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domingo, 17 de janeiro de 2021

A morte da Beata Maria de Araújo: ilustração de Reginaldo Farias e poesia ‘Sagrada sentença’, de Karla Alves


Ilustração de Reginaldo Farias (@reginaldofariass / @materiadesonhos)

17 de janeiro de 1914, data da passagem da Beata Maria de Araújo, protagonista do “Milagre de Juazeiro”, série de eventos fundamental para o surgimento e crescimento da atual cidade de Juazeiro do Norte-CE.

O túmulo da Beata, na Capela do Socorro, em Juazeiro, foi violado em 1930, resultando no sumiço de seus restos mortais. Até hoje esse fato segue sem explicações e desdobramentos.

Na sequência, compartilhamos poema de Karla Alves (@corkaroli):


SAGRADA SENTENÇA

No cemitério do esquecimento
Jazida a história verdadeira
De uma beata perigosa
Que foi torturada e morta
Pela mira da igreja.
Do senhor padre veio a cruz
Da cruz nasceu a dor
Dessa dor morreu Maria
Que aos olhos da liturgia
Toda desgraça merecia
Por conta de sua cor
Maria de Araújo
Era beata pobre e preta
Nasceu grávida do milagre
Que ergueu toda a cidade
Onde somente o homem reina
Juazeiro da Morte
Terra de comércio forte
Em volta da estatueta
Erguida em gesso pálido
Pelo mesmo poderio fálico
Que a uma santa preta rejeita
Mas que goza e se deleita
No sangue tinto derramado
E como fraude consagrado
Pela doutrina episcopal
Maldito e sagrado seja
O tribunal da Santa Igreja
Que para sempre ordenou
O calvário da História
E a putrefação da memória
Da verdadeira santa
Que o sangue do milagre obrou...

(Karlinha Sutil - Karla Jaqueline Vieira Alves)

No livro Poemas para Maria - Beata Maria de Araújo (Editora Gráfica Líder Cariri, 2018).
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Outras postagens do blog O Berro relacionadas à Beata Maria de Araújo:
- Manifesto à consagração: a Santa do Padre Cícero, a Santa do Juazeiro
- ‘A Beata Maria de Araújo’, por Padre Azarias Sobreira
- Beata Maria de Araújo no livro ‘Efemérides do Cariri’ (Irineu Pinheiro)
- 'Milagre do Padre Cícero e Maria de Araújo', cordel de Severino do Horto
- Centenário de morte da Beata Maria de Araújo: 17 de janeiro de 1914-2014
- Beata Maria de Araújo e Padre Cícero em matéria do Fantástico (1997)
- "Procura-se" Beata Maria de Araújo
- Ilustração e poema sobre a Beata Maria de Araújo
- 122 anos de romarias em Juazeiro do Norte

- Beata Maria de Araújo por Raimundo Araújo, no livro 'Mulheres de Juazeiro'

terça-feira, 12 de maio de 2020

‘Casa, comida e cama’, canção de josuh



Casa, Comida e Cama
josuh

Tão cheio de amor
Imagine você
Tão cheio de som
Pronto pra te morder

Prepare o bordô
Ora que eu vou te compadecer
Prepara a janela do teu quarto
Ora que eu vou te comer

Ora que eu vou, ah eu vou
Prepara um canto pra pernoitar
Uma viola ao lado
Ela sozinha vai tocar

Pedaço a pedaço
A minha boca tudo vai fazer
Pedaço é um laço
Pronto pra desfazer

Ora que eu vou te consumir
É na linha da mão
Boca e nuca
Coração com coração

Aí, não parta não parta, não
Se junta nessa condução
Me bebe em teus braços
E me faz a tua condição.
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‘Casa, Comida e Cama’
Letra e música: josuh
Gravação, mixagem, produção e masterização: Luiz Araújo
Guitarras: Junior Cardoso
Baixo: Luiz Araújo
Violão: josuh
Bateria: Bruno Barbosa
Voz: josuh
Capa do single: josuh
Estúdio Casa de Pedra (Juazeiro do Norte-CE)
Distribuidora: Onerpm

Escute ‘Casa, Comida e Cama’ no Spotify:


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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Clipe de ‘Opostos bipolares se atraem’, música da Banda Algarobas



“Opostos bipolares se atraem”
Banda Algarobas
EP A estrada é longa e o caminho é deserto
Realização: Filmes de Alvenaria
Roteiro, direção, edição e câmera 3: Daniel Batata
Direção de fotografia e câmera 1: Ythallo Rodrigues
Câmera 2: Thiago Zanotti
Agradecimentos: Edson Xavier, Welson Mota, Graça Linhares e Dudé Casado
Apoio: Porão Rock

Clique aqui para ver o clipe oficial de “Cores”, da banda Algaboras.

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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Junu: letra e videoclipe de ‘Natureza’ (composição de Junu e Beto Lemos)



Natureza
(Junu e Beto Lemos)

Eram tantos os sinais de tua natureza
Anunciando as chuvas, os estios,
Em seus ciclos, os fins e recomeços.

Não sei porque insisti
Não observei o meio
- Talvez abrupto, pela ação do tempo
Ou quem sabe em transe,
De som em sonho, encantado.

Observando as estrelas,
Vivo fiz meus sacrifícios.
Sangrando em tua dor
Ou cantando em teu sorriso,
Fiz tudo o que foi impreciso
Não me arrependo por isso.

Vez em quando ainda pendo
Mas tenho teu equilíbrio
E solidez, e esperança
Estou na maciez de tua lembrança
Acalentado. Amamentado.
Como uma criança.


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Junu no EP Forró Eletrônico, Toadas Digitais.

Ficha Técnica (videoclipe):
Direçao: Geo Brasil e Junu
Montagem e fotografia: Geo Brasil
Assistentes de câmera: Rodrigo Siqueira e Joscemy Siqueira
Apoio e maquiagem: Bibiana Belisário
Imagens Aéreas: Jeff Soares
Finalização: Filipe Magalhães - OEstudio Difusor Filmes
Local: Chapada do Araripe - região do Cariri-CE
Junu veste: Jullia Martins, Bota Sollas

Ficha técnica (faixa):
Música: Junu e Beto Lemos
Produção: Junu e Ricardo Cotrim
Arranjo: Beto Lemos e Junu
Edição: Ricardo Cotrim
Mixagem e masterização: Pedro Tiê
Voz, sintetizadores e bases: Junu
Guitarra: Beto Lemos.

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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

‘A saudade é uma cela’: letra e videoclipe da canção de Dudé Casado



A saudade é uma cela
(Letra e música: Dudé Casado)

Nunca que o bater da porta de um carro
Tinha causado uma dor tão grande assim
Nunca imaginei que um retrovisor
Lembrasse o meu amor indo pra bem longe de mim

Vendo ela descer uma ladeira
A minha companheira olhou pra mim pela última vez
Então em questão de segundos
Foi-se embora o meu mundo e a mulher que eu quis amar

Eu vou já sair da zona urbana
Vou passar umas semanas por aí sem ver ninguém
A vontade agora é de ir embora
E sem saber qual é a hora ou dia certo de voltar
E eu vou lá

Nunca que um barulho de um avião
Tinha deixado um coração vazio assim
Nunca imaginei que um céu tão estrelado
Lembrasse o meu amor indo pra bem longe de mim

Vendo ela sumir entre as estrelas
Eu sei que lá em cima ela chorou pela última vez
As noites têm o cheiro dela
E a saudade é uma cela tentando me aprisionar

Eu vou já sair da zona urbana
Vou passar umas semanas por aí sem ver ninguém
A vontade agora é de ir embora
E sem saber qual é a hora ou dia certo de voltar
E eu vou lá.


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Direção do videoclipe: Geo Brasil e Dudé Casado
Fotografia e Edição: Geo Brasil
Assistentes de Câmera: Rodrigo Siqueira, Joscemy Siqueira, Ana Beatriz, Alissa Carvalho, Julia Brasil
Elenco: Izadora Loiola, Julius Patricio, Lela Belem, Dudé Casado, Michel
Banda: Dudé Casado, Ramon Saraiva, Hugo Alexandre, Lituan Sanssara
Agradecimentos: Leonardo Almeida, João Pedro Almeida, João Paulo Ferreira, Larissa Linard, Valbert Wendel, Charlenne Campos e a todos que participaram das gravações que foram feitas no Estação da Sé.
Gravação, Mixagem e Masterização: Dudé Casado
Vozes, Guitarras, Violões, Baixo, Pandeirola: Dudé Casado
Bateria: Lituan Sanssara.

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sábado, 23 de setembro de 2017

9 haicais do livro ‘Luz de Musgo’, de Saulo Mendonça





À tardinha, no Sanhauá
o velhinho fitava o rio
com o seu olhar poente.


*


Na colheita de laranjas
mulheres lentamente
colhem a tarde bem madura.


*


Copa do Mundo:
o coração perde a forma
quando em bola se transforma.


*


Chuva passando
tarde escurecendo...
É tempo de tanajura!


*


Frondoso tamarindo.
Em seu lugar vazio
verdes lembranças.


*


No céu, quantos trovões!!
Gozos espalhafatosos
das nuvens quando cruzam.


*


Estalactites.
Lágrimas da terra
quando chora por dentro.


*


Pássaros se recolhem.
Bois sentados
mastigam a tarde morta.


*


A Amazônia freme
esvaindo em líquido
seu sangue branco.



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Saulo Mendonça, no livro Luz de Musgo: 33 Haikais (Sal da Terra Editora, 2008).

Saulo Mendonça é paraibano de Alagoa Grande e já lançou diversas obras, sendo elas de poesia, crônica, ficção e haikai, do qual se tornou um dos maiores cultores na Paraíba. Sua poesia já foi traduzida para o japonês, dinamarquês, francês, romeno, alemão e espanhol.

Outras postagens no blog O Berro relacionadas ao haicai:
- Um haicai incomoda muita gente
- A nova antologia da Adriana Calcanhotto
- Poesia incompleta e irregular

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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

‘Mais tarde, mais forte’, composição de Abidoral Jamacaru




Mais tarde, mais forte
(Abidoral Jamacaru)

Tudo tem tempo de ser
E quando um grito custa a nascer
Se atira além do horizonte
Viaja nos quatro ventos

Estala que nem chicote
Ressoa muito pra pouco chão
Dói, lateja, explode
E voa sem direção

Dói na canção, dói no refrão
Tem força de água de cheia
Que cai no mar e passeia

Tem madrugada morrendo
Tem aurora raiando
Tem tempo parindo dia
Tem novo grito sangrando.


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Abidoral Jamacaru, no disco Bárbara (2008)
Capa do disco: Reginaldo Farias.

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segunda-feira, 17 de julho de 2017

‘Bárbara’, de Pachelly Jamacaru e Abidoral Jamacaru




Bárbara
(Pachelly Jamacaru / Abidoral Jamacaru)

Toda luta tem perigo e inspira um afã
Uma vida tem mistério canta a cor de uma romã
Era Bárbara, dona Bárbara
Alma linda no perdão
Muito Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção
Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção

Quero naufragar na fonte
Mãe de luz liberdade
Esperança de um povo
Reluzida em Tristão

Era Bárbara, dona Bárbara
Alma linda no perdão
Muito Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção
Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção

Na Caiçara tu brotaste
Vale dos Índios Açu
No Pau Seco floreceste
Perfumando o Vale Sul
Hoje flora Sucupira, Oiticica, Mororó
Filhos de tuas palavras.


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Abidoral Jamacaru, no disco Bárbara (2008)
Capa do disco: Reginaldo Farias.

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quarta-feira, 21 de junho de 2017

‘Eu te vejo todo dia’, poema de Geraldo Urano




eu te vejo todo dia
princesa, prá onde vais?
vou pegar no seu pé
será que é mesmo mulher?
tudo é fraco por aqui
o são joão, o carnaval
a festa da padroeira
sem jornal e sem cinema
sem teatro sem liderança
a sua paixão por médicos
bancários e empresários
aqui o poeta dança
aqui dança todo artista
aqui dança todo sonho
suas moças reprimidas
cidade comprometida
seja bárbara outra vez
assim mesmo eu te adoro
não te troco por nenhuma
agora são outras lutas
princesa cara de pau
nosso vale é natural
saia do vale postal
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Geraldo Urano, no livro O Ferrolho do Abismo - Poesias completas de Geraldo Urano (Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015).
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Outras postagens com Geraldo Urano no blog O Berro:
- ‘O Rock das Aves’ (Pachelly Jamacaru / Geraldo Urano) na voz de João do Crato
- ‘Foi uma pequena cidade’, poema de Geraldo Urano
- ‘As repórteres que encantam o Brasil’, poema de Geraldo Urano
- ‘Luagosta’, poema de Geraldo Urano
- ‘Lua de Oslo’, com Abidoral Jamacaru, Luiz Carlos Salatiel e Eugênio Leandro

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‘Aos Irmãos Aniceto’, poema de Patativa do Assaré




Aos Irmãos Aniceto

Vocês, irmão Aniceto,
Com a banda cabaçá
É um conjunto compreto
Que faz tudo se alegrá,
Com este turututu
Já andaro pelo Sul
E foro apoiado lá,
Também já foro apraudido
E munto bem recebido
No Distrito Federá.

De prazê tudo parpita
Quando vocês toca e dança
Eu sinto que ressuscita
O meu tempo de criança,
Nesta idade prazentêra
Na festa da Padroêra
Havia no meu lugá
Um parrapapá sodoso,
Atraente e milagroso
De uma banda cabaçá.

Quando escuto satisfeito
Os Aniceto tocando
Sinto dentro do meu peito
O coração balançando,
Balançando de sodade
Daquela felicidade
Que eu vi desaparecer,
Para quem sabe jurgá
É gostoso rescordá
Aquilo que dá prazê.

Destas coisa populá
Que a gente preza e qué bem
Uma das mais principá
De todas que o Crato tem,
Com grande capacidade
Que merece de verdade
Proteção, amô e afeto
É a bela inzecução
Dos três artistas irmão
De sobrenome Aniceto.

O prazê não é pequeno
Quando tá mandando brasa
Esta turma de moreno
Que pertence à mesma casa,
O trancilim é dançá
Gingando daqui pra lá,
Outro vem de lá praqui;
É um trancilim compreto;
Viva os irmão Aniceto
Gulora do Cariri.
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Patativa do Assaré, no livro Ispinho e Fulô (1988).
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Últimas postagens com poemas de Patativa do Assaré no blog O Berro:
- ‘Lição do pinto’, poema de Patativa do Assaré musicado por Zé Vicente
- ‘Pergunta de moradô’, de Geraldo Gonçalves de Alencar, e ‘Resposta de patrão’, de Patativa do Assaré
 - ‘Beato Zé Lourenço’, poema de Patativa do Assaré
- ‘Sou cabra da peste’, poema de Patativa do Assaré
- ‘Cousa estranha’, soneto de Patativa do Assaré
- ‘O Peixe’, poema de Patativa do Assaré musicado por Abidoral Jamacaru

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quinta-feira, 2 de março de 2017

Cômodo Marfim lança vídeo de nova música de trabalho



A canção, inspirada em uma aula de filosofia, instiga o senso crítico do ouvinte com requintes sonoros que remetem a Raul Seixas

A banda Cômodo Marfim lança clipe de “Expresso”, sua nova música de trabalho. Liberada na última semana no Youtube, a canção é repleta de reflexões existenciais e foi baseada em em experiência dos integrantes a partir de uma aula de filosofia. A composição é de Filipe Lisboa, guitarrista e vocalista da banda, e Alberto Dias, baixista. A música tem como principal influência o som de Raul Seixas. O clipe foi rodado na cidade do Crato-CE, englobando algumas parte do centro do local.

O texto da música se originou durante uma aula de filosofia, em que havia uma discussão sobre as diferentes formas de pensar, tratando-se de temas políticos, psicológicos, sociais e filosóficos. “A música se desenrola em torno de um diálogo entre dois personagens, um homem e uma mulher, que são bastante diferentes, um gosta do outro, mas não de forma correspondida”, conta Lisboa.

O clipe é uma produção independente, feita de forma colaborativa. Assumir a produção, desde o roteiro inicial até a edição final do vídeo, para a banda entender todo o processo. Da ideia ao resultado, os integrantes puderam entender os limites de transposição da teoria para a prática, quanto para compreender também as principais dificuldades do processo, visando produções futuras.

Sobre a banda

A Cômodo Marfim é uma banda de rock alternativo/indie rock, iniciada em 2012, na região metropolitana do Cariri, na cidade de Juazeiro do Norte-CE. A banda apresenta um som autoral autêntico, que viaja entre influências provenientes do rock dos anos 60 e também da música de artistas contemporâneos, quebrando os conceitos pré-definidos de que o rock precisa obrigatoriamente ser classificado em uma única vertente temporal e sonora.

Com o olhar que analisa o cotidiano com uma visão específica, críticas sociais e a forma poética de falar sobre situações e sentimentos, caracterizam grande parte das letras compostas pela banda. A diversidade de ritmos e estilos nos instrumentos confirma a atitude dos integrantes em provar que o rock não é uma bolha impenetrável que se fecha para novos sons, e que é possível inovar e renovar, transitando entre os clássicos e os sons contemporâneos para criar o novo ou refazer o antigo através de uma nova leitura. (texto de divulgação)

Confira o clipe de “Expresso”:

sábado, 31 de dezembro de 2016

‘Lição do pinto’, poema de Patativa do Assaré musicado por Zé Vicente




Lição do pinto
(Patativa do Assaré)
Versos recitados pelo autor em um comício em favor da anistia
Vamos meu irmão,
A grande lição
Vamos aprender,
É belo o instinto
Do pequeno pinto
Antes de nascer.

O pinto dentro do ovo
Está ensinando ao povo
Que é preciso trabalhar,
Bate o bico, bate o bico
Bate o bico tico-tico
Pra poder se libertar.

Vamos minha gente,
Vamos para frente
Arrastando a cruz
Atrás da verdade,
Da fraternidade
Que pregou Jesus.

O pinto prisioneiro
Pra sair do cativeiro
Vive bastante a lutar,
Bate o bico, bate o bico,
Bate o bico tico-tico
Pra poder se libertar.

Se direito temos,
Todos nós queremos
Liberdade e paz,
No direito humano
Não existe engano,
Todos são iguais.

O pinto dentro do ovo
Aspirando um mundo novo
Não deixa de beliscar
Bate o bico, bate o bico,
Bate o bico tico-tico
Pra poder se libertar.
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Poema publicado no livro Ispinho e Fulô, de Patativa do Assaré (1988).

Poema “Lição do pinto” musicado pelo cantor e compositor Zé Vicente:

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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

‘Discurso’, de Abidoral Jamacaru




Discurso
(Abidoral Jamacaru)

Você diz que a sua ideia galopa veloz
Porque a força da grana virou seu corcel
O seu estandarte é mais alto que o céu
E a sua pistola só cospe sentença
Por isso você pensa que é só você que pensa
É você só que pensa, é você só que pensa,
É você só que pensa?

Eu escarro na sua retórica
Pois ela exala o odor do enxofre
E a mim não engana, está muito evidente
A sua patente é sabor de suspeita
Você me acua, eu lhe mostro os dentes
Eu lhe mostro os dentes

Não me venha que o mundo é sinistro
Eu já não trajo nada, você traja ministro
Seu olhar é rubi, o meu é de lança
Isso tudo é uma dança
Cê sonha que eu durmo, eu durmo acordado
Cê tá de pijama, eu te vejo fardado, eu te vejo fardado
Eu te vejo fardado

Se você pensa que eu sou maluco, você pensou certo
Isto é um jogo aberto e eu não trago bandeira
A parte que eu gosto do abismo é a beira
Não sou o profeta, tampouco o discípulo
Vê se mata a charada, pois eu já te devoro
Eu já te devoro

Não se assuste, isso já passa, depois vem pior
Já sofri feito Jó e não estou mais disposto
A ficar todo roxo de levar porrada
Eu lhe grito no ouvido, não levo mais nada
Se quiser deixo escrito não sou Deus nem diabo
Nem um pé de quiabo
Não sou Deus nem diabo nem um pé de quiabo
Não sou Deus nem diabo nem um pé de quiabo
Nem um pé de quiabo.



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Abidoral Jamacaru, no disco Bárbara (2008)
Capa do disco: Reginaldo Farias.

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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

‘Pergunta de moradô’, de Geraldo Gonçalves de Alencar, e ‘Resposta de patrão’, de Patativa do Assaré




Pergunta de moradô
Autor: Geraldo Gonçalves de Alencar

Meu patrão, não tenho nada,
O sinhô de tudo tem,
Porém a razão de cada
É coisa que me convém.
Meu patrão tem boa vida,
Tem gado, loja surtida,
Farinha, mio e feijão,
Já eu não pissuio nada
Vivo de mão calejada
Na roça de meu patrão.

Meu patrão, seja sincero,
Seja franco, honesto, exato,
Preguntando assim não quero
Metê a mão em seu prato;
O que desejo sabê
Pode o sinhô me dizê
Sem medo e sem afrição,
Pode sê firme e sincero
Lhe juro como não quero
Usá de tapiação.

Fale sero sem tapiá
Certo cumo a exatidão,
Qué que meu patrão fazia
Se eu passasse a sê patrão
E meu patrão de repente
Tomasse a minha patente
De cativo moradô,
Morando numa paioça
Trabaiando em minha roça
Sendo meu trabaiadô?

E enquanto no meu roçado
Tratasse do meu legume
Me visse todo equipado
Todo pronto de prefume
Entrá pra dentro dum carro
Sem oiá seu sacrifiço
E o sinhô se acabrunhando
Trabaiando, trabaiando,
Acabando meu serviço?

Qué que meu patrão fazia
Se fosse meu moradô
Trabaiando todo dia
Bem por fora do valô?
Me vendo num palacete
Sabureando banquete
Daqueles que o sinhô come
E o sinhô no meu roçado
Trabaiando no alugado
Doente e passando fome?

Qué que meu patrão fazia
Nessas condição assim
Trabaiando todo dia
Num sacrifiço sem fim,
Sem obtê risurtado
Daquele grande roçado
Onde muito trabaiô,
O sinhô não se desgoste
Se fô possive arresposte,
O que fazia o sinhô?
__


Resposta de patrão
Autor: Patativa do Assaré

O que você perguntou,
Pobre infeliz agregado,
Com a resposta que eu dou
Ficará mais humilhado.
Se você fosse o patrão
E eu na sua sujeição,
Seria um estado horrendo
O meu grande padecer
E teria que fazer
O que você está fazendo.

Porém, eu tenho cuidado,
Meus planos sempre são certos
E o povo tem um ditado
Que o mundo é dos mais espertos;
Eu fui um menino pobre
Mas sempre arranjava cobre
No meu papel de estradeiro.
Esta tal honestidade
É contra a felicidade
De quem quer juntar dinheiro.

No papel de mexerico
Tirei primeiro lugar,
Fui o leva-e-traz do rico
Que vive a politicar,
Quando fiado eu comprava,
Depois a conta eu negava
E nunca me saí mal,
E pra fazer mão de gato,
Em favor de candidato,
Já fui cabo eleitoral.

Roubar no peso e medida
Sem o freguês perceber,
Foi coisa que em minha vida
Nunca deixei de fazer;
Com a minha inteligência
Repleta de experiência
Eu sempre me saí bem,
Assim eu fui pelejando,
Me virando, me virando
E hoje sou rico também.

Tenho fazenda de gado,
Tenho grande agricultura
E é à custa do agregado
Que eu faço grande fartura,
Toda vida eu me preparo
Para sempre vender caro
E sempre comprar barato
E o voto dos eleitores,
Que são os meus moradores
Eu vendo ao meu candidato.

Hoje, sou homem do meio,
Tenho o nome no jornal,
Tenho carro de passeio
E frequento a capital;
Se um homem ao outro explora,
Sei que ninguém ignora,
É fraqueza da matéria
E você, pobre agregado,
Tem que me escutar calado
E se acabar na miséria.

Me pergunta o que eu faria
Se eu fosse seu morador
Trabalhando todo dia
Bem por fora do valor!
E pergunta com o gesto
De quem é correto e honesto,
Porém, você está sabendo
Que em minha terra morando,
Passa a vida me pagando
E vai morrer me devendo.

Com a minha habilidade
Eu me defendo e me vingo,
Expondo minha verdade
Acabo seu choromingo,
Quando você perguntava
Achou que me encabulava
Com o seu grande clamor,
Mas tomou errado o bonde,
É assim que patrão responde
Pergunta de morador.
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No livro Ispinho e Fulô, de Patativa do Assaré (1988).

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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

‘Contramão’, música de Carlos Corda: letra e clipe oficial



Contramão
(Carlos Corda)

Fala meu nome, diz que esqueceu
Tenta me convencer que nada valeu
Vai ser difícil me enganar
Conheço bem teu olhar

Atende se eu ligar, cê sabe sou eu
Não deu pra apagar o que aconteceu
Ainda quero lhe falar
Você vai ter que me escutar

Diz que nada foi em vão
Que o tempo que passou nos trouxe um não
Diz que você nem percebeu
Que tudo começou na contramão.

Clipe oficial:

__

Clipe de “Contramão”
Música e letra: Carlos Corda
Direção: Carlos Corda
Direção de Fotografia e montagem: Geo Brasil
Câmera: Rodrigo Siqueira e Geo Brasil
Produtora: Geo Brasil Cinephoto.

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Clipe oficial de ‘Cores’, música da Banda Algarobas



“Cores” (Daniel Batata)
Banda Algarobas
Roteiro, direção, produção e edição: Daniel Batata
Câmera e fotografia: Ythallo Rodrigues
Produção: Filmes de Alvenaria
Com Tainah Amaral.

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sábado, 23 de abril de 2016

‘Por que não cantar?’, de Pachelly Jamacaru, na voz de Luiz Carlos Salatiel



Por que não cantar?
(Pachelly Jamacaru)

Não sei as ruas dessa terra
Que os meus pés irão rastrear
Nem o lugar indicado para o meu corpo tombar
Nem onde irá meu surdo grito ecoar
Nem o corpo que virá
Com o meu pela vida a vagar
Nem mesmo os pecados acumulados
Pela minha alma para o juízo final
No momento eu canto
E por que não cantar?
Se eu não sei meu destino
Confesso desconheço também meu calar.

 
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Luiz Carlos Salatiel, no disco Contemporâneo (2004).

Originalmente, fonograma do CD Balaios da Vida, de Pachelly Jamacaru (1995)
Arranjo/violões: Melquíades; voz: Luiz Carlos Salatiel.

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segunda-feira, 11 de abril de 2016

‘Rabo de fora’, poema de Frederico Barbosa



Rabo de fora

Escondemo-nos da miséria
atrás de portarias
vidros fechados
(meu pai me comprou
um ar-condicionado)

Escondemo-nos da miséria
virando a cara no sinal
segurando aquele emprego
(meu patrão me olhou
desconfiado)

Escondemo-nos da miséria
atrás da TV
na trincheira do lar
(meu colega quase foi
assassinado)

Escondemo-nos da miséria
fugindo da fome
de ser alheia
(meu medo me limita
a mover-me só vendado)
____


Frederico Barbosa em Na lata: poesia reunida - 1978-2013 (Editora Iluminuras, 2013).
Para ler um pouco mais sobre o livro de Frederico Barbosa, clique aqui.
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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

‘O ermitão’, poema de Lima Júnior

Embalado pra viagem #134


O ermitão

o ermitão troca de casa
por uma maior
quando encontra vazia
aquela concha bonita
ele nunca se sente feliz
com a sua casa
ele troca
mas na semana seguinte
acha outra
e se aventura
arriscando sua vida
enquanto sai de sua concha
e entra em outra

eu sou desses
que nunca se sente feliz
na concha que está
entro numa nova
me arrependo
vago pelos cantos
em busca de outra
acho
entro
e já começo a procurar
a concha nova

quem sabe um dia
eu me satisfaça
com uma concha qualquer
até lá
continuo minha busca
insaciável
pela perfeição
e pela alegria
de uma casa
que me faça feliz
e me faça querer ficar
____

Lima Júnior (09.10.2013)

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