sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

'Os Pássaros' ('The Birds'), de Alfred Hitchcock – 50 anos depois



por Ythallo Rodrigues

Escrever sobre filmes dos quais gosto muito, sempre me faz sofrer um pouco. A primeira coisa em que penso é que o texto ficará muito ruim (possibilidade possível), a segunda é que será impossível dar conta de aspectos gerais, específicos e impressões fortemente pessoais que pairem sobre todo o turbilhão de imagens e sons que acabaram de passar à minha frente.

Mas estou aqui nesse lugar (deveras difícil pra mim), para falar de uma das grandes obras-primas da história do cinema – resguardo tal elogio pensando inclusive em seus defeitos. Os pássaros, de Alfred Hitchcock, apresenta-nos um enredo inicial muito simples, um casal que se conhece numa loja de pássaros, flertam um com o outro, e daí em diante Melanie Daniels (Tippi Hedren) resolve seguir o pretendente, Mitch Brenner (Rod Taylor), até sua cidade, com o pretexto de entregar um presente a uma garotinha que sequer conhece, irmã de Mitch. Todo esse enredo inicial acontece em São Francisco. As coisas, no entanto, começam a se complexificar quando Melanie chega a pequenina Bodega Bay e sofre o primeiro ataque de um pássaro, mais especificamente, uma gaivota.

O enredo daqui por diante perde seu possível flerte com qualquer romantismo e passa a se concentrar em outra categoria, o horror. Sentir medo de algo absolutamente incontrolável. E Hitchcock sabiamente insere no seu “exército” de pássaros, apenas aves aparentemente inofensivas ao homem, o que intensifica ainda mais o pânico que se estabelece. Um filme que poderia facilmente cair no velho clichê, da ‘revolta da natureza’ contra os ‘homens maus’, adquire uma potência na sua simplicidade narrativa que vai muito além de qualquer clichê e acaba por se tornar um filme sobre a revelação dos nossos medos diante do desconhecido ou pior, do que achávamos que conhecíamos, e que no entanto se rebela contra nós.

Curiosamente esse grande clássico do mestre Hitch não apresenta um final fechado, muito pelo contrário, abre para os personagens um mundo verdadeiramente desconhecido, em que eles seguirão seus rumos e vidas sem um destino pré-definido ou final feliz. No primeiro parágrafo, quando atribuí-lhe o meu elogio de obra-prima a este filme, poderia até soar como empolgação, no entanto só reitero aqui minha opinião e volto a reiterar quando lembro de cada imagem. 
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Ythallo Rodrigues é cineasta, poeta, integrante do Blog O Berro e da Filmes de Alvenaria.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 03, de 25 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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