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quinta-feira, 23 de abril de 2020

9 (+1) filmes para assistir na Netflix, por Wendell Borges



por Wendell Borges


Temporada (André Novais Oliveira, Brasil, 2018)
Uma das forças deste longa nacional é a interpretação marcante da atriz Grace Passô. Ela interpreta a personagem Juliana, uma agente de saúde que após saber que foi aprovada em um concurso público, deixa a cidade de Itaúna, interior de Minas Gerais, para trabalhar na região metropolitana de Belo Horizonte. O filme retrata uma realidade muito comum para a grande maioria dos trabalhadores brasileiros: uma rotina exaustiva e com poucas possibilidades de ascensão profissional. Essa rotina é mostrada da forma mais simples, crua e tocante, deixando a vida das personagens falar por si só. Temporada é uma daquelas obras cuja beleza e encanto só precisam da simplicidade e da monotonia da vida para construírem a força de sua dramaturgia.


 
O Bar (Álex de la Iglesia, Espanha, 2017)
Acompanho a carreira de Álex de La Iglesia desde sua estreia com Ação Mutante no início da década de 90. De lá para cá já são várias as pérolas de sua já contundente carreira de cineasta, com destaque para produções como A Comunidade (2000) e Crime Ferpeito (2004); este O Bar consegue unir bem alguns dos elementos usados em várias de suas produções como: a mistura do horror com a comédia de humor negro, a crítica social e os preconceitos culturais. A trama começa em um bar onde alguns clientes transitam normalmente até que um tiroteio no lado de fora dá início ao estopim de acontecimentos bizarros que vão colocar à prova as emoções e a sanidade das personagens.


 
Circle (Aaron Hann e Mario Miscione, EUA, 2015)
50 pessoas são selecionadas aparentemente de forma aleatória e confinadas em um local aterrador e mortal com o intuito de testar a humanidade e o destino de cada um. O mistério em torno daquilo que nos faz seres humanos ou simplesmente monstros prestes a serem despertados está arraigado em algum lugar desconhecido; nossos medos, angústias e preconceitos culturalmente arraigados nos assolam como fantasmas. A morte nos faz tomar decisões a cada momento e em meio à angústia do desconhecido está o jogo proposto pela narrativa deste longa, um tanto cru e bizarro em sua aparente simplicidade, mas que já é o suficiente para nos fazer pensar, nem que seja um pouco sobre o que é um ser humano.


 
A Sun (Mong-Hong Chung, Taiwan, 2019)
Drama taiwanês com um elenco afiado, direção elegante e cenas fortes. A narrativa acompanha uma família que tenta sobreviver e se manter unida em meio à tempestade de conflitos e situações desastrosas que vão acontecendo uma atrás da outra. O filme levou 6 prêmios no Golden Horse (o Oscar chinês) incluindo prêmio de Melhor Filme e Melhor direção para Mong-Hong Chung.


 
Rastros de um sequestro (Jang Hang-jun, Coreia do Sul, 2017)
Quando acertam no equilíbrio entre um elenco que entrega atuações intensas e um roteiro instigante, os coreanos se tornam praticamente insuperáveis na construção de Thrillers. Este aqui consegue prender a atenção do espectador com uma narrativa misteriosa que envolve a relação entre dois irmãos, sequestros e mudanças de personalidade. O crescimento do nível estético e técnico do cinema sul-coreano nos últimos anos tem trazido diversas outras produções para o catálogo da Netflix.



Durante a Tormenta (Oriol Paulo, Espanha, 2018)
A instigante mistura de gêneros cinematográficos que vai desde a ficção científica até a aventura romântica com altas doses de suspense, aliados a um elenco em sintonia com grandes atuações e um roteiro fascinante, fazem deste filme espanhol uma daquelas figurinhas carimbadas em listas de pérolas escondidas no catálogo da Netflix. A direção é do espanhol Oriol Paulo, que costuma assinar os roteiros de seus filmes. Ele já traz no currículo também um outro grande sucesso de audiência da Netflix, o excelente thriller Um Contratempo lançado em 2016.



O Voo (Robert Zemeckis, EUA, 2012)
O Voo foi dirigido por um dos mais populares cineastas norte-americanos, Robert Zemeckis, autor de produções como a trilogia De Volta Para o Futuro, Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) e Contato (1997), e estrelado por um dos mais prolíficos e premiados atores da geração anos 80, Denzel Washington. A trama narra a luta do piloto William "Whip" Whitakercontra o alcoolismo em meio à turbulenta sobrevivência heroica após a queda de uma avião. O longa teve duas indicações ao Oscar: Melhor ator e Melhor Roteiro Original.



Grave (Julia Ducournau, França/Bélgica/Itália, 2016)
Esta coprodução franco-belga dirigida por Julia Ducournau é uma daquelas produções de uma beleza ímpar para os apreciadores do “Horror Corporal”- subgênero do horror que apresenta intencionalmente violações gráficas ou psicologicamente perturbadoras do corpo humano. A trama narra a descoberta da jovem Justine, uma estudante de veterinária que acaba mergulhando em um pesadelo após ter seu primeiro contato com estranhos rituais da faculdade que envolvem banhos de sangue e canibalismo. Prepare-se para cenas bem fortes de horror corporal.



Apóstolo (Gareth Evans, Reino Unido, 2018)
Gareth Evans é um cineasta galêscuja carreiracomeçou com produções indonésias de ação policial que exploravam o talento marcial do ator IkoUwais, e que passou a adentrar também no universo dos filmes de horror dirigindo um dos segmentos do longaV/H/S/2. Em 2018 então foi chamado para realizar este longa distribuído pela Netflixno qual teve liberdade criativa para escrever o roteiro e realizar a montagem. Apesar do ritmo claudicante, este filme surpreende pela beleza da fotografia assinada por Matt Flanery e pela criação de cenas de uma beleza plástica ímpar. A trama segue o personagemThomas Richardson (Dan Stevens)que viaja para uma ilha remota com o intuito de resgatar sua irmã depois que ela é sequestrada por um misterioso culto religioso.



+1: O Poço (Galder Gaztelu-Urrutia, Espanha, 2019)
A estreia na direção do produtorGalderGaztelu-Urrutia fez um alvoroço por onde passou. O Poçojá tem no currículo nove premiações em Festivais, incluindo o Goya de melhores efeitos visuais e premiações em Festivais consagrados como Sitges e Toronto. A narrativa é repleta daquelas cenasviscerais e extremamente fortes, feitas para testar os nervos dos espectadores mais tarimbados com o cinema de horror corporal, subgênero do horror pelo qual tenho grande afeição por me fazer refletir de forma mais intensa sobre a condição humana.A direção de arte de AzegiñeUrigoitia, aliada aos belíssimos efeitos visuais de Jon D. Domínguez e ao roteiro criativo de David Desola, criaram uma atmosfera sombria, enigmática e catalisadora de emoções humanas diversas, trazendo à tona mensagens sociopolíticas em seu contexto.  A trama narra o desespero de Goreng (Ivan Massagé) tentando sobreviver em um lugar misterioso, uma prisão vertical indescritível com um número desconhecido de níveis e regras desumanas.
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog WB.84.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Brasília, 60 anos: olhares cinematográficos



por Ythallo Rodrigues

Em 21 de abril de 1960, era inaugurada a novíssima capital de um dos principais países do “terceiro mundo” (termo que à época fazia sentido), Brasília, um marco da arquitetura e das artes modernas de um país chamado Brasil. Hoje ao completar 60 anos (dos quais mais de um terço foi sob regime ditatorial), não há muito o que se comemorar ou quase nada: talvez comemorar o imaginário romântico da existência de Brasília como uma “cidade-obra-de-arte”, ou ainda comemorar a existência e a sobrevivência de grande parte de sua população que não necessariamente tem a ver com as mazelas que retumbam da capital desta federação.

No entanto, vimos aqui nessa postagem, novamente, para indicar trabalhos artísticos que durante esses anos observaram questões sociais importantes, tensionando artisticamente as realidades que a capital planejada nos trouxe ao longo de sua breve história. São três curtas-metragens de importantes realizadores do cinema nacional que podem ser acessados e vistos no YouTube.

O primeiro desse filmes é Fala Brasília, de Nelson Pereira dos Santos, realizado em 1966, através do INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo). O filme nos apresenta cinco personagens, um de cada uma das regiões do Brasil, em que o cineasta busca refletir sobre a multiplicidade dos sotaques dos mais diverso lugares, na capital.

O segundo, Brasília - Contradições de uma Cidade Nova, de Joaquim Pedro de Andrade, de 1967. O documentário é realizado a partir da pergunta estruturante: “uma cidade inteiramente planejada, criada em nome do desenvolvimento nacional e da democratização da sociedade, poderia reproduzir as desigualdades e a opressão existentes em outras regiões do país?”*

E por fim, outro documentário, este baseado em material de arquivo e intitulado Brasília segundo Feldman (1979), de Vladimir Carvalho, a partir de material filmado por Eugene Feldman, em 1959, durante a construção da cidade. O filme traz à tona o massacre de operários na Vila Planalto, evento trágico e jamais solucionado, neste período ainda antes da inauguração de Brasília.

Para concluirmos, gostaríamos de citar também dois realizadores contemporâneos que têm construído suas filmografias a partir de Brasília: a primeira é a piauiense Dácia Ibiapina – Ressurgentes: um Filme de Ação Direta –, professora da UnB e cineasta, que vem realizando vários filmes (curtas e longas) geralmente com uma pegada social e com muita potência. O outro realizador é o Adirley Queirós – Branco Sai, Preto Fica e Era uma vez Brasília – que a partir da Ceilândia (cidade-satélite) ecoa sua força cinematográfica que viaja pelo espaço-tempo e explode contra o concreto brasiliense.

Os três curtas, Fala Brasília, Brasília - Contradições de uma Cidade Nova e Brasília segundo Feldman, podem ser acessados a partir da playlist abaixo:



* Citação retirada da sinopse do filme no página da Cinemateca Brasileira.

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terça-feira, 24 de março de 2020

Filme caririense ‘Candeias’ é disponibilizado no YouTube



O curta-metragem caririense Candeias (O Berro Filmes) é lançado na internet com o objetivo de se somar às ações que contribuem para que a população enfrente o período de quarentena por conta do coronavírus.

O documentário em curta-metragem Candeias está disponível gratuitamente na plataforma YouTube desde as zero hora desta terça-feira, dia 24 de março.

Filmado durante a Romaria de Nossa Senhora das Candeias, em fevereiro de 2016, o curta é uma produção de O Berro Filmes, com direção de Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues, e conta com o apoio da SECULT-CE, através do XI Edital de Cinema e Vídeo. A produção apresenta um olhar voltado para uma das mais belas expressões da religiosidade popular do Cariri, a “Procissão das Velas”, que ocorre em Juazeiro do Norte desde o início do século XX, sempre no dia 02 de fevereiro.

Para a equipe de O Berro Filmes, a decisão de publicar o vídeo na plataforma e disponibilizá-lo gratuitamente para o público foi tomada em um momento delicado, quando as pessoas estão sendo forçadas ao isolamento social em suas casas, com o objetivo de evitar a propagação do novo coronavírus (Covid 19) e deve se somar a outras iniciativas, para amenizar a pressão e contribuir para o controle emocional das pessoas. “Nós vínhamos planejando isso [disponibilizar o filme] há algum tempo e iríamos fazer em um outro momento, mas dada a situação pela qual estamos enfrentando no mundo todo, encontramos essa forma de contribuir para que as pessoas possam ter mais essa opção de entretenimento e controle emocional durante essa crise gerada pela pandemia do novo Coronavírus”, comenta um dos diretores do filme, o cineasta Ythallo Rodrigues.

A disponibilização do filme na plataforma de compartilhamento de vídeos é também uma forma de homenagear o Padre Cícero Romão, no aniversário de 176 anos de nascimento do sacerdote, fundador de Juazeiro do Norte e ícone religioso dos nordestinos, também comemorado nessa data. “Além de todas as dificuldades enfrentadas devido ao coronavírus, Juazeiro do Norte e o Nordeste sofrem com o cancelamento de uma das mais importantes festas da religiosidade popular, que é a comemoração do aniversário de nascimento do Padre Cícero. Esperamos que essa decisão possa amenizar um pouco mais a tristeza dos juazeirenses e romeiros que, pela primeira vez na história, viram essa festa ser cancelada”, ressalta a equipe – formada por Hudson Jorge (jornalista e produtor cultural), Xico Fredson (Policial Militar / Monitor Disciplinar no 2° CPM-CHMJ), Reginaldo Farias (artista plástico e designer gráfico), Ythallo Rodrigues (cineasta e poeta) e Luís André Araújo (professor universitário).

Um filme que circulou pelo Brasil
Lançado no dia 1º de fevereiro de 2017, Candeias teve, ainda naquele ano, uma boa aceitação no circuito audiovisual brasileiro. Ao todo foram 25 festivais nacionais e/ou mostras competitivas, como o 22º É Tudo Verdade RJ/SP e o 27º Curta Cinema RJ. O filme contabiliza ainda duas apresentações em festivais internacionais, em Bogotá (Colômbia) e Sofia (Bulgária). A produtora O Berro Filmes estima que, até o momento, foram quase 50 exibições públicas.

Premiação
O filme sobre a procissão das velas recebeu os prêmios de Melhor Curta-Metragem pelo Júri Popular, Melhor Fotografia e Melhor Som do 1º Cine Cariri, além do prêmio de Melhor Fotografia no II Festival de Cinema do Paranoá, no Distrito Federal, ambos em 2018. Ainda naquele ano, o documentário recebeu a indicação para o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2018, considerado o “Oscar do Cinema Nacional”.

O filme pode ser visto através do link https://bit.ly/curtacandeias

Filme Candeias:

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Filme caririense ‘Baile dos Reis’ será lançado nesta sexta-feira (10) em Juazeiro do Norte



Mais uma produção audiovisual de O Berro Filmes será lançada nesta sexta-feira, 10 de janeiro.

Baile dos Reis, filme documentário em curta-metragem, retrata a preparação de uma terreirada, um dos momentos mais importantes para o Reisado São Francisco, do bairro Romeirão. Liderado pelo Mestre Dodô, o grupo é representante de uma das tradições culturais populares mais expressivas de Juazeiro do Norte e região do Cariri.

No filme, o reisado do Mestre Dodô prepara o terreiro para a brincadeira. Brincar o Reisado entre esses velhos amigos, irmãos, agricultores, trabalhadores, jovens e crianças é, também, uma manifestação de resistência da cultura popular viva. O canto, a dança, a poesia, a luta de espadas e a representação dramática dos entremeios se revelam no momento de arrebatamento dos corpos cansados do trabalho, mas que se revigoram no Baile dos Reis.

Com direção de Luís André Araújo, Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues, Baile dos Reis é mais uma produção de O Berro Filmes e foi realizado com recursos do Fundo Estadual de Cultura, aprovado no XII Edital de Cinema e Vídeo (de 2015) da Secretaria de Cultura do Estado Ceará.

O lançamento acontece nesta sexta-feira, 10 de janeiro, às 19h no Sesc Juazeiro, com entrada gratuita.


Aniversário do Mestre Dodô

A data do lançamento do filme também marca o aniversário de 70 anos de vida do Mestre Dodô. Francisco Joventino da Silva, nascido no Sítio São Gonçalo, no Munícipio de Crato e residente em Juazeiro do Norte desde 1978,  desde muito novo brinca reisado. Foi discípulo do Mestre Zé Matias, seu tio, de quem herdou o conhecimento sobre a brincadeira e, após seu falecimento, deu continuidade à tradição do Reisado na família.

Além de brincante e Mestre da Cultura Popular juazeirense, Mestre Dodô trabalhou na agricultura e na construção civil. Hoje se dedica à cultura popular, liderando importantes grupos da tradição caririense, de Reisado e de Coco. No evento de lançamento do filme, a celebração dos 70 anos de Mestre Dodô também contará com a apresentação do Reisado São Francisco, por ele comandado.


Mais uma produção O Berro Filmes

Este é o segundo filme produzido pela produtora O Berro Filmes. O primeiro, Candeias, mergulha na romaria de mesmo nome, uma das mais belas e expressivas demonstrações da religiosidade popular brasileira.

Candeias foi selecionado em diversas mostras de cinema brasileiros, com destaque para o Festival “É Tudo Verdade”, realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo, considerado um dos mais importantes de toda a América Latina, e para o Curta Cinema, na capital fluminense. No exterior foi selecionado para mostras em Sófia (Bulgária) e Bogotá (Colômbia).

O filme Candeias também concorreu ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2018, considerado por muitos o Oscar nacional, na categoria de Melhor Curta-Metragem Documentário.
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Lançamento do filme Baile dos Reis (O Berro Filmes)
Apresentação do Reisado São Francisco, do Mestre Dodô
Sexta-feira, 10 de janeiro, 19h
No Teatro Sesc Patativa do Assaré - Sesc Juazeiro
Rua da Matriz, 227 - Centro, Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita.
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Baile dos Reis
Uma produção O Berro Filmes em co-produção com Poesia da Luz e Nívia Uchoa
Com os brincantes do Reisado São Francisco (Mestre Dodô)

Equipe:
Direção e roteiro: Luís André Araújo, Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues
Produção executiva: Caroline Louise
Produção: Hudson Jorge
Direção de fotografia e câmera: Victor de Melo
Som direto: Pedro Diógenes
Argumento e Montagem: Ythallo Rodrigues
Edição de som e Mixagem: Lucas Coelho de Carvalho
Assistência de produção: Alana Morais e Xico Fredson
Assistência de câmera: Antônio José Bezerra (Pajé)
Still: Nívia Uchoa
Tradução para inglês: Isabel de Sousa Ribeiro

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Mostra 21 - O Amanhã Se Faz Com Filmes: grande mostra de cinema caririense em sua edição de 2020



Mostra 21: maior festival de cinema do interior do Ceará tem início nesta terça-feira, 07 de janeiro

Janeiro é o mês de férias escolares e no Cariri teremos uma programação de cinema acessível e diversificada, é a 10ª Mostra 21, que acontece entre os dias 07 e 27, em Juazeiro do Norte.

 “O amanhã se faz com filmes” é o tema da 10ª edição da Mostra 21, que acontece entre os dias 07 e 27 de janeiro, em Juazeiro do Norte. O evento, promovido pelo Grupo Sétima de Cinema, é uma maratona de filmes para todos os públicos, tornando acessível o acesso à produção cinematográfica de vários países, períodos e gêneros.  As exibições são gratuitas e acontecem no auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste, Memorial Padre Cícero e Teatro Patativa do Assaré do Sesc Juazeiro do Norte.

A Mostra 21 é, antes de tudo, um espaço de apreciação de cinema quanto obra de arte. Segundo o Mediador de Cinema e idealizador do evento, Elvis Pinheiro, a mostra também tem um papel educativo e de formação de público. “Após cada sessão temos um processo de conversa mediada sobre o filme”, destaca.

A programação, composta por filmes nacionais e internacionais disponibilizados por meio de parceria com plataformas que detêm a exclusividade sobre as obras, dialoga com a temática do alvorecer, da esperança no futuro. (texto da comunicação do evento)
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10a. Mostra 21: O Amanhã Se Faz Com Filmes
Realização: Grupo Sétima de Cinema
Curadoria e mediação de Elvis Pinheiro
De 07 a 27 de janeiro de 2020
Em Juazeiro do Norte
Sessões gratuitas.

Confira a programação da primeira semana da Mostra 21:

domingo, 29 de julho de 2018

Mostra do Filme Livre no Cariri: exibição do filme ‘Fernando’ em Juazeiro do Norte



Nesta segunda-feira, 30 de julho, acontecerá, em Juazeiro do Norte, a Sessão Longa Livre, com a exibição do filme Fernando. A Sessão faz parte da programação da 17ª Mostra do Filme Livre, a maior mostra audiovisual do Brasil, que é realizada desde 2002 e promove a exibição de centenas de filmes nacionais independentes.

Focada na produção alternativa, a Mostra do Filme Livre tem a missão de levar à tona, em vários recantos do país, filmes que apresentem um lado mais original, exótico, poético e subversivo audiovisualmente. As sessões, sempre gratuitas, ocorrem em diversas localidades do Brasil, representando uma grande ação envolvendo cineclubes livres de todo o país. Nesta semana, no Cariri, a exibição será realização pela equipe d’O Berro — que mantém a produtora audiovisual O Berro Filmes e o blog oberro.net —, em parceria com a Revista Sétima de Cinema. Em todo o território nacional, a Mostra conta com a produção da WSET e com o apoio institucional do Banco do Brasil.

Na Sessão Longa Livre será exibido o filme Fernando, de Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela. O longa retrata a vida de Fernando, um professor-artista, de 74 anos, que enfrenta um grave problema de saúde mas que segue com seus projetos e a dedicação à arte. A obra trabalha com aspectos que mesclam o documentário e ficção, trabalhando a metalinguagem e a relação entre a vida e a arte.

A Sessão Longa Livre acontecerá nesta segunda-feira, a partir das 19h, na Casa Doc Cariri / O Berro, situada na rua Delmiro Gouveia, 511, bairro Salesianos, em Juazeiro do Norte. A entrada é gratuita, com a quantidade limitada de 30 pessoas por sessão. Após a exibição do filme será realizado um debate com o público.

Sobre o filme que será exibido:

Fernando
(Igor Angelkorte, Julia Ariani, Paula Vilela, 71min, 2017, RJ)
Classificação indicativa: livre. 
Sinopse: O filme revela a vida de um professor-artista com 74 anos no Brasil hoje. Fernando é provocado a interpretar a própria vida, mesclando realidade e ficção. Diante de um grave problema de saúde, ele segue uma rotina preenchida de projetos e desejos na arte. “Firmemente ancorado na tendência de um certo cinema contemporâneo de explorar as fronteiras entre as construções documentais e ficcionais de cena, o filme permite dar um passo a mais nesse caminho por conta da ocupação do seu protagonista, que vive cotidianamente não apenas a arte de encenar, como a de ensinar a atuar. Essa construção em espelhos é que dá ao filme um caráter único e diferente nesse contexto de produção e investigação audiovisual, atingindo momentos profundamente comoventes numa carta de amor ao ofício do ator” (Festival Internacional Olhar de Cinema 2017 - Curitiba).



17ª Mostra do Filme Livre
Sessão Longa Livre - Exibição do filme Fernando

Segunda-feira, 30 de julho de 2018, às 19h
Na Casa Doc Cariri / O Berro
Rua Delmiro Gouveia, 511, Salesianos
Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita
Vagas limitadas.

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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Filme caririense ‘Candeias’ é indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro



Foi divulgada a lista de filmes indicados ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2018, que acontecerá no mês de setembro, no Rio de Janeiro. Após uma primeira etapa de votação, envolvendo os sócios da Academia Brasileira de Cinema, chegaram à final da disputa 36 longas e 20 curtas nacionais, além de cinco estrangeiros, que concorrerão ao Troféu Grande Otelo em 25 categorias. Considerada por muitos o “Oscar Nacional”, a cerimônia deste ano homenageará a atriz Fernanda Montenegro.

E a região do Cariri também se fará representada nessa importante premiação. O documentário Candeias, realizado pela produtora O Berro Filmes, foi indicado na categoria de melhor curta documentário. Filmado durante a Romaria de Nossa Senhora das Candeias, em 2016, o curta-metragem apresenta um olhar voltado para uma das mais belas expressões da religiosidade popular do Cariri, a “Procissão das Velas”, que ocorre em Juazeiro do Norte, sempre no dia 02 de fevereiro. Dirigido por Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues, o documentário foi produzido com recursos do Fundo Estadual de Cultura, aprovado no XI Edital de Cinema e Vídeo (de 2014) da Secretaria de Cultura do Estado Ceará.

Lançada no início de 2017, desde então a produção de O Berro Filmes vem sendo selecionada e exibida em importantes festivais de cinema, nacionais e internacionais, como é o caso do É Tudo Verdade, realizado no Rio e em São Paulo, e que  se trata do principal festival exclusivamente de documentários da América Latina. Candeias também esteve na seleção para a Mostra Competitiva Nacional do Curta Cinema 2017, que aconteceu no Rio de Janeiro. E, além de já ter sido exibido em todas as regiões do Brasil, o filme também participou de festivais no exterior, como em Bogotá, na Colômbia, e em Sófia, na Bulgária.

Recentemente, o filme sobre a procissão das velas recebeu os prêmios de Melhor Curta-Metragem pelo Júri Popular, Melhor Fotografia e Melhor Som do 1º Cine Cariri, além do prêmio de Melhor Fotografia no II Festival de Cinema do Paranoá, no Distrito Federal.

Em setembro, Candeias concorrerá ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria de melhor curta documentário com outras 6 produções, todas realizadas na região Sudeste: Bambas, de Anna Furtado (SP); Borá, de Angelo Defanti (RJ); Em busca da terra sem males, de Anna Azevedo (RJ); O golpe em 50 cortes ou a corte em 50 golpes, de Lucas Campolina (MG); O quebra-cabeça de Sara, de Allan Ribeiro (RJ); e Ocupação do Hotel Cambridge, de Andrea Mendonça (SP).

A cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Nacional acontecerá no dia 18 de setembro, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, com transmissão do Canal Brasil para todo o país.
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Sobre o filme:

Candeias
Uma produção O Berro Filmes
Equipe:
Direção: Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues
Argumento e roteiro: Luís André Araújo, Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues
Diretor assistente: Luís André Araújo
Produção: Hudson Jorge
Direção de fotografia e câmera: Victor de Melo
Som direto: Pedro Diógenes
Montagem e edição de som: Ythallo Rodrigues
Mixagem e finalização de som: Lucas Coelho de Carvalho
Assistência de produção: Ravena Monte e Xico Fredson
Assistência de câmera: Antônio José Bezerra (Pajé)
Estagiário de produção: Rodolfo Santana
Vozes no primeiro bendito: José Arnóbio e Maria Zélia
Tradução para inglês: Isabel de Sousa Ribeiro
Fanpage do filme: https://www.facebook.com/candeiasfilme/

Teaser do Candeias:

domingo, 22 de julho de 2018

Mostra do Filme Livre no Cariri: Sessão Curtas Livres em Juazeiro do Norte





Nesta segunda-feira, dia 23 de julho, acontecerá, em Juazeiro do Norte, a Sessão Curtas Livres. A Sessão faz parte da programação da 17ª Mostra do Filme Livre, a maior mostra audiovisual do Brasil, que é realizada desde 2002 e promove a exibição de centenas de filmes nacionais independentes.

Focada na produção alternativa, a Mostra do Filme Livre tem a missão de levar à tona, em vários recantos do país, filmes que apresentem um lado mais original, exótico, poético e subversivo em termos de audiovisual. As sessões, sempre gratuitas, ocorrem em diversas localidades do Brasil, representando uma grande ação envolvendo cineclubes livres de todo o país.

Nesta semana, no Cariri, a exibição será realização pela equipe d’O Berro — que mantém a produtora audiovisual O Berro Filmes e o blog oberro.net —, em parceria com a Revista Sétima de Cinema. Em todo o território nacional a Mostra conta com a produção da WSET e com o apoio institucional do Banco do Brasil.

Na Sessão Curtas Livres, mais especificamente, serão exibidos curtas-metragens produzidos em quatro estados do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. A sessão, com 6 curtas, totaliza quase uma hora de duração, abordando temáticas como a invisibilidade das mulheres na “história oficial”, memórias fotográficas de famílias negras, a resistência contra a homofobia, a preservação da liberdade e da dignidade contra a escravidão, entre outras temáticas, sobressaindo-se um forte cunho político-poético na tela.

A Sessão Curtas Livres acontecerá nesta segunda-feira, a partir das 19h, na Casa Doc Cariri / O Berro, situada na rua Delmiro Gouveia, 511, bairro Salesianos, em Juazeiro do Norte. A entrada é gratuita, com a quantidade limitada de 30 pessoas por sessão. Após a exibição dos filmes será realizado um debate com o público.

Os curtas-metragens que serão exibidos:

Historiografia
(Amanda Pó, 4min, 2017, SP, classificação indicativa: 12 anos)
Por quem foi escrita a História?

Travessia
(Safira Moreira, 5min, 2017, RJ, classificação indicativa: livre)
Utilizando uma linguagem poética, Travessia parte da busca pela memória fotográfica das famílias negras e assume uma postura crítica e afirmativa diante da quase ausência e da estigmatização da representação do negro.

CorpoStyleDanceMachine
(Ulisses Arthur, 7min, 2017, BA, classificação indicativa: 14 anos)
“Ando por mistério, vivo por mistério [...] Nosso corpo é uma máquina, ou cuida ou sabe como é né?”. Entre memórias da boate e relatos de resistências cotidianas; Tikal, importante personalidade do Recôncavo da Bahia, dança e afronta as normas.

A paz ainda virá nesta vida
(Isabella Geoffroy, Nícolas Bezerra, 6min, 2017, RJ, classificação: 14 anos)
Dois amigos e a necessidade de fazer um filme sobre o cotidiano violento da favela onde vivem.

A retirada para um coração bruto
(Marco Antônio Pereira, 15min, 2017, MG)
Ozório é um senhor que vive sozinho onde o Judas perdeu as botas, na zona rural de Cordisburgo-MG. Passa seus dias ouvindo rock no rádio, enquanto vive o luto da sua companheira. Até que um movimento no céu quebra sua solidão.

Talaatay Nder
(Chantal Durpoix, 20min, 2016, BA)
“Talaatay Nder” significa, em língua Wolof, “Terça feira de Nder”, é uma homenagem poética para as mulheres de Nder, na região do Walo, Saint-Louis, Senegal. Em 1820, as Rainhas de Nder lutaram e escolheram o suicídio coletivo para escapar à escravidão e preservar a sua liberdade e dignidade. A história de Nder continua viva e atualiza-se na modernidade.



17ª Mostra do Filme Livre
Sessão Curtas Livres
Segunda-feira, 23 de julho de 2018, a partir das 19h
Na Casa Doc Cariri / O Berro
Rua Delmiro Gouveia, 511, Salesianos
Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita
Vagas limitadas.

sábado, 14 de julho de 2018

Minha vida com Bergman



por Elvis Pinheiro

Lembro-me nos anos 90, em Recife, a primeira vez que vi uma lista dos dez mais importantes filmes do século. O cinema havia recentemente completado cem anos e listas do tipo arranjaram a sua melhor fase e razão de ser. Entre os dez filmes de todos os críticos e diretores e cinéfilos não podia faltar Cidadão Kane de Orson Welles e Morangos Silvestres de Ingmar Bergman. Este nome sempre teve aroma e sabor para mim. Não sabia nada a respeito da sua história, apenas intuía o que ele pudesse significar. Ficava imaginando quando iria vê-lo. Era época das locadoras de VHS e em nenhuma das que havia próximo de casa eu encontrava o filme do Bergman.

Para encurtar a história, em Recife há na rua da Aurora um imponente Cinema São Luís e nas noites de segunda-feira se exibiam os filmes de arte em sua última sessão. E foi lá, numa daquelas noites recifenses, exatamente no São Luís que descobri porque Morangos Silvestres era uma obra-prima. Filme imorredouro. Em qualquer época assistiremo-lo e vamos rir, sofrer, ter medo do futuro e do passado, recordar nossos amores, a nossa juventude, os nossos erros. Sempre abismados com o casal cheio de ódio e rancor, sempre maravilhados com a postura da nora ao volante expulsando-os, sentindo pena e aceitando o fato que ninguém pode mudar muita coisa de uma vida predestinada, de uma herança tão cruel. O gosto e o aroma só se reforçaram.

Bergman é um filósofo que nos lança perguntas o tempo todo sem respostas. Onde vi os demais? Cada qual teve sua hora. No Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, ainda Recife, tive o impacto emocional de Sonata de Outono. Aquela conversa entre mãe e filha me sufocou, me horrorizou e sempre imaginei conversas longas e demoradas com entes amados onde tudo pudesse ser jogado sobre o outro, todas as mágoas, todas as frustrações causadas, todo o sofrimento impetrado! E no outro dia, o resgate sóbrio da normalidade, a busca pelo equilíbrio momentaneamente perdido. Tudo tão verdadeiro. Eu já tinha assistido as homenagens ao filme do mestre: De Salto Alto de Almodóvar e Setembro de Woody Allen. Amava os dois filmes e são obras íntegras, homenagens bem feitas, porque não roubaram ao homenageado a sua potência, o seu poder.

Fui aos poucos reconhecendo algumas características. Atores recorrentes. A fonte utilizada para escrever os créditos. Liv Ullmann: musa e parceira. Tão diferente em cada filme e tão senhora ao saborear cada palavra escrita por Bergman. O silêncio, o olhar e a entonação certa, precisa em cada cena. A leviana de Gritos e Sussurros, a reprimida de Sonata de Outono, a enigmática de Persona. A mulher madura de Saraband. Descobri e só tenho acesso a Liv Ullmann através de Ingmar Bergman.

De cinéfilo apaixonado a exibidor entusiasta. Adoro ter filmes dele que ainda não vi. Sempre haverá espaço para um novo assombro do centenário Mestre. Em junho exibi no Cine Café do CCBNB Cariri de Juazeiro do Norte, A Hora do Lobo. E li um comentário “to impactado com a hora do lobo até hoje. nunca superei”. Foi o Vinicius Gomes quem me disse isso exatamente hoje, 14 de julho de 2018, quando Bergman completaria 100 anos. Sim, ele continua e continuará sendo uma ótima razão para se ir ao cinema.

No meu ofício, ora estudo, ora revejo, ora comento ou analiso um filme. Passá-lo adiante é uma missão saborosa. O crítico não atrapalha o amante. Meu desejo só aumenta quanto mais vejo Bergman. Sou mais cinema e mais Elvis Pinheiro por conta de suas criações. O terror que senti com Fanny e Alexander, o empoderamento e o senso de liberdade que ganhei com Monika e o Desejo. O exercício da metalinguagem em Persona, em A Hora do Lobo. Não é só a Queda da Bastilha que mudou o mundo num 14 de julho. Quando penso nos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, magistralmente trabalhados por outro gênio criador que tanto sinto afinado com Bergman, Krzysztof Kieslovski, penso que toda a obra do gênio sueco refletia sobre os mesmos três elementos. Nessa hora, ainda acrescento a generosidade de quem permitiu a Tarkovski filmar O Sacrifício, para depois invejá-lo. Quando se faz Arte, ela se multiplica de modo a criar mais e mais beleza e estupor! Vejamos por mais cem anos, Ingmar Bergman! Viva! Salve!

Elvis Pinheiro
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Texto escrito no dia 14 de julho de 2018, no dia do centenário de nascimento Ingmar Bergman (nasceu em Uppsala, Suécia, no dia 14 de julho de 1918).

Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.

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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Aqui-e-agora cinematográfico



por Erick Linhares

A principal arma do cinema é o tempo. O tempo é o playground do cinema. O espaço é instantaneamente deformado em prol da temporalidade que o diretor intenciona em seu filme. O passado é terreno do cinema, não há nada na história pelo que o cinema não tenha se interessado ou que já não esteja resgatado nas telas, com reprodução de cenários, roupas, pessoas e costumes. O futuro é o espaço virtual desta arte. Assim como no passado, as possibilidades de reprodução são infinitas. Temos carros voadores, novas línguas, relacionamentos com robôs, escassez de água e tudo que nossa imaginação projeta para os próximos anos de existência humana.

Mas cada filme terá sua percepção temporal diferente. Em perspectiva, um filme dos anos 20 que tenha como tema a Idade Média seria muito diferente em perspectiva de um filme dos anos 50 que abordasse o mesmo tema, tanto quanto filmes dos anos 90, 2000 e assim por diante. Isso também vale quando a perspectiva é futurista. O que nos diz que o cinema é uma grande possibilidade de comprovação do tempo presente, do “aqui-e-agora”. O presente é o momento do agora onde o passado transita em direção ao futuro, e esta é a perspectiva temporal na qual o cinema está imerso.

Em Rashomon (Dir.: Akira Kurosawa, 1950), o enredo nos leva a conhecer várias versões sobre um assassinato. O momento do tempo presente seria o depoimento de cada personagem, falando sobre um passado que os atravessa. Todos eles viveram aquela história, mas ao descrevê-la, cada um olha para o que aconteceu e mistura com seus anseios e intenções, assim como pensamentos sobre as consequências do que vão dizer, na direção de um futuro que seria o julgamento baseado principalmente nos depoimentos uns dos outros.

Contudo, o autor brinca com o tempo de maneira fascinante. A hora dos depoimentos seria o flashback do flashback. Isso porque o começo do filme mostra a perspectiva de uma personagem que vai contar a história que ouviu, e essa história seria o depoimento das pessoas envolvidas no assassinato. O primeiro flashback é a cena desses personagens falando sobre o ocorrido, o segundo seria a história do ocorrido baseado nos depoimentos de cada um. Ou seja, o filme todo está carregado de passados e futuros, todos deturpados por cada perspectiva. Cada história seria um conto. Poderíamos dizer que essa é a história do cinema, em perspectivas mutáveis, flexíveis, voláteis, mas com uma dose bem generosa do mundo onírico, e isso nos extasia.

Em Abre los ojos (Dir.: Alejandro Amenábar, 1997), o diretor usa o sonho para brincar com o tempo no presente transiente: O protagonista assina o contrato com a empresa que vai congelá-lo em nitrogênio líquido, fazendo com que ele sonhe para sempre e viva assim seus maiores desejos e fantasias com os quais não conseguia lidar no presente. Ele está insatisfeito com seu passado e perdeu sua perspectiva de futuro, depois que um acidente  desfigura seu rosto, a mulher dos seus sonhos não quer mais estar com ele. O filme mostra no sonho vívido que todas as imagens que ele consegue ver e emoções que consegue sentir, ao se relacionar, têm a ver com coisas que ele aprendeu nos filmes, ou num encarte de CD da sua banda favorita, ou de histórias que ouvira de como ter um bom pai ou um grande amor. Todo esse passado se mistura no presente do sonho e vai em direção ao futuro, dos seus desejos, dos seus medos, onde ele passa a vida toda pra preencher a falta que o passado não conseguiu suprir.

O tempo talvez seja umas das maiores questões humanas. E para a montagem no cinema, tempo é tudo. A genialidade de um diretor que saiba brincar com a temporalidade nos faz viajar profundamente no transe que a história quer passar e automaticamente comprar a ideia do diretor/roteirista. O cinema tem várias facetas: cada “aqui-e-agora” é uma cena.

Referências:
BAZIN, A. O que é cinema?, Título original: Qu’est-ce que le cinéma?. Tradução: Eloisa Araújo Ribeiro, Prefácio e Apêndice: Ismail Xavier, São Paulo, Cosac Naify, 2014.
 

CARRIÈRE, JEAN-CLAUDE. A linguagem secreta do cinema. Tradução: Fernando Albagli, Benjamin Albagli, [Edição especial], Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014, (Saraiva de bolso).
 

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Tradução: Carlos Alberto Ribeiro do Moura, 4ª edição, São Paulo, Editora WMF Martins Fontes, 2011, (Biblioteca do pensamento moderno).
 

MULLER-GRANZOTTO, M. J. & MULLER-GRANZOTTO, R. L. Fenomenologia e gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007.
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Erick Linhares é formado em Psicologia pelo Centro Universitário Doutor Leão Sampaio, onde foi coordenador geral do Centro Acadêmico do curso. Atualmente é especialista em Gestalt Terapia Clínica e atua na área.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 41, de dezembro de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- Agora é que são elas
- Samira Makhmalbaf
- Conhecendo Carrière
- De repente soube, é cinema!
- Diante do meu amor pelo cinema
- O absurdo nosso de cada dia: as mulheres na Mostra 21 de 2017
- Meu romance com o cinema ou não era cilada, era amor
- Uma história: aniversário dos cinco anos do Grupo de Estudos Sétima de Cinema

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sexta-feira, 13 de abril de 2018

Agora é que são elas



por Virgínia Macedo

Eu não poderia começar o meu texto sem pelo menos lembrar que foi o Carrière que me mostrou como a mais recente das invenções alterou o espaço e criou uma linguagem própria. O cinema se inventa e se reinventa, torna o invisível visível e segundo Carrière: jamais caminhou sozinho.

Certa vez, conversando com amigos sobre coisas de cinema, falei de uma oficina de roteiro da qual eu tinha participado e surgiu a pergunta “Conheço a menina que ministrou, não é aquela bem bonita?”. A partir de uma rápida reflexão que o diálogo nos levou, percebemos quão invisibilizado é o trabalho de mulheres no cinema e na mídia e começamos todo um diálogo em cima disso: a mulher sempre vai ser lembrada pela beleza, pela roupa, por ser mulher de alguém - quase nunca pelo seu trabalho - e, dentro de um universo predominantemente masculino, muito menos. Vivemos em uma sociedade tão machista, que só é possível mostrar o que se é depois de muito subjugada pela ótica masculina e, embora essa imagem estereotipada seja hoje debatida e criticada, ela ainda não é vencida.

Depois de muito pensar sobre como seria o meu texto, lembrei de um caso que aconteceu com Anna Muylaert e que remete muito à ideia de que o cinema é feito principalmente por homens e para homens. Anna é uma premiada roteirista e diretora de cinema e televisão. Dirigiu alguns episódios de séries, criou vários roteiros e recentemente lançou o filme Mãe Só Há Uma que foi exibido no Festival de Berlim. Em 2015, dirigiu Que Horas Ela Volta?, longa premiado no Festival de Sundance, nos Estados Unidos e no Festival de Berlim, na Alemanha. O filme traz uma discussão sobre as relações de poder e as interações familiares. A história é protagonizada por três mulheres e não só nos mostra como vivemos nesse país como também traz as desigualdades hierárquicas da sociedade.

Em um debate promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, Anna foi desrespeitada por dois renomados cineastas pernambucanos. Eles entraram no debate, desrespeitaram a diretora, interrompendo suas falas e a dos organizadores. Anna descreveu várias situações parecidas que aconteceram no decorrer das suas viagens e exibições do filme.

A sociedade e, principalmente os homens, precisam aceitar o protagonismo feminino no cinema, na literatura, no teatro, não mais como personagens feitas por eles e para eles, mas como produtoras de conteúdo intelectual de qualidade e que reflete e mostra com mais representatividade e verdade o que somos. 
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Virgínia Macedo é estudante de cinema do Centro de Audiovisual de São Bernardo (CAV), em SP.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 41, de dezembro de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- Samira Makhmalbaf
- Conhecendo Carrière
- De repente soube, é cinema!
- Diante do meu amor pelo cinema
- O absurdo nosso de cada dia: as mulheres na Mostra 21 de 2017
- Meu romance com o cinema ou não era cilada, era amor
- Uma história: aniversário dos cinco anos do Grupo de Estudos Sétima de Cinema
- Longe deste insensato mundo

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sexta-feira, 16 de março de 2018

Samira Makhmalbaf



por Jade Luiza

Sou declaradamente apaixonada pelo cinema iraniano, desde quando descobri Onde fica a casa do meu amigo? (Dir.: Abbas Kiarostami, 1987). Apesar de isso parecer assim tão “cult”, olha, não foi fácil lidar com uma linguagem cinematográfica tão diferente dos filmes ocidentais com os quais estava, talvez, mal acostumada; tanto que tive que ser desafiada a conhecer as produções de Samira Makhmalbaf. Seus filmes estavam numa lista de uma campanha da internet chamada #52FilmsByWomen; a proposta é simples: assistir, toda semana, durante um ano, um filme dirigido por uma mulher.  O primeiro filme da minha lista foi A Maçã, dirigido e roteirizado por Samira quando ela tinha apenas 18 anos e que lhe rendeu diversas premiações, além de ter sido a mais jovem cineasta a concorrer no Festival de Cannes.

É verdade que desde a infância Samira, assim como seus irmãos, teve contato direto com o cinema através do pai, o renomado cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf, co-roteirista de A Maçã, cujo o roteiro foi feito depois do início das filmagens. O filme foi idealizado a partir de um caso verídico que virou manchete em alguns jornais iranianos no final dos anos 90: duas garotas gêmeas de 13 anos permaneceram trancadas em casa pelos pais durante 11 anos de suas vidas. Seguindo um formato corriqueiro no cinema persa de unir ficção ao documentário, as personagens não são protagonizadas por atores, mas sim pelas próprias pessoas que vivenciaram aquela história, e Samira optou por não definir detalhadamente os diálogos no roteiro. O filme também retrata o processo de ressocialização das gêmeas e faz uma metáfora sobre a condição das mulheres iranianas.

Às Cinco da Tarde é outro filme roteirizado e dirigido por Samira e foi o primeiro filme rodado em Kabul depois da queda do Talibã no início deste século. A relação entre o Afeganistão e o Irã tem um histórico de muitos conflitos, isto pode ter sido mais um desafio para a cineasta persa que decidiu escrever e dirigir um filme sobre a situação da mulher afegã. O filme acompanha a trajetória de Noqreh (Agheleh Rezaie), uma jovem que diante das proibições do pai passa a ir à escola escondida, e é lá, durante um debate sobre o futuro afegão, que ela passa a sonhar com a ideia de ser presidente de seu país. Ressalto: este não é um filme fácil; os cenários estão em ruínas e as personagens, os refugiados, são vistas constantemente em situação de miséria. Mas é preciso atinar para as sutis resistências da protagonista: tirar a burca, calçar saltos, posar para fotos e até mesmo se permitir conhecer os poemas de Federico Garcia Lorca, um destes que inspirou o nome do filme.

Mesmo com todos os prêmios e o privilégio de Samira em compor uma família de cineastas, mulheres fazendo filmes - não só no Irã, mas em todo o mundo, eu diria – encontram uma série de dificuldades em todas as etapas, desde sua produção à apreciação do público. O protagonismo de Samira no cinema se expressa tanto na autoafirmação enquanto roteirista e diretora num território majoritariamente masculino, quanto na insistência em falar sobre a experiência de ser mulher em seus filmes. Nestes, eu, mulher, nesta ponta de cá do mundo, me sinto também contemplada.

Algumas referências:
https://womeninfilm.org/52-films/
http://tvbrasil.ebc.com.br/ciclos-de-cinema/episodio/a-maca
http://50anosdefilmes.com.br/2011/as-cinco-da-tarde-panj-e-asr/
http://www.c7nema.net/entrevista/item/31160-entrevista-a-samira-makhmalbaf-um-rosto-da-resistencia-iraniana.html

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Jade Luiza é estudante de História, escritora e fotógrafa. É membro do grupo Sétima de Cinema desde janeiro de 2017.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 41, de dezembro de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- Conhecendo Carrière
- De repente soube, é cinema!
- Diante do meu amor pelo cinema
- O absurdo nosso de cada dia: as mulheres na Mostra 21 de 2017
- Meu romance com o cinema ou não era cilada, era amor
- Uma história: aniversário dos cinco anos do Grupo de Estudos Sétima de Cinema
- Longe deste insensato mundo
- Relato de viagem durante a IX Janela Internacional de Cinema do Recife

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Conhecendo Carrière



por Ailton Jesus

Fazer parte do grupo Sétima é ser apresentado constantemente a grandes nomes do cinema e o deste ano foi Jean-Claude Carrière, autor de A linguagem secreta do cinema (1994), atual alvo dos estudos do grupo. Num primeiro momento a sensação é o impulso em bater à sua porta e lhe dizer que reconheço sua importância na história do cinema, mas pedir desculpas por só ter ouvido falar nele tão recentemente. Porém, o próprio já alivia meu peso quando diz em entrevista “se quiser fama, uma linda estátua feita de você, não seja roteirista. O escritor desaparece. Ele trabalha na escuridão” (1).

Pois bem, nascido em 19 de setembro de 1931 em Colombières-sur-Orb, um vilarejo no sul da França com 500 habitantes, filho de fazendeiros, Jean-Claude Carrière é escritor de livros e filmes, além de já ter também dirigido e atuado.

Na casa onde nasceu os únicos livros que haviam eram missais de sua mãe, e, por conta de seu interesse pela leitura, livros que ganhou como prêmio, de presente, e livros escolares. As imagens dos quadrinhos Tintin e Milu eram sua porta para o mundo além das montanhas que rodeiam o vilarejo.

Viu alguns filmes franceses no cinema quando pequeno, porém foram os alemães Os Nibelungos – A Morte de Siegfried (1924) e Metrópolis (1927), de Fritz Lang, que assistiu no colégio interno católico próximo a seu vilarejo, onde estudou durante a Segunda Guerra Mundial, que chamaram a sua atenção. De Metrópolis, duas imagens lhe marcaram profundamente: primeiro que ele não sabia o que era uma cidade, o que para uma criança de um pequeno vilarejo era o mesmo que uma lenda; a segunda era a imagem da mulher, que para ele também era um mistério, razão de, por muito tempo, ter acreditado que a diferença entre homens e mulheres é que elas carregavam camadas de metal por debaixo da pele.

Aos 14 anos a família se mudou para Paris, onde abriram um café e ele terminou o segundo grau, seguindo para o curso de História na École normale supérieure de Fontenay-Saint-Cloud em Lyon.

Foi ainda na universidade que escreveu seu primeiro livro, Lézard, publicado em 1957. Daí seu editor lhe fez a proposta de participar de uma competição para escrever um livro dos filmes As férias do Sr. Hulot (1953) e Meu Tio (1958, até então em filmagem) de Jacques Tati, e o próprio Tati escolheu Carrière para o trabalho. Em sua primeira reunião com Tati, o cineasta lhe perguntou se sabia algo sobre «fazer cinema» e ele respondeu que nada além de ser frequentador assíduo das salas de cinema. Então, Tati chamou Suzanne Baron, editora de seus filmes, e disse Suzanne, pegue esse jovem e mostre a ele o que é fazer cinema”. Assim ela fez, levando-o para a sala de edição (2).

Sob a guarda de Tati ele começa a observar a vida em busca de novas histórias, acompanha o dia-a-dia de sets de filmagem e conhece Pierre Étaix, assistente do diretor. Carrière e Étaix iniciam uma parceria, compartilhando roteiro e direção de dois curtas, Rupture (1961) e Heureux Anniversaire (1962), que ganhou o Oscar de melhor curta-metragem. Os dois ainda fizeram outros filmes juntos nos anos 1960, e ao longo dos anos, Carrière ainda fez – e faz – muitas parcerias (3). Cineastas como Milos Forman, Louis Malle, Volker Schlöndorff, Andrzej Wajda e Jean-Luc Godard fazem parte dessa lista, porém a mais famosa delas é sua parceria com Luis Buñuel (4).

Buñuel e Carrière produziram seis clássicos, mas ressalto aqui os dois que tive oportunidade de conhecer: A Bela da Tarde (1967), tendo Catherine Deneuve como uma mulher da alta sociedade que passa suas tardes a se prostituir e que vez ou outra se perde em devaneios e desejos sexuais; e O Discreto Charme da Burguesia (1972), filme vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro e indicado ao de melhor roteiro, onde um grupo de amigos tenta constantemente fazer uma refeição juntos.

Uma enorme quantidade de roteiros levados à tela, seja em cinema ou televisão – 145 segundo o IMDB! – carregam sua assinatura. Jean-Claude Carrière não para. Em maio deste ano foi lançado filme escrito por ele e dirigido por Philippe Garrel, L'amant d'un jour, e já tem mais um com produção anunciada. É quase impossível conseguir acompanhar já que tenho “apenas” algumas décadas de atraso! Por isso, paro por aqui e vou logo assistir Salve-se quem puder (1980), parceria Carrière, Godard e Anne-Marie Miéville.

Notas:
1. Jean-Claude Carrière: 'If you want fame, don't be a screenwriter' (Jean-Claude Carrière: ‘Se quiser fama, não seja um roteirista’), entrevista realizada por Ryan Gilbey e publicada no site The Guardian em 28 de junho de 2012.
2. Entrevista em vídeo realizada por Andrzej Wolski em janeiro de 2010 para o site Web of Stories.
3. Artigo Jean-Claude Carrière’s Collaborations (As colaborações de Jean-Claude Carrière) publicado no site The Criterion Collection em 19 de setembro de 2016.
4. Interview with Jean-Claude Carriéré (Entrevista com Jean-Claude Carrière), entrevista realizada por Mikael Colville-Andersen em 26 de outubro de 1999 e publicada no site Zakka.
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Ailton Jesus: formado em Engenharia de Materiais pela UFCA. Por obra do destino também é ator, quando sobra tempo, músico, e usa o cinema como ferramenta de autoconhecimento.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 41, de dezembro de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- De repente soube, é cinema!
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- ‘O Leitor’, filme de Stephen Daldry (2008): resenha crítica

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

De repente soube, é cinema!



por Josú Ribeiro

De repente soube que haveria um grupo de estudos, ou algo mais parecido com curso de Cinema. Não me lembro muito bem como era minha relação com o Cinema, mas me interessei por estudar algo diferente. Sabem como é, estava no 2º ou 3º semestre do curso de Psicologia, doido pra me enturmar com uma galera nova e assuntos novos, então, fui atrás de me inscrever. Era necessário ter a xerox do livro O que é Cinema - Coleção Primeiros Passos, então corri e já na gráfica encontrei um rapaz que também iria participar do curso. Conversamos sobre a nossa expectativa quanto ao grupo, e também sobre nosso time do coração, o Corinthians. Me lembro bem da sensação adocicada e prazerosa de poder ter os olhos mais atentos para algo que nunca pensei em estudar. Passou um tempo e fui me enturmando com diversas pessoas que já tinham um contato maior com o estudo sobre Cinema.

De repente, me apaixonei pelo Buster Keaton, fiquei com picuinha com o Chaplin, fiz um falso pacto com Godard, impliquei com Truffaut. Caí nos braços de Michael Haneke e nos deleites da voz da Marilyn Monroe. Então, aos poucos estavam sendo fincados os alicerces.

Foi estudando e discutindo Cinema – produção artística de tantas culturas – que acabamos refletindo também sobre nosso ser político. Nosso agir em sociedade, nossos desejos e fantasias, que são tão importantes para a nossa construção subjetiva, quando discutimos o que é real ou imaginário, por exemplo. Como o Cinema pode instigar um povo a se ver e reconhecer como protagonista de sua história, como no neorrealismo italiano, e/ou numa tomada por um Cinema próprio de raízes tão espirituais como o Cinema Novo.

Algumas dificuldades apareceram com o tempo. Passamos por várias fases, tivemos a etapa de seminários que baqueou muita gente. Tive incertezas quanto à minha permanência no grupo, pois o Cinema me requeria um espaço de maior dedicação, e tive que assumir isso, caso quisesse continuar.

De repente temos uma Revista! Nela compartilhamos ideias e sentimentos sobre filmes de autoras e autores que gostamos. E aqui e acolá brotam produções cinematográficas de alguns integrantes do Grupo Sétima, tudo isso, fruto de um estudo cada vez mais primoroso do Cinema. E foi nesse aprofundamento e dedicação que tive um contato mais íntimo com a Imagem, e me vi atraído pela fotografia. Veio como um tijolo na cabeça, abrindo um galo precioso e impreciso. Num momento de reclusão pessoal, a fotografia de rua me deu o oxigênio necessário, ao me calar a boca e me fazer andar, contemplar o silêncio dos lugares, e o barulho das pessoas.

Posso dizer que antes de estudar Cinema, eu estava com olhos, boca e ouvidos fechados. Olhos porque Cinema é também imagem, mexe com o nosso voyeurismo e com as diversas cores – incluam também nas cores os diversos tons de cinza e preto. Ouvidos porque é silêncio, intercalado por falas ou músicas diegéticas. E por continuidade, boca: porque Cinema é paladar! Paladar é saborear, e saborear é um ato laborioso. É tocar nos lábios, passar pelos lábios, abrir os dentes, salivar a língua, escorregar pela goela, e timbugar em frenesi!

De repente, hoje estou embutido no grupo, nos livros de Cinema, de imagem e cores. E nessa dinâmica de estudos no grupo, aqui e acolá pessoas novas surgem, proporcionando outros sabores, outras maneiras de saborear Cinema. O grupo é um caldeirão que por vezes borbulha e se acalma, alguém chega e põe mais lenha, mais tempero, tomamos a sopa de feijão e já temos um novo ânimo.

De repente... nada é de repente assim. O Cinema se fez casa, tomou-me por usucapião.
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Josú Ribeiro é poeta e músico. Formado em Psicologia na Unileão.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 40, de maio de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- Diante do meu amor pelo cinema
- O absurdo nosso de cada dia: as mulheres na Mostra 21 de 2017
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- Uma história: aniversário dos cinco anos do Grupo de Estudos Sétima de Cinema
- Longe deste insensato mundo
- Relato de viagem durante a IX Janela Internacional de Cinema do Recife
- ‘O Leitor’, filme de Stephen Daldry (2008): resenha crítica
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Samuel Macêdo do Nascimento

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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Diante do meu amor pelo cinema



por Samuel Macêdo do Nascimento

No início de 2011 comecei a frequentar, assiduamente, as sessões do Cine Café que até hoje são organizadas e mediadas por Elvis Pinheiro. A partir dessa experiência, passo a me relacionar com o cinema de uma forma mais crítica. Um tempo depois, ano 2012, eu e Adriana Botelho (amiga-mãe), criamos e desenvolvemos o projeto Cine Arte Clube, que exibia curtas na região do Cariri, promovendo debates e seminários sobre as temáticas do audiovisual. Convidamos Ythallo Rodrigues e Elvis Pinheiro, futuros companheiros de grupo, para participarem das primeiras ações do projeto.

No mesmo dia da exibição do filme de Ythallo, Elvis me contou sobre a ideia de criar um grupo de estudos de cinema. Naquela noite passamos em algumas salas da então Universidade Federal do Ceará, campus do Cariri, convidando pessoas para aparecerem na reunião de estreia do grupo. Quarta-feira foi o dia escolhido para os encontros e na época eu cursava, na graduação, uma disciplina de Cinema Brasileiro que acontecia justamente nas quartas e por alguns meses fiquei alternando entre aulas e reuniões. Durante algum tempo não conseguia encontrar maneiras de conexões espontâneas com as pessoas que estavam no Grupo de Estudos, por uma questão óbvia: pessoas diferentes, de idades e formações distintas.

As relações começaram a ficar intensas e quando começamos a estudar livros do campo dos estudos de cinema, me vi obrigado a assumir uma postura mais disciplinada. Era necessário assumir um compromisso. Esse momento foi um divisor, fora e dentro do grupo. Estabelecido, o Grupo de Estudos Sétima de Cinema passa a discutir obras de teóricos importantes e isso fortaleceu não apenas a nossa observação enquanto espectadores, mas como pessoas que podiam pensar e escrever sobre cinema de forma fundamentada.

Os vínculos que até então eram sementes, brotavam e tornavam-se cada vez mais fortes. Nesses cinco anos aprendi, e continuo aprendendo, a lidar com as diferenças. Passei a confiar em pessoas estranhas, desobedecendo ao conselho mais primordial da infância. Vivi emoções diferentes, incluindo as surpresas das coincidências. Dois anos após ter sido apresentado ao teórico Robert Stam, dentro do Grupo, eu faria um curso presencial com o professor Stam, cara a cara.

Não sei como descrever o meu quarto porque estou dentro dele e estando dentro dele não posso hierarquizar sentimentos, lembranças, cores, cenas e experiências. Tenho a mesma sensação quando ouso dizer o que é o Grupo de Cinema de Estudos Sétima. Transpor sensações íntimas para o campo da linguagem é um trabalho árduo porque quase nunca conseguimos contemplar tantas histórias e sentimentos.

O meu amor pelo cinema foi mediado, como um namoro antigo que acontecia na sala da casa, geralmente tutelado pela presença de familiares. No nosso caso eram muitos olhares dentro de um espaço onde aconteciam reuniões, debates e conflitos que fortaleceram o nosso saber, não apenas sobre o cinema, mas sobre pessoas. Todos os integrantes do Grupo de Estudos compartilharam seus dons e isso jamais poderá ser apagado. Apesar de ser apenas cinco anos de história, tenho a impressão de que O Tempo, senhor de todas as coisas, alargou o tecido da nossa experiência.
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Samuel Macêdo do Nascimento é formado em Comunicação Social (Jornalismo), Mestre em Cultura e Sociedade e membro do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 40, de maio de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- O absurdo nosso de cada dia: as mulheres na Mostra 21 de 2017
- Meu romance com o cinema ou não era cilada, era amor
- Uma história: aniversário dos cinco anos do Grupo de Estudos Sétima de Cinema
- Longe deste insensato mundo
- Relato de viagem durante a IX Janela Internacional de Cinema do Recife
- ‘O Leitor’, filme de Stephen Daldry (2008): resenha crítica
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Samuel Macêdo do Nascimento
- Na escuridão, te dedico. Sobre O Paciente Inglês

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