sábado, 6 de janeiro de 2018

As antigas Festas de Reis em Juazeiro do Norte, por Senhorzinho Ribeiro



Abaixo compartilhamos um texto do livro Juazeiro em corpo e alma, de Senhorzinho Ribeiro, publicado em 1992. O capítulo, intitulado “Festa de Reis em Juazeiro”, apresenta lembranças do autor relacionadas às antigas comemorações da Festa de Reis em Juazeiro do Norte, ainda no tempo do Padre Cícero Romão Batista.


Festa de Reis em Juazeiro

“A maior festa de Juazeiro, antigamente, acontecia no Dia de Reis. Na véspera, no local da hoje Praça Padre Cícero, colocavam bancas de jogo de toda espécie. Nessa época, era permitido se jogar durante as festas de fim de ano, como Dia de Reis, Natal, no Ano Novo, etc. Passada aquela fase de festa, não se jogava mais. Era proibido.

Durante a Festa de Reis, principalmente, comia-se muito arroz doce, canjica, bolo de milho, pé-de-moleque, bolo de batata, doce seco, etc. Eram comidas típicas. O povo amanhecia o dia nas ruas. O local das festas, que era um quadro muito grande, por isso chamavam de Quadro Grande, permanecia enfeitado de palha de palmeira, de pés de bananeira, formando uma espécie de ‘quinta’, rodeando o quadro.

No centro do quadro se fazia um trono, e nele se colocava uma menina loura de mais ou menos cinco anos de idade, ou seis mesmo, em traje de rainha, a fim de ser disputada pelos reis dos negros e dos caboclos. Eram dois reisados, os chamados ‘quilambos’, a dança antiga dos negros.

O juazeirense Cícero Boneca era o rei dos negros e Olímpio, seu irmão, era o rei dos caboclos. De espadas em punho, ambos disputavam a posse da rainha. Era uma contenda bonita. Geralmente durava o dia todo e entrava pela boquinha da noite. Quando acontecia da luta terminar cedo, eles tentavam vender a rainha às pessoas ricas e de destaque. Quem primeiro comprava a rainha era o Cel. Antônio Fernandes, um usineiro de Alagoas.

Antes de fixar residência aqui em Juazeiro, o Cel. Antônio Fernandes não era amigo do Padre Cícero. Não acreditava no Padre Cícero. Diziam que ele era contra o Padre Cícero. Mas depois que fixou residência definitiva no sobrado que foi de propriedade do Sr. José André, passou a ser um dos maiores devotos do Padre Cícero. Quando para aqui veio, já era casado. Com o falecimento da primeira mulher, casou-se pela segunda vez com uma moça de nome Sinhá. Do primeiro casamento teve mais de um filho, e do segundo somente um , de nome Antônio. O Cel. Antônio Fernandes construiu o próprio túmulo, em vida. Acha-se sepultado nos fundos da Igreja de Nossa Senhora do Socorro.

Depois da venda da rainha os reis saíam dançando pelas ruas, passavam pelas casas do povo que apreciava aquela brincadeira, e nisso, a brincadeira se estendia até a noite.

As lapinhas também eram muito animadas, principalmente as organizadas pelas Beatas Bichinha e Angélica, e também por Antônia Morena. As queimações destas lapinhas era uma verdadeira festa. Eram queimadas uma por uma até terminar.

Nesse tempo não tínhamos energia elétrica, mas os festejos eram comemorados à noite, à luz dos lampiões.

Como também não existiam ainda refrigerantes, as famílias se contentavam com o aluá de abacaxi fabricado por Pedro Coutinho e com o caldo de cana de seu Chaves, temperado com bicarbonato.

Uma família que morava na Rua Padre Cícero, juntava-se a um barbeiro de nome Manoel Passos, que morava na antiga Rua São João, hoje Alencar Peixoto, e durante as Festas de Reis, preparavam uma passeata composta de cidadãos vestidos de branco e formavam um ‘pé de dinheiro’, uma espécie de árvore de Natal, sem folha. No local das folhas eram colocadas notas bem novinhas de 10 mil-réis. Convidavam a Banda de Música e desciam em desfile, até a casa do Padre Cícero para fazer-lhe presente do ‘pé de dinheiro’, Quando lá chegavam, o Padre abençoava a todos e desejava-lhes um Ano-Novo de paz e de saúde.

Assim eram as Festas de Reis, Natal, etc., em Juazeiro do Norte. Eram bem diferentes de hoje. Quando das Festas de Reis de antigamente, não se trabalhava. Era dia santo. A roupa branca simbolizava a referida festa. Até pouco tempo atrás, existia uma festa de clube, que depois se tornou tradicional. Era a ‘Festa Branca’ do Treze, salvo engano, criação e organização do saudoso Mascote. Essa festa realizava-se aos dias seis de janeiro de cada ano, e só era permitido entrar no clube quem tivesse trajado de branco, tanto homem como mulher. Hoje só restam recordações de um passado que não volta mais.”
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Senhorzinho Ribeiro, no livro Juazeiro em Corpo e Alma (Gráfica Royal, 1992).

Outro texto do livro Juazeiro em Corpo e Alma, de Senhorzinho Ribeiro, no blog O Berro:
- Os primeiros cinemas de Juazeiro do Norte, por Senhorzinho Ribeiro

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