Tom Cruise interpretam os personagens centrais na trama, o casal Harford. O filme aborda conflitos de cunho sexual e amoroso dentro da vida a dois com alto teor psicológico. Bill e Alice Harford eram aparentemente um casal bem sucedido. A problemática se inicia após sua esposa ter confessado, em um diálogo acompanhado pelo uso de maconha, que sentia atração por outros homens. A angústia fez com que o médico Bill Harford se lançasse nas ruas escuras e becos de Nova York em busca de aventuras sexuais, até que em um bar reencontra um antigo amigo pianista que o fala de uma orgia organizada em um culto secreto, na qual costuma tocar de olhos vendados.

O filme explora uma espécie de conflito. Uma relação entre os nossos pensamentos, desejos e fantasias mais profundos, quando estas entram em choque com nossa estabilidade e as demandas sociais, da imagem do casal envolvido em um amor monogâmico e idealizado.

Tanto em De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut) como em seus filmes mais antigos (O Iluminado, Laranja Mecânica, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Dr. Fantástico), Stanley Kubrick parece ter um prazer sádico em chocar seu espectador. As obras surpreendem e podem ser comparadas a um soco ou a um tiro nos olhos de sua masoquista plateia, porém esta não passa por este eventual desconforto a troco de nada. Após terem suas cabeças abertas e seus miolos espalhados pelo chão, tem-se a chance de fazer um movimento de reconstrução. Reconstruindo-a são recompensados com uma visão de mundo mais abrangente, que não regredirá ao seu tamanho original, e menos embaçada por nuvens cinzentas de pré-conceitos. 
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Dácio Carvalho, estudante de Psicologia e cinéfilo.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 21, de dezembro de 2014), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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