sábado, 25 de abril de 2020

9 (+2) contos de Rubem Fonseca para ler, por Elvis Pinheiro



por Elvis Pinheiro

Rubem Fonseca

Em 15 de abril de 2020 comecei a escrever este texto. Foram quatro parágrafos que deixei pra lá. Não os reli, mesmo agora, antes desta nova tentativa, nesta manhã de quinta-feira, 23 de abril de 2020, nono dia de seu falecimento. Do que escrevi anteriormente, lembro apenas que era muito ruim, muito metido a besta e eu falava mais de mim do que do escritor. A gente vai escrevendo e não sabe se vai jogar tudo fora ou se dessa vez dará certo. Vou pedir ao Luís André, editor desta postagem, que publique meu texto a partir daqui e os quatro primeiros parágrafos anteriores, que não irei relê-los, venham num asterisco ao final de tudo, bem lá embaixo, no blog (e no Instagram ou Facebook nem apareçam).

Pediram-me para selecionar, indicar, na verdade, alguns contos do Rubem Fonseca. Não lembro se eram 10 ou 11. Selecionei 11. Tenho 12 livros de contos do Rubem Fonseca em minha Biblioteca, mas o 12º é o Carne Crua, seu último livro, e este eu quero ter vida e saúde para lê-lo em 11 de maio, quando Rubem completaria, se estivesse vivo, 95 anos. Então, dos outros 11 livros, com muita dificuldade, selecionei um conto de cada.

Considerações. A primeira: eu tenho os meus livros de contos preferidos, nos quais, todos os contos deles, posso considerá-los meus preferidos! Refiro-me aos livros Lúcia McCartney, Feliz Ano Novo e O Buraco na Parede. A segunda: do livro Histórias de Amor (1997) que me foi roubado (já que a mulher para quem o emprestei nunca me devolveu, mas em compensação fiquei com um outro dela, com uma seleção de poemas do Fernando Pessoa), eu escolheria o conto “Betsy” (acho que é assim que se escreve – não me lembro porque o latrocínio foi em 97 e depois disso nunca mais o li). E a terceira e última consideração: não escolhi contos de livros que não tenho em minha casa. Portanto, os interessados em me presentear podem me agradar com o envio de A Confraria dos Espadas (1998), Secreções, Exceções e Desatinos (2001), Ela e Outras Mulheres (2006) e Histórias Curtas (2015).


 
1. “Duzentos e vinte e cinco gramas”. Foi meu primeiro assombro. Foi quando o autor agarrou o meu pé para sempre naquela remota tarde de 1996. Tudo que eu leria depois, em Os Prisioneiros (1963) e em todos os seus demais livros, já me predispunham a considerá-lo o meu escritor preferido.


 
2. “A força humana”. Esses fortões de academia, esse povo que sua em ringues de luta livre, e que o Zé sabia fazer a gente ter empatia por eles, compreendê-los. Sentirmos sua dor, seus medos e fraqueza. A Coleira do Cão (1965).


 
3. “*** (Asteriscos)”. Que genial na estrutura, na perspectiva, na visão magistral do que é o sistema da Arte. Lúcia McCartney (1969).


 
4. “Intestino grosso”. Quer saber por que ele escreve do jeito que escreve? Mate a sua curiosidade lendo esse conto. Feliz Ano Novo (1975).


 
5. “Livro de ocorrências”. Cada caso que chega numa delegacia é um conto ou novela impressionantes. Eles tem vários contos nesse estilo, comece por esse, num livro cheio de outras obras-primas. O Cobrador (1979).


 
6. “Olhar”. Decidi que gosto de comer o que tem olho e pode me ver. Nossa! Nem sei. Mas você nunca mais vai comer do mesmo jeito depois de ler isso. Romance Negro e Outras Histórias (1992).


 
7. “Idiotas que falam outra língua”. Estrutura de peça de teatro. Acho muito engraçado. Vi-o, uma vez, adaptado para o cinema, num curta que assisti no festival Mix Brasil. Não está com este título. A leitura é uma delícia pra quem gosta mais de diálogos. O Buraco na Parede (1995).


 
8. “Ganhar o jogo”. Ah, os psicopatas de Rubem Fonseca… sempre tão criativos! Pequenas Criaturas (2002).


 
9. “Sapatos”. Dá um filme. Tão Brasil, tão nossa realidade social. Impressionante. Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011).


 
10. “Sopa de pedra”. Coloquei no sumário, ao lado do título deste conto, quase (ou por que não?) poema, “maravilhoso”. Acredito que não convença muita gente com essa impressão. Vão concordar os que pegarem as referências. Amálgama (2013).


 
11. “Mildred”. Ei, muito orgulhoso dessa guinada do Rubem Fonseca abordando o tema da homofobia. Muito bom e muito importante esse conto. Calibre 22 (2017).

Devo ter extrapolado o espaço devido. Mas é isso.
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* O leitor de Rubem Fonseca não suporta quem confunde seu nome e o chama de Rubens. Começa daí. Porque soa logo a leitor desatento ou pseudoleitor ou gente que quer passar por entendido de literatura ou leitor desse autor tão reverenciado. Quem leu de verdade Rubem Fonseca, e não um conto ou outro perdido, por obrigação escolar ou sabe-se lá, jamais esquecerá seu nome. Jamais o chamará de Rubens.

Sou admirador e divulgador de sua obra por onde quer que eu passe há 24 anos. Mais da metade de minha vida e a totalidade de minha vida adulta. Não existe pessoa que me conheça que não saiba de minha fascinação por Rubem Fonseca. Tenho tanto para falar sobre ele, mas o espaço, o tempo e a qualidade da minha escrita impendem-me. Espaço porque não adianta um texto longo que ninguém irá ler, tempo porque depois de amanhã já aconteceu muita coisa e não fará mais sentido esse assunto e quanto a qualidade da escrita é essa sofrível que se vê!

No entanto, aqui no Cariri poderá haver melhores e mais adequados comentadores da obra de Rubem Fonseca e até mesmo fãs mais apaixonados, mais certamente sou aquele leitor notório de sua obra. Nessa quarentena venho gravando a leitura de seus contos e publicando em meu canal no YouTube (clique aqui para conferir!). Mas sempre li em voz alta os seus contos para os meus amigos. Dei seus livros de presente. Há 24 anos quem me conhece também sabe quem é Rubem Fonseca. Por isso, agradeço este reconhecimento dos amigos dO Berro que me deram esse espaço de registro do meu amor.

Aqui eu faço a minha listinha de preciosidades.
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Elvis Pinheiro é mediador de cinema, vocalizador de literatura de ficção, professor formado em Letras pela URCA, editor da revista Sétima, membro fundador do grupo Sétima e se disfarça de Cais do Porto para publicar seus poemas.

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