Conversaram por algumas horas e lembraram de bons momentos da não tão distante juventude, das lutas, das decepções recheadas de aprendizados, de fatos engraçados.
– Ah sim! bons tempos... você se lembra quando aquele nosso amigo tomou todas e deu aquele trabalhão? Justo ele que nunca tínhamos visto bêbado? haha
– Lembro sim! E daquela sua ex-namorada, gente boa, minha amiga. Casou com um vaqueiro. Tem dois filhos.
– Foi um namoro relâmpago. Mas... será que aquilo foi namoro?
– Ué, foi. Acho que foi. Ela disse que vocês oficializaram verbalmente, então foi, ora pois...
– Se foi...
– Hoje a vida é boa, mas é tão diferente, às vezes tão estranha. Fico me perguntando se já aceitei essa dinâmica de compromissos, de horários, de contas a pagar e de ter que andar na linha o tempo todo.
– haha! E eu tô tentando ainda aceitar que meu corpo precisa de mais cuidados, porque senão daqui a alguns dias já não vai mais acompanhar o meu pensamento. Ontem mesmo tive dor “nos quarto” quando me levantei do chão ao sair de uma roda de conversa.
– Pois, eu tô bem! Mais tarde tenho aula de dança! É muito bom! Deveria ir!
– Vish! Só se fosse pra eu sair de lá direto pra um setor de traumatologia...
Riram um pouco e, um pouco mais sérios, olharam a linha do horizonte, lá onde o céu toca o mar. Tinham a esperança de que ainda a vida reserva muitas surpresas, mas no fundo, no fundo, tinham medo de ver como o tempo pode ser rapidamente implacável com as amizades, com as profissões, com os sonhos e, sobretudo, com a estrutura corpórea.
De repente, aparece um beija-flor que faz uma firulinha embaixo do guarda sol e some.
– Vou dar um mergulho!
Levantou-se e caminhou em direção ao mar. Cada passo parecia marcar algum pensamento. Nem lenta, nem rápida. Apenas caminhou e entrou na água como quem fizesse parte dela e mergulhou. Encantou-se nas ondas que faziam gracejos de espuma na areia e nunca mais voltou.
Fotografia de fernando-eguia-mx retirada do site deviantart.com
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