
Embalado pra viagem # 132
Cordel O Terrível Massacre do Caldeirão do Beato Zé Lourenço
Autor: Geraldo Amancio
Composição dos versos: março de 2000
Editado pela Coleção Centenário - Cordéis Clássicos
Xilogravura da capa (Editora IMEPH, 2012): C. V.
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Ao livro, a história, o fato
Nesse pequeno cordel
Tento fazer um relato
Do mundo místico e tenso
Do beato Zé Lourenço
E o Caldeirão do beato.
Nessa pátria dos sem-terra,
Sem emprego e sem morada,
A massa pobre foi sempre
Excluída e explorada
Quando o beato existia
Nesse tempo já havia
A multidão dos sem nada.
Antes que o Caldeirão fosse
Habitado por José
Multidões de miseráveis
Varavam o sertão a pé
Camponeses deserdados
Pra Juazeiro levados
Pela fome e pela fé.
Quando a igreja Romana
Só atendia ao burguês
Pelos pobres, padre Cícero
Fazia o que ninguém fez
Acolhendo penitentes
Dando assistência aos carentes
Ouvindo a voz dos sem vez.
Bocas vazias de pão
Almas de esperança cheia
“Ó que caminho tão longe
Cheio de pedras e areia
(Diz o povo em rebuliço)
Valei-me meu padim Ciço
E a mãe de Deus das candeia”.
Foi ouvindo esses benditos
Esse coro de orações
Que Zé Lourenço deixou
A sua terra Pilões
Se tornou também romeiro
Se mudou pra Juazeiro
O templo das conversões.
Zé Lourenço era campônio
Homem da roça e do mato
Por isso é que Padre Cícero
Encarregou o beato
Pra cuidar de terra e planta
Da fazenda Baixa Danta
No município do Crato.
Cristãos de todos os tipos
No sítio eram acolhidos
Famintos, escorraçados,
Órfãos, damas sem maridos,
Romeiros de fé castiça,
Foragidos da justiça,
Jagunços arrependidos.
Padre Cícero ensinava
Conversão, perdão e paz.
Dizia nos seus sermões
Àqueles pobres mortais:
“Cada um ouça e perceba
Quem bebeu nunca mais beba
Quem matou não mate mais.”
E eis que aquele rebanho
De toda espécie de gente
Ouvia e obedecia
Rezava e seguia em frente
E plantava no chão duro
A semente do futuro
Na seara do presente.
Em quatorze Zé Lourenço
Sofreu um golpe pesado
A Sedição de Juazeiro
Acelerou todo o Estado
No meio da guerra santa
Foi o sítio Baixa Danta
Invadido e saqueado.
Coronel Franco Rabelo
Fez o vale estremecer
Lutas sangrentas e mortes
O Cariri pode ver
Com Floro Bartolomeu
O Juazeiro venceu
Franco saiu do poder.
Com o Beato Zé Lourenço
Outro drama aconteceu
Querendo o sítio de volta
O seu dono apareceu
Zé para não ter conflito
Devolve o sítio a João Brito
O proprietário seu.
Aí chega o padre Cícero
Que sempre pensava certo
Lhe disse: — Pra trabalhar
Eu tenho um sítio aqui perto
Você e os seus irão
Para o sítio Caldeirão
De Santa Cruz do Deserto.