quinta-feira, 23 de abril de 2020

Karimai e Zeca Baleiro: ‘capa por capa’



por Hudson Jorge

No ano 2000, a Região do Cariri recebeu a ilustre visita de um cantor e compositor emergente. Saindo do cenário da poesia e música marginal maranhense, Zeca Baleiro excursionava de forma meio tímida em uma turnê voz e violão, divulgando o seu segundo e recente álbum lançado: Vô Imbolá.

A equipe de “O Berro” resolveu que iria tentar uma entrevista com ele.

Depois de pensarmos em algumas possibilidades de como conseguir essa entrevista, Ythallo e eu rumamos para o escritório do produtor Jota Rodrigues, que era o contratante do espetáculo.

Após um momento de espera, conseguimos falar com ele e pedimos autorização para conseguir a entrevista. Ele disse que não tinha como autorizar e deu uma pista: “O voo dele tá previsto para chegar agora. Vão lá e tentem falar com ele!”. Simples assim… 
Saímos do escritório do Jota e coçamos nossos projetos de barba pensando se iríamos atrás disso. De repente, olhamos para o céu e vimos o avião embicando rumo ao pouso no Aeroporto de Juazeiro do Norte. Pegamos duas mototáxis e disparamos pra lá.

Um tanto aflitos e inexperientes, esperávamos no saguão. Não havia fãs e estávamos lá, nós dois, meio apreensivos.

Zeca entra no saguão e vai passando naturalmente, quando eu falei: “Zeca!”

Ele olhou para a gente, e acenou gentilmente com a mão. Fomos em frente, nos apresentamos e dissemos que tínhamos um “zine” e que gostaríamos de entrevistá-lo. Ele foi olhando assim meio que sem muita empolgação pra gente.

Por sorte, tínhamos os dois primeiros exemplares daquele ano conosco e os mostramos para um Zeca Baleiro pouco empolgado com a ideia. Ao ver, na segunda edição, estampada a manchete de uma entrevista com o artista plástico Luís Karimai, ele parou, arregalou os olhos e, por trás de um óculos semi escuros meio alaranjados, disse em voz alta com admiração: “Vocês entrevistaram Karimai?!?!?”. “Sim, entrevistamos...” e repetiu admirado: Vocês entrevistaram Karimai?!?!?. A gente começou a ficar meio com medo daquela reação. Então, ele disse: “Então, tá feito! Combinado! Vamos fazer a entrevista depois do show, no camarim!”... daí, o que se segue é que conseguimos, realmente, fazer a entrevista e, para isso foram necessárias outras tantas peripécias que dariam outras boas histórias.

Mas, o que ficou marcado daquele momento, foi ver um artista lá de tromba, como se diz no Ceará, já naquela época reverenciar o nome de um dos artistas plásticos mais expressivos do Cariri. Durante a entrevista, Zeca Baleiro citou ainda nomes como Abidoral Jamacaru e Cleivan Paiva, demonstrando sua apreciação pela arte caririense.

A obra e o nome de Luís Karimai já corriam o mundo e muitos de nós, ainda hoje, sequer temos a dimensão dessa expressividade toda.

Luís Karimai é pai de um de nossos amigos da época do ensino médio. Naquele tempo, para encontrá-lo, se a gente quisesse, bastava ir lá tomar um café, ou dar uma passada pela Associação de Amigos da Arte (Amar), ou encontrá-lo na rua caminhando ou participando de uma arrecadação de alimentos para pessoas carentes.

Essa capa da edição de O Berro “apenas” tem o nome do artista em uma das manchetes, mas, foi com ela que conseguimos a entrevista que saiu na edição seguinte.

Entrevista com Luís Karimai e Petrônio Alencar:
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