sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Equívocos do mercado musical brasileiro

por Geraldo Junior

Acho um equívoco o mercado e os meios de comunicação tacharem a música nordestina como regional, de uma forma diminutiva. Desde nomes consagrados como Alceu Valença, até novos artistas, passam por esse preconceito e descriminação ilógica. Em vários momentos, eu também percebo trabalhos como o meu sendo vistos como algo menor por conta desse pensamento.

Toda a chamada arte regional também é universal e vice-versa. Independente das mil e umas possibilidades de suas livres formas de construção, execução e combinações de técnicas tradicionais ou contemporâneas.

Mesmo produzindo também um trabalho que passeia e se influencia direta e indiretamente por outros gêneros, a cena independente me vê como um artista da cultura popular ou forrozeiro. A cena mais tradicional me vê como um artista muito alternativo, e aí, na prática, isso poderia ser bom, mas acaba que muitas vezes eu fico no limbo. Independente dessa situação, com toda dificuldade, sigo sentido e pensando arte, construindo meu trabalho de maneira livre pra fazer o que acredito e me colocar além desses clichês todos.

Eu não preciso forçar a barra pra me vestir com um visual moderno pra fazer música alternativa, e nem de vaqueiro ou cangaceiro pra fazer forró. Muito menos misturar os dois pra mostrar que minha música organicamente é, e sempre foi, um pouco de tudo isso.

Nunca me contentei com esses rótulos. Naturalmente sempre estive além apenas da música como expressão, pois gosto de dançar, de interpretar, e penso a arte como linguagem universal, partindo, claro, de minha identidade local (que tanto prezo e respeito), mas nunca estando preso a ela.

Esse mercado além de um grande cartel escroto, se apropria desses termos e confunde as coisas. Eu sou antes de tudo um cantor sertanejo porque sou do sertão, mas mesmo no Cariri sempre curti e ouvi de tudo. Minha primeira banda era de rock, depois tive e toquei em bandas e grupos de coco, metal, eletrônica, MPB, pop, forró, fanfarra, reisado... E aí? Isso não é o Brasil?!

Essas discriminações, preconceitos, desigualdades sócio-culturais, de gênero, numero e grau vão realmente deixar de existir ou ao menos se tornar irrelevantes alguma dia? Acho também que precisamos de reforma agrária na música brasileira! Valorização real e oportunidade pra os pequenos e médios produtores independentes, estejam estes em coletivos e cooperativas ou não.

Quando a chamada música regional vai ser vista como universal por esse mercado? Isso é uma questão de periferia e centro. Essa história pode parecer bobagem, mas importa muito porque, para o povo, a ideia básica do que são as coisas, principalmente do que é vendido, vem dos meios de comunicação de massa e sua indústria do entretenimento pasteurizado que vende rebeldia e revolução como se fosse um refrigerante.
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Geraldo Junior é músico e escritor

Fotografia: Cidy Souza Photography

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