Continuam as comemorações pelo ano do Centenário de Juazeiro do Norte. E hoje O Berro lembra que há exatos 100 anos (no dia 4 de outubro de 1911), o Padre Cícero Romão Batista tomava posse como primeiro prefeito de Juazeiro.
Reproduzimos citações de livros que relatam aquela data histórica nas terras juazeirenses. Inicialmente, um trecho do artigo "Independência de Juazeiro", do Prof. Boaventura de Souza, que integra o livro Juazeiro do Padre Cícero, organizado por Raimundo Araújo:
"22 de julho de 1911. Assinada a Lei nº 1.028, criando o município de Juazeiro. A lei é composta de 5 artigos. Assinam: Belizário Cícero Alexandrino (Presidente), Lourenço Alves Feitosa de Castor (1º secretário) e Oscar Feital (2º secretário).
4 de outubro de 1911. Em meio a grande festa popular, Padre Cícero é empossado no cargo de primeiro Prefeito do recém-criado município de Juazeiro. A sessão solene de posse, à qual compareceram 17 prefeitos, realizou-se na casa de Dona Rosinha Esmeraldo, localizada no cruzamento da Av. Dr. Floro com a Rua Padre Cícero.
Juazeiro conquistou sua Emancipação Política graças à determinação do seu povo, liderado pelo Pe. Alencar Peixoto, Dr. Floro Bartolomeu, Prof. José Marrocos, que movidos pelos anseios da população como autênticos líderes, se dedicaram ao grande projeto popular." (o artigo completo do Prof. Boaventura de Souza pode ser lido na nossa postagem "Capítulos da independência de Juazeiro e a realidade décadas depois", clicando aqui).
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O outro relato (sobre a posse do primeiro prefeito de Juazeiro) está no livro Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão, de Lira Neto:
"O receio era de que a reunião acabasse em tiro. Nunca se viram — nem jamais se voltaria a ver — tantos coronéis sertanejos assim reunidos em um mesmo lugar, como naquele 4 de outubro de 1911, em Juazeiro, o dia da posse de Cícero na prefeitura. Lá fora, as ruas estavam enfeitadas de bandeirinhas de papel e a banda do mestre Pelúsio de Macedo fazia a festa. No interior da casa que sediou a solenidade oficial, os dezesseis homens vestidos em roupa de domingo foram recebidos com chuvas de flores e papel picado. Mas não escondiam de ninguém que ruminavam uma coleção de rancores mútuos.
(...) O padre, além de anfitrião, era o único capaz de presidir uma sessão como aquela. Ante qualquer desentendimento entre as partes, poderia brotar a faísca de uma conflagração armada.
Praticamente todos os chefes políticos do Cariri — incluindo o coronel cratense Antônio Luiz — haviam acatado o chamado do sacerdote para tão insólito conclave, que marcaria seu primeiro dia como prefeito. Estavam representadas por seus respectivos caudilhos dezesseis localidades que, quando vistas no mapa, desenhavam um extenso círculo de terra em torno do Juazeiro: Araripe, Assaré, Aurora, Barbalha, Brejo Santo, Campos Sales, Crato, Jardim, Lavras, Milagres, Missão Velha, Porteiras, Quixará (mais tarde Farias Brito), Santana do Cariri, São Padro (depois Caririaçu) e Várzea Alegre. Cada um dos senhores rurais ali presentes carregava nas costas um punhado de crimes desfechados em plena luz do dia, a seu mando ou debaixo de sua complacência. Aos meeiros e agregados, ofereciam a proteção patriarcal, em troca da obediência e da prestação de serviços em seus latifúndios. Aos opositores, reservavam apenas a fúria do rifle, o argumento do cacete, a sanha da peixeira. No infindável repertório de crueldades, não faltava a recorrência de tocaias, assassinatos, estupros, mutilações, castrações e degolas sumárias.
(...) Cícero queria chamar todos à razão Ou paravam de se trucidar ou não sobraria mais nenhum deles para contar história. O padre, é claro, tinha consciência de que não seria com pai-nossos e ave-marias que se decidiria questão tão espinhosa. Mas também não era caso de bater na mesa com o cabo do cajado. Estavam sentadas ali, diante dele, pessoas de espírito sanguíneo como o coronel Pedro Silvino de Alencar, que em 1909, depois de duas horas de acirrado tiroteio, batera no peito em sinal de vitória, após expulsar do município de Araripe o chefe político do lugar.
(...) Um por todos, todos por um. O lema, tomado emprestado aos três mosqueteiros imortalizados pelo escritor francês Alexandre Dumas, resumia o teor do documento [redigido pelo Padre Cícero e apresentado aos líderes na reunião] que passaria à história como o "Pacto dos Coronéis".
(...) Para Cícero, havia um significado particular naquele acordo: erguera-se um providencial campo de força a favor do Juazeiro, que dali por diante ficaria rodeado, de norte a sul, de leste a oeste, da farta proteção armada garantida pelos coronéis aliados. Em caso de uma possível ofensiva como a desfechada contra Canudos, os invasores teriam de vencer primeiro a jagunçada, antes de chegar aos calcanhares do padre. O Juazeiro, epicentro da fé, tornara-se também ponto de convergência entre as aristocracias rurais do Ceará.
Quando Cícero levantou da mesa ao final daquela histórica reunião e passou a colher a assinatura de todos, os coronéis do Cariri já tinham tomado consciência de que, diante da nova situação, precisavam eleger um chefe imediato entre eles. Esse chefe não seria, necessariamente, Accioly [presidente do Ceará na época]. Carecia ser alguém que estivesse mais perto deles e que, a despeito das diferenças e dos ódios pessoais que os separavam, fosse um homem cuja palavra seria acatada sem ressalvas. Os coronéis precisavam de um líder político no Cariri. Naquela tarde, esse líder se revelara naturalmente — e já tinha nome.
O nome dele, ninguém se atreveria a discordar, era Cícero.
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Floro [Bartolomeu] havia caprichado nos detalhes. O banquete e o baile que se seguiram à cerimônia de posse ficariam guardados na memória dos moradores como a maior de todas as festas da história do Juazeiro. A mesma casa que horas antes abrigou a reunião dos coronéis encheu-se de gente para comer e dançar em homenagem ao prefeito e padre Cícero Romão Batista."
Coronel silvino mandou matar muita gente no araripe, ninguém desobediência seu chamado, e meu padre Cícero dizia " araripe nunca vai crescer por causa do sangue derramado pelo coronel".
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