segunda-feira, 20 de abril de 2020

10 (+1) livros de escritoras que me tocaram, por Dia Nobre



por Dia Nobre

Listas são sempre objetos incompletos

Eu amo fazer listas. Ainda criança, costumava listar tudo o que eu gostava. Tinha um caderno para os meus filmes preferidos, minhas músicas, livros, coisas que eu queria fazer, projetos de futuro, etc. Mas, listas são sempre objetos incompletos. Parece que sempre falta algo. Invariavelmente, somos levados a escolhas bem difíceis. Sobre quem deixar de fora, quem sacrificar.

Eu cresci com a literatura. Desde muito pequena, fui estimulada a ler e tive contato com bibliotecas e livros de todos os tipos, mas confesso que li poucas mulheres entre a infância e a adolescência. Mais recentemente, investi em um projeto de só ler mulheres durante um ano (2019) e disso resultou uma incrível viagem dentro de mim mesma.

A lista abaixo traz dez +1 livros (sim, eu vou subverter o pedido que me fizeram!), que me tocaram de alguma forma: pela escrita maravilhosa, pela sensibilidade, pela identificação pessoal ou porque é algo que eu gostaria de ter escrito. É também a lista de um momento muito específico da minha vida, este em que me aventuro como escritora, ela pode mudar como já mudou tantas e tantas vezes.

Como leitora e escritora, deixo um apelo: precisamos conhecer a literatura feminina. Precisamos ouvir o que as mulheres têm a dizer. Esta lista, dedico às minhas irmãs, bruxas, subversivas, resilientes, resistentes mulheres que se sentem impelidas a escrever e precisam ser lidas.


 
1. A teus pés, Ana Cristina César (poesia, 1982)
Foi o primeiro livro de poesias que li ou assim a memória me faz crer. É, de longe, o livro mais usado da minha estante, aquele com mais marcas de uso, grifos, escritos. Ana é minha inspiração eterna.



2. A casa dos espíritos, Isabel Allende (1982)
Este me marcou muito. Primeiro, porque as protagonistas são mulheres muito fortes; depois, porque ele traz toda uma aura de crendice, mistério e política que só uma boa romancista poderia criar.



3. Orlando, Virgínia Woolf (1928)
Eu costumo dizer que se eu pudesse escolher voltar ao passado para conhecer alguém, essa pessoa seria Virgínia. É uma das escritoras que mais me obsessiona. Capaz de escrever poesia, prosa, crônicas, textos feministas, é uma escritora completa. Alguém para gente visitar num sábado à tarde e passar horas conversando, fumando e tomando chá com biscoitos.



4. A redoma de vidro, Sylvia Plath (1963)
Este livro, no momento em que foi lido, me fez perceber como a vida, às vezes, pode ser tão efêmera. Não é um livro para ser descrito. Você precisa ler para sentir.



5. A amiga genial, Elena Ferrante (2011 - aqui também temos uma pequena subversão, pois se trata de uma quadrilogia)
Elena Ferrante é o pseudônimo de uma mulher que não quer ser vista. Para mim, esta mulher que não se deixa ver é a representação do desejo maior de quem escreve: ela quer ser lida porque seus textos podem mover as pessoas e não, por quem ela é na “vida real”. A obra de Ferrante traz mulheres fortes, lutadoras, resilientes, que pensam o tempo todo sobre si mesmas e suas relações com outras mulheres.



6. Quarto de despejo, Carolina Maria de Jesus (1960)
Esse, eu posso dizer com convicção, é o livro mais dolorido que já li. Carolina era uma mulher negra, favelada que criou seus filhos com a venda de papel e que escrevia para alimentar a alma, ainda que sua barriga estivesse vazia. Carolina era a resistência em pessoa e sua obra, leitura super atual e obrigatória.



7. O olho mais azul, Toni Morrison (1970)
Toni intersecciona na sua narrativa questões muito caras às mulheres negras (e às mulheres brancas antirracistas): o racismo, a misoginia, os padrões de beleza excludentes. É um livro que a gente lê numa tarde, mas cuja digestão é longa e difícil.



8. Nada, Carmem Laforet (1945)
Este, sem dúvida, é um livro que eu gostaria de ter escrito. De uma sensibilidade, fôlego e primorosidade que me deixam sem palavras.



9. O coração é um caçador solitário, Carson McCullers (1940)
Esse foi um livro que me intrigou. Não é tanto a obra em si, mas uma personagem, especificamente, uma criança, que fez com que eu parasse e olhasse para dentro de mim mesma. E claro, esse é um mérito da escritora.



10. Redemoinho em dia quente, Jarid Arraes (2019)
Conhecer a obra de Jarid foi uma grata surpresa que 2019 me proporcionou. A ela, só tenho a agradecer por este lindo livro. Por dar a conhecer nossa cultura caririense, nossos lugares e nosso falar. Gratidão por me fazer lembrar que em Juazeiro não senti só tristeza e luto; também vivi coisas boas, também cultivei amor por alguns lugares, pessoas e momentos que estavam guardados na memória e que retornaram quando eu li os seus contos.



Bônus: Devoção, Patti Smith (2018)
Para Patti Smith, a escritora busca um vazio para encher de palavras. Neste livro, ela nos conta de seu processo criativo, da necessidade de solidão, da busca pela inspiração e o que move a sua escrita. A escritora se interroga sobre a necessidade de escrever e provoca o leitor com a possibilidade de a escrita ser um ato de amor, mas também de egoísmo. Penso, como Patti que nós escrevemos para poder nos livrar do peso da existência: “Porque não podemos simplesmente viver”.
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Dia Nobre - Nascida em Juazeiro do Norte, cariri cearense. É historiadora, escritora e poeta. Possui dois livros publicados na área da pesquisa histórica, inclusive o premiado Incêndios da Alma, publicado em 2016 pela Editora Multifoco. Atualmente vive em Petrolina (PE), onde trabalha como professora universitária desenvolvendo projetos ligados à literatura, história e feminismo. Prepara para 2020 o lançamento de seu primeiro livro de poesias intitulado Todos os meus humores.

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2 comentários:

  1. E para mim, entre um dos meus dez livros, teu o seu livro, Edianne, sobre a Beata Maria, gratidão, querida, pela maravilhosa pesquisa e trabalho!

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