terça-feira, 15 de maio de 2012

O Berro entrevista Dudé Casado, que se lança em carreira solo


por Ythallo Rodrigues | fotos Samuel Macêdo

Dudé Casado é figura carimbada no cenário musical da região do Cariri cearense. Desde os anos 1990 integrou algumas bandas de rock — com destaque para os mais de 10 anos em que foi guitarrista e um dos principais compositores da banda Dr. Raiz.

Agora Dudé está em uma nova etapa, em carreira solo, e divulga pela internet as canções do recém-gravado disco Antes que escureça. A nova fase também inclui uma mudança temporária (?) para o Rio de Janeiro, onde procura novos meios p
ara divulgar sua música. Batemos um papo com Dudé, que fala sobre este atual momento na sua carreira.

Para acessar o site oficial de Dudé Casado, clique aqui. E para baixar gratuitamente o disco Antes que escureça — disponibilizado pelo próprio artista — clique aqui.

O BERRO - Como foi o processo de transição entre o final da banda Dr. Raiz, em 2009, para esse seu primeiro trabalho solo? Inclusive, no disco Antes que escureça tem uma música dedicada aos antigos componentes da Dr. Raiz, é isso?
DUDÉ CASADO - Em 2008, quando Geraldo Junior resolveu sair do Dr. Raiz, ficamos meio que sem chão, afinal ele estava à frente da banda. Saímos procurando vocalistas, mas não deu muito certo. Os outros integrantes pediram para que eu assumisse os vocais e mesmo sem querer foi o que fiz. Eu não curtia muito isso, afinal, as músicas que fiz, fiz para [Geraldo] Junior cantar e não para eu cantar! Foi justamente quando passei a compor coisas que dessem mais certo com minha voz, mas mesmo assim não queria ficar à frente do Dr.Raiz, queria montar outro projeto, uma nova banda, mas sabia que os caras não aceitariam isso pois o Dr.Raiz já tinha uma longa história. Então, juntando umas histórias e outras saiu a música "Antes que escureça", uma espécie de despedida. Realmente dediquei essa música a todos os ex-integrantes do grupo, principalmente aos mais ativos no trabalho, e isso só foi revelado de um tempo pra cá, mas antes disso sei que todos eles sentiram isso.

Como foi o processo de produção do seu disco aqui no Cariri? Em lugares distantes dos grandes centros, como é o caso do Cariri cearense, é difícil para músicos com trabalhos autorais esse tipo de produção independente?
Quando comecei a compor esse trabalho, primeiramente gravei tudo em casa, fiz alguns experimentos, foi quando em seguida parti pro estúdio. Fiz a produção e contei com a ajuda da galera que estava tocando comigo. E te falo uma coisa: um trabalho como esse já começa com a dificuldade de encontrar músicos que se dediquem ao esquema, pois não é todo mundo que acredita nisso, principalmente vendo pela questão do estilo musical que não proporciona muita grana e também não se encaixa no perfil dos produtores de nossa região. Tive a sorte de encontrar essa galera que vem me acompanhando no Cariri, que além de serem grandes músicos acreditam no trabalho e são meus amigos de longa data. Infelizmente em lugares como o Cariri a pessoa ainda tem que se autoproduzir, pois os produtores não visam trabalhos como este e tantos outros que existem por aí [no Cariri]. Realmente é muito difícil.

Quais as grandes influências literárias e musicais das canções do seu disco? Percebemos uma sonoridade muito forte que provém do rock’n’roll. E o que mais você destacaria na sua musicalidade?
Nesse trabalho fiz questão de colocar tudo o que eu gosto de escutar ou ler, então meti minhas influências: The Doors, Beatles, Alceu Valença, Pink Floyd, Loreena Mckennitt, Pinto do Monteiro, Black Sabbath, Led Zeppelin, Geraldo Amâncio, Sepultura, Ivanildo Vila Nova, Bob Dylan, Dr. Raiz, Johnny Cash, Moacir Laurentino, Blind Guardian... muita coisa mesmo! É uma pegada bem rock’n’roll, mas se você parar e prestar atenção, notará que tem tudo isso aí que falei.

Há cerca de um mês você arrumou suas malas e “arribou do sertão”, com destino ao Rio de Janeiro. O que você acha dessa migração ainda ser a saída para artistas que pensam no desenvolvimento de seus trabalhos? Como você acha que essa mudança geográfica irá ajudar no seu trabalho?
Viajar é a realidade de qualquer artista, infelizmente ainda tem que ser assim. Mesmo com todos esses meios de comunicação onde você pode divulgar seu trabalho, isso acaba não bastando, pois você precisa tocar. Sei que existem vários espaços e festivais no Nordeste, mas a maioria são eventos que priorizam "bandas de fora", deixando as bandas locais sempre em quinto ou sexto plano, com cachês que não valem a pena. No Sudeste é difícil você entrar no movimento, mas quando entra serve de vitrine para o restante do país. E como os espaços, contratantes, produtores, etc., estão aqui [no Sudeste], fica mais difícil eles contratarem bandas do Nordeste, por sair muito caro todo o custeio, então procuram o que já tem por aqui.

No disco Antes que escureça percebemos um traço particular nas letras, mesmo com a diversidade dos temas, que variam entre a obscuridade de canções como “Tristes Sinais” e “Pedrinhas do Rio”; a canção de amor cafajeste “Onde você vai”; a melancolia de “Sobrevestes”; o saudosismo de “Antes que escureça”. No entanto, creio existir um tema que perpassa tudo isso, que é uma profunda tristeza, que une as letras à pegada do rock, que vem da música. Fale um pouco sobre isso. E aquele música ao contrário no final [“O fim das horas”], referências roqueiras? Sinistro...
Tem tudo isso mesmo que você citou. Algumas coisas senti e vivi, mas muitas delas me inspirei em coisas que li, vi ou ouvi: histórias tristes, de saudades, maus presságios, de perda, de dor, de fim, etc. Sempre viajei em temas mórbidos, coisa que se vê muito no repente e no blues, por isso fiz esse disco todo assim. O próximo será bem diferente! (risos) Existem letras aí que um dia terei que explicar para o público. E que música no final? (risos) Vim ouvir depois que você me perguntou.

E para finalizar, gostaria que você falasse um pouco dessa sua opção por disponibilizar o seu primeiro disco na internet, para download gratuito. Por que você escolheu a internet como principal veículo de divulgação do seu trabalho? Acha que é possível que um artista independente, como é o seu caso, consiga obter o retorno desejado através desse tipo de iniciativa?
Aqui no Brasil a realidade é diferente, o músico não ganha dinheiro com venda de CDs. E a internet é o melhor meio de divulgação para qualquer artista, assim o público passa a conhecer mais as suas músicas e daí vêm as contratações, propostas, etc.
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