terça-feira, 19 de junho de 2012

Dia do cinema brasileiro e as perdas

por Ythallo Rodrigues

Hoje, dia 19 de junho, é o dia em que se comemora o dia do Cinema Brasileiro. Por curiosidade, fui fazer algumas e rápidas pesquisas para saber porque cargas d'água, hoje, dia 19 de junho, é o dia do cinema brasileiro. Uma dica me é dada no pequeno e valioso livro de Paulo Emílio Salles Gomes, Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Em uma rápida e incisiva descrição no primeiro parágrafo da página 21¹, Paulo Emílio escreve: "em 1898, voltando ele (Afonso Segreto) de uma das suas viagens, tirou algumas 'vistas' da Baía da Guanabara com a câmara de filmar que comprara em Paris. Nesse dia – domingo, 19 de junho –, a bordo do paquete francês 'Brésil', nasceu o cinema brasileiro".

Aqui está, este é o motivo, a filmagem a partir de um barco em direção à Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Tal feito fora realizado por Afonso Segreto, um dos irmãos Segreto que tiveram grande importância para o nosso cinema. No âmbito da exibição, Paschoal Segreto (seu irmão mais velho) inaugurou também no Rio de Janeiro, em 31 de julho de 1897, o “Salão de Novidades”, posteriormente chamado de “Salão Paris no Rio”, em que realizava exibições dos primeiros filmes. Seria, portanto, nossa primeira e arcaica sala de cinema. É importante falar que é possível, que estas primeiras imagens do cinema brasileiro provavelmente nunca tenham sido de fato exibidas, ou talvez façam parte apenas de um belo e maravilhoso imaginário da nossa criação cinematográfica. Dito isto, não se coloca em dúvida, no entanto, a importância dos irmãos Segreto no desenvolvimento do nosso cinema, posterior a esta data inaugural. Na imagem ao lado o cinegrafista Afonso Segreto.

Tendo exposto essas linhas rápidas sobre aspectos mais históricos do cinema do Brasil, o que quero porém enfatizar nessa postagem são três (quatro) perdas irreparáveis as quais tivemos recentemente no nosso cinema. Trata-se da partida de Paulo César Saraceni (em 14 de abril, aos 78 anos), Adriano Stuart (em 15 de abril, aos 68 anos) e Carlos Reichebach (em 14 de junho, no dia que completou 67 anos). Essa é apenas uma pequena forma que encontro de homenageá-los, prestando também sinceras homenagens ao cinema brasileiro a partir dos filmes desses grandes artistas.

Paulo César Saraceni foi um dos grandes cineastas que compuseram o quadro do Cinema Novo brasileiro na década de 1960. Não tendo, ao meu ver, se filiado a um cinema primordialmente político, como alguns do grupo conclamavam, no entanto, realizou talvez uma das obras mais políticas do período, O desafio, de 1965. Não vou, nessas poucas palavras, tentar definir ou analisar a obra desse grande realizador, irei apenas apresentar dois filmes para que possam ser conhecidos, e em breve discutidos e analisados por quem desejar. O primeiro filme é Arraial do cabo, um dos curtas-metragens precursores do cinema novo, juntamente com Aruanda, de 1960, de Linduarte Noronha (também falecido este ano, em 30 de janeiro). Abaixo coloco também Aruanda, como homenagem ao cineasta paraibano Linduarte Noronha. Ambos estão na íntegra.

Arraial do cabo, 1960, de Paulo César Saraceni.


Aruanda, 1960, de Linduarte Noronha.


Aqui, uma cena belíssima do filme O desafio, de Saraceni, realizado em 1965. Na cena o personagem de Oduvaldo Viana Filho, assiste concentrado o espetáculo Opinião, com Zé Kéti, Maria Bethânia e João do Vale, a cena é emocionante.

O desafio, 1965, de Paulo César Saraceni.


Adriano Stuart foi cineasta, ator e diretor de TV, dentre suas realizações gostaria de destacar duas pérolas. A primeira é o filme Bacalhau, realizado em 1976, uma comédia que parodia, o então sucesso estrondoso Tubarão, de Steven Spielberg. Abaixo a cena em que se encontra uma vítima do perigoso peixe que ronda o litoral de São Paulo, a cena é hilária. Na sequência seguinte, o memorável quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em ação no trecho do filme O cinderelo trapalhão, dirigido por Adriano, em 1979.

Bacalhau, 1976, de Adriano Stuart.


O cinderelo trapalhão, 1979, de Adriano Stuart.


Carlos Reichenbach nos deixou semana passada. E sua ida foi muito sentida para o cinema brasileiro. Carlão, como era mais conhecido, sempre se colocou como um grande divulgador do cinema, e não importava a nacionalidade, o período, o gênero, seu grande prazer era descobrir e poder compartilhar com todos suas descobertas. Tive a feliz oportunidade de por pouco tempo ser um dos seus cúmplices e o acompanhar nesta missão, e a partir de seu site ou facebook, encontrar coisas e baixá-las e poder posteriormente oferecer a outros mais que desejassem, pena que tenha sido por pouco tempo. Desde a semana passada li diversos textos muito emocionados e tristes, lamentando a sua perda, mas eis que de um grande homem que se foi, temos ainda a sua obra e no caso do Carlão Reichenbach ficaram os filmes que ele disseminou para o mundo e sua própria filmografia tão rica e com filmes tão intensos e cheios de vida.

Abaixo o seu primeiro filme, o curta-metragem Essa rua tão augusta, de 1968 e uma cena incrível, de seu último filme Falsa loura, realizado em 2007 (esse tive a oportunidade de ver no festival Cineceará de 2008, em que Carlão apresentou o filme com uma peruca loura, hilário).

Essa rua tão augusta, 1968, de Carlos Reichenbach.


Falsa loura, 2007, de Carlos Reichenbach.

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¹ GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: trajetória do subdesenvolvimento. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)

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