sexta-feira, 23 de maio de 2014

Cinemas de centro de Juazeiro do Norte



por Raquel Morais

28 de Dezembro de 1895 é uma data bastante representativa para a História do Cinema Mundial. Neste dia, no Salão do Grand Café, em Paris, os Irmãos Lumière fizeram uma apresentação pública do seu invento, o Cinematógrafo. Este local de exibição seria muito importante para o desenvolvimento do cinema nos primeiros anos, ambientado no lugar, ao qual as pessoas poderiam beber, comer, encontrar amigos e ver outras apresentações. Cobrava-se cinco centavos de dólar aos trinta e três espectadores que atônitos assistiram ao filme, L'Arrivée d'un train à La Ciotat. A partir de então, as exibições não pararam: do Grand Café, da Europa, do mundo, e assim sendo, de Juazeiro do Norte-CE.

Fundada em 1911, Juazeiro nasce pouco depois do cinema, tendo em sua construção influências das suas salas de exibições onde, por muito tempo, como diz Renato Casimiro, grande memorialista e amante da sétima arte, o cinema foi o "grande espetáculo" da cidade.

Com alguns dados, me atrevo a fazer uma breve retrospectiva dos antigos cinemas de rua, e assim mencionar um pouco da sua história.

Segundo Senhorzinho Ribeiro, foi em 1916, na antiga Rua Nova, a atual Av. Dr. Floro, que houve as primeiras exibições de filmes, considerado assim como o primeiro cinema da cidade. Logo em seguida, em 1921, teríamos o Cine Iracema, de Pelúsio Correia de Macêdo, localizado na Rua Padre Cícero, onde a mesma possuía sala de espera e palco conjugado, permitindo apresentações teatrais e musicais, com iluminação própria e corrente elétrica gerada no local, já que até então Juazeiro não tinha eletricidade.

Bem depois, em 29 de julho de 1935, é através de um contrato entre os irmãos Antonio Vieira de Almeida e Olimpio Vieira de Almeida, e os sócios Manoel Soares Couto e Antonio Pita, que se dá a fundação do Cine Teatro Roulien, tendo 500 lugares e possuindo o seu próprio Jornal, o Roulien-Jornal, vindo depois a ser designado de Sociedade Almeida & Cia. Ltda. Em 1942 foi a vez do Cine Avenida, localizado onde hoje é o Hotel Municipal.

Em 1947 surge o tão famoso e inesquecível Eldorado, empreendimento da mesma Sociedade já mencionada, que inaugurou, no dia 07 de julho de 1947, o Cine Eldorado, que funcionaria na Rua Santa Luzia, tendo em 1977 o seu endereço transferido para a Rua Edésio Oliveira, com cerca de 800 lugares, agora na propriedade de Expedito Costa. Há ainda o aparecimento do Cine Operário, em 1949; o Cine Guri, em 1950, na antiga Rua São João, atual Alencar Peixoto. E ainda pela memória do Senhorzinho Ribeiro havia o Cine Luz, porém não há nenhum registro que comprove a sua existência. E bem depois viria o Cine Plaza, em 1975, também de Expedito Costa. Mas as oportunidades de ver cinema não eram limitadas apenas ao circuito comercial.

Entre os anos 50 e 60, o Departamento Diocesano de Cinema promovia nas paróquias a exibição de películas religiosas, documentários, desenhos e curtas metragens, com máquinas em 16mm. No auditório do Ginásio Salesiano instalou-se, no começo dos anos 60, uma sala de cinema, para os sábados e domingos, com a frequência dos alunos e de pessoas do bairro.

Porém, com a chegada da TV, os cinemas já não eram mais considerados a "grande atração" da cidade, e as locadoras, tornando possível ver o filme em casa e a um preço mais acessível, arremataram o processo final de fechamento de todos estes espaços.

A chegada do Shopping, em 1997, e suas duas salas com maior tecnologia, tendo um ambiente climatizado e com melhores recursos (até então não disponíveis), ajudou a finalizar com o funcionamento do último cinema de rua ainda resistente, o Cine Eldorado, considerado o maior cinema de Juazeiro, o qual sobreviveu nos seus últimos anos já marginalizado, exibindo filmes pornôs.

Mesmo com o esforço do seu proprietário, Expedito Costa, para que o fim nunca chegasse — tentando transformar o espaço do cinema em um teatro, se inscreveu em projetos para transformar o espaço em um centro cultural — não teve jeito, e o seu "fim" chegou.

Não vendo outra alternativa, transformou o cinema Eldorado em Estacionamento Eldorado, restando apenas o seu nome por entre os muros da cidade e as lembranças das risadas nas sessões que tinham Oscarito e Grande Otelo, ou os aguardados Trapalhões; das lágrimas após assistir a Paixão de Cristo; das lutas de ficar com a boca aberta com Jean-Claude Van Damme; das cenas fortes em Eu, Christiane F.; e dos beijos roubados em Dio, come ti amo.
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Raquel Morais (assim se apresenta): uma "sei-lá-o-que" que gosta de cinema.

Foto do Estacionamento Eldorado: Dr. Paulo Leonardo Celestino Oliveira

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 11, de 20 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Outras postagens relacionadas:
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Saiba mais:
Hoje, em Juazeiro do Norte, bem no centro da cidade, tem um novo cinema. É o chamado Cine Arte Eldorado, tendo à frente o Dr. Humberto Menezes e sua família. É um casarão antigo onde seus pais moraram e, além da sala de exibição com 50 lugares, há um grande acervo de memória da família e da cidade de Juazeiro, com fotos e artefatos pertencentes à época. São exibidos, por exemplo, longas-metragens que ganharam o Oscar, entre eles Grande Hotel (1932) e Imitação da Vida (1959).

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