segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Coração-travessia: quatro caririenses pegam a estrada para realizar filmes
Quatro caririenses, dentre eles um companheiro berrista, pegaram a estrada no último sábado (28 de dezembro), com a missão de trazer na bagagem muitas histórias e imagens que servirão de base para dois filmes: uma ficção e um documentário.
A ficção, Coração batente por debaixo de tudo, contará a história de quatro amigos que vivem em Juazeiro do Norte e viajam pelo Brasil com o desejo de entender a vida. Já o documentário, Coração-travessia – poetas na estrada, tentará perceber as relações entre a arte, a vida e a viagem, tendo como um dos motes a discussão sobre a produção e a apreciação da literatura brasileira atualmente, nos mais diversos recantos do país.
O quarteto, formado por Ythallo Rodrigues, Elandia Duarte, Harlon Homem e Daniel Batata, segue a viagem de carro, para percorrer estradas de 11 estados brasileiros, numa jornada que levará 20 dias. O projeto Coração-travessia está incluso na comunidade Catarse, que promove financiamentos coletivo dos mais variados projetos artístico-culturais.
Você pode conhecer detalhes do projeto e colaborar com essa empreitada clicando aqui. E pode conferir o diário de bordo da viagem clicando aqui. E confira o teaser do projeto do "road-movie caririense":
Coração-travessia:
Coração-travessia from Filmes de Alvenaria on Vimeo.
O mistério entrelaçado por um parentesco
por Kayammy Fechine
Tio Charlie vem visitar seus parentes na cidadezinha de Santa Rosa, mas sua sobrinha, também chamada de Charlie, começa a suspeitar que ele é o famoso assassino da viúva alegre, que saiu da Filadélfia para a Califórnia fugindo da Lei.
Segredos de Sangue (Stoker, de Park Chan-Wook, 2013)
Em pleno luto por causa da morte de seu pai, India (Mia Wasikowska) deve lidar com o novo comportamento agressivo de sua mãe (Nicole Kidman) e com a chegada inesperada de um tio que ela nem sabia que existia, Charlie (Matthew Goode). Este homem sombrio esconde as reais motivações de sua visita, enquanto seduz as duas mulheres da família.
Inicialmente a peça chave dessa comparação é o personagem do tio Charlie em A Sombra de uma dúvida, vivido pelo ator Charles Bates, e em Segredos de Sangue pelo ator Matthew Goode. O do Hitchcock é desconfiado, já o do Park Chan-Wook (ou Chan-Wook Park) é aquele personagem com muita carga misteriosa. Os dois chegam de viagem para visitar a irmã. No primeiro, uma família super bem estruturada e tradicional, já no segundo uma família destruída pela recente morte do patriarca compondo assim toda a trama em torno da Mãe Evelyn (Nicole Kidman) e da filha Mia (India Stoker).
O que dá vida às duas versões é a relação tio/sobrinha. No filme do Hitchcock a sobrinha tem o mesmo nome do tio, "Charlie", e é muito sorridente e apegada a ele, e tem uma relação de total empatia. Já na versão de Park, a sobrinha é uma personagem totalmente isolada e solitária. No decorrer das duas tramas o espectador vai descobrindo que esse visitante (Tio Charlie) esconde um segredo.
Os dois filmes podem ser definidos como thrillers (filmes de crime), com ótima carga de suspense. Considero o filme do Hitchcock com o roteiro mais rico e detalhado em relação ao filme de Chan-Wook, que possui uma fotografia belíssima e que torna ainda mais significativo o enredo. Chamo a atenção também para a montagem frenética que já é bem característica do diretor coreano, e que esse filme é o seu primeiro trabalho em Hollywood.
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Kayammy Fechine é designer autônomo e também já participou como ator em companhias de teatro do Cariri cearense. É vocalista da banda A Project to Chaos, precursora do Metalcore de Juazeiro do Norte, que atualmente está no início de uma nova roupagem. Para Kayammy, hoje o cinema é a arte mas sublime de todas, a arte que reinventa a vida como nenhuma outra.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 03, de 25 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
'Os Pássaros' ('The Birds'), de Alfred Hitchcock – 50 anos depois
por Ythallo Rodrigues
Mas estou aqui nesse lugar (deveras difícil pra mim), para falar de uma das grandes obras-primas da história do cinema – resguardo tal elogio pensando inclusive em seus defeitos. Os pássaros, de Alfred Hitchcock, apresenta-nos um enredo inicial muito simples, um casal que se conhece numa loja de pássaros, flertam um com o outro, e daí em diante Melanie Daniels (Tippi Hedren) resolve seguir o pretendente, Mitch Brenner (Rod Taylor), até sua cidade, com o pretexto de entregar um presente a uma garotinha que sequer conhece, irmã de Mitch. Todo esse enredo inicial acontece em São Francisco. As coisas, no entanto, começam a se complexificar quando Melanie chega a pequenina Bodega Bay e sofre o primeiro ataque de um pássaro, mais especificamente, uma gaivota.
O enredo daqui por diante perde seu possível flerte com qualquer romantismo e passa a se concentrar em outra categoria, o horror. Sentir medo de algo absolutamente incontrolável. E Hitchcock sabiamente insere no seu “exército” de pássaros, apenas aves aparentemente inofensivas ao homem, o que intensifica ainda mais o pânico que se estabelece. Um filme que poderia facilmente cair no velho clichê, da ‘revolta da natureza’ contra os ‘homens maus’, adquire uma potência na sua simplicidade narrativa que vai muito além de qualquer clichê e acaba por se tornar um filme sobre a revelação dos nossos medos diante do desconhecido ou pior, do que achávamos que conhecíamos, e que no entanto se rebela contra nós.
Curiosamente esse grande clássico do mestre Hitch não apresenta um final fechado, muito pelo contrário, abre para os personagens um mundo verdadeiramente desconhecido, em que eles seguirão seus rumos e vidas sem um destino pré-definido ou final feliz. No primeiro parágrafo, quando atribuí-lhe o meu elogio de obra-prima a este filme, poderia até soar como empolgação, no entanto só reitero aqui minha opinião e volto a reiterar quando lembro de cada imagem.
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Ythallo Rodrigues é cineasta, poeta, integrante do Blog O Berro e da Filmes de Alvenaria.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 03, de 25 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Alfred Hitchcock
por Elvis Pinheiro
Um grande criador são suas criações. Sem rótulos, sem uma grife que diga que o tal é o tal e eu tenha que engolir sem acreditar nessa informação. Ele é o Mestre pela sua originalidade, por estabelecer modos de operar com a câmera, por desenvolver toda uma linguagem específica de um gênero considerado menor dentro do Cinema.
Ele foi homem e personagem ao mesmo tempo. Inseria-se em seus filmes em rápidas aparições e tornou sua figura gorda e com pouco cabelo uma imagem caricaturada de si, meio como fizeram Salvador Dalí com seu bigode e Woody Allen com seus óculos quadrados.
Hitchcock me conquistou pela sofisticação perversa, pelo charme com humor, pela sexualidade que emana de suas histórias, de seus personagens. O olhar do psicopata por um pequeno buraco, onde observa a futura vítima, tomando banho no chuveiro; os dois amigos, evidentemente homossexuais, tentando esconder o corpo de um terceiro enquanto conversam com os pais e namorada do morto; a Natureza se rebelando sem aviso contra a humanidade; o olhar de um fotógrafo para a vida particular de seus vizinhos (Janela Indiscreta).
Com Hitchcock descobrimos o prazer em ver. O voyeurismo é descarado e cúmplice. Um cinema que não envelhece por conta do desenho clássico e por trabalhar com os aspectos mais primitivos e particulares da alma humana. O espanto da criança continua ressoando no adulto que fica cada vez mais fã e reafirmador da genialidade do Mestre. Mestre, sim senhor.
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Elvis Pinheiro é editor da Revista Sétima e professor. Desde 2003 é Mediador de Cinema no Cariri cearense.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 03, de 25 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
'Doméstica', filme de Gabriel Mascaro, em exibição no CCBNB Cariri
8ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul
Exibição do filme Doméstica (Dir. Gabriel Mascaro, Brasil, 2012, 75 minutos)
Sábado, 28 de dezembro de 2013, 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (mesma hora e local do Cine Café)
Sinopse curta do filme Doméstica: Durante uma semana, sete jovens se tornaram cineastas amadores e filmaram o cotidiano de suas empregadas domésticas. O material foi entregue ao diretor Gabriel Mascaro que compilou os momentos mais marcantes neste documentário.
Sinopse um pouco mais longa e detalhada: Por uma semana, adolescentes de sete capitais brasileiras filmaram suas empregadas. Munidos do kit que receberam do cineasta recifense Gabriel Mascaro – câmera digital, tripé e microfone –, eles as entrevistaram, observaram seu trabalho, inventaram situações. Depois, junto com o montador Eduardo Serrano, Mascaro transformou 120 horas de gravação em 75 minutos. Doméstica, que estreia neste mês, contém retratos de seis mulheres e um homem – o empregado doméstico Sérgio de Jesus – feitos pelos filhos de seus patrões. O filme, a um só tempo divertido, terno e triste, mostra relações em que trabalho e afeto se confundem.
“Queria abordar a questão da empregada doméstica no Brasil contemporâneo”, explica Mascaro. À época do projeto, porém, ele não imaginava que seu filme entraria em cartaz pouco depois da aprovação da “PEC das Domésticas”, emenda constitucional que regulamenta a profissão. Não é a primeira vez que um cineasta se debruça sobre o tema. Quase homônimo do documentário de Mascaro, a ficção Domésticas (2002), de Fernando Meirelles, baseava-se na história real de empregadas brasileiras. Elas aparecem fartamente em novelas, seriados e longas como Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas (2008), e Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra (2011).
A originalidade de Mascaro está na maneira de abordar o assunto. Não se trata de um cinema de classe média que ri do jeito de falar dos mais pobres ou se compadece com o sofrimento deles. Embora humor e melancolia existam em Doméstica, tais elementos se combinam de maneira complexa. Uma das personagens, a pernambucana Flávia Santos Silva, é empregada de uma empregada. Cuida de Mateus Antônio, de 11 anos, enquanto a mãe dele trabalha na casa de outra família – o garoto gargalha vendo-a dançar para a câmera, num momento de perturbadora sensualidade. A doméstica Lucimar Roza encerra o filme com uma história comovente. Na infância, ela brincava na fazenda dos bisavós de sua atual patroa, no interior do Rio de Janeiro. Diante do álbum de fotografias envelhecidas em que as duas crianças, uma branca, de sapatinho, a outra negra, descalça, compartilhavam a boneca, Lucimar nada lamenta. “Os relacionamentos amadurecem”, diz. Na banda sonora, ouvimos Blowin’ in the Wind, do norte-americano Bob Dylan, que Luiz Felipe Godinho, o jovem que filma tudo, toca ao violão.
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terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Natal com Luz: show beneficente com muito rock em Juazeiro
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Natal com Rock no Crato
Eric Rohmer, um breve olhar
por Wendell Borges
Eric Rohmer, ou Maurice Schérer, seu verdadeiro nome, foi um dos grandes cineastas de um dos mais prestigiados movimentos cinematográficos de toda a história do cinema, a chamada Nouvelle Vague francesa, e também um dos primeiros críticos da revista Cahiers du Cinéma. Foi o diretor, talvez, que mais tardiamente tenha recebido prestígio e aclamação da mídia internacional, quem sabe, pela simplicidade de suas obras, que praticamente giram em torno de relacionamentos amorosos filmados com um certo encanto erótico e centrados em diálogos que abordam a resistência à tentação e a reflexão sobre o amor. Rohmer tinha como preferência o uso de atores não profissionais, evitava a música extradiegética em seus filmes, dando preferência aos sons diegéticos surgidos no próprio ambiente de filmagem. Em 1969, com a indicação de Minha Noite Com Ela (1969) à Palma de Ouro em Cannes e ao Oscar de melhor roteiro original, sua obra passou a ser mais vista e criticada internacionalmente.
Dentre suas obras destacam-se o já citado Minha Noite Com Ela, com a bela e charmosa Françoise Fabian (1933) — filme que integra a série «Seis Contos Morais», que conta com dois curtas e quatro longas, com destaque também para A Colecionadora (1967) e O Joelho de Claire (1970). E a quadrilogia chamada de «Contos das quatro estações», na qual ele investiga as ilusões do amor nos filmes Conto de Primavera (1989), Conto de Inverno (1992), Conto de Verão (1996) e Conto de Outono (1998).
Além de cineasta e crítico de cinema, Rohmer também lecionou literatura e chegou a publicar um romance em 1946, sob o pseudônimo de Gilbert Cordier. Após estrear seu primeiro longa em 1959, dirigiu uma série de documentários didáticos para o Centro Nacional de Documentação Pedagógica (CNDP). Em julho deste ano (2013) o Centro Cultural de São Paulo exibiu uma mostra dos filmes de Rohmer, incluindo 8 destes documentários produzidos entre os anos de 1964 e 1969. Em toda a sua carreira recebeu 33 prêmios e 17 indicações. Faleceu em 11 de janeiro de 2010 em Paris, aos 89 anos, deixando uma belíssima filmografia que merece ser conhecida por todos aqueles amantes da sétima arte.
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog arquivoxdecinema desde 2008.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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domingo, 22 de dezembro de 2013
Ensaio Sobre a Cegueira: 'se podes ver, olha; se podes olhar, repara'
por Elvira Cardoso
Os personagens sem nome, uma epidemia repentina, a falta de humanidade e uma cegueira branca causada pelo excesso de claridade são os elementos que fazem a obra Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. O romance traz questões sociais que refletem sobre a política e a sociedade dos dias atuais. A cegueira dos personagens faz eles viverem com a falta de pudor, higiene e devastação dos valores físicos e morais.
Cada parágrafo de tortura no livro escrito por Saramago é retratada detalhadamente em cada cena do filme adaptado e dirigido por Fernando Meireilles. Os recursos audiovisuais ajudam o expectador a sentir as mesmas emoções que a mente cria durante a leitura, o que não é um trabalho muito fácil para um diretor porque a leitura proporciona uma imaginação mais ampliada e todos os leitores automaticamente criam em suas mentes cenas das quais cada parágrafo remete. É importante ressaltar que antes de ser um diretor, Meirelles foi um leitor e colocou nesta produção cinematográfica a sua interpretação do romance que comove, causa indignação e repugnância em cada ser humano com uma perspectiva muito próxima da realidade cotidiana.
Como está escrito na própria obra literária, «se podes ver olha, e se podes olhar repara» a conclusão fica a critério de cada «especta-leitor», na construção do olhar e interpretação cinematográfica e literária.
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Elvira Cardoso é colaboradora do Grupo de Estudos Sétima de Cinema e Revista Sétima.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
20 de dezembro de 1913: tropa do Governo Estadual tenta invadir Juazeiro
Há exatos 100 anos, no dia 20 de dezembro de 1913, tropas rabelistas tentaram invadir Juazeiro do Norte (à época grafada apenas como "Joaseiro") pela primeira vez. Inicialmente sob a alegação de que o Governo do Ceará (sob o comando do militar Franco Rabelo) estava unido ao estados fronteiriços — Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte — na missão de "varrer do território" os jagunços e cangaceiros, que eram sinônimo de "terras sem lei", de territórios entregues ao banditismo.
Juazeiro já convivia há anos com a pecha de "terra de arruaceiros, cachaceiros, cangaceiros", inclusive com o Padre Cícero sendo acusado de acobertar tais práticas, sendo acusado pelos seus detratores de dar guarida a criminosos de diversas partes do Nordeste que iam se refugiar no município.
Mas é preciso deixar claro que havia muito mais por trás dessa ofensiva rabelista em terras caririenses. Na verdade, desde 1911, quando o Padre Cícero selou um acordo de paz entre diversos prefeitos caririenses, numa reunião que entrou para a história como o "Pacto dos Coronéis" — alcunha questionada por Daniel Walker em artigo que pode ser lido clicando aqui: segundo o professor-pesquisador, autor de vários livros sobre o Padre Cícero e o Juazeiro, outras reuniões daquele tipo aconteceram na época, mas apenas a do patriarca do Juazeiro ficou marcada na história como um grande conchavo do coronelismo — estava decretado o apoio de Padre Cícero e Floro Bartolomeu (o baiano que era seu grande aliado na política) à oligarquia de Nogueira Accioly (ainda presidente do Ceará em 1911).
Mas pouco tempo depois Accioly foi deposto do cargo e o Ceará passou a ser comandado por Franco Rabelo. Padre Cícero, que era prefeito de Juazeiro durante essa troca de governantes, acabou por assumir um dos cargos de vice-presidência do Estado (acumulando ainda a função de prefeito juazeirense), devido a um acordo entre rabelistas e a oligarquia Accioly. Mas depois de algumas semanas, o novo Presidente do Ceará começou a empreender medidas contra o Padre Cícero — a primeira delas foi a exoneração do Padre do cargo de prefeito juazeirense.
A tensão entre os aliados do Padre Cícero e o Governo do Estado aumentava cada vez mais. Então Floro Bartolomeu resolveu tomar a frente das tratativas e logo estaria arregimentando um exército de jagunços para defender o Padre Cícero e Juazeiro. Ficou claro que o confronto armado seria apenas questão de tempo quando, na madrugada chuvosa do dia 9 de dezembro de 1913, Floro Bartolomeu e um grupo de jagunços invadiu o destacamento policial de Juazeiro e passou a contar com um arsenal de armas ainda maior.
Por ora deixaremos de lado detalhes das ameaças políticas e tentativas de golpes (que se sucederam de 1911 a 1913). Muitas dessas questões trataremos em futuras postagens sobre a Sedição de Juazeiro. Nesta postagem nos interessa falar da primeira ofensiva das tropas rabelistas em território juazeirense. Mas antes cabe um parêntese sobre a construção do Círculo da Mãe de Deus: como o ataque a Juazeiro era iminente (estava nítido que centenas de homens fortemente armados tentariam invadir a terra do Padre Cícero),l restou aos juazeirenses a união em prol de um plano mirabolante (aconselhado por Antônio Violanova, um ex-combatente de Canudos que residia em Assaré): a construção de um fosso cercando a cidade, um grande valado. A ideia era que o fosso impossibilitasse a invasão dos soldados adversários. A respeito de tal fato, nos conta Lira Neto:
"Parecia maluquice de um guerrilheiro aposentado. Mas Floro e Cícero concluíram que a ideia, por mais esdrúxula que pudesse ser à primeira vista, podia funcionar. Aos primeiros raios do sol do dia 15 de dezembro, conforme prescrevera o padre, a multidão de juazeirenses estava a postos com ferramentas diante da igreja. Durante seis dias ininterruptos, debaixo de sol e chuva, pelas manhãs, tardes, noites e madrugadas, rezando ave-marias, pai-nossos e cantando benditos, a população inteira da cidade se entregou à tarefa. Os homens cavavam a terra. Mulheres e crianças transportavam a areia em baldes e panelas, para depois empilhá-las em montes de dois metros de altura, bem contíguos às valas que iam sendo abertas, formando uma inexpugnável trincheira. Naqueles morros gigantescos de areia fresca, eram introduzidos canos de rifles em direção ao inimigo. Na falta de pás e enxadas para todos os braços, muitos ajudavam a revolver o solo com o que estava mais à mão, como machados e facões. As crianças menores e algumas beatas acudiam raspando o chão até mesmo com garfos e colheres trazidas da cozinha de casa.
O grande fosso, de nove quilômetros de extensão, com oito metros de largura e em alguns locais com até cinco metros de profundidade, ficou praticamente pronto ao fim do sexto dia de trabalho. A malha central do Juazeiro estava protegida pela trincheira, que serpenteava terreno adentro até alcançar a serra do Catolé. Em volta da casa do padre, no alto da colina, erguia-se uma poderosa muralha de pedra. Era, sem dúvida, uma obra engenhosa, extraordinária do ponto de vista da engenharia militar, principalmente se levados em conta o tempo exíguo e as ferramentas precárias com que foi construída.
Cícero abençoou o grande valado e resolveu batizá-lo com um nome que fizesse jus à fé com que fora edificado. Aquele não era apenas um fosso descomunal e uma imensa trincheira, que passara a envolver defensivamente o Juazeiro.
Era, nomeou Cícero, o 'Círculo da Mãe de Deus'."
O Juazeiro tentaria se proteger da ofensiva do exército de Franco Rabelo, que contava com todo o efetivo policial de Fortaleza. Como segue narrando o Lira Neto, "Rabelo não queria correr o risco de ver a resistência de Canudos reeditada. A ordem era arrasar Juazeiro de um único golpe. Comandados pelo coronel do exército Alípio Lopes de Lima Barreto, mais quinhentos praças foram enviados nos vagões da companhia ferroviária até Iguatu."
De Iguatu os soldados marcharam 180 quilômetros até o Crato, onde chegaram no dia 18 de dezembro de 2013. No dia 19 o coronel Alípio telegrafou ao Padre Cícero, propondo a rendição de Juazeiro. Sem resposta, resolveu juntar a tropa e partiu para a invasão no dia 20 de dezembro. Às duas da tarde a guerra começou, com os soldados do Governo surpreendidos pelo valado. Floro estava do lado dos jagunços, atirando e provocando baixas no "exército rabelista", enquanto o Padre Cícero rezava em casa. Trechos do relato de Lira Neto contam a sequência do confronto daquele dia:
"Outra arma eficaz contra a soldadesca eram as granadas de mão, improvisadas com garrafas de vidro preenchidas metade com pólvora e metade com pregos ou pedaços pontiagudos de ferro. Ateava-se fogo em um pavio de pano e jogava-se o artefato por cima do valado o mais longe possível. Seguia-se o estrondo e os estilhaços se espalhavam no ar, perfurando a carne dos inimigos. Os soldados, sangrando, buscavam proteção como podiam, atrás de árvores e arbustos.
O coronel Alípio não contara com tal reação. Muito menos com aquele surpreendente fosso. Como não conseguia enxergar o adversário, sua tropa atirava a esmo, sem oferecer ameaça alguma ao Juazeiro. Sentindo-se perdidos, muitos soldados haviam simplesmente debandado para dentro do matagal, recusando-se a servir de alvo fácil para mira do rifle inimigo.
(...) Às cinco da tarde. sem ter conseguido avançar um único centímetro em sua posição original, Alípio resolveu reunir os auxiliares imediatos para uma análise da situação. O quqadro era desolador. Estavam sem poder de fogo. Os caixotes com cerca de 25 mil cartuchos que haviam levado para o campo de batalha estavam quase vazios. Já se contavam 82 baixas, entre mortos e feridos. Perto de escurecer, só restava uma opção: ordenar que o corneteiro fizesse soar o toque de retirada para evitar uma hecatombe.
Às nove da noite, a população do Crato não acreditou quando viu aqueles homens voltarem à cidade derrotados, maltrapilhos, com cara de espanto, como se acabassem de retornar do Inferno. Havia registro de inúmeras deserções, inclusive as de alguns soldados que simplesmente largaram a farda e passaram a combater ao lado do Padim Ciço. Outros vagavam pelo mato, perdidos ou apavorados, sem querer voltar. Quando tentou reunir os soldados para contabilizar o total de perdas, o coronel Alípio percebeu que não tinha mais uma tropa nas mãos, mas sim um amontoado de homens de moral esfrangalhado. Muitos nem sequer obedeceriam, naquela noite, ao toque de recolher. Teriam de ser caçados à base de ameaças, um a um, trôpegos de medo e de cachaça, na zona do meretrício do Crato.
Quando levaram a Cícero a notícia de que as tropas estaduais haviam dado meia-volta sem que fosse registrada nenhuma morte entre os combatentes do Juazeiro, o padre levantou as mãos para o céu em sinal de agradecimento. Nosso Senhor Jesus Cristo olhara por eles, expôs. O Círculo da Mãe de Deus resguardara os bons dos ímpios, os fracos dos fortes, os oprimidos dos opressores, concluiu."
Mas essa foi apenas a primeira ofensiva contra o Juazeiro, o Padre Cícero e a tropa comandada por Floro Bartolomeu. Em outras postagens contaremos mais detalhes sobre os conflitos, os personagens envolvidos, o desenrolar político dos episódios, etc.
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Os trechos escritos por Lira Neto foram extraídos do livro Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão (Companhia das Letras, 2009).
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Crato: 'Semana + Bombada no Casarão'
Semana + Bombada no Casarão
Quinta-feira, 19 de dezembro de 2013, 22h:
Geraldo Júnior, DJ Boca, Dudé Casado
Sexta-feira, 20 de dezembro, 22h:
Os Caetanos
Ingressos limitados (vendidos na hora): R$15,00
Sábado, 21 de dezembro, 22h:
Especial cover: Black Out (Scorpions)
Ingressos limitados (vendidos na hora): R$10,00
No Casarão Boteco (Pimenta, Crato-CE)
+ info.: (88)3521.0886.
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'Blade Runner, O Caçador de Androides' na Bravo! Especial 100 Filmes Essenciais
Do papel # 22
Reproduzimos um texto publicado em uma Revista Bravo! com os (pela revista considerados) 100 filmes essenciais da história do cinema. Clique na imagem abaixo para ampliar a página da revista.
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Blade Runner - O Caçador de Androides - Ridley Scott
Revista Bravo! Especial 100 Filmes Essenciais da História do Cinema (3ª edição, 2009)
Los Angeles, 2019. Com o planeta transformado em sucata por causa da chuva ácida e de outros desastres ambientais, a humanidade migrou para colônias espaciais e a Terra abriga apenas os excluídos. Nesse cenário de caos, cinco replicantes (androides extremamente desenvolvidos) desafiam a proibição de vir à Terra e são caçados por policiais chamados "blade runners". Um ex-caçador, Deckard (Harrison Ford), é convocado para eliminar os intrusos (cuja vida dura apenas quatro anos), e acaba descobrindo segredos sobre a própria identidade.
O que diferencia Blade Runner - O Caçador de Androides, dirigido por Ridley Scott, de outras produções futuristas centradas na ação é, em parte, seu conteúdo filosófico. Ao serem montados, os replicantes recebem memórias afetivas, o que lhes dá uma consciência quase humana, fazendo com que demonstrem emoções. O fato de serem monitorados por grandes corporações faz referência às formas diversas de controles individuais já presentes no início dos anos 1980, quando o filme foi realizado. A desumanização provocada pela tecnologia, a proximidade do colapso ambiental e a construção que fazemos dos sentimentos e lembranças são outros temas explorados.
O roteiro foi inspirado em Do Androids Dream of Electric Sheep?, do cultuado autor de ficção científica Philip K. Dick. A fotografia, a direção segura de Scott, os cenários futuristas banhados em luzes difusas e a gélida trilha sonora de Vangelis mantêm seu apelo intacto. A obra também serviu de trampolim para Rutger Hauer, Daryl Hannah e Sean Young, que se tornaram atores conhecidos.
A mistura de ação e filosofia e o elaborado visual, fatores que tornaram o filme cultuado, também atrapalharam seu desempenho nas bilheterias no lançamento. Era uma obra cerebral demais para o público, que esperava tiros e perseguições. Como Scott foi obrigado a fazer diversas alterações na montagem para deixar o resultado mais palatável, mudando inclusive o desfecho, originalmente pessimista, a crítica se dividiu entre elogios e restrições. Apenas em 1992, quando o cineasta relançou o filme na edição que ele havia concebido, sem a narração em off de Ford e com o final original, Blade Runner recuperou o status que sempre mereceu.
Blade Runner - O Caçador de Androides
Diretor: Ridley Scott
Estados Unidos (1982).
Bravo! Especial - 2009
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'Blade Runner, O Caçador de Androides' filme de Ridley Scott, no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Blade Runner, O Caçador de Androides
Título original: Blade Runner
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Hampton Fancher, David Peoples
Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Edward James Olmos, M. Emmet Walsh, Daryl Hannah, William Sanderson, Brion James, Joe Turkell, Joanna Cassidy
Duração: 117 minutos
Ano: 1982
País de origem: Estados Unidos
"No futuro, androides chamados de replicantes e que se parecem incrivelmente com seres humanos são levados para planetas inóspitos para realizarem trabalhos impróprios para seres humanos. Um grupo deles resolve fugir e viver uma vida como a de qualquer pessoa na Terra. Para estes, restam ser caçados por um detetive especializado em achá-los e desativá-los." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição no sábado, 21 de dezembro de 2013, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.
Clique aqui para ler um pouco mais sobre Blade Runner.
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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Eis os novos centenários: Guerra de 1914 e morte da Beata Maria de Araújo
O Berro, em comemoração aos fatos históricos e centenários de nossa região, faz uma importante viagem ao passado para contar um pouco da Revolta de 1914 (conhecida como Sedição de Juazeiro) e, num segundo momento, discorrerá sobre o falecimento da Beata Maria de Araújo. Dois fatos que estão prestes a completar 100 anos e que têm relevância histórica para o Cariri e o Ceará.
A história da Sedição é rica, com muitos fatos ainda por serem descobertos, debatidos e (re)interpretados. Vale sempre lançar luz à memória dos que fizeram parte dela, além de poder destacar "filhos e netos da batalha" ainda vivos, já que aquele conflito não foi feito apenas por Generais e Políticos, mas, sobretudo, por nordestinos de fé, vindos de vários cantos do Nordeste, que escolheram Juazeiro do Norte (à época "Joaseiro") em defesa do padre Cícero. Esperamos que nessa viagem possamos conhecer pessoas como Francinilton — bisneto do beato Roque Pinto de Miranda, que era amigo do Padre Cícero e fundador da Irmandade do Santíssimo Sacramento — que luta para que histórias como a do seu bisavô permaneçam vivas na memória de Juazeiro.
No último dia 9 de dezembro completaram 100 anos da invasão de Floro Bartolomeu (juntamente com jagunços e um capitão da seção da Guarda Municipal) ao destacamento policial de Juazeiro, recolhendo rifles e trancafiando soldados atrás das grades. Com aquela investida podia-se dizer que a "revolução" era um caminho sem volta, o que fez com que rabelistas residentes no município partissem em debandada. Mostrava-se, portanto, que o então presidente do Ceará, Franco Rabelo, passava a ter seu poder cada vez mais ameaçado pelo seu antecessor, Nogueira Accioly, e pelo aliados do Padre Cícero.
Realmente muitos acontecimentos estariam por vir: menos de uma semana após a tomada de armas por Floro e seus jagunços, no dia 15 de novembro de 1913, a população de Juazeiro começou a construir um enorme valado, que ficou conhecido como o "Círculo da Mãe de Deus". Milhares de homens, mulheres e até crianças, lançando mão de ferramentas rudimentares (incluindo colheres e garfos), entrincheiraram o Juazeiro, preparando-se para a iminente invasão de tropas rabelistas, que se deslocariam de Fortaleza e outras localidades cearenses, objetivando derrotar o exército arregimentado por Floro Bartolomeu.
O "Círculo da Mãe de Deus", fruto dos trabalho dos devotos e amigos fiéis ao Padre Cícero, foi determinante para o desenrolar dos capítulos que aconteceriam naquela virada de 1913 para 1914. E detalhes de tais episódios acompanharemos no blog d'O Berro nos próximos dias e semanas.
Faz-se necessário frisar que rememorar tais fatos, trazendo à tona muitos dos personagens e episódios daquele conflito,significa, acima de tudo, conhecer um pouco mais da nossa história, saber como se formou a Região do Cariri que conhecemos hoje, sócio, político e economicamente. Entender como a virada do século XIX para o século XX, com a atuação do Padre Cícero, que exercia, inegavelmente, o papel de líder político e religioso naquele contexto.
Nosso interesse vai muito além (ou não nem chega a se valer) de questões que tentaram historicamente resumir aqueles conflitos a uma rixa entre Crato e Juazeiro, por exemplo. Até porque, como veremos nas próximas postagens sobre o assunto, as disputas políticas faziam com que houvessem defensores de um lado ou de outro do conflito em diversas localidades. Não podemos, portanto, esquecer da diversidade política e cultural de cada localidade, nem engessar em categorias estanques e estereótipos que muitas vezes tacharam "essa ou aquela cidade" como símbolo de determinadas características. É preciso entender a conjuntura política e a cultura diversa daquelas comunidades naquele contexto histórico.
Portanto, muito mais importante do que reduzir o conflito a uma disputa entre povos de diferentes localidades, faz-se necessário lançarmos luz ao desenrolar político, social e econômico daquelas disputas, verificando o que isso significou para o desenvolvimento do Cariri no século XX. É buscar entender como tudo aquilo teve que ser superado em algum momento, para que muitos coadunassem com a ideia de colaboração mútua entre as cidades vizinhas, que hoje formam a Região Metropolitana do Cariri, fruto da conurbação entre Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha (e a soma de outros municípios circunvizinhos).
Independente do que significava aquele sangue da Beata Maria de Araújo durante as comunhões, tais eventos serviram para alimentar a crença de diversos nordestinos que elegeram Juazeiro como a capital da fé, como o espaço sagrado da sua religiosidade. Isso foi determinante (juntamente com a liderança política e religiosa exercida pelo Padre Cícero) para que Juazeiro se tornasse uma das grandes cidades do Nordeste brasileiro, um destino certo para milhões de romeiros anualmente. Que a Beata Maria de Araújo tenha o reconhecimento por seu importante (e decisivo) papel nessa história, mesmo que apenas agora, quando já se completam 100 anos da sua morte (a Beata faleceu no dia 17 de janeiro de 1914). Clique aqui e confira poema e ilustração sobre a Beata Maria de Araújo.
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Equipe O Berro
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terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Ingmar Bergman
por Débora Costa
O sueco foi um dos diretores mais exibidos na tela do Cine Café e isso não foi a troco de nada, já que é reconhecido por sua originalidade e eficiência ao lidar de modo tão singelo com o interior do ser humano. Trazendo tanto de si nos seus filmes, é que faz a sua honestidade ser cativante. O tratamento com as imagens, a iluminação, os personagens complexos e os diálogos preciosos fizeram dele uma das maiores figuras do cinema.
Proporcionando um mergulho na própria alma, trazendo questões como a fé, a morte, as relações interpessoais e até mesmo sobre o sentido da nossa própria existência. Trazendo das próprias experiências particulares, Bergman carrega em suas películas uma densidade, carregada de simbologia com fortes efeitos estéticos.
Um dos seus filmes exibidos no Cine Café foi Gritos e Sussurros (ViskiningarOch Rop, 1972), que toca quem quer que assista, com um peso até na ausência de sons. A profundidade presente no filme é perene nos trabalhos desse diretor. Conseguindo emocionar a plateia com sua perceptível destreza pra lidar com a arte, a fotografia e a atuação dos atores.
Nascido em berço religioso, sendo filho de um pastor, Bergman teve um contato específico e sofrido com a religiosidade, e por isso é uma tecla tão apertada nos seus longas-metragens. A equipe com quem ele trabalhava quase não se alterou ao longo de sua carreira como cineasta: Liv Ullman, Gunnar Bjornstrand, Ingrid Thulin, Max Von Sydow, Erland Josephson e outros vários.
Com mais de quarenta filmes, o diretor, que morreu em 2007 com 89 anos, deixou um legado com histórias que fizeram chorar, rir, ter medo, se surpreender e, principalmente, querer muito mais de Ingmar Bergman.
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Débora Costa: uma feminista que cursa Direito, participa do P@je e que gosta que só de filmes.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 01, de 11 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Crato: Festa Warakidzã com Geraldo Junior e Os Virtuais
Apresentação do Reisado de Mestre Aldenir em Barbalha
"Mestre Aldenir, cratense, com mais de 50 anos de atividade com o reisado. O Mestre Aldenir, atualmente com 80 anos de idade, mantém grupos folclóricos em funcionamento, reconhecido pela sua gente, e é um ícone da preservação da cultura do reisado, tanto que em 1997 foi agraciado com a placa e o título honorífico de Mestre do saber e das artes do povo do Cariri, pela Secretaria de Cultura do Município do Crato." (sinopse da divulgação do evento)
Reisado de Mestre Aldenir
Quinta-feira, 19 de dezembro de 2013, 19h
Na Rua da Matriz (ao lado do Casarão da Cultura), Barbalha-CE
Gratuito.
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'Românticos Anônimos', filme de Jean-Pierre Améris, no Cinemarana
Cinemarana do SESC Crato (com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Emoções
Exibição do filme Românticos Anônimos
Título original: Les émotifs anonymes
Direção: Jean-Pierre Améris
Roteiro: Jean-Pierre Améris, Philippe Blasband
Elenco: Benoît Poelvoorde, Isabelle Carré, Lorella Cravotta, Lise Lamétrie, Swann Arlaud, Pierre Niney, Stéphan Wojtowicz
Duração: 80 minutos
Ano: 2010
Países de origem: França, Bélgica
Exibição na segunda-feira, 16 de dezembro de 2013, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
'Acossado', de Jean-Luc Godard
por Samuel Macêdo
“Eu queria saber o que há atrás do seu rosto”
Conhecido por ser um dos primeiros filmes da Nouvelle Vague, Acossado marca também a estreia de Jean Luc-Godard como diretor de longa-metragem — o filme de 1959 é roteirizado por outro grande nome da nova onda cinematográfica, François Truffaut. A ousadia e o deboche que acompanharão a longa carreira de Godard despontam nessa história protagonizada pelos atores Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg. A constante movimentação de câmeras filmando a Paris em branco e preto criam a superfície da trama.
Cenas quase documentais aliadas ao cotidiano do inusitado casal tornam o filme inovador, closes detalhistas e cortes inesperados, demonstram um novo modo de fazer cinema. O personagem Michel, após roubar um carro e assassinar um policial, encontra a jovem Patrícia, emigrante estadunidense, que vende jornais pelo centro de Paris. «Gentil doce Patrícia», embora a frase tenha tendência ao romantismo, é seguida de insultos, dirigidos a essa mesma mulher, que não se afeta pela constante contradição do seu companheiro, dando uma ou outra resignificação a seu sentimento: «Vou pôr tudo no meu livro», diz Patrícia, tranquilamente.
Os personagens, embora vivenciem experiências diferentes na relação, de alguma forma estão completamente dispersos naquele lugar, que não os acolhe. «Entre a tristeza e o nada, eu escolho a tristeza», esse trecho e outros diálogos do filme nos trazem questões próprias do existencialismo, uma postura própria do diretor, inclusive, o tempo e sua efemeridade cobram dos personagens uma vida intensa. Michel, apesar de ser delinquente ganha simpatia do espectador, pois rompe com a ordem social vigente, desejando a Itália que o libertará do cárcere.
A iluminação, a movimentação constante e os desejos de fuga vão construindo a aura de Acossado, que além de ser considerado um símbolo da produção cinematográfica francesa da época, comprova que é possível se fazer cinema de uma forma economicamente barata, em contraposição às grandes produções holywoodianas. A partir dessa nova abordagem, muitos cinemas novos começaram a surgir pelo mundo, tendo como intenção simplificar o modo de fazer filmes, atenuando o caráter de impulsão e originalidade.
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Samuel Macêdo cursa Comunicação Social (Jornalismo) na UFCA e constrói coletivamente alguns projetos de extensão, como o GEMI (Grupo de Estudos de Gênero e Mídia) e o Cine Arte Clube (projeto itinerante que exibe curtas e documentários). Curte assuntos ligados a cinema, cultura, história e gênero.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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Conhecido por ser um dos primeiros filmes da Nouvelle Vague, Acossado marca também a estreia de Jean Luc-Godard como diretor de longa-metragem — o filme de 1959 é roteirizado por outro grande nome da nova onda cinematográfica, François Truffaut. A ousadia e o deboche que acompanharão a longa carreira de Godard despontam nessa história protagonizada pelos atores Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg. A constante movimentação de câmeras filmando a Paris em branco e preto criam a superfície da trama.
Cenas quase documentais aliadas ao cotidiano do inusitado casal tornam o filme inovador, closes detalhistas e cortes inesperados, demonstram um novo modo de fazer cinema. O personagem Michel, após roubar um carro e assassinar um policial, encontra a jovem Patrícia, emigrante estadunidense, que vende jornais pelo centro de Paris. «Gentil doce Patrícia», embora a frase tenha tendência ao romantismo, é seguida de insultos, dirigidos a essa mesma mulher, que não se afeta pela constante contradição do seu companheiro, dando uma ou outra resignificação a seu sentimento: «Vou pôr tudo no meu livro», diz Patrícia, tranquilamente.
Os personagens, embora vivenciem experiências diferentes na relação, de alguma forma estão completamente dispersos naquele lugar, que não os acolhe. «Entre a tristeza e o nada, eu escolho a tristeza», esse trecho e outros diálogos do filme nos trazem questões próprias do existencialismo, uma postura própria do diretor, inclusive, o tempo e sua efemeridade cobram dos personagens uma vida intensa. Michel, apesar de ser delinquente ganha simpatia do espectador, pois rompe com a ordem social vigente, desejando a Itália que o libertará do cárcere.
A iluminação, a movimentação constante e os desejos de fuga vão construindo a aura de Acossado, que além de ser considerado um símbolo da produção cinematográfica francesa da época, comprova que é possível se fazer cinema de uma forma economicamente barata, em contraposição às grandes produções holywoodianas. A partir dessa nova abordagem, muitos cinemas novos começaram a surgir pelo mundo, tendo como intenção simplificar o modo de fazer filmes, atenuando o caráter de impulsão e originalidade.
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Samuel Macêdo cursa Comunicação Social (Jornalismo) na UFCA e constrói coletivamente alguns projetos de extensão, como o GEMI (Grupo de Estudos de Gênero e Mídia) e o Cine Arte Clube (projeto itinerante que exibe curtas e documentários). Curte assuntos ligados a cinema, cultura, história e gênero.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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'8 Mulheres', filme de François Ozon, em exibição no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme 8 Mulheres
Título original: 8 Femmes
Direção: François Ozon
Roteiro: Robert Thomas
Elenco: Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart, Fanny Ardant, Virgine Ledoyen, Danielle Darrieux, Firmine Richard, Ludivine Sagnier, Dominique Lamure
Duração: 103 minutos
Ano: 2002
País de origem: França
"Numa mansão isolada pela neve, um homem é assassinado. Quem o matou? A esposa, a sogra, a cunhada, a filha mais velha, a filha mais nova, a irmã, a governanta ou a camareira?" (sinopse da divulgação do evento)
Exibição no sábado, 14 de dezembro de 2013, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.
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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Karina Buhr faz show no Crato
Karina Buhr + Grupo Superação
Sexta-feira, 13 de dezembro de 2013, 20h30
No estacionamento do SEST/SENAT (Crato-CE)
Entrada: 2kg de alimento não-perecível (exceto sal)
Troca de ingressos:
Dia 12, das 10h às 12h e das 14h às 18h
Local: Mesa Brasil (em frente ao SESC Crato)
Dia 13, das 10h às 12h e das 14h às 18h
Local: Mesa Brasil (em frente ao SESC Crato)
A partir das 19h a troca será relizada apenas no SEST/SENAT
Obs.1: a entrada será liberada a partir das 19h;
Obs.2: não poderá entrar com bebidas em recipientes de vidro;
Obs.3: estacionamento limitado para carros, motos e bicicletas.
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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Revistas e blogs de cinema
por Wendell Borges
O texto que escrevo é apenas parte de uma pesquisa que já vem sendo realizada há muitos anos sobre blogues e revistas de cinema on-line, fazendo também um breve levantamento das ainda sobreviventes edições impressas de cinema. Por conta do espaço físico da SÉTIMA, aqui discutirei apenas um pequeno recorte de um imenso mar de informações que poderão fazer parte constantemente desta nova revista em outras edições futuras.
A internet trouxe uma série de mudanças e contribuições sociais que talvez só em um futuro breve poderemos analisar de uma forma mais precisa. Estas transformações que ela acarreta diariamente com sua inesgotável possibilidade de gerar espaços virtuais ampliam e divulgam o conhecimento humano aos quatro cantos do globo terrestre. Porém, ao mesmo tempo em que traz grandes contribuições em termos de difusão de conhecimento, ela acaba por sua vez gerando outros problemas que precisam ser pensados e constantemente discutidos. A crescente quantidade de revistas e blogues de cinema que ocupam o espaço virtual da web exigem pesquisas constantes para que se possa gerar um banco de dados confiável, uma vez que diariamente nascem e morrem diversas destas publicações.
Fazendo aqui um contraponto com as hoje cada vez mais extintas publicações impressas, principalmente se tratando de publicações impressas que tinham uma tiragem em nível nacional, como era o caso da extinta Revista SET, dialogaremos com o universo dos materiais que procuram discutir e divulgar a sétima arte em ambos os campos, o material e o virtual. Como fora colocado acima, um destes grandes problemas que as revistas impressas hoje enfrentam é justamente a concorrência com esta quantidade e diversidade de revistas e blogues cada vez maiores. Há que se colocar entretanto, que muitas destas publicações, e em especial os blogues, pelo caráter mais subjetivo, tenham realmente um valor menor de apreciação quando o assunto é a crítica cinematográfica.
Para dar início ao levantamento histórico de publicações virtuais de revistas e blogues de cinema vou iniciar elencando algumas das maiores, partindo posteriormente no decorrer das próximas edições da SÉTIMA para as publicações de menor expressão e audiência. Por se tratar de uma revista que é símbolo da cinefilia e que ganhou sua fama durante os anos 50 e 60 graças ao talento de seus jovens críticos e posteriormente cineastas da Nouvelle Vague francesa, a revista Cahiers du Cinéma é ainda hoje, mais de 60 anos depois de sua primeira edição lançada em abril de 1951, um dos principais veículos de divulgação do cinema no mundo. Em 2009, por exemplo, a vendagem impressa da Cahiers chegava a 25000 exemplares por mês conforme observa o jornalista Ben Dowell em sua notícia sobre a venda da Cahiers para a Phaidon Press divulgada no TheGuardian.com em fevereiro de 2009. Além da edição francesa, a Cahiers possui uma versão on-line em língua inglesa.
Entre as revistas nacionais on-line pode-se destacar hoje em dia a famosa Contracampo, que recentemente chegou ao número 100 em abril deste ano. Fundada pelo jornalista e crítico de cinema Ruy Gardnier, a revista foi editada por ele até 2008, e apesar de sua saída manteve a qualidade e continua sendo uma das referências na rede quando o assunto é crítica cinematográfica. Outras revistas que merecem destaque a princípio e que terão suas histórias mais detalhadas futuramente serão a Revista Cinética, a Revista de Cinema do Universo Online, a Filmologia e a Zingu, que apesar de ter sido descontinuada em setembro de 2012 com o lançamento da edição nº 54 merece ter sua história destacada. No Brasil, entre as edições impressas podemos mencionar as revistas Cult, Bravo (que encerrou sua trajetória em 2013) e a já citada Revista de Cinema do portal UOL. As duas primeiras não são revistas exclusivas de cinema, mas dentre as suas propostas de jornalismo cultural destacam o cinema nas suas páginas.
Nas próximas edições retornarei ao tema das publicações virtuais e impressas dando ênfase ao trabalho da Contracampo e da Revista Cinética e sua importância para a geração de cinéfilos que moldam e ampliam suas culturas cinematográficas através dos artigos publicados por estas revistas virtuais. Um abraço a todos os leitores e vida longa a esta empreitada que pretende ser um divulgador da cinefilia na região do Cariri fomentando discussões sobre este instigante e riquíssimo universo da sétima arte.
Revistas citadas no artigo:
http://bravonline.abril.com.br/revista
http://revistacult.uol.com.br/home
http://www.contracampo.com.br
http://www.cahiersducinema.com
http://www.filmologia.com.br
http://revistadecinema.uol.com.br
http://www.revistacinetica.com.br
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog arquivoxdecinema desde 2008.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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O texto que escrevo é apenas parte de uma pesquisa que já vem sendo realizada há muitos anos sobre blogues e revistas de cinema on-line, fazendo também um breve levantamento das ainda sobreviventes edições impressas de cinema. Por conta do espaço físico da SÉTIMA, aqui discutirei apenas um pequeno recorte de um imenso mar de informações que poderão fazer parte constantemente desta nova revista em outras edições futuras.
A internet trouxe uma série de mudanças e contribuições sociais que talvez só em um futuro breve poderemos analisar de uma forma mais precisa. Estas transformações que ela acarreta diariamente com sua inesgotável possibilidade de gerar espaços virtuais ampliam e divulgam o conhecimento humano aos quatro cantos do globo terrestre. Porém, ao mesmo tempo em que traz grandes contribuições em termos de difusão de conhecimento, ela acaba por sua vez gerando outros problemas que precisam ser pensados e constantemente discutidos. A crescente quantidade de revistas e blogues de cinema que ocupam o espaço virtual da web exigem pesquisas constantes para que se possa gerar um banco de dados confiável, uma vez que diariamente nascem e morrem diversas destas publicações.
Fazendo aqui um contraponto com as hoje cada vez mais extintas publicações impressas, principalmente se tratando de publicações impressas que tinham uma tiragem em nível nacional, como era o caso da extinta Revista SET, dialogaremos com o universo dos materiais que procuram discutir e divulgar a sétima arte em ambos os campos, o material e o virtual. Como fora colocado acima, um destes grandes problemas que as revistas impressas hoje enfrentam é justamente a concorrência com esta quantidade e diversidade de revistas e blogues cada vez maiores. Há que se colocar entretanto, que muitas destas publicações, e em especial os blogues, pelo caráter mais subjetivo, tenham realmente um valor menor de apreciação quando o assunto é a crítica cinematográfica.
Para dar início ao levantamento histórico de publicações virtuais de revistas e blogues de cinema vou iniciar elencando algumas das maiores, partindo posteriormente no decorrer das próximas edições da SÉTIMA para as publicações de menor expressão e audiência. Por se tratar de uma revista que é símbolo da cinefilia e que ganhou sua fama durante os anos 50 e 60 graças ao talento de seus jovens críticos e posteriormente cineastas da Nouvelle Vague francesa, a revista Cahiers du Cinéma é ainda hoje, mais de 60 anos depois de sua primeira edição lançada em abril de 1951, um dos principais veículos de divulgação do cinema no mundo. Em 2009, por exemplo, a vendagem impressa da Cahiers chegava a 25000 exemplares por mês conforme observa o jornalista Ben Dowell em sua notícia sobre a venda da Cahiers para a Phaidon Press divulgada no TheGuardian.com em fevereiro de 2009. Além da edição francesa, a Cahiers possui uma versão on-line em língua inglesa.
Entre as revistas nacionais on-line pode-se destacar hoje em dia a famosa Contracampo, que recentemente chegou ao número 100 em abril deste ano. Fundada pelo jornalista e crítico de cinema Ruy Gardnier, a revista foi editada por ele até 2008, e apesar de sua saída manteve a qualidade e continua sendo uma das referências na rede quando o assunto é crítica cinematográfica. Outras revistas que merecem destaque a princípio e que terão suas histórias mais detalhadas futuramente serão a Revista Cinética, a Revista de Cinema do Universo Online, a Filmologia e a Zingu, que apesar de ter sido descontinuada em setembro de 2012 com o lançamento da edição nº 54 merece ter sua história destacada. No Brasil, entre as edições impressas podemos mencionar as revistas Cult, Bravo (que encerrou sua trajetória em 2013) e a já citada Revista de Cinema do portal UOL. As duas primeiras não são revistas exclusivas de cinema, mas dentre as suas propostas de jornalismo cultural destacam o cinema nas suas páginas.
Nas próximas edições retornarei ao tema das publicações virtuais e impressas dando ênfase ao trabalho da Contracampo e da Revista Cinética e sua importância para a geração de cinéfilos que moldam e ampliam suas culturas cinematográficas através dos artigos publicados por estas revistas virtuais. Um abraço a todos os leitores e vida longa a esta empreitada que pretende ser um divulgador da cinefilia na região do Cariri fomentando discussões sobre este instigante e riquíssimo universo da sétima arte.
Revistas citadas no artigo:
http://bravonline.abril.com.br/revista
http://revistacult.uol.com.br/home
http://www.contracampo.com.br
http://www.cahiersducinema.com
http://www.filmologia.com.br
http://revistadecinema.uol.com.br
http://www.revistacinetica.com.br
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Wendell Borges é professor de Artes e Língua Inglesa e editor do blog arquivoxdecinema desde 2008.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 02, de 18 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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domingo, 8 de dezembro de 2013
'Pina', filme de Wim Wenders, em exibição no Cinemarana
Cinemarana do SESC Crato (com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Emoções
Exibição do filme Pina
Título original: Pina
Direção e roteiro: Wim Wenders
Elenco: Pina Bausch, Regina Advento, Ruth Amarante, Rainer Behr, Andrey Berezin, Damiano Ottavio Bigi, Bénédicte Billet, Ales Cucek, Damiano Ottavio Bigi
Duração: 103 minutos
Ano: 2011
País de origem: Alemanha
Exibição na segunda-feira, 09 de dezembro de 2013, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.
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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Roda de Conversa na UFCA debate a imprensa alternativa
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
'Retorno a Howards End', filme de James Ivory, em exibição no Cine Café
Cine Café (com mediação de Elvis Pinheiro)
Exibição do filme Retorno a Howards End
Título original: Howards End
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala, baseado no livro de E.M. Forster
Elenco: Helena Bonham Carter, Emma Thompson, Anthony Hopkins, Vanessa Redgrave, Joseph Bennett, Prunella Scales, James Wilby, Jemma Redgrave
Duração: 136 minutos
Ano: 1992
Países de origem: Reino Unido, Japão
"A partir de uma propriedade rural, as diferenças entre ricos e pobres ficam cada vez mais evidentes, destacando-se os que valorizam a essência, o amor e a verdade, dos que valorizam a aparência, a posse e a tradição." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição no sábado, 07 de dezembro de 2013, às 17h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte). Entrada gratuita.
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'Minha Vida em Cor-de-Rosa' ('Ma vie en rose'), filme de Alain Berliner
por Gabi Bernardino
Minha vida em cor de rosa (Ma vie en rose) é uma produção cooperativa entre Bélgica, França e Inglaterra, dirigida pelo belga Alain Berliner, lançado em 1997.
Trata-se da história de Ludovic, um garoto de sete anos (atuação excepcional de Georges Du Fresne), o caçula da família Fabre, que choca a todos quando decide assumir uma identidade feminina em uma festa promovida por sua família para atrair a nova vizinhança usando maquiagem e vestido. O choque e o incômodo inicial não foram de grande alarme, as recusas só aumentaram quando Ludovic persistiu em "ser menina". Ao reivindicar casar-se com Jerome (Julien Rivière), seu colega de classe, não tardou que a repreensão sobre sua feminilidade se estendesse por toda a vizinhança.
Ludovic questiona-se sobre ser menino ou menina e, ao ouvir explicações biológicas de sua irmã, ele conclui que Deus desejava que ele nascesse menina, mas um dos seus cromossomos X foi parar no lixo, ficando XY, mas logo Deus concertaria esse erro.
Sua mãe Hanna (Michele Laroque) e seu pai Pierre (Jean-Philippe Ecoffey) veem-se entre a aceitação e a recusa, o amor pelo filho e o medo de serem humilhados pela sociedade heteronormativa em que vivem.
Entre repreensões e violência homofóbica, Ludovic mergulha em uma fantasia rósea incentivada pela fada Pam, analogia à Barbie, e o apoio afetivo de sua vó Elisabeth (Elene Vincent).
Minha vida em cor de rosa, em todos os momentos do filme, aborda uma construção estruturada da masculinidade e feminilidade, estabelecidas socialmente, e os conflitos entre os impulsos pessoais e a estrutura normativa da sociedade; outro aspecto é o protagonismo da criança na significação do seu próprio mundo. Para Ludovic, sua satisfação está em aceitar que, no fundo, ele é menina. Não podendo modificar a individualidade humana, segundo a socióloga Raewyn C. "ser homem" ou "ser mulher" não depende apenas de um aprendizado passivo ou de um processo mecânico de socialização de gênero.
O filme ganhou 11 prêmios incluindo um Crystal Globe no Festival Internacional de Cinema Karlovy Vary, melhor filme, em 1997; e um Golden Globe Award, melhor filme em língua estrangeira, em 1998.
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Gabi Bernardino é estudante e gosta de Literatura. Através de monitoria iniciou um projeto de Academia de Letras na E.E.M. Gov. Adauto Bezerra (Juazeiro do Norte-CE).
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 01, de 11 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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Alunos do Curso de Música da UFCA realizam terça cultural no CCBNB
"Mostra dos alunos do VI período do Curso de Música da UFCA, apresentando repertório eclético, que inclui obras representativas da música popular, da erudita e criações próprias. O trabalho foi desenvolvido coletivamente durante o ano de 2013, sob orientação do prof. Cláudio Mappa.
Oficina de Música da UFCA
Terça-feira, 03 de dezembro de 2013, 19h30
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita.
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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
'O Céu Sobre os Ombros', filme de Sérgio Borges, no Cinematógrapho
Cinematógrapho (com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra de Cinema Brasileiro Contemporâneo
Exibição do filme O Céu Sobre os Ombros
Título original: O Céu Sobre os Ombros
Direção: Sérgio Borges
Roteiro: Manuela Dias, Sérgio Borges
Elenco: Everlyn Barbin, Edjucu Moio, Murari Krishna e Grace Passô
Duração: 71 minutos
Ano: 2011
País de origem: Brasil
"Filme que rompe as barreiras entre documentário e ficção ao retratar o cotidiano de três personagens de classe média de Belo Horizonte – uma transexual que se divide entre a rotina de profissional do sexo e a vida acadêmica, um operador de telemarketing hare krishna que integra a torcida do Atlético Mineiro e um escritor congolês desiludido com a vida." (sinopse da divulgação do evento)
Exibição na quarta-feira, 04 de dezembro de 2013, às 19h
No SESC Juazeiro do Norte-CE. Entrada gratuita.
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sábado, 30 de novembro de 2013
'Incêndios', filme de Denis Villeneuve, em exibição no Cinemarana
Cinemarana do SESC Crato (com mediação de Elvis Pinheiro)
Mostra Emoções
Exibição do filme Incêndios
Título original: Incendies
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve, baseado na peça de Wadji Mouawad
Elenco: Lubna Azabal, Mélissa Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Rémy Girard
Duração: 130 minutos
Ano: 2010
País de origem: Canadá
Exibição na segunda-feira, 02 de dezembro de 2013, às 19h
No SESC Crato-CE. Entrada gratuita.
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sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Juazeiro: apresentação do violonista Giacomo Bartoloni
"Doutor pela Faculdade de ciência, História e Letras da UNESP de Assis-SP, Mestre em Musicologia e Livre-Docente pelo Instituto de Artes da UNESP. Desenvolve intensa atividade como compositor, arranjador e instrumentista. Nesse espetáculo, obras originais adaptadas para o violão como instrumento solista." (sinopse da divulgação do evento)
Apresentação de Giacomo Bartoloni (São Paulo-SP)
Sábado, 30 de novembro de 2013, 19h
No Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri (Juazeiro do Norte-CE)
Entrada gratuita..
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
'Acusados', de J. Kaplan, e 'Irreversível', de Gaspar Noé: filmes comparados
por Débora Costa
Diversos assuntos foram abordados com as exibições do Cine Café, mas dois filmes marcaram bastante quem participou das sessões: Acusados e Irreversível. Ambos trataram a mesma temática, mas de formas completamente diferentes.
Acusados (The Accused, Jonathan Kaplan, 1988) é um filme que denuncia uma das piores formas de violência de gênero. Por Sarah Tobias (interpretada por Jodie Foster) ser uma mulher independente, que se sente à vontade para beber, fumar, beijar e se vestir da forma que ela quiser, faz com que tentem colocar nela a culpa do abuso. Ela foi estuprada por três homens em um bar, onde várias pessoas assistiam o que acontecia, mas uma parte era indiferente e a outra incentivava o ato. A história faz com que se reflita sobre a quem pertence o corpo da mulher, e se o que ela faz dele dá o direito de alguém violá-lo. Realmente, interessa se a mulher vai sair desacompanhada para beber, se ela vai usar uma saia mais curta ou se irá dançar? Pois, ainda assim, ela é dona do seu corpo e tem o poder de escolher se quer ou não receber uma carícia, beijar alguém ou fazer sexo.
Irreversível (Irréversible, Gaspar Noé, 2002) tem uma das cenas mais marcantes do cinema, que é exatamente a do estupro. Dessa vez a vítima é a Alex (interpretada por Monica Belucci), que briga com o namorado, assim como a protagonista de Acusados, por isso ela resolve sair sozinha da festa em que eles estavam e nesse seu trajeto para o táxi, nos tornamos testemunhas impotentes da violência brutal e demorada a que ela é submetida. Essa cena divide o filme: com diferenças na iluminação, nos movimentos da câmera, na inquietação e agressividade dos personagens. Uma das características principais da película é a forma que a história é contada: do fim para o início. Tudo pra comprovar exatamente o título, o quanto o tempo pode ser cruel, a partir da ideia de que ele não volta, de que certas situações são, de fato, irreversíveis.
A personagem de Jodie Foster vai atrás da justiça, para que os culpados sejam presos. Já no Irreversível, quem busca justiça, mas com as próprias mãos, são o Marcus (interpretado por Vincent Cassel), namorado da Alex, e o Pierre (interpretado por Albert Dupontel), que é amigo do casal. Em situações parecidas às que as personagens são colocadas, há formatos de contar e linhas de pensamento diferentes, e nesses dois filmes isso é bem claro. Os pontos de vistas são diversos, o de Acusados sendo o foco na própria vítima, e no outro, sendo o dos que estavam junto dela.
Para atingir o sensível do telespectador, seja na violência explícita e implícita ou no interior traumatizado, buscando forças para lutar. A relação do estupro e a vítima sendo problematizada e colocada no mais alto enfoque nesses filmes, conseguindo nos mudar de alguma forma depois de assisti-los.
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Débora Costa: uma feminista que cursa Direito, participa do P@je e que gosta que só de filmes.
Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 01, de 11 de setembro de 2013), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.
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