terça-feira, 21 de abril de 2015

'Estado de Sítio', filme de Costa-Gavras



por Débora Costa

«Es mejor morir de pie do que vivir de rodillas»*
(Emiliano Zapata Salazar)

Ousado. Foi a primeira palavra que me veio à mente quando terminei de assisti-lo. «Ousado» nessa definição do Dicionário: uma audácia louvável. Sente só: aconteceu um sequestro que abalou Montevidéu, em 1970, e logo em seguida foi lançado Estado de Sítio (1972), inspirado nesse fato político. Mas não era um sequestro qualquer: o Tupamaros, um grupo de esquerda do Uruguai, sequestrou Dan Mitrione, agente americano, e o Aluísio Mares Dias, cônsul brasileiro. Por que fizeram isso? Bom, assim como uma das personagens fala no filme, «não se trata de um problema pessoal. Nunca foi isso. Trata-se de um problema político».

Na obra, Mitrione e Mares recebem, respectivamente, os nomes de Philip Michael Santore (interpretado por Yves Montand) e Campos (interpretado por Rafael Benavente). Ainda no início é retratada a busca opressora que o governo faz pelo americano, mas também dá dicas que há resistência, mesmo que tímida. Ao mostrar, por exemplo, os bancos, que eram reservados ao corpo universitário, vazios no momento do seu velório. Sim, pois nos primeiros minutos de filme conhecemos a figura do Santore, já morto dentro de um carro.

Quando nos é apresentado o processo do sequestro, compreendemos tudo que os motivou a fazê-lo. Através dessa obra cinematográfica dirigida por um grego sobre o Uruguai e filmado no Chile, aprendemos um pouco mais até sobre o Brasil. Isso se deve à violência, torturas e mortes comuns às ditaduras latino-americanas. Várias personagens falam durante o longa que não concordam com os métodos dos Tupamaros, mas logo nos deparamos com várias cenas assustadoras tendo os policiais como sujeitos. Um sequestro em troca de presos políticos não se equipara à crueldade da atuação policial representada no filme.

Agora que a repressão escancarada volta a ser um dos incômodos para a sociedade, nada mais propício do que trazer um filme que trata das ditaduras não tão distantes. Mas, além disso, o filme trata muito bem sobre resistir. Numa época em que os que enfrentavam o governo, ao invés de vândalos, eram chamados de terroristas.

* «É melhor morrer de pé do que viver de joelhos.»
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Débora Costa: uma feminista que cursa Direito, participa do P@je e que gosta que só de filmes.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 18, de 07 de maio de 2014), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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