terça-feira, 29 de julho de 2014
A influência do Neorrealismo Italiano no Novo Cinema Iraniano
por Wendell Borges
Desde que Abbas Kiarostami ganhou fama internacional com a indicação de seu Através das Oliveiras à Palma de Ouro, em Cannes no ano de 1994, vindo a conquistar três anos depois o prêmio principal de Cannes com Gosto de Cereja, o cinema iraniano vem despontando como um dos mais belos, líricos e fascinantes do mundo cinematográfico. Mesmo sofrendo com o regime opressor e de tortura do recém-deposto presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, os cineastas iranianos continuam encantando os espectadores com o lirismo de suas obras.
Um dos fatores inegáveis que precisamos atentar com relação ao chamado novo cinema iraniano, que vai do final da década de 80 até os tempos atuais, é a influência que estes cineastas receberam do neorrealismo italiano, movimento cinematográfico que deixou um importante legado dentro da história do cinema mundial, no qual os diretores italianos expressavam com simplicidade o retrato de uma Itália buscando reerguer-se após as agruras da Segunda Guerra Mundial.
Esta influência é notada principalmente no uso de atores não-profissionais, nas abordagens humanistas e no uso de cenários in loco, criando de maneira intimista e realista retratos sociais de fatos corriqueiros vividos por pessoas simples do Irã.
Além de Abbas Kiarostami surgiram outros grandes cineastas, como Asghar Farhadi, Jafar Panahi e Mohsen Makhmalbaf, que podem ser apontados como os responsáveis pela revolução cinematográfica do Irã. Filmes como Close-Up (Kiarostami, 1990), O Balão Branco (Panahi, 1995), A Caminho de Kandahar (Makhmalbaf, 2001) e o recentemente vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, A Separação de Asghar Farhadi, além dos outros já citados filmes de Abbas Kiarostami, são exemplos que transmitem esta singeleza e a beleza que o cinema iraniano consegue criar a partir de situações simples e corriqueiras da vida.
Outro filme que merece destaque por ser uma fonte clara de homenagem ao neorrealismo italiano, mais especificamente à obra Ladrões de Bicicleta (1948) de Vittorio De Sica, é o filme Filhos do Paraíso (1997) de Majid Majidi, no qual ele utiliza ruas labirínticas semelhantes às vistas no filme de De Sica, além de buscar captar os olhares infantis das crianças fazendo sua crítica social no momento em que mostra Pai e Filho montados em uma bicicleta visitando a parte nobre de Teerã, onde são friamente atendidos através da voz mecânica que sai dos interfones das mansões.
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog arquivoxdecinema desde 2008.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 12, de 27 de novembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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