terça-feira, 28 de abril de 2020

9 (+1) obras que me fizeram refletir durante o isolamento, por Cecilia Sobreira



por Cecilia Sobreira

Quando eu cantava “I Want The World Stop”, de Belle & Sebastian, não imaginava que o mundo realmente pudesse parar, que a engrenagem social fosse interrompida. E agora que a maioria de nós está em casa, temos o tempo do mundo ao preço de restrições de espaço e novas regras de convivência.

O isolamento me fez incluir atividades virtuais no cotidiano, desde os filmes do Cine Café à exposição fotográfica de amigos. Uma forma de estar próxima à arte e às pessoas, simultaneamente. Até sessões de terapia se mostraram proveitosas nesse modelo.

Vendo pelo lado positivo, esse momento nos dá a chance de fazer coisas que não conseguiríamos tão facilmente no mundo antigo. Estou tendo a oportunidade de me aprofundar no autoconhecimento, retomando estudos sobre economia criativa e descobrindo com minha filha, através de filmes, séries e músicas, um mundo mais interessante, visto pela ótica feminina e constatando que, sim, o futuro é feminino.

No fim das contas a pandemia me ensinou algo muito importante: viver um dia de cada vez.

Compartilho um pouco das obras que me marcaram nesse aprendizado.

LIVROS

 
Até voltar às raízes, Gabi Artz (2019)
Leitura leve, ideal para momentos de auto conhecimento. A autora traz um convite pra se reobservar e reobservar o mundo, propondo caminhos possíveis para voltar à nossa essência e termos uma vida mais harmônica.


 
O negócio é ser pequeno: um estudo de economia que leva em conta as pessoas, E. F. Schumacher (1973)
Apesar de ter sido escrito nos anos 70, o autor já previa nossos problemas atuais, causados pelo crescimento a qualquer custo. Ele traz várias especulações de futuro que acabaram se concretizando, sobre o inchaço dos grandes centros e as consequências do desprezo ambiental. As medidas sugeridas são voltadas para a economia criativa e responsabilidade ambiental. Muito inspirador. Também é possível encontrar outros autores nessa linha, mas as sugestões de Schumacher me parecem mais sensatas.


FILMES

 
O Poço (Galder Gaztelu-Urrutia, Espanha, 2019 - Disponível na Netflix)
Uma produção espanhola que vem causando muita polêmica. Traz a história de pessoas presas num poço dividido em vários níveis que forçam uma ordem social. A produção é simples, sem grandes locações, voltada quase completamente para o roteiro que é sustentado por ótimas atuações. Dramático e denso, o filme sugere discretamente reflexões sobre as regras sociais às quais nos amarramos. Trailer do filme O Poço: https://youtu.be/RlfooqeZcdY


 
Girl (Lukas Dhont, 2018 - Disponível na Netflix)
Outro filme denso, que nos leva a refletir sobre os dilemas e sofrimentos das pessoas trans. Baseado na história real de uma bailarina trans, essa produção Belga nos transporta para uma realidade que poucos conhecem traduzindo através de cenas simples, a dor de não se reconhecer no próprio gênero e ainda ter que enfrentar toda a insegurança que as cobranças sociais nos afligem. Trailer do filme Girl: https://www.youtube.com/watch?v=lTrCpkJwckY. Depois do filme dá uma conferida num vídeo na dançarina que inspirou o filme, Nora Monsecour: https://www.youtube.com/watch?v=hNiBzblTMxo


SÉRIES

 
Anne With an E (Disponível na Netlflix)
Pra retomar a fé na humanidade. Essa série canadense lançada em 2017 é baseada no livro Anne of Green Gables, de Lucy Moud Mongomery, editado em 1908, e conta a história de uma menina ruiva e órfã que realiza seu sonho de ter uma família. Com seu caráter irretocável, persistência e uma energia de dar inveja, ela transforma a vida de todos ao seu redor. A série foi criada e dirigida por mulheres e tem atuações femininas maravilhosas. A fotografia é outro ponto forte, com paisagens canadenses de tirar o fôlego. Trailer: https://youtu.be/S5qJXYNNINo


 
Nada Ortodoxa (Disponível na Netflix)
Inspirada no livro Unorthodox, da norte-americana Deborah Feldman, a mini-série conta, em quatro capítulos, a história de uma menina judia de 19 anos que foge de sua comunidade ultra ortodoxa no Bronx e vai pra Alemanha atrás dos seus sonhos. Brilhantemente dirigida por Maria Schrader, a série traz o debate do Holocausto contra os costumes judaicos e nos faz mergulhar numa outra realidade cultural que muitos desconhecem mas que ainda existe em muitos lugares, inclusive no coração de Nova York, funcionando como uma bolha conservadora dentro de um país liberal. Trailer: https://youtu.be/iWMAXxa_Hu8


EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA


Ao Redor, Lino Fly e Nivia Uchoa
Uma seleção de trabalhos dos fotógrafos Lino e Nivia em paisagens caririenses, realizados entre 2010 e 2020. A exposição virtual nos coloca em contato com a cultura e a beleza da nossa terra sob o olhar sensível dos dois fotógrafos que conhecem como ninguém as particularidades da região. Confira a exposição Ao Redor: https://www.youtube.com/watch?v=Ia0LBnKb23M


MÚSICA
Algumas descobertas de bandas femininas feitas através de séries da Netflix.

 
Molly Burch
Artista californiana de estilo alternativo, voltada pro indie. Música destaque: “To The Boys”. Site: http://www.mollyburchmusic.com/


 
Sharon Van Etten, compositora e cantora americana.
“Seventeen” é um dos seus trabalhos mais interessantes, com uma batida meio anos 80 que gruda no lobo frontal e faz você dançar sozinho na quarentena. Clipe de “Seventeen”: https://www.youtube.com/watch?v=j7sTHoeH0eA


 
The Mysterines
Banda independente do Reino Unido que manda um rock empolgante no vocal feminino fortíssimo de Lia Metcalfe. “Take Control” aparece na trilha de Sex Education e você já aciona o Shazam pra descobrir que música maravilhosa é essa: https://youtu.be/bt_xhaTc210.
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Cecilia Sobreira: formada em economia pela URCA e jornalismo pela UFCA. Feminista. Mãe de adolescente. Vegetariana. Amante da cultura underground.

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Para além da risada da Janis



por Hudson Jorge | ilustração: Reginaldo Farias

O ano era 2000. Ganhei de presente do amigo Ythallo Rodrigues uma fita com músicas da Janis Joplin. Na verdade, acho que peguei emprestado e ela foi ficando lá por casa ao ponto de eu ter achado que era um presente.

Naquela época, a noção que eu tinha era a de que estava começando a revolucionar o (meu) mundo, conhecendo coisas, frequentando faculdade, conhecendo artistas, pessoas descoladas, presenciando e participando de um monte de porralouquice. Tempos bons.

Então, a Janis começou a fazer parte desse meu mundo também. Eu gostava, como ainda gosto, da sua voz rouca, pouco preocupada com os padrões comerciais, do seu som com belos arranjos e com aquelas guitarras sem aqueles milhares de efeitos das pedaleiras modernas de hoje em dia. Me agradava o clássico “Mercedes Benz” com aquela risada engraçadinha da Janis no final.

Como ainda não tinha acesso à internet com facilidade, também conhecia poucas fotos da garota. Mas, me lembro que me causou uma “estranheza tremenda” umas imagens dela que vi na TV...

Como passava pouco tempo em casa e na época não havia dispositivos super portáteis para a execução de música como MP3 players e celulares e os walkmans eram incômodos, pesados e caros, procurava aproveitar meus momentos em casa para poder ouvir minhas músicas preferidas e isso significava já acordar pela manhã apertando o play e ouvir as músicas até o momento de sair de casa para a faculdade.

Geralmente, entre 6h30 e 7h da manhã o quatro em um CCE que ficava no meu quarto começava seu trabalho. O problema é que o quarto era divido com meus irmãos e, confesso, que hoje vejo que me faltou um negócio chamado bom senso, pois, enquanto o som rolava solto, os bichim tentavam dormir.

Suportaram bem essa situação até a chegada da Janis, cuja fita cassete tinha como primeira música o clássico “Mercedez Bens”. Lá pelo terceiro dia, um dos meus irmãos acorda e dá um grito: “Pelo Amor de Deus, desliga essa gasguita!”

Ok Janis! Nesse romance só vai dar você e eu...
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sábado, 25 de abril de 2020

9 (+2) contos de Rubem Fonseca para ler, por Elvis Pinheiro



por Elvis Pinheiro

Rubem Fonseca

Em 15 de abril de 2020 comecei a escrever este texto. Foram quatro parágrafos que deixei pra lá. Não os reli, mesmo agora, antes desta nova tentativa, nesta manhã de quinta-feira, 23 de abril de 2020, nono dia de seu falecimento. Do que escrevi anteriormente, lembro apenas que era muito ruim, muito metido a besta e eu falava mais de mim do que do escritor. A gente vai escrevendo e não sabe se vai jogar tudo fora ou se dessa vez dará certo. Vou pedir ao Luís André, editor desta postagem, que publique meu texto a partir daqui e os quatro primeiros parágrafos anteriores, que não irei relê-los, venham num asterisco ao final de tudo, bem lá embaixo, no blog (e no Instagram ou Facebook nem apareçam).

Pediram-me para selecionar, indicar, na verdade, alguns contos do Rubem Fonseca. Não lembro se eram 10 ou 11. Selecionei 11. Tenho 12 livros de contos do Rubem Fonseca em minha Biblioteca, mas o 12º é o Carne Crua, seu último livro, e este eu quero ter vida e saúde para lê-lo em 11 de maio, quando Rubem completaria, se estivesse vivo, 95 anos. Então, dos outros 11 livros, com muita dificuldade, selecionei um conto de cada.

Considerações. A primeira: eu tenho os meus livros de contos preferidos, nos quais, todos os contos deles, posso considerá-los meus preferidos! Refiro-me aos livros Lúcia McCartney, Feliz Ano Novo e O Buraco na Parede. A segunda: do livro Histórias de Amor (1997) que me foi roubado (já que a mulher para quem o emprestei nunca me devolveu, mas em compensação fiquei com um outro dela, com uma seleção de poemas do Fernando Pessoa), eu escolheria o conto “Betsy” (acho que é assim que se escreve – não me lembro porque o latrocínio foi em 97 e depois disso nunca mais o li). E a terceira e última consideração: não escolhi contos de livros que não tenho em minha casa. Portanto, os interessados em me presentear podem me agradar com o envio de A Confraria dos Espadas (1998), Secreções, Exceções e Desatinos (2001), Ela e Outras Mulheres (2006) e Histórias Curtas (2015).


 
1. “Duzentos e vinte e cinco gramas”. Foi meu primeiro assombro. Foi quando o autor agarrou o meu pé para sempre naquela remota tarde de 1996. Tudo que eu leria depois, em Os Prisioneiros (1963) e em todos os seus demais livros, já me predispunham a considerá-lo o meu escritor preferido.


 
2. “A força humana”. Esses fortões de academia, esse povo que sua em ringues de luta livre, e que o Zé sabia fazer a gente ter empatia por eles, compreendê-los. Sentirmos sua dor, seus medos e fraqueza. A Coleira do Cão (1965).


 
3. “*** (Asteriscos)”. Que genial na estrutura, na perspectiva, na visão magistral do que é o sistema da Arte. Lúcia McCartney (1969).


 
4. “Intestino grosso”. Quer saber por que ele escreve do jeito que escreve? Mate a sua curiosidade lendo esse conto. Feliz Ano Novo (1975).


 
5. “Livro de ocorrências”. Cada caso que chega numa delegacia é um conto ou novela impressionantes. Eles tem vários contos nesse estilo, comece por esse, num livro cheio de outras obras-primas. O Cobrador (1979).


 
6. “Olhar”. Decidi que gosto de comer o que tem olho e pode me ver. Nossa! Nem sei. Mas você nunca mais vai comer do mesmo jeito depois de ler isso. Romance Negro e Outras Histórias (1992).


 
7. “Idiotas que falam outra língua”. Estrutura de peça de teatro. Acho muito engraçado. Vi-o, uma vez, adaptado para o cinema, num curta que assisti no festival Mix Brasil. Não está com este título. A leitura é uma delícia pra quem gosta mais de diálogos. O Buraco na Parede (1995).


 
8. “Ganhar o jogo”. Ah, os psicopatas de Rubem Fonseca… sempre tão criativos! Pequenas Criaturas (2002).


 
9. “Sapatos”. Dá um filme. Tão Brasil, tão nossa realidade social. Impressionante. Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011).


 
10. “Sopa de pedra”. Coloquei no sumário, ao lado do título deste conto, quase (ou por que não?) poema, “maravilhoso”. Acredito que não convença muita gente com essa impressão. Vão concordar os que pegarem as referências. Amálgama (2013).


 
11. “Mildred”. Ei, muito orgulhoso dessa guinada do Rubem Fonseca abordando o tema da homofobia. Muito bom e muito importante esse conto. Calibre 22 (2017).

Devo ter extrapolado o espaço devido. Mas é isso.
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* O leitor de Rubem Fonseca não suporta quem confunde seu nome e o chama de Rubens. Começa daí. Porque soa logo a leitor desatento ou pseudoleitor ou gente que quer passar por entendido de literatura ou leitor desse autor tão reverenciado. Quem leu de verdade Rubem Fonseca, e não um conto ou outro perdido, por obrigação escolar ou sabe-se lá, jamais esquecerá seu nome. Jamais o chamará de Rubens.

Sou admirador e divulgador de sua obra por onde quer que eu passe há 24 anos. Mais da metade de minha vida e a totalidade de minha vida adulta. Não existe pessoa que me conheça que não saiba de minha fascinação por Rubem Fonseca. Tenho tanto para falar sobre ele, mas o espaço, o tempo e a qualidade da minha escrita impendem-me. Espaço porque não adianta um texto longo que ninguém irá ler, tempo porque depois de amanhã já aconteceu muita coisa e não fará mais sentido esse assunto e quanto a qualidade da escrita é essa sofrível que se vê!

No entanto, aqui no Cariri poderá haver melhores e mais adequados comentadores da obra de Rubem Fonseca e até mesmo fãs mais apaixonados, mais certamente sou aquele leitor notório de sua obra. Nessa quarentena venho gravando a leitura de seus contos e publicando em meu canal no YouTube (clique aqui para conferir!). Mas sempre li em voz alta os seus contos para os meus amigos. Dei seus livros de presente. Há 24 anos quem me conhece também sabe quem é Rubem Fonseca. Por isso, agradeço este reconhecimento dos amigos dO Berro que me deram esse espaço de registro do meu amor.

Aqui eu faço a minha listinha de preciosidades.
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Elvis Pinheiro é mediador de cinema, vocalizador de literatura de ficção, professor formado em Letras pela URCA, editor da revista Sétima, membro fundador do grupo Sétima e se disfarça de Cais do Porto para publicar seus poemas.

Confira outras listas postadas recentemente no blog O Berro:
9 (+1) filmes para assistir na Netflix, por Wendell Borges
10 (+1) livros de escritoras que me tocaram, por Dia Nobre
 
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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Karimai e Zeca Baleiro: ‘capa por capa’



por Hudson Jorge

No ano 2000, a Região do Cariri recebeu a ilustre visita de um cantor e compositor emergente. Saindo do cenário da poesia e música marginal maranhense, Zeca Baleiro excursionava de forma meio tímida em uma turnê voz e violão, divulgando o seu segundo e recente álbum lançado: Vô Imbolá.

A equipe de “O Berro” resolveu que iria tentar uma entrevista com ele.

Depois de pensarmos em algumas possibilidades de como conseguir essa entrevista, Ythallo e eu rumamos para o escritório do produtor Jota Rodrigues, que era o contratante do espetáculo.

Após um momento de espera, conseguimos falar com ele e pedimos autorização para conseguir a entrevista. Ele disse que não tinha como autorizar e deu uma pista: “O voo dele tá previsto para chegar agora. Vão lá e tentem falar com ele!”. Simples assim… 
Saímos do escritório do Jota e coçamos nossos projetos de barba pensando se iríamos atrás disso. De repente, olhamos para o céu e vimos o avião embicando rumo ao pouso no Aeroporto de Juazeiro do Norte. Pegamos duas mototáxis e disparamos pra lá.

Um tanto aflitos e inexperientes, esperávamos no saguão. Não havia fãs e estávamos lá, nós dois, meio apreensivos.

Zeca entra no saguão e vai passando naturalmente, quando eu falei: “Zeca!”

Ele olhou para a gente, e acenou gentilmente com a mão. Fomos em frente, nos apresentamos e dissemos que tínhamos um “zine” e que gostaríamos de entrevistá-lo. Ele foi olhando assim meio que sem muita empolgação pra gente.

Por sorte, tínhamos os dois primeiros exemplares daquele ano conosco e os mostramos para um Zeca Baleiro pouco empolgado com a ideia. Ao ver, na segunda edição, estampada a manchete de uma entrevista com o artista plástico Luís Karimai, ele parou, arregalou os olhos e, por trás de um óculos semi escuros meio alaranjados, disse em voz alta com admiração: “Vocês entrevistaram Karimai?!?!?”. “Sim, entrevistamos...” e repetiu admirado: Vocês entrevistaram Karimai?!?!?. A gente começou a ficar meio com medo daquela reação. Então, ele disse: “Então, tá feito! Combinado! Vamos fazer a entrevista depois do show, no camarim!”... daí, o que se segue é que conseguimos, realmente, fazer a entrevista e, para isso foram necessárias outras tantas peripécias que dariam outras boas histórias.

Mas, o que ficou marcado daquele momento, foi ver um artista lá de tromba, como se diz no Ceará, já naquela época reverenciar o nome de um dos artistas plásticos mais expressivos do Cariri. Durante a entrevista, Zeca Baleiro citou ainda nomes como Abidoral Jamacaru e Cleivan Paiva, demonstrando sua apreciação pela arte caririense.

A obra e o nome de Luís Karimai já corriam o mundo e muitos de nós, ainda hoje, sequer temos a dimensão dessa expressividade toda.

Luís Karimai é pai de um de nossos amigos da época do ensino médio. Naquele tempo, para encontrá-lo, se a gente quisesse, bastava ir lá tomar um café, ou dar uma passada pela Associação de Amigos da Arte (Amar), ou encontrá-lo na rua caminhando ou participando de uma arrecadação de alimentos para pessoas carentes.

Essa capa da edição de O Berro “apenas” tem o nome do artista em uma das manchetes, mas, foi com ela que conseguimos a entrevista que saiu na edição seguinte.

Entrevista com Luís Karimai e Petrônio Alencar:
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9 (+1) filmes para assistir na Netflix, por Wendell Borges



por Wendell Borges


Temporada (André Novais Oliveira, Brasil, 2018)
Uma das forças deste longa nacional é a interpretação marcante da atriz Grace Passô. Ela interpreta a personagem Juliana, uma agente de saúde que após saber que foi aprovada em um concurso público, deixa a cidade de Itaúna, interior de Minas Gerais, para trabalhar na região metropolitana de Belo Horizonte. O filme retrata uma realidade muito comum para a grande maioria dos trabalhadores brasileiros: uma rotina exaustiva e com poucas possibilidades de ascensão profissional. Essa rotina é mostrada da forma mais simples, crua e tocante, deixando a vida das personagens falar por si só. Temporada é uma daquelas obras cuja beleza e encanto só precisam da simplicidade e da monotonia da vida para construírem a força de sua dramaturgia.


 
O Bar (Álex de la Iglesia, Espanha, 2017)
Acompanho a carreira de Álex de La Iglesia desde sua estreia com Ação Mutante no início da década de 90. De lá para cá já são várias as pérolas de sua já contundente carreira de cineasta, com destaque para produções como A Comunidade (2000) e Crime Ferpeito (2004); este O Bar consegue unir bem alguns dos elementos usados em várias de suas produções como: a mistura do horror com a comédia de humor negro, a crítica social e os preconceitos culturais. A trama começa em um bar onde alguns clientes transitam normalmente até que um tiroteio no lado de fora dá início ao estopim de acontecimentos bizarros que vão colocar à prova as emoções e a sanidade das personagens.


 
Circle (Aaron Hann e Mario Miscione, EUA, 2015)
50 pessoas são selecionadas aparentemente de forma aleatória e confinadas em um local aterrador e mortal com o intuito de testar a humanidade e o destino de cada um. O mistério em torno daquilo que nos faz seres humanos ou simplesmente monstros prestes a serem despertados está arraigado em algum lugar desconhecido; nossos medos, angústias e preconceitos culturalmente arraigados nos assolam como fantasmas. A morte nos faz tomar decisões a cada momento e em meio à angústia do desconhecido está o jogo proposto pela narrativa deste longa, um tanto cru e bizarro em sua aparente simplicidade, mas que já é o suficiente para nos fazer pensar, nem que seja um pouco sobre o que é um ser humano.


 
A Sun (Mong-Hong Chung, Taiwan, 2019)
Drama taiwanês com um elenco afiado, direção elegante e cenas fortes. A narrativa acompanha uma família que tenta sobreviver e se manter unida em meio à tempestade de conflitos e situações desastrosas que vão acontecendo uma atrás da outra. O filme levou 6 prêmios no Golden Horse (o Oscar chinês) incluindo prêmio de Melhor Filme e Melhor direção para Mong-Hong Chung.


 
Rastros de um sequestro (Jang Hang-jun, Coreia do Sul, 2017)
Quando acertam no equilíbrio entre um elenco que entrega atuações intensas e um roteiro instigante, os coreanos se tornam praticamente insuperáveis na construção de Thrillers. Este aqui consegue prender a atenção do espectador com uma narrativa misteriosa que envolve a relação entre dois irmãos, sequestros e mudanças de personalidade. O crescimento do nível estético e técnico do cinema sul-coreano nos últimos anos tem trazido diversas outras produções para o catálogo da Netflix.



Durante a Tormenta (Oriol Paulo, Espanha, 2018)
A instigante mistura de gêneros cinematográficos que vai desde a ficção científica até a aventura romântica com altas doses de suspense, aliados a um elenco em sintonia com grandes atuações e um roteiro fascinante, fazem deste filme espanhol uma daquelas figurinhas carimbadas em listas de pérolas escondidas no catálogo da Netflix. A direção é do espanhol Oriol Paulo, que costuma assinar os roteiros de seus filmes. Ele já traz no currículo também um outro grande sucesso de audiência da Netflix, o excelente thriller Um Contratempo lançado em 2016.



O Voo (Robert Zemeckis, EUA, 2012)
O Voo foi dirigido por um dos mais populares cineastas norte-americanos, Robert Zemeckis, autor de produções como a trilogia De Volta Para o Futuro, Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) e Contato (1997), e estrelado por um dos mais prolíficos e premiados atores da geração anos 80, Denzel Washington. A trama narra a luta do piloto William "Whip" Whitakercontra o alcoolismo em meio à turbulenta sobrevivência heroica após a queda de uma avião. O longa teve duas indicações ao Oscar: Melhor ator e Melhor Roteiro Original.



Grave (Julia Ducournau, França/Bélgica/Itália, 2016)
Esta coprodução franco-belga dirigida por Julia Ducournau é uma daquelas produções de uma beleza ímpar para os apreciadores do “Horror Corporal”- subgênero do horror que apresenta intencionalmente violações gráficas ou psicologicamente perturbadoras do corpo humano. A trama narra a descoberta da jovem Justine, uma estudante de veterinária que acaba mergulhando em um pesadelo após ter seu primeiro contato com estranhos rituais da faculdade que envolvem banhos de sangue e canibalismo. Prepare-se para cenas bem fortes de horror corporal.



Apóstolo (Gareth Evans, Reino Unido, 2018)
Gareth Evans é um cineasta galêscuja carreiracomeçou com produções indonésias de ação policial que exploravam o talento marcial do ator IkoUwais, e que passou a adentrar também no universo dos filmes de horror dirigindo um dos segmentos do longaV/H/S/2. Em 2018 então foi chamado para realizar este longa distribuído pela Netflixno qual teve liberdade criativa para escrever o roteiro e realizar a montagem. Apesar do ritmo claudicante, este filme surpreende pela beleza da fotografia assinada por Matt Flanery e pela criação de cenas de uma beleza plástica ímpar. A trama segue o personagemThomas Richardson (Dan Stevens)que viaja para uma ilha remota com o intuito de resgatar sua irmã depois que ela é sequestrada por um misterioso culto religioso.



+1: O Poço (Galder Gaztelu-Urrutia, Espanha, 2019)
A estreia na direção do produtorGalderGaztelu-Urrutia fez um alvoroço por onde passou. O Poçojá tem no currículo nove premiações em Festivais, incluindo o Goya de melhores efeitos visuais e premiações em Festivais consagrados como Sitges e Toronto. A narrativa é repleta daquelas cenasviscerais e extremamente fortes, feitas para testar os nervos dos espectadores mais tarimbados com o cinema de horror corporal, subgênero do horror pelo qual tenho grande afeição por me fazer refletir de forma mais intensa sobre a condição humana.A direção de arte de AzegiñeUrigoitia, aliada aos belíssimos efeitos visuais de Jon D. Domínguez e ao roteiro criativo de David Desola, criaram uma atmosfera sombria, enigmática e catalisadora de emoções humanas diversas, trazendo à tona mensagens sociopolíticas em seu contexto.  A trama narra o desespero de Goreng (Ivan Massagé) tentando sobreviver em um lugar misterioso, uma prisão vertical indescritível com um número desconhecido de níveis e regras desumanas.
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog WB.84.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Uma crônica quase tão bela quanto o boné do meu avô



por Antonio Lima Júnior

Sempre achei que ser cronista é coisa de gente mais velha, que tenha experiência suficiente para extrair a poesia do cotidiano. Por isso me acostumei a relutar em escrever crônicas, mas o convite d'O Berro veio a calhar. Nesses dias de confinamento, pensei aqui ou ali sobre a possibilidade de escrever crônicas. Vamos ao experimento então.

Desde que comecei o isolamento, há mais de um mês, o pior dia certamente foi a última segunda (13 de abril), quando acordei, já tarde devido à intensa insônia que estou tendo esses dias, e fui noticiado da morte do músico Moraes Moreira, um dos integrantes dos Novos Baianos.

A música do Moraes Moreira sempre esteve presente na minha vida adulta (falo como se já fosse velho hein?). Ainda no movimento estudantil, as músicas “A menina dança” e “Mistério do planeta” dos Novos Baianos eram praticamente hinos dos encontros de estudantes de comunicação social.

Em 2016, quando voltei pra Fortaleza depois de concluir o curso de Jornalismo na UFCA, finalmente pude começar a curtir o carnaval valendo. Antes disso, o mesmo movimento estudantil de comunicação me fazia abrir mão de viajar no carnaval pra gastar a grana viajando para congressos que sempre caíam em datas próximas ao carnaval. Tudo bem, tudo tem seu tempo, né?

A partir daí, a carreira solo do Moraes Moreira virou trilha sonora oficial dos meus carnavais. O último, bem recente, ainda está muito fresco na minha memória, assim como o livro que li alguns anos atrás do próprio Moraes Moreira sobre a história do carnaval baiano e do saudoso trio elétrico de Dodô e Osmar.

A perda deste ídolo da música brasileira foi de grande tristeza para mim, ainda muito impactado com a morte do meu avô materno em dezembro, que não tinha um chinelo tão belo quanto o meu cabelo, mas que foi uma pessoa muito importante na minha vida, mesmo não aparentando tanto, já que nossa relação sempre foi muito de dar e pedir a bênção sem muito papo depois.

Desde 1979, quando a família da minha mãe se mudou do interior dos Inhamuns para a capital alencarina, meu avô tinha um bar-mercearia, vulgo bodega, aqui no famigerado bairro José Walter. Quando criança, comecei a andar lá para ver a criação de pebas que meu avô tinha num tambor. Depois comecei a ir para ganhar uns chicletes e bombons, depois para entregar o almoço e nos últimos meses ia aos domingos tomar cerveja. Talvez seja dali que surgiu o meu interesse pelos bares rústicos.

Estamos falando de muitos lutos aqui, não só pela minha vida recente, mas também pelo cenário que vivemos atualmente na geração quarentener. Entretanto, num dos banhos de sol que tomo confinado no meu quintal acimentado e ensolarado, vi uma planta brotar nas frestas de um tijolo. Sempre há de brotar vidas novas onde tudo parece estar morto.
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Antonio Lima Júnior é jornalista formado pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Diretor da Associação Cearense de Imprensa (ACI), fã de cinema brasileiro e um marxista convicto e confesso.

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terça-feira, 21 de abril de 2020

Brasília, 60 anos: olhares cinematográficos



por Ythallo Rodrigues

Em 21 de abril de 1960, era inaugurada a novíssima capital de um dos principais países do “terceiro mundo” (termo que à época fazia sentido), Brasília, um marco da arquitetura e das artes modernas de um país chamado Brasil. Hoje ao completar 60 anos (dos quais mais de um terço foi sob regime ditatorial), não há muito o que se comemorar ou quase nada: talvez comemorar o imaginário romântico da existência de Brasília como uma “cidade-obra-de-arte”, ou ainda comemorar a existência e a sobrevivência de grande parte de sua população que não necessariamente tem a ver com as mazelas que retumbam da capital desta federação.

No entanto, vimos aqui nessa postagem, novamente, para indicar trabalhos artísticos que durante esses anos observaram questões sociais importantes, tensionando artisticamente as realidades que a capital planejada nos trouxe ao longo de sua breve história. São três curtas-metragens de importantes realizadores do cinema nacional que podem ser acessados e vistos no YouTube.

O primeiro desse filmes é Fala Brasília, de Nelson Pereira dos Santos, realizado em 1966, através do INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo). O filme nos apresenta cinco personagens, um de cada uma das regiões do Brasil, em que o cineasta busca refletir sobre a multiplicidade dos sotaques dos mais diverso lugares, na capital.

O segundo, Brasília - Contradições de uma Cidade Nova, de Joaquim Pedro de Andrade, de 1967. O documentário é realizado a partir da pergunta estruturante: “uma cidade inteiramente planejada, criada em nome do desenvolvimento nacional e da democratização da sociedade, poderia reproduzir as desigualdades e a opressão existentes em outras regiões do país?”*

E por fim, outro documentário, este baseado em material de arquivo e intitulado Brasília segundo Feldman (1979), de Vladimir Carvalho, a partir de material filmado por Eugene Feldman, em 1959, durante a construção da cidade. O filme traz à tona o massacre de operários na Vila Planalto, evento trágico e jamais solucionado, neste período ainda antes da inauguração de Brasília.

Para concluirmos, gostaríamos de citar também dois realizadores contemporâneos que têm construído suas filmografias a partir de Brasília: a primeira é a piauiense Dácia Ibiapina – Ressurgentes: um Filme de Ação Direta –, professora da UnB e cineasta, que vem realizando vários filmes (curtas e longas) geralmente com uma pegada social e com muita potência. O outro realizador é o Adirley Queirós – Branco Sai, Preto Fica e Era uma vez Brasília – que a partir da Ceilândia (cidade-satélite) ecoa sua força cinematográfica que viaja pelo espaço-tempo e explode contra o concreto brasiliense.

Os três curtas, Fala Brasília, Brasília - Contradições de uma Cidade Nova e Brasília segundo Feldman, podem ser acessados a partir da playlist abaixo:



* Citação retirada da sinopse do filme no página da Cinemateca Brasileira.

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segunda-feira, 20 de abril de 2020

10 (+1) livros de escritoras que me tocaram, por Dia Nobre



por Dia Nobre

Listas são sempre objetos incompletos

Eu amo fazer listas. Ainda criança, costumava listar tudo o que eu gostava. Tinha um caderno para os meus filmes preferidos, minhas músicas, livros, coisas que eu queria fazer, projetos de futuro, etc. Mas, listas são sempre objetos incompletos. Parece que sempre falta algo. Invariavelmente, somos levados a escolhas bem difíceis. Sobre quem deixar de fora, quem sacrificar.

Eu cresci com a literatura. Desde muito pequena, fui estimulada a ler e tive contato com bibliotecas e livros de todos os tipos, mas confesso que li poucas mulheres entre a infância e a adolescência. Mais recentemente, investi em um projeto de só ler mulheres durante um ano (2019) e disso resultou uma incrível viagem dentro de mim mesma.

A lista abaixo traz dez +1 livros (sim, eu vou subverter o pedido que me fizeram!), que me tocaram de alguma forma: pela escrita maravilhosa, pela sensibilidade, pela identificação pessoal ou porque é algo que eu gostaria de ter escrito. É também a lista de um momento muito específico da minha vida, este em que me aventuro como escritora, ela pode mudar como já mudou tantas e tantas vezes.

Como leitora e escritora, deixo um apelo: precisamos conhecer a literatura feminina. Precisamos ouvir o que as mulheres têm a dizer. Esta lista, dedico às minhas irmãs, bruxas, subversivas, resilientes, resistentes mulheres que se sentem impelidas a escrever e precisam ser lidas.


 
1. A teus pés, Ana Cristina César (poesia, 1982)
Foi o primeiro livro de poesias que li ou assim a memória me faz crer. É, de longe, o livro mais usado da minha estante, aquele com mais marcas de uso, grifos, escritos. Ana é minha inspiração eterna.



2. A casa dos espíritos, Isabel Allende (1982)
Este me marcou muito. Primeiro, porque as protagonistas são mulheres muito fortes; depois, porque ele traz toda uma aura de crendice, mistério e política que só uma boa romancista poderia criar.



3. Orlando, Virgínia Woolf (1928)
Eu costumo dizer que se eu pudesse escolher voltar ao passado para conhecer alguém, essa pessoa seria Virgínia. É uma das escritoras que mais me obsessiona. Capaz de escrever poesia, prosa, crônicas, textos feministas, é uma escritora completa. Alguém para gente visitar num sábado à tarde e passar horas conversando, fumando e tomando chá com biscoitos.



4. A redoma de vidro, Sylvia Plath (1963)
Este livro, no momento em que foi lido, me fez perceber como a vida, às vezes, pode ser tão efêmera. Não é um livro para ser descrito. Você precisa ler para sentir.



5. A amiga genial, Elena Ferrante (2011 - aqui também temos uma pequena subversão, pois se trata de uma quadrilogia)
Elena Ferrante é o pseudônimo de uma mulher que não quer ser vista. Para mim, esta mulher que não se deixa ver é a representação do desejo maior de quem escreve: ela quer ser lida porque seus textos podem mover as pessoas e não, por quem ela é na “vida real”. A obra de Ferrante traz mulheres fortes, lutadoras, resilientes, que pensam o tempo todo sobre si mesmas e suas relações com outras mulheres.



6. Quarto de despejo, Carolina Maria de Jesus (1960)
Esse, eu posso dizer com convicção, é o livro mais dolorido que já li. Carolina era uma mulher negra, favelada que criou seus filhos com a venda de papel e que escrevia para alimentar a alma, ainda que sua barriga estivesse vazia. Carolina era a resistência em pessoa e sua obra, leitura super atual e obrigatória.



7. O olho mais azul, Toni Morrison (1970)
Toni intersecciona na sua narrativa questões muito caras às mulheres negras (e às mulheres brancas antirracistas): o racismo, a misoginia, os padrões de beleza excludentes. É um livro que a gente lê numa tarde, mas cuja digestão é longa e difícil.



8. Nada, Carmem Laforet (1945)
Este, sem dúvida, é um livro que eu gostaria de ter escrito. De uma sensibilidade, fôlego e primorosidade que me deixam sem palavras.



9. O coração é um caçador solitário, Carson McCullers (1940)
Esse foi um livro que me intrigou. Não é tanto a obra em si, mas uma personagem, especificamente, uma criança, que fez com que eu parasse e olhasse para dentro de mim mesma. E claro, esse é um mérito da escritora.



10. Redemoinho em dia quente, Jarid Arraes (2019)
Conhecer a obra de Jarid foi uma grata surpresa que 2019 me proporcionou. A ela, só tenho a agradecer por este lindo livro. Por dar a conhecer nossa cultura caririense, nossos lugares e nosso falar. Gratidão por me fazer lembrar que em Juazeiro não senti só tristeza e luto; também vivi coisas boas, também cultivei amor por alguns lugares, pessoas e momentos que estavam guardados na memória e que retornaram quando eu li os seus contos.



Bônus: Devoção, Patti Smith (2018)
Para Patti Smith, a escritora busca um vazio para encher de palavras. Neste livro, ela nos conta de seu processo criativo, da necessidade de solidão, da busca pela inspiração e o que move a sua escrita. A escritora se interroga sobre a necessidade de escrever e provoca o leitor com a possibilidade de a escrita ser um ato de amor, mas também de egoísmo. Penso, como Patti que nós escrevemos para poder nos livrar do peso da existência: “Porque não podemos simplesmente viver”.
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Dia Nobre - Nascida em Juazeiro do Norte, cariri cearense. É historiadora, escritora e poeta. Possui dois livros publicados na área da pesquisa histórica, inclusive o premiado Incêndios da Alma, publicado em 2016 pela Editora Multifoco. Atualmente vive em Petrolina (PE), onde trabalha como professora universitária desenvolvendo projetos ligados à literatura, história e feminismo. Prepara para 2020 o lançamento de seu primeiro livro de poesias intitulado Todos os meus humores.

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