terça-feira, 21 de abril de 2020

Brasília, 60 anos: olhares cinematográficos



por Ythallo Rodrigues

Em 21 de abril de 1960, era inaugurada a novíssima capital de um dos principais países do “terceiro mundo” (termo que à época fazia sentido), Brasília, um marco da arquitetura e das artes modernas de um país chamado Brasil. Hoje ao completar 60 anos (dos quais mais de um terço foi sob regime ditatorial), não há muito o que se comemorar ou quase nada: talvez comemorar o imaginário romântico da existência de Brasília como uma “cidade-obra-de-arte”, ou ainda comemorar a existência e a sobrevivência de grande parte de sua população que não necessariamente tem a ver com as mazelas que retumbam da capital desta federação.

No entanto, vimos aqui nessa postagem, novamente, para indicar trabalhos artísticos que durante esses anos observaram questões sociais importantes, tensionando artisticamente as realidades que a capital planejada nos trouxe ao longo de sua breve história. São três curtas-metragens de importantes realizadores do cinema nacional que podem ser acessados e vistos no YouTube.

O primeiro desse filmes é Fala Brasília, de Nelson Pereira dos Santos, realizado em 1966, através do INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo). O filme nos apresenta cinco personagens, um de cada uma das regiões do Brasil, em que o cineasta busca refletir sobre a multiplicidade dos sotaques dos mais diverso lugares, na capital.

O segundo, Brasília - Contradições de uma Cidade Nova, de Joaquim Pedro de Andrade, de 1967. O documentário é realizado a partir da pergunta estruturante: “uma cidade inteiramente planejada, criada em nome do desenvolvimento nacional e da democratização da sociedade, poderia reproduzir as desigualdades e a opressão existentes em outras regiões do país?”*

E por fim, outro documentário, este baseado em material de arquivo e intitulado Brasília segundo Feldman (1979), de Vladimir Carvalho, a partir de material filmado por Eugene Feldman, em 1959, durante a construção da cidade. O filme traz à tona o massacre de operários na Vila Planalto, evento trágico e jamais solucionado, neste período ainda antes da inauguração de Brasília.

Para concluirmos, gostaríamos de citar também dois realizadores contemporâneos que têm construído suas filmografias a partir de Brasília: a primeira é a piauiense Dácia Ibiapina – Ressurgentes: um Filme de Ação Direta –, professora da UnB e cineasta, que vem realizando vários filmes (curtas e longas) geralmente com uma pegada social e com muita potência. O outro realizador é o Adirley Queirós – Branco Sai, Preto Fica e Era uma vez Brasília – que a partir da Ceilândia (cidade-satélite) ecoa sua força cinematográfica que viaja pelo espaço-tempo e explode contra o concreto brasiliense.

Os três curtas, Fala Brasília, Brasília - Contradições de uma Cidade Nova e Brasília segundo Feldman, podem ser acessados a partir da playlist abaixo:



* Citação retirada da sinopse do filme no página da Cinemateca Brasileira.

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