sexta-feira, 22 de junho de 2012

76 anos do gênio do som, Hermeto Pascoal

Grifo nosso # 34

Dando uma volta na internet, lendo coisas sobre Hermeto Pascoal me deparei, semana passada, com esse texto que colocarei na íntegra abaixo. Trata-se de um texto pessoal do escritor, historiador, radialista, jornalista e musicólogo Ricardo Cravo Albin.

Albin é considerado um dos grandes pesquisadores da música popular brasileira. Sendo responsável em criar o dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, que está disponível para todos na internet. O site abriga biografias, discografias e uma série de textos e curiosidades sobre instrumentistas, intérpretes e compositores nacionais.

Na minha busca, ao digitar o verbete Hermeto Pascoal, eis que encontro na seção de crítica este pequenino texto, escrito pelo próprio Ricardo Cravo Albin*. Uma pequena homenagem a este mestre da música, Hermeto Pascoal.

"Hermeto Pascoal é albino, baixinho, gordinho e quase cego. Em compensação é gênio. E gênio com G maiúsculo por duas razões. Primeiro porque ele – só ele – é capaz de inventar os sons mais originais do mundo para recriar a música. E depois porque ele administra esses sons com extrema sutileza, elegância e precisão.

Ou seja, Hermeto é o maestro de si mesmo, um homem-orquestra. O bruxo das Alagoas faz tudo. Ou seja, compõe músicas e toca todos os instrumentos. E quando eu me refiro a instrumentos, em se tratando de Hermeto, vamos logo dividi-los em duas partes. Os instrumentos tradicionais – como piano, cavaquinho, flauta, bombardino, violão, órgão e mais 15 outros, tais como sax soprano, sanfona etc. – e os instrumentos inventados pelo gênio do grande músico, que tira seus sons estranhos (e lindos, podem crer!) de garrafas plásticas, copos com água, máquina de costura. É muito? Não, porque tudo que Hermeto tem à sua frente pode virar som no minuto seguinte, como bomba de encher bola de gás e até mãos passando nas roupas do corpo.

Aliás, o cheiro do Brasil e o de suas grandes veias musicais está presente nos discos de Hermeto.

Tempos atrás, durante um especial gravado na Rádio MEC, Hermeto me comoveu quando falou das crianças. E por uma razão muito simples: ele se orgulha de preservar a simplicidade das crianças, segundo ele o caminho mais direto para o encontro da divindade ou de Deus.

E Hermeto – compreendi isso agora – conseguiu o impossível, que é ser um arauto da modernidade, da invenção, do passo à frente e ser de uma simplicidade cativante, de um despojamento de que só mesmo ou os gênios ou os santos são capazes.

Se você, ó leitor incrédulo, pensar que Hermeto é apenas um produto exótico e circense, pode ficar certo de que a consagração internacional do nosso homem-orquestra está a indicar exatamente o oposto.

Ele me falava outro dia que sua carreira internacional (começada a partir de 1970) só lhe trouxe alegrias, como as de ser gravado por Miles Davis, seu fã número um e que lhe abriu as portas do jazz mundial. 'Pois é, o Miles gostou tanto que queria gravar todo um elepê (LP) só comigo e com músicas minhas. Mas eu tive que voltar para fazer um sonzinho lá no Jabour (distante subúrbio carioca) e me mandei. Por isso não fiz.'

Esse tipo de procedimento, descontraído e franciscano, só pode ser mesmo o de um gênio. Ou você duvida?"
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Abaixo um pouco do gênio do som, no Festival de Jazz de Montreux. Na sequência uma apresentação juntamente com outro mestre da música brasileira, Sivuca, em que tocam "Asa branca", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e "O ovo", composição de Hermeto. E para finalizar, uma pequena entrevista para a Editora Saraiva, em que o músico fala um pouco sobre seu método de criação musical e sobre o seu Calendário do som, produzido entre 23 de junho de 1996 e 22 de junho de 1997, um livro no qual registrou uma composição para cada dia.

"Quebrando tudo", improvisada ao vivo no Festival de Jazz de Montreux, na Suiça, em 1979.


"Asa branca" e "O ovo", com Hermeto Pascoal e o saudoso Sivuca.


Entrevista de Hermeto Pascoal para a Editora Saraiva, muito boa para percebermos um pouco de sua genialidade.

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*Para quem se interessar em pesquisas sobre música brasileira fica a dica do dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira online, www.dicionariompb.com.br.

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