quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

'Acossado', de Jean-Luc Godard

por Samuel Macêdo



“Eu queria saber o que há atrás do seu rosto”

Conhecido por ser um dos primeiros filmes da Nouvelle Vague, Acossado marca também a estreia de Jean Luc-Godard como diretor de longa-metragem — o filme de 1959 é roteirizado por outro grande nome da nova onda cinematográfica, François Truffaut. A ousadia e o deboche que acompanharão a longa carreira de Godard despontam nessa história protagonizada pelos atores Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg. A constante movimentação de câmeras filmando a Paris em branco e preto criam a superfície da trama.

Cenas quase documentais aliadas ao cotidiano do inusitado casal tornam o filme inovador, closes detalhistas e cortes inesperados, demonstram um novo modo de fazer cinema. O personagem Michel, após roubar um carro e assassinar um policial, encontra a jovem Patrícia, emigrante estadunidense, que vende jornais pelo centro de Paris.  «Gentil doce Patrícia», embora a frase tenha tendência ao romantismo, é seguida de insultos, dirigidos a essa mesma mulher, que não se afeta pela constante contradição do seu companheiro, dando uma ou outra resignificação a seu sentimento: «Vou pôr tudo no meu livro», diz Patrícia, tranquilamente.

Os personagens, embora vivenciem experiências diferentes na relação, de alguma forma estão completamente dispersos naquele lugar, que não os acolhe. «Entre a tristeza e o nada, eu escolho a tristeza», esse trecho e outros diálogos do filme nos trazem questões próprias do existencialismo, uma postura própria do diretor, inclusive, o tempo e sua efemeridade cobram dos personagens uma vida intensa.  Michel, apesar de ser delinquente ganha simpatia do espectador, pois rompe com a ordem social vigente, desejando a Itália que o libertará do cárcere.

A iluminação, a movimentação constante e os desejos de fuga vão construindo a aura de Acossado, que além de ser considerado um símbolo da produção cinematográfica francesa da época, comprova que é possível se fazer cinema de uma forma economicamente barata, em contraposição às grandes produções holywoodianas. A partir dessa nova abordagem, muitos cinemas novos começaram a surgir pelo mundo, tendo como intenção simplificar o modo de fazer filmes, atenuando o caráter de impulsão e originalidade.
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Samuel Macêdo cursa Comunicação Social (Jornalismo) na UFCA e constrói coletivamente alguns projetos de extensão, como o GEMI (Grupo de Estudos de Gênero e Mídia) e o Cine Arte Clube (projeto itinerante que exibe curtas e documentários). Curte assuntos ligados a cinema, cultura, história e gênero.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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