sábado, 9 de maio de 2020

Pandemônios de Regina Duarte em tempos de pandemia


Charge: Laerte / @laertegenial


por Hudson Jorge

Depois de todo o burburinho criado em torno da entrevista da Secretária Nacional da Cultura, Regina Duarte, dada ao vivo à rede CNN, vários memes e vídeos editados com os momentos mais destacáveis, resolvi me deter, durante cerca de quarenta minutos para assistir ao material na íntegra.

Claro que não esperava nada de extraordinário. Minha intenção era poder assistir todo o conteúdo e fazer um comparativo em relação ao que costumamos receber através de pequenos trechos editados, devidamente mastigados e o contexto de onde eles são tirados.

Ainda assim, consegui me surpreender. Eu não podia esperar que uma entrevista começasse, logo de cara, com uma enorme de uma #vergonhaalheia. Uma pessoa que ocupa um cargo praticamente equivalente ao de Ministro de Estado, começar agradecendo um poeminha gerado em um contexto que não tem nada a ver com a entrevista.

Regina Duarte deu vexame, todos sabem. Comportou-se na entrevista como se estivesse numa conversa de comadres tomando o chá das cinco. Quis parecer graciosa, mas apresentou-se patética, despreparada intelectual e emocionalmente para estar à frente de um cargo tão importante. Claro que isso não é nenhuma novidade neste desgoverno, mas dessa vez, a evidência me trouxe sentimentos nada agradáveis.

Assistindo à entrevista, me recordei de um episódio na minha infância, quando desci, despreparado, uma ladeira íngreme em uma bicicleta sem freio. A sensação que tive foi a mesma. A de ter embarcado em um veículo descontrolado e sem freio sobre o qual eu não tinha domínio, mas estava lá, sendo conduzido por ele.

Tive vontade, em diversos momentos, de pausar o vídeo e pedir desculpas. Desculpas ao jornalista Daniel Adjuto, que se deparou com uma entrevistada que não deu nenhuma resposta objetiva e que buscava simular uma suposta amizade, colocando-o numa situação de parcialidade, ao vivo, diante das câmeras e do seu público; pedir desculpas aos familiares de todos os torturados e mortos pela ditadura militar e ainda pelos falecidos recentemente (seja aos artistas ou aos milhares de anônimos abatidos pelo coronavírus); pedir desculpas aos espectadores e pedir desculpas a mim mesmo por ter assistido àquele show de horrores.

Como se não bastassem as opiniões infames sobre autoritarismo, ditadura, tortura e assassinatos, a Secretária Nacional da Cultura conseguiu não apresentar nenhum projeto, nenhuma solução ou, sequer, dar alguma esperança para os milhões de trabalhadores da Cultura desse país, que hoje estão tolhidos de suas oportunidades de trabalho e geração de renda devido à pandemia do novo coronavírus.

Que trágico momento vive a Cultura, as artes e os artistas brasileiros. Órfãos de liderança que seja capaz de batalhar por alguma ação emergencial ou, ao menos, de confortá-los em momento tão difícil.

A Cultura brasileira, celebrada em todo o mundo pela sua diversidade, qualidade e encantamento, a cada dia sofre novos e novos golpes pelos incautos incapazes produzi-la, de apreciá-la ou mesmo de percebê-la. E os artistas brasileiros (que não precisavam passar por isso), sofrem o escárnio e o desprezo da instituição que mais deveria valorizá-los.

Já vivemos incontáveis trágicos momentos nesse desgoverno com as atuações e falas abomináveis dos Ministros do Meio Ambiente, da Educação, da Economia, da Mulher, Família e Direitos Humanos e por aí vai uma lista de vários outros dementes. Mas, Regina Duarte não só despreza seus colegas de trabalho, zilhões de vezes mais competentes, como não perde a oportunidade de humilhá-los e constrangê-los perante o mundo com suas declarações estapafúrdias.

No entanto, ela nos dá uma oportunidade de ouro, pois, talvez, nunca teríamos percebido, em sua totalidade, o ser desprezível que ela é – hoje lamento profundamente por não ter torcido pela Odete Roitman, mas, eu era apenas uma criança e me perdoo.

Várias pessoas já falaram isso, mas não posso deixar de repetir que essa ex-atriz “mêa boca” terminou de rasgar sua biografia e enterrar seu currículo na caixa de areia do gato.

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