terça-feira, 6 de maio de 2014

Diálogo, sangue e Tarantino



por Erick Linhares

Diretor renomado, conhecido por grandes clássicos do cinema como Kill Bill e Cães de aluguel, e por gostar muito do elemento “sangue”, que o caracteriza mais ainda, tem seu jeito peculiar de fazer cinema, intrigante e exótico, com diálogos baseados no seu estilo próprio, penetrante, chamativo e bem humorado. A excentricidade de Quentin Tarantino é digna para a realização de um bom cinema.

No filme Cães de aluguel (1992) pode-se encontrar uma demonstração bem nítida do que seria esse diálogo inusitado, em especial no início do filme, quando eles estão falando sobre uma música da cantora Madonna - Tarantino é um dos personagens, inclusive - e, apesar da empolgação de todos sobre a conversa, um dos personagens interrompe o assunto para falar o que acha de dar gorjetas para garçonetes, então todos se instigam em discutir sobre esse assunto, ele fica reprimido, pois a maioria de seus colegas está contra ele e mesmo assim mantém rigidamente sua opinião sobre o fato.

Embora o conteúdo da conversa seja por demais interessante, o que mais impressiona é a forma como eles conversam, como cada personagem parece ter uma opinião, apesar de muitas vezes concordante, mas bem característica de cada um, numa discussão inteligente e que prende a atenção, passando uma emoção significativa. Além de muitas vezes ter esse personagem que desvia para outro fato que afeta todo o grupo, integrando também uma certa comédia na trama.

Outro exemplo sobre esse tipo de diálogo torna-se bem perceptível em Bastardos inglórios (2009), um filme em que, aliás, não falta conversa entre personagens que sejam cativantes e empolgantes. Na primeira cena do, o ator Christoph Waltz faz uma cena brilhante com o personagem francês que escondia judeus em sua casa. A experiência do renomado “caçador de judeus” fez com que ele brincasse com seu inglês e seu francês falado impecavelmente para ludibriar a família judia que lá se escondera, manejando os fatos de maneira que não se pode mais esconder a mentira que estava debaixo de sua sola. Ele mesmo interrompe a conversa para dizer que vai voltar a falar francês e logo em seguida mata todos os judeus que conseguiu, salvando-se apenas Shosanna.

Kill Bill vol.1 (2003) e Kill Bill vol.2 (2004) talvez sejam os dois filmes que mais representam sua qualidade ao usar violência e muito sangue no cinema. Apesar de todos seus filmes possuírem tais características bem estampadas, como em Cães de aluguel (numa cena em que um personagem está sendo transportado de carro por outro comparsa, pois está sangrando muito) e na produção de Tarantino percebe-se um certo exagero, por ter levado um tiro. Pode-se ver também em Jackie Brown (1997), numa cena em que o personagem de Samuel L. Jackson atira na cabeça do personagem de Robert de Niro.

Mas Kill Bill exagerou no que se trata de violência e sangue, e estampou de vez essa característica na maneira em que Quentin Tarantino faz cinema. Muitos braços e pernas decepados, lutas com uma violência bem ilustrada e mais forte que o comum fazem parte dessa produção.

Quentin Tarantino, sem dúvidas, é um diretor estranho. No entanto, seus filmes têm um diferencial próprio, o que faz com que surja uma legião de fãs de seu trabalho, pessoas que talvez vejam beleza nesse estranho e sintam-se atraídos pela força e emoção que ele passa em cada cena.
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Erick Linhares é estudante de Psicologia na Faculdade Leão Sampaio, onde foi coordenador geral do Centro Acadêmico do curso. Atualmente é bolsista na Especialização em Gestalt Terapia.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 10, de 13 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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