quinta-feira, 6 de março de 2014

John Cassavetes, gênio desconhecido



por Ythallo Rodrigues

A filmografia do cineasta estadunidense John Cassavetes se resume a doze filmes. Entre os anos de 1957 e 1986 (quase trinta anos), este mestre da cinematografia dos Estados Unidos, realizou sua pequena-grande obra.

Para os cinéfilos mais desavisados, a chance mais comum de lembrar do cineasta e ator Cassavetes é ao pensarem no personagem Guy Woodhouse — marido de Rosemary (Mia Farrow), do sinistro O bebê de Rosemary (Rosemary's baby), 1968, de Roman Polanski.

Pois bem, o nova-iorquino John Cassavetes viveu parte de seus 59 anos dedicados ao cinema. Considerado o mestre maior do cinema independente dos Estados Unidos (contraponto importante à indústria cinematográfica local, que desde meados da década de 1950 vinha conhecendo a decadência dos grandes estúdios), este cinema encontra em Cassavetes e outros cineastas estadunidenses desse período a possibilidade de dialogar com os "Cinemas Novos", que pipocavam por toda parte do mundo, e principalmente a possibilidade de produzir um cinema livre dos ditames dos estúdios.

Seu primeiro filme é uma obra-prima. Sombras (Shadows) começa a ser filmado em 1957, tendo sua versão final apresentada apenas em 1959. Uma câmera que passeia ao som do jazz, por entre personagens, criando uma mise en scène aparentemente aberta, no entanto muito bem pensada para que os atores improvisassem. Graças ao "sucesso" por tal investida (o filme foi muito bem recebido em Veneza, levando o Prêmio da Crítica), Cassavetes filmará seus dois próximos filmes nos estúdios.

A canção da esperança (Too late blues), de 1961, e Minha esperança é você (A child is waiting), de 1963, são obras que marcam o racha definitivo entre o cineasta e os grandes estúdios. A partir deles Cassavetes só filmaria de forma independente, com equipe e elenco repletos de amigos e familiares.

Em 1968, com o filme Faces, o cineasta volta de forma brilhante a ensaiar sua obra, trazendo mais uma vez espaço para a improvisação da câmera e das atuações, o que pulsará intensamente em seu filme mais conhecido desse período, Maridos (Husbands), de 1970, em que ao lado de Ben Gazarra e Peter Falk, o próprio Cassavetes atua de forma brilhante.

Em todos os seus filmes posteriores (Assim falou o amor, 1971; Uma mulher sob influência, 1974; A morte de um bookmaker chinês, 1976; Noite de estreia, 1977; Glória, 1980; Amantes, 1984; e Um grande problema, 1986) todas essas características citadas acima se farão presentes. Um aspecto muito importante a ser somado a todos estes já elencados até aqui, é a presença fundamental da atriz Gena Rowlands (esposa do cineasta), que protagonizou seis dos seus doze longas-metragens.

John Cassavetes, um gênio desconhecido, do que viria a ser o grande e potente cinema da contemporaneidade, justamente um cinema que se produz à margem, quase na fronteira do esquecimento.
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Ythallo Rodrigues é cineasta, poeta, integrante do Blog O Berro e da Filmes de Alvenaria.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 07, de 23 de outubro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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