domingo, 19 de abril de 2020

‘Ao locutor da Rádio Araripe, Elói Teles’, poema de Patativa do Assaré




Ao locutor da Rádio Araripe, Elói Teles

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece, procura vencê,
Da terra adorada, que a bela caboca
De riso na boca zomba no sofrê.

Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho para fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.

Tem munta beleza minha boa terra,
Derne o vale à serra, da serra ao sertão.
Por ela eu me acabo, dou a própria vida,
É terra querida do meu coração.

Meu berço adorado tem bravo vaquêro
E tem jangadêro que domina o má.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.

Ceará valente que foi munto franco
Ao guerrêro branco Soare Moreno,
Terra estremecida, terra predileta
Do grande poeta Juvená Galeno.

Sou dos verde mare da cô da esperança,
Que as água balança pra lá e pra cá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.

Ninguém me desmente, pois, é com certeza,
Quem qué vê beleza vem ao Cariri,
Minha terra amada pissui mais ainda,
A muié mais linda que tem o Brasí.

Terra da jandaia, berço de Iracema,
Dona do poema de Zé de Alencá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.
____

Patativa do Assaré em Cante lá que eu canto cá: filosofia de um trovador nordestino (Editora Vozes, 15 ed., 2008).

O radialista, escritor e folclorista Elói Teles de Morais nasceu em Crato, no dia 19 de abril de 1936, e faleceu no mesmo município, em 9 de outubro de 2000.
-

Seu Elói recitando poesia de Luciano Carneiro no programa Coisas do Meu Sertão, na Rádio Educadora:

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário