sábado, 3 de setembro de 2016

Meus 10 melhores filmes de todos os tempos, por Ailton Jesus



Meus 10 melhores filmes de todos os tempos:
por Ailton Jesus


 
León - O Profissional (León, Dir. Luc Bresson, 1994)


 
Irreversível (Irréversible, Dir. Gaspar Noé, 2002)



A Caça (Jagten, Dir. Thomas Vinterberg, 2012)



Caráter (Karakter, Dir. Mike van Diem, 1997)



A Memória Que Me Contam (A Memória Que Me Contam, Dir. Lúcia Murat, 2012)



Onde Os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men, Dir. Irmãos Coen, 2007)



Shame (Shame, Dir. Steve McQueen, 2011)



Amor à Flor da Pele (Fa yeung nin wa, Dir. Wong Kar Wai, 2000)



Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, Dir. Fernando Meirelles, 2008)



A Vida É Bela (La vita è bella, Dir. Roberto Benigni, 1997)


Sobre cinema e autoconhecimento

[...] E essa paz tem sido decepcionante
Eu gosto da vida doce e do silêncio
Mas é na tempestade que eu acredito.
“You’re the storm” (The Cardigans)

Quando foi proposta a ideia de fazer uma lista de melhores filmes fiquei apreensivo, pois não sabia que critério utilizar para tal coisa. Meus estudos sobre cinema estão no começo, meu conhecimento de técnica ainda muito superficial, e mesmo minha lista de grandes clássicos do cinema já assistidos me parece ínfima.

Percebi então que o único critério em que poderia basear minha escolha de filmes seria o conjunto de sensações que me causou cada película que assisti. Respirei por um instante. Refleti. Me dei conta de que, ainda assim, esta não seria uma tarefa fácil - e quantas sensações diferentes o cinema pode nos causar? - Foi então que me lembrei que nas vezes que escrevo algo com o mínimo de significado, escrevo sem pensar. É só depois de tudo pronto, ato consumado, que o significado vai se revelando pouco a pouco diante dos meus olhos.

Assim fiz. Sem pensar, coloquei título por título no papel. Não há uma ordem, não há preferências. A lista está organizada do jeito que foi se construindo na minha mente.

Quando a lista foi exposta ao grupo, houve o questionamento de uma colega, Raquel Morais, sobre a presença do filme A vida é bela dentro daquele contexto. Então, as luzes se acenderam, trazendo à tona o significado do conjunto de títulos: a lista tratava de tensão. Antes dessa lista eu não conhecia esse meu lado que buscava tanto esse sentimento nos filmes.

Não quero dizer que desejo em algum momento presenciar o cenário apocalíptico de José Saramago em Ensaio sobre a cegueira ou viver o terror de ser perseguido pelo maníaco assassino Anton Chigurh (Javier Bardem) no filme Onde os fracos não têm vez. Quero apenas ressaltar certo desejo, lá no fundo, de sentir a adrenalina e o sangue que não só corre, mas ferve nas veias de Léon (Jean Reno) ao ver a pequena Mathilda (Natalie Portman) em perigo.

Shame, A memória que me contam: a tensão está lá, ainda que de forma menos cruel e explícita que nas primeiras agonizantes cenas de Irreversível. Como medir a tensão sentida pelo professor Lucas (Mads Mikkelsen) ao receber falsas acusações de molestar seus estudantes no filme A caça? Como não conter a respiração perante a figura de Dreverhaven (Jan Decleir) em Caráter?

E justo quando o coração já está em desespero, eis que aparecem duas relíquias trazendo angústias cobertas por um véu de leveza: Wong Kar-Wai com Amor à flor da pele traduz em filme a aflição de escolher entre se entregar à paixão e manter-se fiel a seus valores, mesmo quando no outro lado da moeda tais valores já foram riscados; e Roberto Benigni – entendo o questionamento da amiga Raquel – consegue mostrar beleza no ambiente menos esperado, enquanto nos mantêm inquietos na poltrona diante de A vida é bela.

Li em algum lugar, não lembro onde, nem quem escreveu, que o poder do cinema sobre as pessoas é a possibilidade que lhes é dada de ver na tela tudo o que elas sonham para si mesmas. Eu acrescentaria ainda que o cinema ajuda no processo de autoconhecimento. O fato de dez filmes revelarem para alguém, a despeito da vida calma, sua busca pelo caminho que passa entre a cruz e a espada é prova disso.
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Ailton Jesus: Estudante de Engenharia de Materiais. Por obra do destino também é ator, quando sobra tempo, músico, e usa o cinema como ferramenta de autoconhecimento.

Texto originalmente publicado na SÉTIMA: Revista de Cinema (edição 31, de maio de 2016), que é distribuída gratuitamente na Região do Cariri cearense. A Revista Sétima é uma publicação do Grupo de Estudos Sétima de Cinema, que se reúne semanalmente no SESC de Juazeiro do Norte-CE.

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