segunda-feira, 22 de julho de 2013

Juazeiro do Norte: a Saga do Centenário

Arquivo Cariri # 24 | Do papel # 20

Neste dia 22 de julho de 2013, quando o Juazeiro do Norte completa 102 anos de emancipação política, reproduzimos um texto que O Berro assinou e foi publicado na última edição da Revista Geral, lançada em abril deste ano.

No texto relatamos a Saga do Centenário de Juazeiro: a missão que O Berro encarou em 2011, no ano do Centenário do município fundado pelo Padre Cícero. Abaixo reproduzimos na íntegra o texto sobre essa "aventura centenária".
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Saga: Centenário de Juazeiro
Revista Geral (ano 7, nº 13, abril 2013)


Quando dois berristas, André (o detalhista chato e olho de sauron) e Reginaldo (a mãe e bulidor gráfico), trabalhavam em 2010 para enviar propostas para o concurso da Logomarca do Centenário de Juazeiro do Norte, não imaginavam o que estaria por vir. E, de cara,  para animar os trabalhos, a logomarca que enviaram (aquela que ilustrou tudo ligado ao Centenário da cidade) foi a vencedora do concurso. Mas isso só era o pandeiro do Mateu, todo o Mateu ainda estaria por vir com suas estripulias.

Continuando os trabalhos iniciados pelos idos de 1996, O Berro frequentemente se reúne para trocar ideias pro blog, trolagens mútuas e reavivar os ânimos e projetos de seus integrantes. No dia 13 de abril de 2011, uma quarta-feira como outra qualquer, pensamos como O Berro poderia atuar em meio àquele frisson que era a comemoração do Centenário de Juazeiro. Eis que, magnanimamente, a cabeçarra iluminada de Ythallo (poeta, cineasta e matemático de plantão) lembrou, num cálculo rasante, que faltavam 100 dias para o tão esperado Centenário.

Entre devaneios, um acabou sendo fixado: a equipe, formada ainda por Reginaldo e Hudson (produtor, futuro jornalista e ativista revolucionário ultra jovem), fez coro majoritário pela odisseia que surpreenderia até mesmo o olho que tudo vê e Xico Fredson (espião infiltrado e agitador mal humorado): “que tal fazermos no blog uma postagem diária sobre Juazeiro, até a data de seu aniversário?”. Pensa na treta: 100 anos, 100 dias e 100 publicações. Sem noção. Mas Padim Ciço haveria de ajudar. E como diria o General, “tá é danado!”; replicado pelo Capitão Virgulino, “danado o quê?”; treplicado de novo pelo general: “danado de bom”. E “missão dada é missão cumprida!”.

Juazeiro do Norte é uma cidade peculiar — com tanto misticismo em sua história e magia resplandecendo de sua cultura popular — além de viver dias de um pique de investimento financeiro que dá suporte ao crescente “progresso”. Embora com molas que impulsionam seu desenvolvimento, Juazeiro também é uma cidade repleta de problemas, a maior parte fruto de uma sequência de administrações públicas desastrosas.

Com tal cenário não haveria dificuldade para encontrar assunto para os 100 dias. Isso se os berristas fossem desocupados: era sair na praça e “esbarrar na postagem”. Mas ninguém do Berro vive do (e pro) blog. Nossa equipe é formada por pais de família, trabalhadores, estudantes, artistas, espiões, semilíderes sindicais, etc., e aí residia a dificuldade de caprichar diariamente nas postagens. Mas era necessário aquele brado alternativo desvinculado de politicagem banguela. Fomos à trincheira e por 100 dias suamos às bicas para honrar o compromisso.

A cada nova foto, vídeo ou história de Juazeiro saltavam as tintas da forte religiosidade e a tradição das manifestações artísticas. O legado do reisado, do maneiro-pau, do cordel, da xilogravura, do artesanato, da poesia que corre veloz pelo asfalto das ruas estreitas, das cores das pinturas do saudoso Luís Karimai. Tem isso e vai além: Juazeiro que tem rock, hip-hop, publicidade, (muito) trabalho, rádios, TVs, universidades, pastel frito na hora, trânsito caótico e “uma esquina em cada bar”.

Nossa missão era fazer um recorte, transformar a “saga do Centenário” numa oportunidade de passar alguns recados, transmitir para os leitores do blog um pouco do que está sendo e do que já foi produzido na cidade. Vale(u) a pena (re)contar as histórias, que são ricas e curiosas, desde quando o Padre Cícero pisou pela primeira vez no antigo vilarejo, passando pelo início das romarias, pela emancipação política e por tantos outros fatos inusitados que estão no esporte local, na política, na religião e no emocionante grid de motos que você vê diariamente no sinal verde mais próximo.

Sagacidade (algumas postagens sobre Juazeiro do Norte):

■ No cinquentenário de Juazeiro, em 1961, a novidade foi a chegada da energia elétrica (“a luz de Paulo Afonso”) na cidade.

■ 1991: foi em Juazeiro que o então Presidente Collor fez um pronunciamento “inflamado” (com trocadilho mesmo), dizendo que tinha “nascido com aquilo roxo” (maquiando a expressão “saco roxo”). No ano seguinte o Brasil que não teve mais saco e Collor foi obrigado a largar a presidência.

■ 100 anos de emancipação política, mas de grandes romarias a cidade já tinha 122: em 1889 chegou pela primeira vez a Juazeiro (ainda um pequeno vilarejo) uma grande quantidade de fiéis atraídos pelos relatos da hóstia transformada em sangue na boca da Beata Maria de Araújo.

■ Em 1995 o ator juazeirense José Wilker publicou um texto defendendo que o Aeroporto de Juazeiro deveria se chamar Príncipe Ribamar, em homenagem ao personagem conhecido na cidade. No blog publicamos o texto que explica o porquê.

■ O poeta Carlos Drummond de Andrade publicou no Jornal do Brasil, em 1970, artigo comentando o poema “Artesãos de Juazeiro” escrito por Pedro Bandeira. No blog publicamos tanto o poema como o artigo.

O Estádio Romeirão foi o palco da despedida de Sócrates do Corinthians, em 1984, em amistoso contra o Vasco da Gama. O evento inusitado para a cidade foi tratado por muitos como sendo mais um milagre.

■ Como toda cidade que se preze, Juazeiro também tem o seu “Monumento da Besteira”. Pelo menos um.

■ O trapalhão Didi subiu na estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Mas o repórter Roberto Bulhões não fez por menos e subiu na estátua do Padre Cícero no Horto. “Temos ibagens”.

■ Juazeiro tem, em praça pública, até relógio que marca (ou que pelo menos deveria marcar) as fases da lua.

Equipe O Berro, na Revista Geral, abril de 2013
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Um comentário:

  1. Eu acompanhei uma parte da trajetória dos "berristas" e sei o quanto essa galera tem talento. Até fiz parte da equipe por algum tempo, escrevendo para o fanzine "O Berro", que se modernizou o virou blog. Foi um tempo bom. Melhor ainda poder acompanhar a vontade e a capacidade cultural da galera da então Escola Técnica Federal de Juazeiro do Norte. Uma turma que prometia muito. E entregou o o que prometia. Saudações berristas a todos vocês, gurizada gente fina.

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