terça-feira, 21 de janeiro de 2014

'O Poderoso Chefão 2' (F. F. Coppola)



Grifo nosso # 72

O Poderoso Chefão 2 (The Godfather: Part 2, Francis Ford Coppola, 1974)

"'Mantenha os seus amigos por perto, mas os seus inimigos ainda mais perto'. O tempo e mais dois filmes destacariam o desespero e niilismo da saga de O poderoso chefão. Esta continuação do original marcante de 1972 é uma parte essencial, 'assombrada', como queria o diretor e roteirista Francis Ford Coppola, 'pelo espectro' do primeiro filme. Não deixa de ser irônico, considerando-se que Coppola quase foi demitido das filmagens do original — e estava tão preocupado com a sua situação financeira que ficou trancado em um quarto de hotel preparando o roteiro de O Grande Gatsby quando O poderoso chefão estreou. Depois do enorme sucesso do filme, a Paramount queria tanto uma continuação que lhe fizeram uma oferta irrecusável: além de receber uma boa participação nos lucros, também teria controle artístico completo.

O poderoso chefão 2 ganhou seis estatuetas do Oscar — inclusive o único prêmio de Melhor Filme, jamais concedido a uma continuação — e é mais sombrio, mais profundo e possivelmente ainda mais envolvente em sua elaboração de como a corrupção gerada pelo poder resulta em uma completa decadência moral. As cenas, os padrões e os temas refletem deliberadamente o original, mas a parte 2 é mais triste e sentida em uma escala muito maior, com seu entrelaçamento complexo de períodos de tempo e os paralelos e contrastes entre os dois Corleones, Vito (Robert De Niro) e Michael (Al Pacino). Dessa vez apresentando uma visão claramente negativa sobre a Máfia, Coppola explora as duas gerações conforme Michael ascende em termos de poder e controle e afunda em um círculo de melancolia, crueldade e traição.

As celebrações da família são novamente centrais: o filme começa nos anos 50, na suntuosa festa na casa de campo em Lake Tahoe de Michael e Kay (Diane Keaton) para comemorar a crisma de seu filho Anthony. Aprendemos que o grande plano de legitimar o negócio da família Corleone prossegue, e Michael agora gerencia seus interesses criminosos indo de Nevada a Cuba. Michael está abalado por problemas em casa, pela vigilância por parte do governo, bem como pelas ameaças apresentadas tanto por rivais quanto por parceiros — inclusive o altamente influente diretor do Actor's Studio, Lee Strasberg, que faz a sua estreia no cinema aos 71 anos, como Hyman Roth — que vêem com maus olhos o expansionismo de Michael.

Entrelaçada com o progresso de Michael, temos a história (tonalizada em sépia) de seu pai, batizado como Vito Andolini, que acompanhamos na virada do século em Corleone, na Sicília, onde uma vendeta sangrenta faz dele um órfão, um emigrante fugitivo e depois um perplexo detento na ilha de Ellis. Anos mais tarde, no Lower East Side de Nova York, o silencioso Vito ressurge como um balconista de armazém e homem de família — De Niro, recém-saído de Caminhos perigosos, de Martin Scorsese (1973), brilhantemente recriando a caracterização de Brando no primeiro filme como um jovem e ganhando o seu primeiro Oscar. Ele observa o poder que o temido chefão local possui e secretamente, sem remorsos, se apodera dele. Respeitado e próspero, retorna a Corleone para ajustar contas antigas enquanto prepara uma herança para seus filhos.

Também este filme está cheio de personagens elaboradamente compostos e grandes sequências — a festa religiosa no bairro de Little Italy, a revolução do Ano Novo em Havana. Contudo, é a última cena de O poderoso chefão 2 que continua nos impressionando, com a sua imagem cortante de Michael, os seus pecados acumulados para além de qualquer redenção, sozinho."
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Estados Unidos (Paramount, Coppola) 200 minutos. Technicolor; idiomas: inglês / italiano; direção: Francis Ford Coppola; produção: Francis Ford Coppola, Gray Frederickson, Fred Roos; roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo, adaptado do livro de Mario Puzo; fotografiaGordon Willis; músicaCarmine Coppola, C. Curet Alonso, Nino Rota; elenco: Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, Robert De Niro, John Cazale, Talia Shire, Lee Strasberg, Michael V. Gazzo, G. D. Spradlin, Richard Bright, Gastone Moschin, Tom Rosqui, Bruno Kirby, Frank Sivero, Francesca De Sapio; Oscar: Francis Ford Coppola, Gray Frederickson, Fred Roos (melhor filme), Francis Ford Coppola (diretor), Francis Ford Coppola, Mario Puzo (roteiro), Robert De Niro (ator coadjuvante), Dean Tavoularis, Angelo P. Graham, George R. Nelson (direção de arte), Nino Rota, Carmine Coppola (música); Indicação ao Oscar: Al Pacino (ator), Michael V. Gazzo (ator coadjuvante), Lee Strasberg (ator coadjuvante), Talia Shire (atriz coadjuvante), Theadora Van Runkle (figurino).
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Angela Errigo, no livro 1001 filmes para ver antes de morrer (Editora Sextante, 2008).

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