terça-feira, 29 de novembro de 2011

10 anos sem George Harrison

Grifo nosso # 22

"'George não é misterioso', disse John Lennon em 1968. 'Mas o mistério em George é imenso. Observá-lo revelar aos poucos esse mistério é que é interessante.'

Quando os Beatles começaram a ganhar fama, George Harrison era o personagem menos conhecido dessa força repentina e inexorável que passava a mudar a cultura e a história — mais tarde, porém, ele parecia ser o mais radical e surpreendente tesouro escondido da banda. Quando os Beatles acabaram, foi Harrison quem, dos quatro, inicialmente emplacou os maiores sucessos na carreira solo. Seu primeiro trabalho pós-Beatles foi épico e adorável e, na sequência, esteve à frente do mais singular concerto da história do rock. Era um homem sincero e de boa vontade. Mas desde meados dos anos 1970 George evitou aparições públicas e se afastou dos holofotes da música pop, recolhendo-se à sua enigmática mansão, onde permaneceu isolado, em meio a suspostos temores e mantendo distância deliberada da moda pop contemporânea. Era um recuo ou seria, ao contrário, um meio de alcançar outra forma de realização? Será que Harrison não tinha mais necessidade do mundo que o amara com tanta intensidade, ou teria ele sofrido um desapontamento tão irreparável que fizera com que se tornasse um compositor — por vezes tão comovente — apenas esporádico?

'Ser um Beatle foi um pesadelo, uma história de horror', disse Harrison certa vez. 'Não gosto nem de pensar nisso.' Os Beatles receberam extraordinário carinho em sua carreira — e cada um deles cantou ao mundo que o amor era a chave da fé e do desejo que poderiam nos salvar e fazer nossas vidas valerem a pena. Como explicar, então, que tal dádiva pudesse se transformar em pesadelo a quem a ofertava? Por mais que isso tenha me intrigado, não encontrei a resposta. A única pessoa que poderia elucidar a questão morreu em 29 de novembro de 2001, depois de uma corajosa e dignificante batalha não apenas com a morte, mas com a vida."

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Mikail Gilmore, em "O mistério em George Harrison", no livro Ponto final: crônicas sobre os anos 1960 e suas desilusões (Companhia das Letras, 2010).

No nosso registro pelos 10 anos da morte de George Harrison, completados hoje, dia 29 de novembro de 2011.

"While my guitar gently weeps", do Álbum branco (1968) dos Beatles:


"My sweet lord", do álbum solo All things must pass (1970).

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