Hoje buscamos da nossa estante um texto assinado por Fernando Naporano que está na seção Discoteca Básica da Revista Bizz nº 23, de junho de 1987. O texto é uma pequena resenha do Pet Sounds, disco de 1966 dos Beach Boys. Para ampliar a página da revista, clique na imagem.
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Discoteca Básica
Pet Sounds (The Beach Boys, 1966)

Ao lado de contemporâneos como Jan and Dean, The Hondells e The Surfaris, inicialmente, ficaram conhecidos como os reis da surf music, que nada mais era senão o espírito da época unido aos mais simples acordes de rock'n'roll, boas doses de doo-wop e balada e um gostinho de paixões platônicas derramadas em melodias definitivamente rockmânticas. Sob esta concepção os Beach Boys realizaram onze álbuns, sendo que os quatro primeiros são inteiramente de surf music. Os sete LPs seguintes continuam nessa linha em um tom mais pop. Aí vem o disco em questão. A água divisora na carreira do grupo. O fim de todo um ciclo. Acima de tudo, o mais polêmico.
Para uns Pet Sounds significou a maturidade e o desfecho do lado "alienado" e das tonalidades do fresh surf rock. Porém, para outros representou a morte do grupo. A verdade é que nesse disco os "moleques da praia", realmente, mudaram de forma radical suas características primordiais. Afinal de contas, os tempos eram outros. O final de 1966 indicava grandes mudanças. Guerra à vista, início do psicodelismo, liberação sexual, drogas, posicionamentos políticos eram alguns dos fatores que se chocavam com a "antiga" alegria e os sonhos azuis da banda. Além do mais, o egocêntrico Brian Wilson queria fazer algo bem melhor que os Beatles. E fez, pois ets LP precedeu Sgt. Peppers [Lonely Hearts Club Band], onde consumou-se a já citada influência nos meninos de Liverpool.

Acima de maiores suspeitas, provaram que, além de exímios músicos, eram inventivos e, como toda banda que se preze, mergulharam no plano das ousadas transformações. As harmonias vocais reapareceram muito mais trabalhadas. As estruturas musicais escapavam com muita facilidade dos arquétipos convencionais. Sob a produção fanaticamente requintada de Brian Wilson, surgiram novidades como a inclusão de instrumentos de sopro, intromissões orquestrais, teclados com timbres peculiares, percussões diversas (não faltando sininhos e berimbau), flautinhas aciduladas e arranjos complexos e sutis. Enfim, um misto de nuances bizarras e desolação do coração, de psicodelia e sintomas progressivos, de experimentalismo e os santificados, eternamente inperdíveis, fluidos do rock'n'roll.
Fernando Naporano
"God only knows" (Tony Asher / Brian Wilson):
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