quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Diante do meu amor pelo cinema



por Samuel Macêdo do Nascimento

No início de 2011 comecei a frequentar, assiduamente, as sessões do Cine Café que até hoje são organizadas e mediadas por Elvis Pinheiro. A partir dessa experiência, passo a me relacionar com o cinema de uma forma mais crítica. Um tempo depois, ano 2012, eu e Adriana Botelho (amiga-mãe), criamos e desenvolvemos o projeto Cine Arte Clube, que exibia curtas na região do Cariri, promovendo debates e seminários sobre as temáticas do audiovisual. Convidamos Ythallo Rodrigues e Elvis Pinheiro, futuros companheiros de grupo, para participarem das primeiras ações do projeto.

No mesmo dia da exibição do filme de Ythallo, Elvis me contou sobre a ideia de criar um grupo de estudos de cinema. Naquela noite passamos em algumas salas da então Universidade Federal do Ceará, campus do Cariri, convidando pessoas para aparecerem na reunião de estreia do grupo. Quarta-feira foi o dia escolhido para os encontros e na época eu cursava, na graduação, uma disciplina de Cinema Brasileiro que acontecia justamente nas quartas e por alguns meses fiquei alternando entre aulas e reuniões. Durante algum tempo não conseguia encontrar maneiras de conexões espontâneas com as pessoas que estavam no Grupo de Estudos, por uma questão óbvia: pessoas diferentes, de idades e formações distintas.

As relações começaram a ficar intensas e quando começamos a estudar livros do campo dos estudos de cinema, me vi obrigado a assumir uma postura mais disciplinada. Era necessário assumir um compromisso. Esse momento foi um divisor, fora e dentro do grupo. Estabelecido, o Grupo de Estudos Sétima de Cinema passa a discutir obras de teóricos importantes e isso fortaleceu não apenas a nossa observação enquanto espectadores, mas como pessoas que podiam pensar e escrever sobre cinema de forma fundamentada.

Os vínculos que até então eram sementes, brotavam e tornavam-se cada vez mais fortes. Nesses cinco anos aprendi, e continuo aprendendo, a lidar com as diferenças. Passei a confiar em pessoas estranhas, desobedecendo ao conselho mais primordial da infância. Vivi emoções diferentes, incluindo as surpresas das coincidências. Dois anos após ter sido apresentado ao teórico Robert Stam, dentro do Grupo, eu faria um curso presencial com o professor Stam, cara a cara.

Não sei como descrever o meu quarto porque estou dentro dele e estando dentro dele não posso hierarquizar sentimentos, lembranças, cores, cenas e experiências. Tenho a mesma sensação quando ouso dizer o que é o Grupo de Cinema de Estudos Sétima. Transpor sensações íntimas para o campo da linguagem é um trabalho árduo porque quase nunca conseguimos contemplar tantas histórias e sentimentos.

O meu amor pelo cinema foi mediado, como um namoro antigo que acontecia na sala da casa, geralmente tutelado pela presença de familiares. No nosso caso eram muitos olhares dentro de um espaço onde aconteciam reuniões, debates e conflitos que fortaleceram o nosso saber, não apenas sobre o cinema, mas sobre pessoas. Todos os integrantes do Grupo de Estudos compartilharam seus dons e isso jamais poderá ser apagado. Apesar de ser apenas cinco anos de história, tenho a impressão de que O Tempo, senhor de todas as coisas, alargou o tecido da nossa experiência.
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Samuel Macêdo do Nascimento é formado em Comunicação Social (Jornalismo), Mestre em Cultura e Sociedade e membro do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 40, de maio de 2017), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

Textos recentes da Revista Sétima postados no Blog O Berro:
- O absurdo nosso de cada dia: as mulheres na Mostra 21 de 2017
- Meu romance com o cinema ou não era cilada, era amor
- Uma história: aniversário dos cinco anos do Grupo de Estudos Sétima de Cinema
- Longe deste insensato mundo
- Relato de viagem durante a IX Janela Internacional de Cinema do Recife
- ‘O Leitor’, filme de Stephen Daldry (2008): resenha crítica
- Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Samuel Macêdo do Nascimento
- Na escuridão, te dedico. Sobre O Paciente Inglês

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