segunda-feira, 21 de março de 2011

A entrevista que não fizemos com Elomar

Em riba da bucha, soubemos de umas cantorias que iria ter de um cabra lá das bandas da Bahia, um criador de cabras, bodes e carneiros, chamado Elomar — e também conhecido com um dos maiores cantadores do Brasil. Quando vimos a divulgação, nos preparamo logo para ir, porque esse tipo de moda demora a vir por essas bandas.

Como estamos retomando as atividades d’O Berro, resolvemos buscar uma entrevista com essa relíquia artística, como fazíamos antigamente.

Enquanto nos preparávamos, Ythallo foi logo dizendo: “cuidado, que o homem é brabo!”. Como na nossa juventude nunca tivemos medo de cara feia, resolvemos encarar mais essa. Preparamos nosso intelecto e nossos equipamentos e rumamos para o local da apresentação.

Nossa proposta de entrevista foi bem aceita pelos produtores e articuladores do evento, mas havia um aviso: "há 15 anos Elomar decidiu não dar mais entrevistas e nem tirar fotos para a imprensa". Motivo: ele acredita que a imprensa "deturpa a imagem do artista em detrimento da obra..." (ahn?!) e que, se ele aceitasse dar essa entrevista, poderíamos nos considerar heróis e ministrar um workshop de como conseguir uma entrevista com Elomar.

Talvez se não soubéssemos que ele tinha decidido morar numa fazenda de terras áridas e criar bodes e carneiros, afastando-se do que muitos de nós consideramos civilização moderna, renunciando a todos os manjares que a música poderia lhe oferecer, teríamos ficado bem indignados.

Apesar de profundamente abalados, não desistimos de cara. Resolvemos arriscar algo para depois da apresentação que começou logo com aviso desumano e cruel, em meio a uma penumbra fria e inquietante: “o espetáculo não poderá ser fotografado nem ser feito qualquer registro audiovisual. Aquele que insistir será convidado a repassar os arquivos sob pena de ferir os direitos de imagem”. Frio na espinha e equipamento desligado.

Enquanto alimentávamos a esperança de um bate-papo ao final do show, o espetáculo começa, já com as luzes acesas, e após uma entrada cautelosa de um senhor, cujas marcas do tempo e do semiárido baiano capricharam, desenhando sua atual fisionomia, assim como capricham em todos aqueles que se demoram por aqui nesta terra.

Elomar caprichou também no seu performático stand up e nas tiradas de tempo na produção. A temperatura do espetáculo caiu bruscamente quando ele ordenou que se desligasse o ar condicionado: “ou o público tem conforto, ou eu canto”. Arrochou o cinto e ameaçou ir embora. Foi nessa hora que o nosso "inconsciente coletivo" desistiu de vez da entrevista.

Não bastasse, nosso cantador arrasou com algumas almas quando desceu a madeira no papel onde deveria estar escrito com caneta piloto o repertório: “usaram uma tinta da cor do papel” e apertou bem os olhos na busca de enxergar o que estava escrito e comparou o feito com uma obra que havia visitado antigamente num museu, onde um artista, num quadro preto, pintado com tinta preta, intitulou a referida criação como “Gato Preto no Escuro”.

Certo, depois dessa, foi a vez do nosso consciente coletivo também desistir da entrevista.
Ah, o show... o show foi primoroso!

Mas, se você quer realmente saber como o show foi pode visitar esse blog aqui:
http://oluminar.blogspot.com/

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Hudson Jorge / Reginaldo Farias

2 comentários:

  1. Sensacional o texto meninos adorei suas impressões por isso sou ã de vcs. bjos.

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  2. Otima materia, Hudson... Poderia ter pego fotos no meu blog.... Eu "conversei" com ele. O cara né tão chato não, ele ate que é educado quando nega a entrevista.... hehehe.... Mas foi maravilhoso a apresentação. Parabens pelo blog.

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