sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Cinema coreano



por Ibertson Medeiros

O cinema abre portas, caminhos intrincados para quem deseja desvendá-los. Basta ter a ousadia e se preparar para algo novo que o restante vem de encontro a nossos sentidos. Em vários formatos, provenientes de vários países diferentes, os filmes sempre têm algo a nos ensinar, a nos marcar de certa forma.

O motivo desse texto introdutório é comentar acerca de um dos grandes expoentes do Cinema Asiático atualmente: o cinema advindo da Coreia do Sul. Grandes cineastas há poucos anos desconhecidos, hoje são sondados para comandar produções nos Estados Unidos, como é o caso de Ji-woon Kim, que trouxe Arnold Schwarzenegger de volta aos filmes de ação com O Último Desafio (The Last Stand); Chan-wook Park, diretor consagrado que criou o macabro Segredos de Sangue (Stoker); e Joon-ho Bong, criador de obras marcantes, que em breve terá seu novo filme em estreia, a ficção-científica Expresso do Amanhã (Snowpiercer).

O que o cinema coreano tem de tão interessante, tão diferente, que chama a atenção de cinéfilos e cineastas mundo afora? Como surgiu esse interesse? Seu charme é tocar em assuntos controversos, como a vingança brutal que um ser humano pode causar a outrem, mensagens anti-bélicas devido ao eterno conflito entre Norte e sul-coreanos, a relação entre a fé e o desejo carnal, dentre outros temas espinhosos.

Além disso, geralmente possuem estética impecável, atuações magistrais, desvirtuamento de gêneros, personagens complexos, roteiros criativos, atraindo atenção de empresários estrangeiros do ramo a fim de negociar os polêmicos remakes.

Quentin Tarantino, figura ilustre e cultuada por público e crítica, foi um dos grandes responsáveis pela divulgação e por abrir os olhos de cinéfilos mundo afora para o boom sul-coreano que viria a surgir. Em 2004, quando o diretor presidia o Festival de Cannes, ninguém estava preparado para aquele visceral e enigmático filme dirigido por Chan-wook Park, que deixou boquiabertos todos que ali estavam: Oldboy venceu o Grande Prêmio do Júri naquele ano, agraciado e ovacionado por Tarantino em sua exibição.

A partir daí os olhos do mundo cinéfilo voltavam-se para aquele diretor e seu cinema peculiar. Chan-wook Park, antes de ser elogiado por essa produção, antes já era um diretor de mão firme. Oldboy (Que vai receber um remake americano ainda esse ano, dirigido por Spike Lee) na verdade é um segundo de uma trilogia intitulada “Trilogia da Vingança”, em que a completam Sr. Vingança (Sympathy for Mr. Vengeance, em seu título inglês) e Lady Vingança (Lady Vengeance), igualmente brutais e maravilhosos. Além deles, Park comandou em 2000 o excelente Zona de Risco (Joint Security Area), com uma mensagem sobre amizade, intolerância e anti-belicismo muito bela. Sempre versátil, o diretor continuou seu caminho adentrando temas curiosos, como o romance surreal I’m a Cyborg, But That’s Ok, o polêmico filme de vampiros Sede de Sangue (Thirst) e a já citada estreia americana com Segredos de Sangue.

No entanto, não devemos nos ater apenas a Park, pois o cinema coreano tem muito a oferecer. O que falar do humor negro de Barking Dogs Never Bite; do intrigante filme sobre serial killers, Memórias de um Assassino; da procura incessante de uma mãe por justiça em Mother: A busca pela verdade; e do crítico e divertido O Hospedeiro, todos dirigidos por Joon-ho Bong? O thriller psicológico A tale of Two Sisters, o intenso I Saw the Devil, o faroeste sul-coreano The Good, the Bad and the Weird (influenciado por Sergio Leone) e o noir O Gosto da Vingança (A bittersweet life), esses dirigidos por Ji-woon Kim?

Além deles, outros diretores merecem destaque como Kim-ki Duk, experiente realizador de obras fortes e contemplativas como Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera, Casa Vazia, Time: O Amor contra a passagem do tempo, dentre vários outros, Chang-dong Lee, responsável por dramas intimistas tais quais Peppermint Candy, Oasis, Secret Sunshine e Poesia, além de novos como Hong-jin Na, de O Caçador (The Chaser) e The Yellow Sea.

Portanto, não se pode negar a influência que os filmes coreanos têm no cinema contemporâneo. Executivos americanos da área cinematográfica cada vez mais procuram obter sucesso à custa de obras vindas do Oriente, traduzindo para o inglês, o que na maioria das vezes parece desnecessário ou bem aquém à qualidade do original. Se procura algo diferente do habitual e adentrar um mundo novo e vasto de uma cultura peculiar, vá sem medo. Abra as portas do cinema coreano e divirta-se.
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Ibertson Medeiros é formado em Direito pela URCA, trabalha na Caixa Econômica Federal e possui um fascínio por cinema. Trata o cinema não como uma simples diversão escapista, mas como a verdadeira arte que é. Já possuiu dois blogs sobre cinema (o extinto Cinema para Todos e o paralisado Cinema Lato Sensu).

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 03, de 25 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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