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domingo, 7 de junho de 2015

‘Príncipe Ribamar’, cordel de Justino Paulo Bandeira




Cordel Príncipe Ribamar
Autor: Justino Paulo Bandeira
1ª Edição: 2012 (composição dos versos: agosto de 2011)
Coleção Centenário - Cordéis Contemporâneos
Xilogravura da capa (Editora IMEPH, 2012): Antonio Dias (Juciê)
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Peço atenção companheiros
Pra história que vou contar,
De um homem de Juazeiro
Era o Príncipe Ribamar.

Joaquim Gomes Menezes
Ele assim foi batizado
Foi na década de vinte
Do outro século passado.

Nasceu na Rua do Horto,
Profissão de carpinteiro
Um rapaz muito disposto
Trabalhava o dia inteiro.

Ficou muito magoado,
Depois que sua mãe morreu
Muito triste e acabado
Joaquim enlouqueceu.

O Príncipe da Beira Fresca
Pelo povo era chamado
Andava sempre trajado
Com uma mala de lado.

O Príncipe sempre andava
Nas ruas de Juazeiro
Nessa mala conduzia
Projetos do mundo inteiro.

Andava diariamente
Pelas praças da cidade
Discutindo seus projetos,
Mostrando às autoridades.

Possuía documentos
De príncipe a governador
Projetos imperiais
De altíssimo valor.

Falava de construção
E tratados mundiais
Favorecendo a nação
E simbolizando a paz.

Uma fábrica de fumaça
Desejava construir
Para acabar com e desgraça
Existente por ali.

A ideia de um bonde elétrico
Do Horto pra Juazeiro
E de um banco real
Pra gerar muito dinheiro.

Um campo de aviação
E um quartel general
Um hospital pros irmãos
De sanidade mental.

Era muito apaixonado
Por Gioconda, a princesa
Criada por um ‘da Vince’
Num requinte de beleza.

A sua amada morava
Do outro lado do mar
Numa terra bem distante
Muito além do seu lugar.

Gioconda, a Monalisa
O seu amor mais profundo
Escrevia coisas lindas
De admirar o mundo.

Foi sempre bem recebido
Esse príncipe Menestrel
Por juiz e capitão
Por prefeito e coronel.

Dia 7 de setembro
O príncipe se ornamentava
Trajando bem diferente
Pelas ruas desfilava.

Se tornando o grande príncipe
Pelo povo batizado
Entre fitas e medalhas
Era um ser iluminado.

Porém, Ribamar jamais
A ninguém ofendeu
Era o príncipe da paz
Destino que Deus lhe deu.
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Algumas postagens sobre o Príncipe Ribamar no blog O Berro:
- O nobre Ribamar
- Dois sonetos em homenagem ao Príncipe Ribamar
- Príncipe Ribamar, o sonhador de Juazeiro.
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O nobre Ribamar



Do papel # 26

Hoje compartilhamos um texto de Cecilia Sobreira sobre o Príncipe Ribamar, publicado na Revista Geral (número 16, de abril de 2013). Para ampliar a página da revista, clique na imagem abaixo.
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O nobre Ribamar
por Cecília Sobreira

Era uma vez, no árido sertão nordestino, um homem que virou príncipe. Seu nome era Joaquim Gomes Menezes, nascido e criado em Juazeiro do Norte, excelente carpinteiro e uma pessoa de bom coração. Certo dia, veio ao seu encontro, uma jovem mulher, muito bem vestida, dizendo-se princesa. No meio de sua conversa, proposta de casamento e um mundo de nobreza.

Daquele dia em diante, Joaquim ele deixou de ser. Aos poucos abandonou sua profissão e tudo o mais que o ligava ao mundo dos plebeus. Encomendou novas e galantes vestimentas, ganhou identidade real e, por anos, alimentou a ideia de ser um príncipe: Príncipe Ribamar da Beira Fresca. Assim ele circulava pela cidade, imponente, sempre com uma maleta à mão.

A princesa nunca mais voltou, mas vez por outra, chegavam às mãos do príncipe, cartas escritas por uma certa Princesa Gioconda, do reino da Eslóvia.

Uma dessas cartas dizia que estava sendo enviada pela corte real grande quantia em dinheiro para ser entregue ao Príncipe Ribamar, o que causou considerável transtorno entre o príncipe e o gerente do banco local.

Apesar de muitos duvidarem de sua nobreza, Príncipe Ribamar era  querido pelas pessoas da cidade, sendo figura constante nos palanques em dias de festa. Seus planos e projetos eram dos mais grandiosos e criativos, como desviar o curso do rio que passava pela cidade de Barbalha, para que este fizesse parte do município de Juazeiro do Norte. Também fez a planta de um prédio que deveria ser construído no subterrâneo da serra do Horto, para que não fosse alagado quando o Rio Jordão (na realidade Rio Salgadinho) desencantasse.

Príncipe Ribamar morreu sem conseguir construir as fábricas (de fazer fumaça ou desentortar banana) ou criar a cavalaria marítima que planejava. Também nunca soube que a Princesa Gioconda não passava de uma brincadeira ocorrida no carnaval, assim como a identidade real da mesma, ou a autoria das tão famosas cartas. Mas, como todo príncipe que se preze, sua morte foi notícia de jornal e hoje existe uma rua com seu nome. Provavelmente nunca mais ouviremos falar de um príncipe juazeirense com sangue azul real lavável.
Cecilia Sobreira 
(Revista Geral, abril de 2013)
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Confira outras postagens no blog sobre o Príncipe Ribamar:
- Príncipe Ribamar, o sonhador de Juazeiro
- Dois sonetos em homenagem ao Príncipe Ribamar
- Foto rara do Príncipe Ribamar


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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Foto rara do Príncipe Ribamar

Arquivo Cariri # 13

Esta foto ao lado foi disponibilizada por Daniel Walker no seu Portal de Juazeiro (www.portaldejuazeiro.com).

Trata-se de uma imagem rara do Príncipe Ribamar da Beira Fresca, figura folclórica e histórica da cidade de Juazeiro do Norte. A foto é colorida e mostra o Príncipe devidamente trajado como se fosse um autêntico chefe de principado.

Daniel Walker relata que a imagem foi uma colaboração de Marconi Edison Pereira Carneiro, hoje residente em Salvador-BA.

Para conferir a postagem do Portal de Juazeiro, intitulada "Viva o Príncipe!", clique aqui.

No blog O Berro temos duas postagens sobre o Príncipe Ribamar (publicadas na série especial sobre o Centenário de Juazeiro do Norte):
- Para ler uma apresentação sobre o Príncipe Ribamar e a reprodução de um texto de José Wilker sobre o personagem, clique aqui;
- Para ler dois sonetos em homenagem ao Príncipe, clique aqui.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Dois sonetos em homenagem ao Príncipe Ribamar

Centenário de Juazeiro do Norte # 84Embalado pra viagem # 30

Na postagem # 83 do Centenário, divulgamos um texto de José Wilker falando sobre o Príncipe Ribamar.

Hoje recorremos à antologia Juazeiro poético, organizada por Raimundo Araújo e lançada em 1988, e reproduzimos dois poemas que homenageiam o Príncipe.








Príncipe Ribamar
(Ivan Fernandes Magalhães)

Os filtros narcotizantes do amor
Que lhe injetaram na alma rudemente,
Minaram de tal forma a sua mente,
Que o fizeram um vulgar mercador

De sonhos! Viveu com tanto ardor
O seu papel de Príncipe Demente,
Que até uma Gioconda irreverente
Encheu o seu palácio de esplendor!

Seus éditos, chulos e sem graça,
Eram lidos em voz alta, na praça,
E riam todos de suas loucas visões...

Somente eu, Príncipe, não ria de ti,
— Porque como tu, eu também vivi,
Qual mercador de sonhos e ilusões!...
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Sua Majestade
(Eduardo José P. de Matos)

Com títulos de reinos incabíveis
Guardados em finíssimo escrínio,
Ribamar sonha com tronos e domínio.
— Coisas humanamente impossíveis —

Seus tesouros são tão inconcebíveis...!
Próprios das mentes em legal declínio.
Traz dragonas na roupa irreconhecíveis
E medalhões com brilho em extermínio.

Fala em realizações impraticáveis,
Tem ideias obscuras, inviáveis...
E as defende com têmpera sincera.

Por Príncipe, conhece-o a cidade.
E o povo que lhe deu a majestade,
Deu-lhe as chaves argênteas da quimera.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Príncipe Ribamar, o sonhador de Juazeiro

Centenário de Juazeiro do Norte # 83

Juazeiro do Norte possui na sua história figuras populares que ficaram conhecidas por sua arte, por atuações religiosas e algumas por serem consideradas sonhadoras, fazerem da imaginação uma ponte para uma vida mais mágica, menos burocrática, menos tediosa. Quem viveu na cidade até umas duas décadas atrás relata várias histórias de pessoas que circulavam pelas ruas e viviam nesse universo mágico do sonhar, sendo incompreendidas pelo mundo restritivamente "lógico", recebendo apelidos, sendo alvo de chacotas e outras invencionices em prol da "brincadeira".

Um dos personagens que entrou para a história de Juazeiro sob este prisma foi o Joaquim Gomes Menezes, que ficou conhecido na cidade pela alcunha de Príncipe Ribamar da Beira Fresca. Em texto (clique aqui para lê-lo), o escritor Daniel Walker afirma que o Príncipe Ribamar "era apenas um sonhador, um visionário, uma figura popular da cidade de Juazeiro do Norte e pessoa muito querida por todos que o conheceram". Por sua vez, o professor, historiador e sociólogo Titus Riedl classifica-o como "o personagem mais rico da história de Juazeiro".

Em vários relatos sobre o Príncipe Ribamar temos o depoimento de que se tratava de um exímio carpinteiro, que abandonou a profissão para perambular pelas ruas de Juazeiro e mostrar as condecorações recebidas, simbolizadas em medalhas penduradas na sua incrementada vestimenta. O Príncipe Ribamar faleceu em 1978 e hoje nomeia uma rua no bairro Carité, em Juazeiro.

Logo abaixo, reproduzimos um belo texto do ator juazeirense José Wilker, relatando histórias do Príncipe Ribamar e defendendo que o Aeroporto Regional do Cariri deveria se chamar "Príncipe Ribamar". Entenda o motivo no texto.
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O Príncipe Ribamar
José Wilker

(extraído da Revista Globo Rural, 1995, e republicado na edição 85 do JuaOnline, de 7 de janeiro de 2007)

Imagine uma pequena cidade do interior do Ceará aí pelos primeiros anos da década de cinquenta. Imagine Juazeiro do Norte nessa época. Aconteceu lá isso que vou contar. Pode ser que não tenha sido assim, mas é assim que eu me lembro e é assim que eu conto.

Havia lá um príncipe que se chamava Ribamar. Sempre vestido em seu traje de gala, todas as condecorações derramadas no peito, a solenidade atrapalhada pelas sandálias de dedo e um chapéu-coco. Com chuva ou com sol, ele descia a Rua Grande de Juazeiro todas as tardes, vindo de lugar nenhum e indo para nenhum lugar. Debaixo de um guarda-chuva branco, ele passeava sua solidão. É que o príncipe era noivo. A noiva morava num lugar distante, do outro lado do Oceano Atlântico. A viagem era uma aventura e ela demorava a chegar. O navio em que ela vinha, ele contava, enfrentando piratas, dragões, sereias e a inveja de outros príncipes preteridos, tardava, mas o amor era imenso e o mar pequeno. Ela, estava escrito, um dia chegaria.

Conheci o príncipe já perto dos anos 70 e, diziam, desde jovem ele esperava. A quem lhe perguntasse ou duvidasse, ele exibia as apaixonadas cartas de amor que ela escrevia e, para os mais incrédulos, o seu retrato. Com dedicatória: ao príncipe do meu coração, todo o amor da sua Gioconda da Vinci. O príncipe Ribamar era noivo da Gioconda, de Leonardo da Vinci.

Para muitos, o príncipe era maluco, um pobre coitado com o cérebro derretido pelo sol do sertão. Riam dele, roubavam e escondiam o retrato da Gioconda. Nestes momentos, o príncipe se imobilizava, uma explosão de dor o congelava. Eu me lembro dele, assim privado da sua amada, feito uma estátua no meio da praça. Parecia tão triste e ausente de si que, eu juro, flutuava a meio metro do chão, pendurado no guarda-chuva branco. Quando uma alma boa lhe devolvia seu bem mais precioso, a felicidade saltava dos seus olhos como um raio na tempestade. Talvez ele fosse realmente louco. Mas uma loucura que fazia nascer uma tal felicidade e uma felicidade que vinha de um amor tão grande me deixavam na dúvida.

E, um dia, a dúvida se dissipou. Cansado do descrédito e do deboche em relação ao seu noivado, ele decidiu apressar seu encontro com a noiva. Chega de navios, ela viajará por via aérea. Para uma plateia de invejosos, ele leu o telegrama: “embarco hoje Roma-Juazeiro vg via Panair do Brasil pt amor pt Gioconda da Vinci”. Depois de um silêncio cheio de ironias, alguém perguntou: e o avião desce onde? Foi quando o príncipe resolveu construir um aeroporto. Depois de um tempo lutando para conseguir adesões, argumentando com uns e com outros para que lhe ajudassem a preparar o terreno, montou uma pequena tropa de trabalhadores e começou a construção. Havia quem trabalhasse apenas por farra, mas o príncipe não tentou enganar ninguém. Todos seriam pagos. Afinal, trazia na sua bagagem o tesouro do seu dote. Ribamar, sem nenhuma ambição material, todo amor, prometia dividir aqueles bens entre o que o ajudaram.

Um belo dia, o aeroporto ficou pronto. Ou melhor, uma longa clareira aberta no Vale do Cariri, delimitada de um lado por um jardim plantado com capricho e, de outro, por um pomar onde faziam sombra juazeiros e mangueiras. E Ribamar esperou com seus companheiros. Os dias se passaram, os companheiros se foram e ele continuou esperando, só. Não sei quanto tempo ele esperou. Na cidade, ninguém mais falava ou lembrava dele. De repente, num domingo de sol nordestino, Ribamar reapareceu. Todo de branco, com aquele ar de quem viu Deus, dirigiu-se para a Matriz de Nossa Senhora das Dores, ajoelhou-se diante do altar e esperou. Aparentemente ia se casar. Ninguém se preocupou com ele. Foi esquecido e lá dormiu. Na manhã seguinte segurando um buquê, caminhava de volta para sua casa, que ninguém sabia onde era. Depois desse dia, não o vi mais. Minha família mudou-se para Recife e, durante muito tempo, Juazeiro era uma lembrança, nada mais. Nunca mais soube do Ribamar. Entretanto, o atual aeroporto de Juazeiro do Norte, trazido pelo progresso, foi construído sobre o terreno aberto por Ribamar para a chegada da sua Gioconda. Eu acho que, por justiça, deveria ser chamado de Aeroporto Príncipe Ribamar.
José Wilker, 1995