terça-feira, 8 de abril de 2014

'O Som ao Redor', filme de Kleber Mendonça Filho



por Wendell Borges

O crítico e jornalista Kleber Mendonça Filho já vinha colecionando prêmios com seus curtas, até conquistar de vez, tanto a crítica quanto o público, com o estrondoso sucesso de seu primeiro longa de ficção, O Som ao Redor. O filme recentemente foi eleito como o candidato do Brasil na busca de uma vaga, ao lado de outros 60 filmes, às cinco escolhas para melhor filme estrangeiro no Oscar de 2014.

Com uma trama aparentemente simples, mostrando a rotina de moradores de um condomínio de classe média na capital pernambucana (local este onde o próprio diretor reside), esta rotina é quebrada com a chegada de um grupo de vigilantes que oferecem seus serviços para melhorar a proteção dos moradores que, preocupados com os assaltos e a violência no bairro, acabam aceitando o serviço e passam a ser vigiados e protegidos pelo grupo.

É neste contexto que o diretor explora com eficiência o espaço geográfico e a plasticidade sonora do local, trabalhando elementos já explorados em um de seus curtas, Eletrodoméstica (2005), traçando um painel das relações de uma dona de casa com sua rotina doméstica e os aparelhos elétricos que a auxiliam nos serviços do dia a dia. Inseridos por sua vez em um painel mais amplo, centrado na figura do personagem Francisco, interpretado por W. J. Solha — que funciona como uma espécie de coronel ditando regras no condomínio, onde ele é detentor de muitas das propriedades do local — o som e o espaço ganharam ainda mais destaque.

Fechando o bom elenco, vale elogiar a atuação de Irandhir Santos na pele do vigilante Clodoaldo. Com influências que vão do norte-americano John Carpenter ao palestino Elia Suleiman, Mendonça constrói um trabalho visual e sonoro repleto de qualidades, traçando um painel sociopolítico das relações ainda existentes de um coronelismo disfarçado em pleno século XXI.

Um dos fatores que pesaram na escolha de O Som ao Redor para representar o Brasil na disputada categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar, foi a série de elogios que o filme recebeu do crítico Anthony Oliver Scott, do prestigiado jornal The New York Times, além, é claro, das 12 premiações em festivais, incluindo o FIPRESCI, festival de cinema de Rotterdam, Holanda.
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog arquivoxdecinema desde 2008.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 08, de 30 de outubro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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