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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Abidoral Jamacaru lança seu mais novo álbum com semana comemorativa sobre sua vida e carreira



Prestes a completar 70 anos, o Menestrel do Cariri se reinventa e investe em nova musicalidade para o lançamento de seu quarto disco, em uma semana cheia de arte e cultura.

O cantor e compositor Abidoral Jamacaru, em parceria com a Vila da Música/Escritório Regional de Cultura do Cariri – SECULT-CE e a Secretaria de Cultura do Município do Crato, dá início nesta segunda-feira, 27 de novembro de 2018, às 19 horas, no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri – URCA (Campus Pimenta), em Crato, a abertura da “I Semana Abidoral Jamacaru de Cultura”. Será uma semana de eventos comemorativos para marcar o aniversário de Abidoral e o lançamento oficial do quarto disco de sua carreira.

Com entrada gratuita, a semana, que vai até o dia 30/11, traz uma vasta programação com exposição, sarau poético, mesas redondas, apresentações artísticas e o encerramento com o show de lançamento do CD Abidoral Jamacaru. Com título homônimo, o disco reflete uma nova fase na sonoridade do artista, traçando um diálogo entre a qualidade musical de mais de 40 anos de estrada, com novas linguagens e jeitos-de-fazer-música.

Místico, filosófico, questionador e atemporal, o álbum Abidoral Jamacaru tem 13 músicas que caminham pelas trilhas da Chapada do Araripe, contemplam as particularidades humanas e põem em poesia temas desafiadores da contemporaneidade. Com um pé lá outro cá suas letras prometem lançar novos olhares para realidades diversas e abrir novos campos de significação onde possam coabitar em um mesmo contexto o passado e o futuro. A vanguarda é o coração desse álbum.

Abidoral é cantor, compositor e um dos mais reconhecidos representantes da música popular produzida na região do Cariri. Seu trabalho é admirado por grandes nomes da música brasileira como Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, Cássia Eller e Nelson Motta. Além de possuir três discos antológicos gravados e esgotados: Avallon (1986), O Peixe (1998) e Bárbara (2008). (release da produção do evento)

Mais informações: Vila da Música (88) 3521-4335
Instagram: @abidoral.jamacaru
Facebook: Abidoral Jamacaru - Crato
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Pra Ninar o Cariri - I Semana Abidoral Jamacaru de Cultura
De 27 a 30 de novembro de 2018
Em Crato-CE
Entrada gratuita.

Programação:

27/11, terça-feira, no Salão de Atos da URCA (Campus do Pimenta, Crato):
19h: Abertura com o Quinteto da Vila da Música

Conferência "Destino: Margem Virgem - O voo solo e luminoso de Abidoral Jamacaru. Conferencista: José Flávio Vieira.

Mesa: "Cadê o CD?" - As agruras de uma produção em tempos de demolição
Mediação: João do Crato e participantes da produção do novo disco Abidoral Jamacaru, que tratarão sobre o processo de criação do 4º álbum da carreira de Abidoral.


28/11, quarta-feira:
7h, na Rua José Carvalho, Centro, Crato:
Salva para Abidoral com Café da Manhã de aniversário.

15h, na URCA (Campus do Pimenta):
Roda de conversa: “Um tropicalismo no Cariri: A contracultura no Cariri e os festivais da canção dos anos 70”

17h, no Bar e Restaurante Mercearia Cariri:
Exposição: Incomensurável – Os caminhos poéticos de Abidoral Jamacaru.

19h, no Auditório da Vila da Música, Av. José Horácio Pequeno, bairro Belmonte:
Show homenagem a Abidoral Jamacaru: Amigos e Canções.


29/11, quinta-feira:
15h, na URCA (Campus Pimenta):
Roda de conversa: “Abidoral por ele mesmo - desconstruindo Abidoral Jamacaru”

19h, no Gramado do pátio de Pedagogia da URCA (Campus Pimenta):
Recital Poético para Abidoral.
Relançamento do cordel Abidoral Jamacaru, sua obra, sua arte, do poeta Regiopídio Lacerda.


30/11, sexta-feira, na Praça Siqueira Campos:
19h: Teaser do documentário Menestrel de Avallon. Produção: O Berro Filmes

20h: Show de lançamento oficial do álbum Abidoral Jamacaru.

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domingo, 3 de setembro de 2017

‘Enfim, sai o disco de Abidoral’: matéria no Diário do Nordeste, em agosto de 1987, sobre o álbum ‘Avallon’



Compartilhamos texto publicado no jornal Diário do Nordeste do dia 27 de agosto de 1987. A matéria, assinada por Carlos Raphael, baseava-se em depoimentos de Luiz Carlos Salatiel e Abidoral Jamacaru sobre o Avallon, disco de estreia de Abidoral, que seria lançado no Crato no dia 30 de agosto de 1987.

Leia a matéria na íntegra:
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Diário do Nordeste, 27 de agosto de 2017
Enfim, sai o disco de Abidoral

Primeiro LP do cantor e compositor cratense Abidoral Jamacaru. Gravado nos Studios Vice-Versa (São Paulo), entre outubro e dezembro de 1986; Técnico de gravação: Nico; Técnicos de mixagem: Paulinho Chagas, Ary Rogério e Nico; Corte: Juca; Capa: Romildo Alves; Encarte: Edelson Diniz; Fotografia LC Salatiel; Assistência de Produção: Carlos Raphael (Crato) e Marcos Vinícius Leonel (São Paulo); Co-produção: Maria Socorro Salatiel; Projeto, direção de produção e executiva: Luiz Carlos Salatiel; Músicos convidados: Adriana, Audízio Tapioca, Bá Freire, Betão, Cacá Malaquias, Dementier, Gil, Grupo Bendegó, Izânio, Luís Brasil, Manel DiJardim, Proveta, Paulinho, Paulinho Chagas, Rubão, Suzana Belo, Teningson, Tiago Araripe e Xico Carlos. Selo OCA.

* Os depoimentos de Abidoral Jamacaru e Luiz Carlos Salatiel foram dados no pré-lançamento do disco Avallon, no programa Terra Brasilis, da Rádio Cidade do Crato.

Necessárias foram quase duas décadas para que o público pudesse ouvir o registro, em disco, de um dos trabalhos mais coerentes da Música Popular Brasileira (MPB) - a música do compositor cratense Abidoral Jamacaru. O LP, gravado entre outubro e dezembro de 1986, em São Paulo, já é antológico pela sua própria atuação. Não poderia ser diferente. É o que se percebe ao ouvir Abidoral falar da obra com ares de contente.

Há tempos não tão remotos, Abidoral descartava a possibilidade da gravação de um disco. Era uma ideia engavetada. Não pelas dificuldades, mas pelo preço ideológico que se paga para ser editado pelas gravadoras comerciais. E para que as “nativas” canções de Abidoral sofressem um tratamento tecnológico e serem transportadas para os sulcos do vinil, foi preciso a interferência do também compositor Luiz Carlos Salatiel, que se disfarçou de produtor.

“Produzir este disco era um projeto de longas datas”, afirma Salatiel. “Era pública a resignação de Abidoral quanto ao lançamento de discos, mas pesou um convívio que temos de mais de uma década. É um processo artístico de interferência, de dar certo e estar certo para a gente. E foi uma questão de tempo que tivemos para amadurecer o projeto”, explica o produtor.

Luiz Carlos Salatiel continua dizendo que na cidade os artistas são muito bem tratados quando animam e divertem, “mas durante o dia são chamados de vagabundos e drogados”. “Daí, continua a importância de nós mesmos lutarmos pelas nossas coisas. Então, dentro desse projeto, existe o empenho de escrevermos a nossa crônica. Agora, esse disco não é o ‘disco de Abidoral’, num sentido personalístico. É um disco nosso, com ideias de toda marginália da cidade”. Concordando, observa Abidoral: “a gente gravou com músicos de nível excelente, que liberaram toda a criatividade que tinham, e o disco saiu bem à vontade, como combinamos, uma espécie de cooperação de ideias que fluiu dessa forma”.

Baião-de-todos
É controvertido saber que Abidoral representa toda a iconolatria necessária ao bairrismo da cidade somada ao seu provincianismo mitológico tipo “na-minha-terra-tem-um-grande-cantor”. E mais controvérsia é saber que Abidoral, depois de ser aclamado como uma revelação, ao vencer vários festivais da canção regional nos anos 70, ser praticamente banido da cidade por incomodar demais.

Dez anos de exílio voluntários na Cidade Maravilhosa foram suficientes para dimensionar ainda mais a personalidade, também controvertida, deste autêntico representante da geração que batalha por um lugar ao sol, sem o falso requinte da vida meramente artística.

Nesse ínterim, Abidoral foi motivo de noticiário. Não porque gravou um disco e estourou no rádio, mas justamente pelo oposto, tendo rejeitado inúmeras propostas de grandes gravadoras em nome de sua música, cristalina e serrana. Eis porque esse disco não tem anacronismo nas suas oito faixas. Abidoral teve a dignidade de manter viva até agora uma expressão artística que há muito é alvo do inescrúpulo da mídia. “o problema atinge o artista em geral, enfatiza Abidoral, principalmente quando você se propõe a fazer um trabalho fora dos padrões estritamente comerciais”.

O lacre de controle de qualidade e idoneidade ideológica de Avallon está no aroma acentuado do pequi, que pode ser sentido por quem respira pela alma. Um “cast” quase 100 por cento de músicas caririenses invoca os ancestrais Kariris e o clima de magia corre solto. Essa aura sela o LP em definitivo, sendo o ingrediente básico desse “baião-de-todos”. Salatiel explica melhor: “é aquele negócio do sentimento. Você pode comprar uma quadro e jogá-lo na parede para ornamentar sua casa, mas a sensibilidade só passa quando você tem uma sensibilidade artística. Não adianta comprar um disco, jogar na prateleira e dizer ‘pô, eu tenho um disco do Abidoral’. O negócio é ouvir e tirar lições dali”.

Jardins abandonados
E quantas lições têm ali! A primeira está na produção autossuficiente, até de certo modo cara-de-pau, por ter sido feita no meio de uma crise da indústria fonográfica e tudo mais. Por ser 100% autoproduzido, Avallon tem um caminho próprio a percorrer. E fica difícil prever resenhas da crítica oficial (pelo menos, elogiosas). E fica também impossível a cena de uma família do melhor estilo cratense em volta de uma vitrola acompanhando sorridente os versos cáusticos de Geraldo Urano (em duas faixas - “Cuba” e “Deixa Estar”).

Mas não tirem conclusões apressadas: na mesma medida que Avallon não é um postal do Grangeiro, com seus belos jardins e piscinas, também não é um panfleto cru da podridão em que estamos metidos. E da mesma maneira que Abidoral é o orgulho (mesmo que ferido) formal da cidade, ele é também uma unha nas mais recônditas feridas. Numa cidade que já foi cantada pela sua exposição agropecuária, pela sua efervescente vida cultural, pelo seu passado de heróis e revoluções e pela “subida do Lameiro”, onde se toma “um trago de aguardente”, Abidoral redimensiona o valor do torrão cantando uma outra cidade, tão cheia de  contradições que é possível ouvir da inteligência pública um plano de demolir o Parque Municipal para a construção de um hotel.

E nisso há uma razão histórica para entendermos Avallon como uma raridade arqueológica em que o texto-fábula presente no disco define: “...Dos doze pares provindos de França, sete druidas bretões eram e cavalgavam a enorme baleia dourada e desposaram sete índias das tribos deste vale do Cariri e festejaram por sete luas seguidas: cantaram e dançaram e banharam-se nas fontes e provaram da bebida do fermento da mandioca e roeram caroços do pequi e saborearam o doce do fruto do buriti e trocaram mágicas e fumaram do mesmo cachimbo com o pajé. Prosseguiram viagem pela trilha de Sumé, a oeste, rumo ao santuário inca de Machu Picchu onde...” (Manuscrito em papel-seda, datado de MCMLXXXVI d.C., encontrado nos jardins abandonados de um parque em Crato-Cósmica, distrito de Avallon).
Carlos Raphael

Agradecimentos especiais a Luiz Carlos Salatiel.
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Outras postagens no blog O Berro com Abidoral Jamacaru:
- 30 anos do lançamento do LP de estreia de Abidoral Jamacaru; e lançamento do teaser de ‘Menestrel de Avallon’
- ‘Mais tarde, mais forte’, composição de Abidoral Jamacaru
- ‘Discurso’, de Abidoral Jamacaru
- 'O Peixe', poema de Patativa do Assaré musicado por Abidoral Jamacaru
- Entrevista com Abidoral Jamacaru (edição 30 d'O Berro, ano 2000)

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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

30 anos do lançamento do LP de estreia de Abidoral Jamacaru; e lançamento do teaser de ‘Menestrel de Avallon’



No dia 30 de agosto de 1987, o Auditório do Cine Educadora, em Crato, foi palco de um show histórico: o lançamento do disco Avallon, de Abidoral Jamacaru. O evento celebrou a concretização de algo bastante difícil à época: gravar e lançar um disco independente.

Para ser gravado em São Paulo, nos meses de outubro e novembro de 1986, o disco contou a colaboração e participação de muitos músicos caririenses, além do especial empenho de Luiz Carlos Salatiel, que esteve à frente de toda a direção e produção executiva do projeto, que levava o selo da OCA (Officinas de Cultura e Artes) - Salatiel também enfatiza que foi fundamental o apoio e estímulo de sua irmã, Maria Socorro Salatiel de Alencar, para que o projeto fosse concretizado.

E, finalmente, na noite de um domingo, em 30 de agosto de 1987, o público caririense passou a desfrutar um LP que já nasceu clássico, o Avallon. O show de lançamento repetia a fórmula de sucesso do LP, reunindo no palco muitos artistas de uma geração talentosa, que passava a ter o disco de Abidoral como um registro da verve criativa que estava em ebulição no Crato (e no Cariri) há muitos anos e que já se expandira além-fronteiras. No palco, as presenças de artistas como João do Crato, Manel de Jardim, Dihelson Mendonça, Pachelly Jamacaru, Luís Fidélis, Pantico, Haroldo, Cristiano, Sterferson, Nilton Fiori, Ricardo Barcellar, além de Romildo e Marcos Vinicius Leonel (nos bastidores) e, claro, Luiz Carlos Salatiel (agora como cerimonialista e cantor) e o anfitrião Abidoral Jamacaru.

Na data em que se completam 30 anos desse show histórico para a arte caririense, O Berro Filmes aproveita a ocasião para fazer o lançamento do teaser de Menestrel de Avallon, documentário que está em fase de montagem e que contará toda essa história da gravação e trajetória do álbum de estreia de Abidoral Jamacaru, um clássico que completa três décadas. Confira o teaser:

Teaser - Menestrel de Avallon (O Berro Filmes):


Agradecimentos especiais a Luiz Carlos Salatiel, que cedeu imagens de arquivo.

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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

‘Mais tarde, mais forte’, composição de Abidoral Jamacaru




Mais tarde, mais forte
(Abidoral Jamacaru)

Tudo tem tempo de ser
E quando um grito custa a nascer
Se atira além do horizonte
Viaja nos quatro ventos

Estala que nem chicote
Ressoa muito pra pouco chão
Dói, lateja, explode
E voa sem direção

Dói na canção, dói no refrão
Tem força de água de cheia
Que cai no mar e passeia

Tem madrugada morrendo
Tem aurora raiando
Tem tempo parindo dia
Tem novo grito sangrando.


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Abidoral Jamacaru, no disco Bárbara (2008)
Capa do disco: Reginaldo Farias.

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segunda-feira, 17 de julho de 2017

‘Bárbara’, de Pachelly Jamacaru e Abidoral Jamacaru




Bárbara
(Pachelly Jamacaru / Abidoral Jamacaru)

Toda luta tem perigo e inspira um afã
Uma vida tem mistério canta a cor de uma romã
Era Bárbara, dona Bárbara
Alma linda no perdão
Muito Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção
Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção

Quero naufragar na fonte
Mãe de luz liberdade
Esperança de um povo
Reluzida em Tristão

Era Bárbara, dona Bárbara
Alma linda no perdão
Muito Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção
Bárbara mente bárbara
Te aceno na canção

Na Caiçara tu brotaste
Vale dos Índios Açu
No Pau Seco floreceste
Perfumando o Vale Sul
Hoje flora Sucupira, Oiticica, Mororó
Filhos de tuas palavras.


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Abidoral Jamacaru, no disco Bárbara (2008)
Capa do disco: Reginaldo Farias.

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terça-feira, 28 de março de 2017

Na Trilha do Vinil destaca o disco ‘Avallon’, de Abidoral Jamacaru



“O programa traz, em 2017, a apresentação de quatro dos mais representativos LPs de artistas do Cariri cearense. Abidoral Jamacaru, cantor e compositor natural de Crato (CE), abre a série com audição e conversa sobre o seu primeiro trabalho: o disco Avallon, de 1986. Esse trabalho pode ser considerado um marco na história musical da região e do estado, com produção de Luiz Carlos Salatiel e trabalho gráfico de Romildo Alves e Edelson Diniz. O evento terá mediação de Weber dos Anjos.” (sinopse da divulgação do evento)
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Na Trilha do Vinil
Abidoral Jamacaru - Disco Avallon
Quarta-feira, 29 de março de 2017, 19h
No Teatro do Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB Cariri
Juazeiro do Norte-CE
Entrada gratuita.

“Flor do mamulengo” (Luiz ‘Lula’ Fidélis), faixa de Avallon:

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

‘Discurso’, de Abidoral Jamacaru




Discurso
(Abidoral Jamacaru)

Você diz que a sua ideia galopa veloz
Porque a força da grana virou seu corcel
O seu estandarte é mais alto que o céu
E a sua pistola só cospe sentença
Por isso você pensa que é só você que pensa
É você só que pensa, é você só que pensa,
É você só que pensa?

Eu escarro na sua retórica
Pois ela exala o odor do enxofre
E a mim não engana, está muito evidente
A sua patente é sabor de suspeita
Você me acua, eu lhe mostro os dentes
Eu lhe mostro os dentes

Não me venha que o mundo é sinistro
Eu já não trajo nada, você traja ministro
Seu olhar é rubi, o meu é de lança
Isso tudo é uma dança
Cê sonha que eu durmo, eu durmo acordado
Cê tá de pijama, eu te vejo fardado, eu te vejo fardado
Eu te vejo fardado

Se você pensa que eu sou maluco, você pensou certo
Isto é um jogo aberto e eu não trago bandeira
A parte que eu gosto do abismo é a beira
Não sou o profeta, tampouco o discípulo
Vê se mata a charada, pois eu já te devoro
Eu já te devoro

Não se assuste, isso já passa, depois vem pior
Já sofri feito Jó e não estou mais disposto
A ficar todo roxo de levar porrada
Eu lhe grito no ouvido, não levo mais nada
Se quiser deixo escrito não sou Deus nem diabo
Nem um pé de quiabo
Não sou Deus nem diabo nem um pé de quiabo
Não sou Deus nem diabo nem um pé de quiabo
Nem um pé de quiabo.



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Abidoral Jamacaru, no disco Bárbara (2008)
Capa do disco: Reginaldo Farias.

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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Abidoral Jamacaru no Música ao Pôr do Sol, em Crato



Novo show, novo CD, nova banda, boas e velhas canções
Abidoral Jamacaru se reinventa e faz prévia de seu novo CD em show no Crato

Neste sábado (16), Abidoral Jamacaru & Banda farão show gratuito, às 17h30, na Pracinha do Cruzeiro em Crato. O músico mostra sua nova fase e a qualidade de suas letras na apresentação que faz parte do Projeto Música ao Pôr do Sol, promovido pelo Sesc Crato, que tem como proposta difundir a música de qualidade em espaços abertos e públicos, sendo realizado sempre aos terceiros sábados de cada mês.

Abidoral promete, além de reviver os grandes sucessos já conhecidos do público como “O poeta” e “Incomensurável”, dar pitadas do seu novo CD que ainda está em produção. As canções passeiam por estilos diversos, que vão do blues ao côco, do rock ao forró. O cantor traz um show bem ao seu estilo, com letras que descrevem situações políticas, sociais, referentes também à cultura popular tradicional e à natureza, mas que, paralelamente, lançam olhares para realidades diversas.

Em fase de renovação, o cantor, apoiador e inspiração das novas gerações de músicos caririenses, traz um pouco dessa juventude na nova formação de sua banda. “Gosto do frescor que eles trazem para as músicas e da troca de ideias que podemos ter”. A banda recebe o “sangue novo” do baixista Thiago Leonel, os teclados de Vinícius Saravá e do baterista Remy Oliveira, sem deixar a experiência musical da guitarra de Jocean Donelardy.

Abidoral espera que o show acompanhe sua nova fase, mas sem deixar de valorizar o que realmente importa: “espero um público bom que já me conhece, mas gostaria mesmo que quem ainda não teve a oportunidade de me ouvir, venha conhecer meu trabalho. O trabalho é mais importante do que eu”, diz com humildade o cantor.

Novidade no ar
A produção do novo CD de Abidoral Jamacaru está a pleno vapor. Com parcerias de grande amigos, como o poeta Geraldo Urano, o cantor Salatiel e o irmão e cantor Pachelly Jamacaru, o CD ainda trará letras do compositor Alano Freitas, de Fortaleza. “Brilhe” e “As aves” estão entre algumas das novas músicas que comporão o CD. Quanto ao título, Abidoral é cauteloso: “só gosto de dar nome aos meus trabalhos depois que finalizo e vejo qual a cara deles”.
(Assessoria de imprensa - Pollianna Jamacaru
Contatos: pjamacaru@hotmail.com / (88) 9.9841.8544)
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Música ao Pôr do Sol apresenta:
Abidoral Jamacaru
Sábado, 16 de abril de 2016, às 17h30
Na Praça do Cruzeiro (Ladeira da Integração), Crato-CE
Gratuito
Realização e outras informações: SESC Crato - (88) 3586.9153.

Para ler uma entrevista com Abidoral Jamacaru no ano 2000, clique aqui.

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terça-feira, 1 de julho de 2014

'Lua de Oslo', com Abidoral Jamacaru, Luiz Carlos Salatiel e Eugênio Leandro

Embalado pra viagem # 104


Lua de Oslo
(Luiz Carlos Salatiel / Geraldo Urano)

A lua cheia vagueia no céu de Oslo
e nos mares
lá embaixo os bacalhaus
amaldiçoam a Noruega

Meu bumerangue passeia
dentro da noite europeia
e vê a fila das pessoas
para a falsa vitamina dos filmes
a paz arribou dentre os pinheiros
choram carvalhos e girassóis
a paz arribou dentre os pinheiros
choram carvalhos e girassóis.



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Abidoral Jamacaru, Luiz Carlos Salatiel e Eugênio Leandro no disco O Peixe (1997).

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

'O Peixe', poema de Patativa do Assaré musicado por Abidoral Jamacaru

Embalado pra viagem # 80

O Peixe

Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.

Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a inconsciente,
Ficando o pobre peixe, de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.

O camponês também do nosso Estado
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.

Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do norte!
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Patativa do Assaré

"O Peixe" musicado por Abidoral Jamacaru. Faixa do disco O Peixe, de 1997:

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Entrevista com Abidoral Jamacaru (edição 30 d'O Berro, ano 2000)

Arquivo Cariri # 18 | O Berro nas antas # 14


(Show no Dragão do Mar, Fortaleza. Foto de arquivo cedida por Abidoral Jamacaru)

Hoje, dia 21 de junho de 2012, quando o município do Crato completa 248 anos de emancipação política, resolvemos buscar no nosso arquivo uma entrevista com um ilustre filho cratense, o cantor e compositor Abidoral Jamacaru.

A entrevista aconteceu no ano 2000 e foi publicada na edição 30 da versão impressa d'O Berro (de novembro daquele ano). Àquela época, Abidoral Jamacaru havia lançado apenas o LP Avallon, em 1986 (em 2000 ainda não havia a versão em CD, lançada alguns anos depois), e o CD O Peixe, em 1998. E só viria a gravar outro trabalho em 2008, o CD Bárbara.

O bate-papo com Abidoral foi descontraído e durou horas, rendendo um vasto e rico material. E de tão extensa que foi a conversa, tivemos que fazer uma seleção de apenas alguns momentos. Confira.

por Hudson Jorge, Luís André Bezerra e Ythallo Rodrigues
participação de Cícero Oliveira (in memoriam)


O BERRO: As músicas de seu primeiro LP, Avallon (1986), foram bem mais executadas e divulgadas do que as músicas do CD O Peixe (1998). Qual a comparação que você faz entre as duas épocas?
ABIDORAL JAMACARU: É que antigamente a região era muito carente de alguém que a representasse, então um artista sair do Cariri e gravar no Sul era um motivo de orgulho para a região. E gravei no Sul naquela época, o que era dificílimo. As pessoas também já tinham criado a expectativa de quando eu gravaria o primeiro disco, porque fiquei bastante conhecido no período dos Festivais, isso fez com que as rádios tivessem aquela receptividade. Outra coisa que facilitou é que nas rádios daqui não existia tão forte a disseminação do jabá. Aí quando cheguei com meu trabalho O Peixe, depois de 12 anos, já não foi mais a mesma coisa. Mas aos poucos eu fui brigando, fui insistindo. O disco terminou aparecendo depois, mas não foi como na outra vez. As rádios comunitárias tiveram um papel importante na divulgação de O Peixe porque, embora as ainda não tenham vindo como a gente esperava, ainda são uma alternativa. Por exemplo, foi em uma rádio comunitária que fiz uma das entrevistas mais bonitas, com o Ciço Gnomo na Rádio Santa Quitéria. Por esse período também Chico César passou por aqui [no Cariri], falou de mim, depois chegou Zeca Baleiro e falou alguma coisa, a Cássia Eller quando veio para o Chama falou de mim. Então, o disco devagarzinho foi aparecendo e hoje ainda está rodando.

Você chegou a participar daquele [evento] Chama?
Eu fui até usado pelo Chama. Garantiram-me uma participação e me escolheram pra ser o presidente do júri. Eu trabalhando para o Chama o tempo todinho e não cobrei nada por isso. Perdi um show que tinha marcado para a Paraíba e deixei de marcar um em Fortaleza, em função desse daqui. E quando foi no dia eles cortaram meu show. Eu tive prejuízo nessa história toda. Não é que eles não me pagaram, até porque não cheguei a tocar, o problema é que deixei de fazer dois shows, três com o que seria aqui.

Voltando à questão entre Avallon e O Peixe: no que se refere a espaços para shows aqui no Cariri, qual a diferença entre as duas épocas?
A questão é que aqui tem uma cultura de se fazer show em bar que termina não sendo um show, mas sim uma música de entretenimento, porque você vai tocar músicas de pessoas conhecidas. E existem até os chavões: é muito difícil em qualquer bar não estar tocando Djavan. Teve um tempo que era só João Bosco, outro que era só Caetano Veloso. Então eu não vou sentar lá e cantar esse pessoal porque tenho uma obra a mostrar, tenho propostas. Posso até tocar um cara desses, porque vale a pena quando [a canção] é bem feita, bonita, mas não vou fazer todo um show em cima deles.

E na época do Avallon você se apresentava muito aqui?
Sempre tive muita dificuldade de fazer apresentações aqui no Cariri. É uma luta de muito tempo. Teve um tempo até que fui perseguido, pela questão política, no tempo da repressão. Não explicitamente, porque não havia nenhuma prova contra mim. Mas nesse período, inclusive, cheguei a ser preso. Eu estava tocando numa barraca na Exposição onde ficava a oposição, que naquele tempo era o MDB, que deu origem ao PMDB.

Quando foi isso mais ou menos?
Década de 70, acho que 76. Era Médici [na realidade, Médici foi presidente até 1974, em 1976 a presidência estava com Geisel], que jogava duro mesmo. Aí nesse período estava tocando na barraca informalmente, dando força a um cara que estava fazendo um trabalho de pesquisa sobre o Caldeirão. Então a polícia foi lá, bateu e prendeu todo mundo. Tiveram que me soltar logo, não tinham nenhuma prova contra mim. Mas, resultado: quando saí da cadeia nesse período sofri uma marginalização muito grande aqui no Crato, até os pais de alguns amigos os proibiam de andar aqui em casa, com medo dessa história todinha. Surgiu um boato que me prejudicou muito tempo, de que eu era um cara perigoso, usava drogas e que pervertia os jovens (risos). Foi tudo bolado pra criar uma imagem negativa em cima da minha pessoa, porque, de qualquer maneira, eu aparecia muito e naquele tempo não queriam ninguém que aparecesse e pensasse alguma coisa.

Aqui na época tinha núcleo do MDB?
Tinha um pessoal de resistência aqui. O MDB na verdade não era um partido, e sim um saco de alternativas. O PCzão e o PC do B existiam na clandestinidade, não podiam legitimamente concorrer à eleição. E qualquer pessoa que se manifestasse contra aquele regime, ainda que não fosse filiado a um desses partidos, era taxado como uma pessoa subversiva, de princípios religiosos duvidosos, de uma moral comprometida, porque antes de tudo não era um nacionalista. Tinha até aquele slogan: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

E comiam criancinhas. (risos)
E mais coisas: que a bandeira vermelha era a bandeira da guerra... Era tanta besteira, bobagem. Mas todas aquelas pessoas que não podiam se candidatar com suas ideologias próprias, entravam no MDB. E digo que era um saco de gatos. É tanto que dizem que Dom Paulo Evaristo, depois que houve a Anistia, escreveu um livro em que citou que a esquerda do Brasil só se unia na cadeia (risos). Então é em cima dessa afirmação que ainda hoje ela briga entre si. Quando ela está se juntando aí surge um partido mais radical e já nega tudo aquilo que os outros estão dizendo e rompe, é uma cisão. Mas tudo bem, o importante é que existam pessoas lutando e todas elas têm a intenção de que o país melhore. A ditadura tinha uma eficiência nas ações dela. E uma das eficiências foi a de apagar a memória do brasileiro. Todos foram anestesiados com festa e não sei o que mais lá.

Pão e circo...
Pão e circo, que é uma tática antiga. O filme O Gladiador já mostra bem essa transação. Houve isso, e ainda hoje eles tentam com essas vaquejadas (risos gerais). A Brahma bombardeia e quando você sai de uma vaquejada já estão anunciando outra. Que coisa terrível, né? E os vaqueiros agora são tudo filhinho de papai (risos), atrás de um prêmio que é um carro ou as coisas mais absurdas do mundo.

As pessoas passam toda a semana de terno e gravata e quando chegam no fim de semana colocam a bota e o chapéu de vaqueiro.
O pior é que não é chapéu de vaqueiro, é aquele chapéu de massa, copiando o americano. É a moda country. A coisa mais aberrante do mundo, mas tudo bem, no meio disso tudo tem pessoas como vocês [d'O Berro], que estão aí querendo sabatinar, né? (risos). E sempre tem essa moçada que segura a onda, isso é legal. Isso é o que nos dá a esperança de continuar, de batalhar e de perseverar com esse trabalho, procurando fazer o melhor possível cada vez mais.

Voltando à questão do show. Não existem bons espaços aqui para mostrar seu show? Tem um espaço agora super interessante que é o Navegarte, do Salatiel, que sempre teve boas ideias e vem trabalhando há um bom tempo com a cultura. O que está faltando para a região [do Cariri] melhorar nessa questão? Pois temos excelentes músicos.
O que Salatiel fez pela cultura, pelo menos aqui no Crato, foi o que todos os Secretários de Cultura que já estiveram por aqui não fizeram. Porque ele sempre fez um trabalho incondicional, bem feito, bem pensado e com honestidade. E com o Navegarte ele está procurando ainda criar uma estrutura para agir nesse aspecto. Ele vem agindo de certo modo, mas não é ainda como ele pretende. Ele pretende fazer um polo cultural lá, para que seja um espaço alternativo para todas aquelas pessoas que honestamente pretendem fazer uma arte, respeitando a estética e o conceito de construtivo. Então, ele abre esse espaço nesse sentido e eu acho muito importante.

Seria possível uma organização dos artistas do Cariri? Reunindo tanto a nova geração como os artistas que já batalham por espaço há algum tempo?
É muito difícil, mas é possível e seria uma boa saída, desde que ela tenha consciência, maturidade, porque tudo hoje funciona em grupo. Tem que funcionar dessa forma, porque o sistema imantado aí é muito forte, com tudo voltado para a questão do consumo daquelas pessoas que estão no ápice da pirâmide. E quem está concentrando essa renda domina todos os espaços e ela veicula o que quer, e a única saída seria essa união. Agora, até acontecer isso tem muita briga, pois é muito comum o jovem ainda não ter maturidade suficiente para entender a seriedade dessa reunião ou às vezes tem uns que se destacam com certo trabalho e o ego o desequilibra um pouco. Mas, por outro lado, o jovem tem aquela coisa do ímpeto, de acreditar mais, de lutar mais, entrar na ativa. E sempre no meio da turma tem um pessoal legal. É essa utopia saudável. Porque utopia é o lugar aonde não se chega, mas é lá que você objetiva e passando pelo caminho faz um monte de coisas.

Vemos a atuação de grupos isolados aqui na região e, muitas vezes, ao invés deles estarem unidos, ficam atacando uns aos outros. Como é que você vê essa separação?
Crítica ninguém evita, principalmente quando se está começando um trabalho e ele ainda não está amadurecido. Você pode ser até uma pessoa inteligente e ter ótimas idéias, mas você é vulnerável, porque você tem muito o que aprender, e muitas vezes o artista novo não aceita críticas. Eu mesmo não aceitava, reagia imediatamente, porque meu ego estava lá em cima. Quando comecei diziam que eu era inteligente, que eu era um artista, então meu ego subiu e, se alguém me criticasse, eu ficava aborrecido. Então, uma vez que nós artistas já somos carentes pela própria situação, terminamos na luta pela sobrevivência, um pisando em cima do ombro do outro para poder respirar. Isso acontece muito. A questão é com o tempo amadurecer e deixar isso de lado, porque na verdade está todo mundo no mesmo barco.

OLIVEIRA: Você acha que o som que fez no disco O Peixe é o mesmo que você fazia ou sempre fez?
Minha liberdade de criar eu prefiro não defini-la. Porque você acaba sendo um acúmulo de conhecimentos que vai adquirindo. Aí vai acrescentando no meio dessas coisas o estilo que você sempre sabia. E se você ficar se policiando por um estilo perde tudo isso. O meu trabalho talvez não tenha ficado envelhecido porque tive a liberdade de trabalhar como se fosse um trabalho atemporal. Com os pés no chão, mas não deixo de olhar pro céu, o espaço é infinito por aí.

OLIVEIRA: Estou perguntando isso para justamente fazer outra pergunta. Por exemplo, atualmente o que predomina são as fusões, fusão como as pessoas entendem hoje. Um exemplo: fazer um samba misturado com música eletrônica, misturado com rock, etc. Porque isso está “na crista da onda” e se não fizer “fica ultrapassado”.
Não existe essa cobrança de fazer isso, existe a questão de você se sentir bem sozinho. Quando parte do princípio da cobrança você passa a ser coagido e não é saudável.

OLIVEIRA: Já existiam aqueles cantos árabes, aí alguém vai e coloca uma batida eletrônica e explode no mundo todo...
Fundir ritmo com ritmo existe de duas formas. Existem os oportunistas e outros que pensam o seguinte: “eu tenho esse conhecimento dentro de mim, eu senti isso, e por que não vou me dar isso?”. Botar isso pra fora!. “Vomitar” no bom sentido. Por que estar me policiando? Eu não sou um purista. Não sou de fazer aquela música brasileira pura, eu gosto da irreverência do rock, da profundidade do jazz, da música erudita pelo seu manancial que hoje serve para todo mundo, que é você mexer com escala acromática...

Fala um pouco sobre o grupo Nessa Hora, que você tinha na década de 1970. Como era o som dele...
Nos anos 70 existiam uns festivais de música que revelaram muita gente boa do Cariri. Meu irmão, o Pachelly [Jamacaru], tem idade de ser meu filho (risos), mas ele só vivia no meu pé, aquela coisa de louco pelo trabalho. Peguei ele e mais dois amigos seus, na faixa de 13 ou 14 anos, e eu já com quase trinta, falei: “vamos formar um grupo diferente”. Mas Pachelly disse: “a gente não sabe nem tocar!”. Eu disse: “aprende!”. Aí eu ficava aqui dentro de casa na semana, com esses três meninos. E passamos quase um ano ensaiando. Nesse tempo eu estava com tanta raiva dessa história de todo mundo definir que “música boa era essa, música boa era aquela”, que combinei com os meninos de a gente não ouvir mais rádio, não ouvir mais disco de ninguém. E a gente descobriu som em tudo... A gente batia na porta e dizia: “A porta tem som”. Então, vamos aproveitar o som desta porta! Saímos fazendo experiência com tudo. A gente chamava o grupo Nessa Hora porque foi o grupo “nessa hora” que decidiu. Como terminamos esse trabalho, pintou um Festival, então entrei com esse grupo cheio de meninos e fomos cantar uma música chamada “Margem Virgem”. Pachelly com o pífano, que tinha aprendido com os Aniceto, mas também cheio de informação de Jethro Tull, era uma misturada danada. Vinha Aldízio e Paulinho misturando as percussões dos “reisados” com Djalma Correia, Naná Vasconcelos, etc. Tínhamos a liberdade trabalhar com o que era bom. Então entramos no festival com essa música “Margem Virgem”. Quando a gente tocou, a quadra ficou parada, todo mundo sem entender nada (risos). Uma letra hermética, avançadíssima, meio filosófica, com um som experimental, mas ao mesmo tempo gostoso, ritmado, porque tinha alguma coisa da música russa, foi uma salada danada, que causava um impacto, uma surpresa. E o resultado? Batemos o recorde do festival: ganhamos a melhor música, o melhor arranjo, o melhor intérprete, melhor letra. Até a gente se surpreendeu, porque a gente não esperava.

E os meninos aprenderam a tocar? (risos gerais)
Claro! Aldízio vive hoje tocando no Japão, não sei mais onde, ele é chamado de Aldízio Tapioca; Chico Carlo que, também chegou a tocar com a gente, está tocando com Almir Deodato nos Estados Unidos; Paulinho toca com um grupo de rock da pesada, em São Paulo; e Pachelly tem um trabalho do qual vocês já tomaram conhecimento. A não ser os cantores, um deles foi assassinado e o outro é sobrinho de um candidato a prefeito, e esse desandou mesmo (risos gerais).

Era bom ficarmos falando das coisas boas mas, de lá pra cá, e principalmente atualmente, o que é ruim incomoda bastante. Você não tem televisão em casa, é menos bombardeado com essas “más influências”, mas como é pra você saber que aquele espaço poderia ser seu? Pois lá o que tem é gente se passando por artista.
Não tenho mais a ilusão de que a boa música vá ocupar o cenário brasileiro, porque a minha opção foi de estar bem comigo. Então, num país em que o mercado fonográfico é considerado o sexto do mundo, se não me engano, e que todas as grandes gravadoras que estão aqui são multinacionais, nenhuma delas tem compromisso com a cultura, mas sim com o faturamento. Então não acredito, a não ser que a boa música venha a ser um modismo...

Que acaba tendo seu lado prejudicial...
Mas se vier deixa alguma coisa boa.

Já pensou Gugu ali na banheira apresentando Abidoral, Chico Buarque, Hermeto Pascoal, todos na banheira caçando sabonete? (risos gerais)
A gente ia imitar os índios, tem o nu puro (risos). Os índios fazem isso com a maior pureza. Eu iria lá cantar nu, sem maldade nenhuma (risos). Mas quanto à nudez, que coisa mais bonita era a nudez do índio, a pureza acima disso tudo, sem maldade.

O nome de seu CD, O Peixe, é o título de um poema de Patativa do Assaré. Você tinha quatro nomes pra escolher e sua intenção foi a de simplesmente homenagear o grande Poeta do Sertão?
Olha, aqui na região ele "já existe" há décadas, e de uns anos pra cá é que o descobriram e ele estourou no mundo inteiro. Mas eu já tinha conhecimento de Patativa desde criança, porque ele era cliente do armarinho de meu pai. E tive a felicidade de que esse armarinho tivesse uns clientes importantes, com quem eu convivia. Um era Luiz Gonzaga, o outro Patativa do Assaré, e Cego Oliveira, os [Irmãos] Aniceto...

Quando foi isso mais ou menos?
Meu pai foi comerciante de 1927 até o final da década de 60 e início de 70. Há muito tempo, então, conheço Patativa. Quando ele estourou apareceu muita gente fazendo parceria e, quando ele percebeu que tinha muita gente em cima de seu trabalho, fez um poema chamado “Cante lá que eu canto cá", chamando bem a atenção: "poeta lá da cidade cante suas coisas lá que eu canto minhas coisas aqui do sertão”. Eu tinha vontade de fazer parceria com ele e recuei, voltei atrás. Quando foi outro dia, li "O Peixe", aí se você percebe direitinho, a letra é bem elaborada e de certo modo meio erudita. Os primeiros versos dizem assim: "tendo por berço o lago cristalino / folga o peixe a nadar todo inocente / medo ou receio do porvir não sente / pois vive incauto do fatal destino / se na ponta de um fio longo e fino / a isca avista ferra-a inconsciente / ficando o pobre peixe, de repente / preso ao anzol do pescador ladino". Uma linguagem que vinha até a cidade. Eu disse: "aí eu posso cantar" e aproveitei, já que me chamaram para cantar numa dessas homenagens e a homenagem que achei foi a de musicar esse poema. Não estava nem pensando em gravar o disco ainda. Então, quando o disco apareceu, eu gravei e veio a questão do nome. Por que o nome O Peixe? Comecei a notar que havia uma série de fatores. Nós estamos terminando a Era de Peixes e entrando na Era de Aquários, e Aquário é aquele que dá comida aos peixes.

E a capa, retrata o fóssil?
A capa é também sobre os fósseis, que são nossas riquezas do conhecimento histórico, que dão uma importância muito grande à região do Cariri.

E que por sinal estão sendo roubados...
Pois é, estão sendo roubados. E todas essas coisas se somaram e vieram dizer que o nome do disco seria O Peixe.

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