quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Berro nas antas # 03

Entrevista com a banda Cabruêra
Publicada originalmente na edição 29 d'O Berro (maio de 2000)

Por Hudson Jorge e Ythallo Rodrigues
Fotos de Nivia Uchoa

Com duas passagens pela região do Cariri — a primeira delas em fevereiro deste ano e a segunda na Calourada Unificada da URCA —, a banda paraibana Cabruêra desenvolve um trabalho dando ênfase à “música regional”. Tendo como base o forró raiz e sua mistura com diversos ritmos, a banda vai aos poucos se destacando no cenário nacional.

Apesar das dificuldades de se trabalhar com arte, os resultados têm aparecido: foram considerados pela crítica a revelação do Festival Abril Pró-Rock (Recife, abril/2000), fato que rendeu uma matéria na revista Showbizz. Também estão com shows marcados no estado de São Paulo e foram convidados para um festival na Suíça, além de estarem com 80% do primeiro disco pronto.

Os cabras da Cabruêra (no ano 2000)*: Arthur Pessoa, Fred Guimarães, Orlando Freitas, Zé Guilherme e Alexandre Mota.

Curta um pouco da conversa que tivemos com a banda:

O Berro: Falem sobre a utilização e transformação da música nordestina...
Cabruêra: Essa ideia é antiga, surgiu na Semana de Arte Moderna de 22, quando Oswald de Andrade lançou o seu manifesto antropofágico, no qual ele enfatiza a antropofagia cultural do povo brasileiro, que pega as coisas vindas de fora e passa numa espécie de “liquidificador”, daí saindo uma “coisa nova”, apesar de não ser realmente nova. Atualmente um marco nessa nova musicalidade foi o Chico Science.

O Berro: A questão da manipulação cultural imposta pela mídia... Como vocês trabalham esse lado e tentam reverter o quadro?
Cabruêra: O que falta é democracia. O Brasil tem uma diversidade cultural imensa, mas há a falta de democracia. Muita coisa acaba ficando esquecida enquanto há privilégios para poucos. E as coisas são impostas mesmo. A luta é desigual, mas vamos fazendo nossa parte.

O Berro: Quais são basicamente as influências no “liquidificador” da Cabruêra?
Cabruêra: Mais importante que nossos gostos musicais são as nossas histórias como paraibanos. Coisas que estão na veia, pois crescemos numa cultura própria e singular. Somos de uma geração que escutou muito forró, desde Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Trio Nordestino, até o que toca hoje em dia nas rádios, o que já é outra discussão. Também a nossa vivência no maior São João do mundo, em Campina Grande. Esse ambiente somado a outras influências trazidas por cada um acabam afunilando-se no que hoje é o grupo Cabruêra.

O Berro: E no que diz respeito à questão social do povo brasileiro, a musicalidade, a cultura...
Cabruêra: Esse problema é antigo. No início do século XX Adorno escreveu o texto “A regressão do ouvido”, no qual, ele preocupado com o destino da música, “senta o pau” na música popular, na época o jazz. Logicamente se ele ouvisse o que tocam hoje em dia, talvez estivesse correndo louco na rua. Para Adorno, música era Stravinsky e outros.

O Berro: E sobre a representatividade do trabalho de vocês...
Cabruêra: Hoje viver de música em nosso país é muito difícil, principalmente qua
ndo se faz algo diferente dos padrões. Mas a identidade mais forte com o nosso público, e que nele refletiu, é a releitura de nossa própria identidade como nordestinos. Acho que transmitimos um pouco da sensação de olhar para si próprio e refletir o que verdadeiramente está dentro de você. Essa identidade traz o resgate cultural, o fato de você se sentir bem com sua própria cultura e, no caso, com sua musicalidade, hoje em dia tão marginalizada.
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Cabruêra se apresentando no programa O+ da Band, no São João de Campina Grande, em junho de 2000:




*Atualmente a formação da Cabruêra é Arthur Pessoa (voz, violão e escaleta), Pablo Ramires (bateria), Edy Gonzaga (baixo) e Leo Marinho (guitarra)

Site da banda: www.cabruera.com.br

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